Hot Toddy – Panacéia

Crianças ficam doentes. Isso é inexorável. É preciso criar memória imunológica. Colocar o sistema pra funcionar, ganhar resiliência. E elas são bem talentosas nisso. Vejo pelos meus dois cãezinhos – comer a batatinha que caiu no chão e o cachorro de verdade fuçou, lamber a mão depois de ter apoiado no chão imundo da escola e colocar a boca no corrimão do elevador são coisas triviais para eles. O que explica a frequência que ficam doentes. Especialmente resfriados.

Não adianta. Não é porque eles estão mal agasalhados, ou porque pegaram um golpe de ar de alguma janela aberta. Nem porque tomaram pouco suco de laranja. Isso não tem nada a ver com o resfriado. É porque eles são porcos mesmo. Porque eles tem zero apreço pela higiene pessoal.

Na idade deles, eu era assim também. Meus resfriados tinham frequência quase mensal. E para aliviar os sintomas – ou melhor, para me fazer ter saudades dos sintomas – minha mãe recomendava algo tão infalível quanto detestável – água quente, limão e sal. E quando um raio de bondade a atingia, com um pouquinho de mel. Acho que é por isso que gosto tanto de whiskey sour hoje em dia.

Uma panaceia parecida com esta é o Hot Toddy. O Hot Toddy é basicamente um quentão de whisky. O que, talvez, o faça um excelente substituto para a tradicional bebida servida nas festividades juninas. Há uma pletora de diferentes receitas. Porém, a mais tradicional leva água quente, suco de limão, açúcar mascavo (ou calda de açúcar, ou mel), cravo, e, claro, o whisky de sua preferência. Você pode, entretanto, testar com suas especiarias favoritas e adicionar ingredientes – será que um pouquinho de alcaçuz ou canela não ficam bons?

O poder curativo do Hot Toddy é conhecido há muito tempo. Inclusive, de acordo com matéria veiculada no Vinepair, a mistura era até ministrada em crianças no século dezenove. Um jornal daquela época recomendava que “se sua criança começar a fungar, ter olhos vermelhos ou perder um pouquinho da audição, se sua pele ficar seca e quente, e se o halito estiver febril – você agora terá a oportunidade de agir muito mais rapidamente do que antes (…) dê a ela drinques estimulantes e quentes, sendo o hot toddy o melhor deles

Não sei se o pediatra de meus cãezinhos aprovaria este tratamento. Em vista do avanço da ciência e de todo bom-senso adquirido pela humanidade ao longo deste mais de um século e meio, me parece um tratamento quiçá extremo. Extremo, ilegal e tão ao norte da linha do absurdo que talvez seja melhor ter o número do conselho tutelar no speed dial, só por precaução.

E eu detesto ser a voz da moderação – mas, mesmo para nós, adultos, a cura tem que vir de forma homeopática. Afinal, bebidas alcoólicas podem deixar nosso sistema imunológico, já debilitado, ainda mais frágil. Dito tudo isso, no entanto, um – e apenas um – hot toddy talvez não seja uma má ideia. A água quente ajuda a alivar a congestão nasal. E o álcool tem a capacidade de dilatar vasos sanguíneos, o que pode ajudar as membranas mucosas a combater a infecção.

A história do hot toddy – como de costume para coquetéis tão antigos – é incerta. Uma teoria diz que ele nasceu na India, no século quinze, quando os britânicos descobriram o taddy: uma bebida feita de seiva de palmeira fermentada. Com o tempo, o taddy virou toddy, e foi definido como uma bebida quente e alcoólica. A outra teoria postula que ele teria sido criado por um tal Robert Bentley Todd, médico irlandês, que recomendava que seus pacientes ficassem bêbados para curar seus males – algo que, assumo, faço mais frequentemente do que seria prudente.

Me curei de repente!

Assim, caros leitores, se estiverem com a garganta coçando, o nariz apertado e aquela sensação de moleza, sejam prevenidos. Preparem um belo Hot Toddy e, à moda de nossos ancestrais, sintam-se renovados. Quer dizer, ao menos enquanto estiverem bebendo.

HOT TODDY

INGREDIENTES

  • Água (quente, fervendo)
  • cravos (a gosto, mas não exagere. Quatro está bom)
  • Casca de limão siciliano
  • 1 colher de chá de Açúcar (este Cão adorou a versão com açúcar mascavo, mas teste com seu agente de dulçor favorito. Mel parece uma boa ideia). Se ficar azedo, aumente o açúcar. Isso dependerá também do whisky que será usado.
  • 7,5ml (1/4 dose) de Suco de limão siciliano
  • 60ml (2 doses) de Whisky – aqui, sinta-se absolutamente livre para escolher o whisky que mais gostar. Este Cão preparou com Chivas XV. Mas com Rye whiskey também fica excelente
  • Caneca
  • aparato para mexer

PREPARO

  1. Encha uma caneca com água fervente. Adicione o açúcar e mexa, para dissolver.
  2. Adicione a casca de limão siciliano e o cravo. Mexa um pouco, para acelerar a infusão. Alguns gostam de espetar o cravo na casca. Tenho minhas dúvidas sobre a estética da ideia, mas ela funciona para você não engasgar com um cravo
  3. Adicione o suco de limão e o whisky, e mexa novamente.
  4. Pronto, prepare-se para contemplar uma panaceia para o sistema respiratório.

4 thoughts on “Hot Toddy – Panacéia

  1. Dezenas de lembranças com este texto, mestre: o chá de limão contra gripe, que minha avó me dava, uma versão do Hot Toddy, que eu e meus amigos fazíamos com conhaque antigamente e meus 02 filhos constantemente resfriados hahaha.
    Costumo dizer que se eu estiver treinando e bebendo, sou praticamente imune a qualquer doença.
    Abraço!

  2. Eu não tava esperando uma leitura tão boa assim. Adorei sua escrita, e vou só esperar as 10 da manhã pra provar o hot toddy.

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