Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare Port Ellen

Em 1888, numa mina localizada em Kimberly, na África do Sul, foi feita uma descoberta extraordinária. Extraordinariamente valiosa. O outrora terceiro maior diamante do mundo, de uma translúcida cor de whisky. Batizado de De Beers – por conta da empresa de mineração que o encontrou – o brilhante, depois de lapidado, possuía mais de 230 quilates. Isso é realmente muito, caso você não seja um entusiasta da gemologia.

A pedra, que adquirira fama internacional, foi então comprada pelo marajá Bhupinder Singh, da Índia, em 1889. O monarca juntou a gema a mais 2.930 diamantes – alguns deles raríssimos – de sua coleção, e comissionou a Casa Cartier para criar uma das maiores peças de joalheria de todos os tempos. Um colar cerimonial, chamado Patiala. A peça final, produzida com platina, tinha mais de mil quilates. Em seu centro, reluzia o enorme De Beers.

Enfim, uma joia para uso casual.

Mas – e desculpem pela paráfrase medíocre – nem tudo eram diamantes no céu. Em meados de 1950, o enorme colar desapareceu do tesouro real, e assim permaneceu por mais de quatro décadas. Em 1998 ele foi encontrado pela própria Cartier em uma joalheria de Londres, mas sem suas pedras mais preciosas – dentre elas, o De Beers.

Se fosse um whisky, o colar cerimonial do marajá seria, com toda certeza, um Johnnie Walker Blue Label Ghost and Rare Port Ellen. Uma das mais sofisticadas criações da marca do andarilho à venda em nosso país. E, em seu centro, fazendo as vezes do De Beers, estaria o raro e cobiçado malte da destilaria desativada Port Ellen.

A Port Ellen, localizada na ilha de Islay – considerada por muitos a joia da coroa dentre os silent stills da Escócia – produzia um single malt muito semelhante ao Lagavulin. Ela foi desativada em 1983 e convertida em malting floor, para fornecer malte para as demais destilarias do grupo Diageo – que já possuía outras duas na ilha.

De lá pra cá, como aconteceu com a Brora, foram lançadas edições especiais limitadíssimas de Port Ellen, tanto pela própria Diageo quanto engarrafadoras independentes, utilizando seu estoque remanescente. Por conta de sua raridade e fama, estas garrafas passaram a atingir valores progressivamente mais altos em leilões. Em 2017, num plot twist digno de um colar de marajás, foi anunciada sua reativação, que, segundo estimativas, ocorrerá em 2020.

Perspectiva artística da Port Ellen após a reativação

O Blue Label Ghost & Rare Port Ellen é a segunda expressão da linha Blue Label que leva maltes de silent stills – o nome dado a destilarias que cessaram sua produção. A primeira foi o Blue Label Ghost & Rare Brora, lançado no Brasil em 2018, que tinha como coração a famosa destilaria Brora, das Highlands Escocesas, desativada em 1983 – e também com reativação anunciada.

De acordo com Guilherme Martins, diretor de Reserve da Diageo no Brasil “A série Ghost and Rare proporciona uma viagem pelas destilarias icônicas da Escócia que tem suas reservas cada vez menores. No ano passado, em sua primeira edição, a homenagem foi para a prestigiada destilaria Brora; agora é a vez de celebrar Port Ellen”

Além de Port Ellen, sua preciosa peça central, o Blue Label Ghost & Rare Port Ellen leva mais duas gemas raras. São whiskies de grain distilleries* silenciosas – Carsebridge, desativada em 1983, e Caledonian, silenciada em 1988. O blend se completa e equilibra com o uso de maltes de destilarias ainda ativas, como Mortlach, Dailuaine, Cragganmore, Blair Athol e Oban.

Caledonian (fonte: Whisky.com)

Segundo a Johnnie Walker, o Blue Label Ghost & Rare Port Ellen é um whisky “com camadas adocicadas de baunilha cremosa e ondas progressivas de frutas cítricas, malte e frutas tropicais – tudo perfeitamente equilibrado pelo caráter enfumaçado e marítimo de Port Ellen, que perdura na finalização“. Seja lá o que ondas progressivas de frutas cítricas significar.

