Quatro coquetéis de whisky para o frio

Eu adoro o frio. Poucos pequenos prazeres são tão grandes em sua singeleza como sentir o ar gelado nas têmporas. Perceber aquela deliciosa letargia nos dedos ao digitar. Contemplar o aveludado formigamento na ponta do nariz ao franzi-lo. E o vapor. Eu devo ser completamente maluco, mas a fumacinha que sai do nariz ao respirarmos no frio é uma lembrança contundente de que estou vivo.

Trabalhar, tomar café, ler. Pra mim, até fazer exercício é melhor no frio, porque não tenho que beber o correspondente à vazão das cataratas do Iguaçu para repor o líquido perdido com o suor. Aliás, quase tudo fica melhor no frio. Inclusive, uma das minhas atividades preferidas, que não é a que você tá pensando. Ou talvez seja, se me conhecer bem: beber. Porque na verdade beber é meio como se vestir. Você faz o ano inteiro, mas o frio abre um leque muito maior de possibilidades.

O que, claro, não significa que você deva beber qualquer coisa. Pelo contrário. Aqui no Brasil, a temporada de frio é uma rara oportunidade para você se esmerar em novas experiências. Ou aproveitar para revisitar aquele raro clássico, que pareceria até incivilizado em qualquer outra época do ano. Como os coquetéis dessa lista. E se reclamarem, já sabe – você só está tentando ficar mais aquecido.

Irish Coffee

Não dá para começar essa lista de outra forma. Mesmo que o Irish Coffee não esteja entre meus drinks preferidos, ele é o coquetel de frio por excelência. Até o mito ao redor de sua criação envolve frio. Reza a lenda que ele foi criado na década de quarenta por Joe Sheridan, um chef de cozinha responsável por um restaurante e café localizado no terminal aeroportuário de Foynes, na Irlanda. O restaurante de Joe era conhecido naquela época como um dos melhores do país.

O coquetel teria sido concebido quando um grupo de passageiros americanos desembarcou de um hidroavião, em uma manhã de inverno, em 1940, naquele condado. Sheridan, prestativo e criativo, adicionou whiskey irlandês ao café, para aquecer ainda mais aqueles pobres viajantes. Quando indagado se aquilo era café brasileiro – uma iguaria na época – Sheridan simplesmente respondeu “é Café Irlandês”.

Para a receita e mais curiosidades, clique aqui.

Hot Toddy

Outro coquetel quente com a melhor bebida do mundo, o Hot Toddy é basicamente um quentão aprimorado. Aprimorado porque leva whisky, claro. O drink chegou a ser recomendado, durante o século dezenove, como uma panaceia para crianças. ““se sua criança começar a fungar, ter olhos vermelhos ou perder um pouquinho da audição, se sua pele ficar seca e quente, e se o halito estiver febril – você agora terá a oportunidade de agir muito mais rapidamente do que antes (…) dê a ela drinques estimulantes e quentes, sendo o hot toddy o melhor deles

Um século e tanto mais tarde, adquirimos razoabilidade, conhecimento e bom senso (mais ou menos). E sabemos que isto é um absurdo. A mistura, no entanto, continua sendo um ótimo remédio para aquecer o corpo, se tomado com moderação. As receitas para sua preparação variam muito, mas você pode conferir uma delas aqui.

Rob Roy

Frio combina com lareira. Nem que a lareira esteja dentro do seu copo. E é esta a experiencia que o Rob Roy oferece, especialmente se produzido com whiskies defumados, como Johnnie Walker Double Black e Talisker. Ainda que não seja um coquetel quente – ele é servido gelado – a força alcoolica, aliada ao sabor enfumaçado são perfeitos para aquecer até nos dias mais gelados.

Você pode mexer nas proporções e base do coquetel para criar um que lhe agrade. Para mais dicas sobre ele, leia nossa matéria completa , meu caro.

Scaffa

Scaffa não é exatamente um coquetel, mas uma classe. São drinks servidos à temperatura ambiente, e tem ganhado bastante popularidade recentemente. Eles podem ou não ter diluição, e não necessariamente usam whisky de base. Mas, óbvio, que se você for beber um coquetel à temperatura ambiente, escolherá como base algo que faz algum sentido ser bebido sem refrigeração. Whisky é uma escolha óbvia.

É importante notar que nossa percepção de sabor muda de acordo com a temperatura do líquido. Um manhattan devidamente gelado terá um sabor bem diferente de um à temperatura ambiente – que ressaltará seu dulçor. Assim, o equilíbrio dos scaffas deve ser bem minucioso. Não há como se esconder atrás de um iceberg de gelo.

Para começar, sugerimos uma receita desenvolvida no balcão do Caledonia, num papo entre Rodolfo Bob e Marcelo Sant’Iago, do Difford’s Guide Brasil. É o Sant’iago Scaffa, que leva vermute, fernet, whiskey e bitters. Simples, direto, pequeno e perfeito para os dias de preguiça gelada que você não quer nem passar do lado do freezer.

INGREDIENTES

  • 50 ml rye whiskey (Jim Beam Rye)
  • 5ml Fernet Branca
  • 5ml vermute tinto (Carpano)
  • 5ml Fernando de Castilla vermute – esta parte é importante. O Fernando de Castilla usa como base vinho jerez. O perfil sensorial muda. Mas, se for absolutamente necessário, use 10ml ao todo de algum vermute que tiver.
  • 1 dash de cocoa bitters (no Caledonia, fazemos um artesanal. Mas pode usar o novo da Angostura)
  • zest largo siciliano.
  • spray (ou 5ml) de whisky turfado – Laphroaig 10.

PREPARO

  1. Junte todos os ingredientes em um mixing glass e misture. Sem gelo.
  2. Descarte o zest de limão siciliano.
  3. transfira o conteúdo para um copo, e prepare um novo zest, adicionando-o ao copo em seguida.
  4. finalize com um spray ou algumas gotas de whisky turfado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *