Sabe o que é mais difícil do que partir do fracasso para o sucesso? É mudar uma fórmula de sucesso e sair ileso. Vou contar para vocês uma história polêmica. Na verdade, uma história sem nenhuma polêmica. Uma história que envolve o carro esportivo mais bem sucedido de todos os tempos, lançado em 1962 no Salão de Frankfurt, e até hoje em produção. Um ícone da engenharia automobilística, e, sem a menor sobra de dúvida, o produto que toda montadora de automóveis de desempenho quer ter em seu portfólio. O Porsche 911.
Todo mundo sabe o que é o Porsche 911. Ele é o equivalente à Monica Belluci do mundo dos automóveis. Desde a década de sessenta até hoje, pouco de seu conceito básico foi alterado. Ainda que o carro tenha sofrido evoluções constantes em sua engenharia, o design do 911 é muito semelhante àquele originalmente feito por Ferdinand Porsche em 1959.
Mas como nenhuma história tão longeva poderia ter passado sem nenhuma polêmica, em 1996 a Porsche mudou o sistema de arrefecimento do modelo. Antes refrigerado a ar, a nova geração, conhecida como 996, teria agora refrigeração líquida. Tirando isso, em comparação com o modelo anterior, o carro teria ficado mais bonito, mais rápido e mais forte.
Quando a Porsche anunciou a mudança de estado físico do principal componente de seu sistema de resfriamento, o mundo do automóvel sofreu uma epidemia generalizada de insanidade e revolta. E a fábrica, a única parte razoável no meio do regime anarco-automobilístico que havia se instalado, fez a única coisa que realmente podia fazer. Manteve-se firme e não voltou atrás. E atualmente todos os 911 são refrigerados a água, e ninguém mais discute essa loucura.
Assim, quando descobri em 2009 que a Diageo reformularia o portfólio permanente de whisky da Johnnie Walker com algumas medidas potencialmente bastante controversas, concluí que ela claramente não conhecia muito da história recente da automobilística alemã. Pouco depois, a empresa introduziu no mercado três novos blends: o Double Black, Gold Label Reserve e Platinum Label – o único com idade definida dos três. Em contrapartida, excluiu de seu portfólio permanente o Gold Label 18 anos e o Green Label 15 anos. Este último, o único blend puro malte da linha.
Não demorou muito para a medida gerar mais polêmica do que o radiador do Porsche. Afinal, a Diageo teria extinguido dois whiskys com idade definida – sendo que um deles era o único de seu portfólio composto inteiramente por single malts, sem a introdução de grain whisky – e teria colocado no lugar dois blended whiskys sem “age statement” e um com. A impressão é que a marca estava sacrificando qualidade para atingir uma base maior de consumidores. Tipo fazer um filme com o Michael Caine, mas escalar o Nicholas Cage para fazer o papel principal.
Naquela situação, eu tinha duas alternativas. A primeira era gritar e me revoltar, como um fã de Porsche incompreendido. A segunda era comprar uma garrafa de algum dos novos lançamentos, e decidir, por conta própria, se a marca mais famosa de blended whisky do mundo havia mesmo enlouquecido de vez. Optei pela segunda alternativa. E entre os lançamentos, minha escolha foi pela embalagem mais discreta. A do Gold Label Reserve.
O Johnnie Walker Gold Label Reserve foi elaborado pelo master blender da Johnnie Walker, Jim Beveridge, que utilizou o single malt Clynelish como ponto de partida. O restante da receita é mantido em confidencialidade. No entanto, é possível que contenha os single malts Oban e Cragganmore, além de uma boa quantidade de whisky de grão (grain whisky). Essa mistura torna o Reserve um whisky bastante suave, com aroma de mel e caramelo.
Em comparação o Gold Label 18 anos (Centenary Blend), seu predecessor, o Gold Label Reserve é menos rico e complexo, e bem menos aromático. Essa comparação, entretanto, talvez seja injusta, uma vez que o Centenary foi, na verdade, substituido pelo Platinum Label. Em compensação, é um whisky mais leve e, muito provavelmente, mais versátil e mais fácil de ser bebido.
Uma garrafa do Gold Label Reserve custa, em média, R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais). Ainda que ele seja uma evolução natural para um paladar que está acostumado com o famosíssimo Johnnie Walker Black Label, a sua faixa de preço o coloca em concorrência direta com alguns single malts. Inclusive, seu preço é semelhante àquele do Cardhu 12 anos, single malt da Diageo, e o principal componente do Johnnie Walker Black Label.
Assim, se você é fã do Johnnie Walker Black Label, e quer subir mais um degrau no portfólio permanente da marca, o Gold Label Reserve não o decepcionará. Entretanto, se está procurando um whisky mais encorpado e com aromas e sabores mais marcantes, talvez seja melhor procurar um bom single malt, até mesmo como o Cardhu. Ou tomar fôlego para um salto, e aterrizar no elegantíssimo Platinum Label.
JOHNNIE WALKER GOLD LABEL RESERVE
Tipo: Blended Whisky sem idade definida
Marca: Johnnie Walker
Região: N/A
ABV: 40%
Notas de prova:
Aroma: Predominantemente mel e caramelo. Há um aroma muito suave de ameixa (ou de alguma outra fruta semelhante…).
Sabor: Mel, própolis, baunilha. Final floral. É um whisky muito, muito leve e muito doce.
Com Água: A agua suaviza os sabores acima. O aroma de ameixa desaparece. Recomendo provar este blend sem água.
Realmente deve ser uma bebida muito boa. Quem sab e uma amostra gratis.
Emilson, aí é melhor você pedir num bar! rs!
Lendo em 2020, apreciando a garrafa que ganhei de dia dos pais.
Bela pedida pra faixa de preço.
Suave e levemente adocicado.
Um abraço, cão.
Ps.: Ansioso pra conhecer o Caledônia quando a quarentena acabar.
Opa, certamente caro João!!
Na primeira vez em que vi o rótulo, achei que fosse uma evolução do antigo Gold Label. Acho que a palavra “Reserve” traz um ar de algo melhor (talvez algo a ver com os vinhos que já tomei…rsrs). Depois de saber que não era bem assim, pensei que a destilaria tinha tido problemas com o envelhecimento dos 18 anos e acabou lançando algo antes para que o prejuízo não fosse completo. Agora sei que faz parte do portfolio permanente, e, apesar de não ser um whisky ruim (longe disso), acho que sua impressão está correta: Junto ao double black, o gold reserve é uma das mais novas sensações dos combos de night. Uma “ostentação” não muito mais cara para os fãs do black label. Sinceramente, pior que perder o Gold original, foi perder o Green Label, com o qual tive poucas oportunidades…
Agreed. A Johnnie Walker tem muito whisky bom. O próprio black é um blend fantástico para a faixa de preço dele. Gosto também bastante do Platinum, apesar do preço, e não desgosto do Double Black, apesar de achar que o markup de preço dele está incorreto (ele é basicamente a mesma receita do Black, mas com proporção maior de maltes mais jovens de Islay).
O Green era fantástico! Mas boa notícia pra você: o Green Label está disponível para venda em certos duty frees, e pelo jeito continuará disponível.
O Centenary Blend era um dos meus preferidos. Ainda procuro nas lojas que vou se eles ainda tem estoque.
Cara, eu amava o green label, era capaz de casar com aquele whisky. Nem mesmo o antigo gold me agradava tanto, pq tinha que ser consumido frio pra ganhar mais sabor. Provei o gold reserve e achei bem terrivel, gostei mais ate do sabor do double black. Acho que a jw perdeu um consumidor assiduo quando sacrificou o single malt.
Fala João! Então, mas dê uma chance para marca. Experimente o Platinum! Ah, e além disso, o Green está de volta! 🙂
O Green é sensacional. Indiscutível o aroma e sabor desse single mal.
Fala mestre! Sinceramente eu não sou muito fã da JW, mas eu realmente gostei (gosto) do Green Label o qual é uma baita e surpreendente exceção.
Quanto ao Gold Reserve eu nunca o tomei e paira uma dúvida.. ele é de verdade uma boa bebida para se tomar pura? (ou apenas uma bebida “aceitável” para se tomar dessa forma?) Vejo muitas pessoas usando ele em coactail.
Um abraço!
Opa, fala meu caro. Então, eu – para meu paladar – gosto médio do Gold. Sou bem fã do “platinum” AKA 18 anos, do green e gosto também do Black. Não sou muito fã do perfil mais adocicado de mel do Gold. Mas é um whisky bem feito. Muita gente usa em drink. A propria JW tem um “hero drink” chamado Golden Apple Sour. Que é bem gostoso, diga-se de passagem.
O Green Label de fato sumiu do país mas nunca parou de ser fabricado é que a Johnnie Walker decidiu vende-lo somente no mercado oriental, depois decidiu voltar atrás. Hoje a garrafa que tenho ainda é daquela época, onde o vendedor falou pra mim, compra agora porque depois nunca mais e eu acreditei hehe!
Boa tarde, tudo bem?
Sou iniciante no mundo dos Whysks e provei recentemente o Gold Label Reserve, gostando muito do sabor.
Poderia indicar whysks com mesma proposta de outras marcas?
Opa! Olá Inaldo. Vá de Glenlivet Founder’s, Ballantine’s 17, Aberfeldy 12, Glenmorangie 10. São os bourbon-casks que voce gosta.