Deixando de lado o caráter poético, as notas de prova acima não estão longe da verdade. O Ghost & Rare Port Ellen é um blend equilibrado e complexo, que apresenta um sabor vínico e adocicado no início, e que, progressivamente, se torna delicadamente enfumaçado. Ele está par a par com o Ghost & Rare Brora, seu predecessor e – melancolicamente, na opinião deste Cão – é notavelmente superior ao Blue Label tradicional em complexidade sensorial.

No Brasil, uma garrafa do Blue Label Ghost & Rare Port Ellen tem preço sugerido de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais). É bastante dinheiro, em valores absolutos. Mas é também uma rara oportunidade de se provar um blend de qualidade sensorial excelente, produzido com um dos maltes mais raros de toda Escócia. Praticamente uma joia líquida. E se eu fosse você, experimentaria. Antes que ele misteriosamente desapareça.

JOHNNIE WALKER BLUE LABEL GHOST & RARE PORT ELLEN

Tipo: Blended Whisky sem idade definida (NAS)

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 43,8%

Notas de prova:

Aroma: Mel, frutas vermelhas, pimenta do reino.

Sabor: frutas vermelhas, caramelo, baunilha. Final progressivamente enfumaçado e seco, com baunilha e pimenta do reino.

Preço Médio: R$ 1500,00 (mil e quinhentos reais)

*grain distilleries são destilarias que produzem whisky de grão, que utilizam principalmente cereais não maltados (e uma pequena proporção de cevada maltada). A destilação ocorre, na maioria das vezes, em um destilador contínuo, e não em alambiques de cobre, como seria com um single malt. Sensorialmente, grain whiskies são menos oleosos, e geralmente – por terem seu new-make mais neutro – deixam o caráter do barril bastante claro. São usados, essencialmente, para conferir drinkability a blends, ainda que haja alguns single grains excepcionais no mercado internacional.

8 thoughts on “Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare Port Ellen

  1. Belíssimo cão, mestre! Esse sim faz jus à fama do Blue Label.
    Gostaria de saber do senhor o que podemos esperar da reabertura de Port Ellen. Destilaria praticamente mitológica e localizada no que considero muito possivelmente o lugar mais legal da Terra: Islay hahaha.
    Abraço!

    1. Fala mestre! E vale mesmo!

      Meu caro, eu adoraria saber. A Port Ellen é uma espécie de Lagavulin. Aliás, muito semelhante em tudo, só que talvez menos oleoso. Não sei o que esperar, mas sei que será bom

    2. Felipe estive em Islay agora em julho e concordo. É possivelmente um dos lugares mais legais da terra. Hehehe

  2. Opa, tudo bem?
    Vendo esse novo blue label so consigo imaginar o quão gostoso ele deve ser e ficar pensando de quais whiskys ele “ganharia” e de quais ele “perderia”. Sim, eu sei que não se pode comparar os whiskys e que cada um eh especial de seu jeito além de gosto ser algo pessoal, porém nós humanos sempre gostamos de competir e classificar!
    Sendo assim, qual seria seu TOP 10 whiskys que vc já provou em toda a sua vida?
    Abraço

    1. Marcel, vou te dizer que muita gente me faz essa pergunta, e eu sinceramente não sei responder. Qual é o seu top 10 comidas? Ou o top 10 musicas? É dificil dizer que eu gosto mais de, sei lá, salmão defumado do que de hamburger. São coisas muito diferentes para serem comparadas, e que ambas possuem seu espaço, momento e clima. Eu jamais conseguiria fazer um top 10 whiskies por conta disso. Um Lagavulin é diametralmente oposto a um Glen Grant. Um Aultmore, a um Laphroaig. O Chivas 12 é doce, o Black Label, defumado. Não sei, me parecem grandezas incomparáveis…rs.

  3. Excelente texto, de fato deve ser um baita Whisky, pena o preço ser tão alto né? Mas entendo que pela raridade do malt que o compõe, o preço até justifique…quem sabe ainda consigamos uma garrafa?! Kkkkk
    Parabéns pelo texto.

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