Drops – Port Charlotte MRC:01

 

Há pouco mais de um ano viajei, ao lado de alguns amigos, para a ilha dos maltes defumados. Islay. Passamos lá três dias, e visitamos quase todas as destilarias da ilha, dentre elas, a Bruichladdich. Naquela oportunidade, nossa guia serviu alguns whiskies diretamente de barris. Dentre eles, um pequeno notável. Um Port Charlotte bastante jovem, retirado de uma barrica gravada com o nome de um lendário chateau francês – Mouton Rothschild.

Fiquei imediatamente enfeitiçado por ele. Aquele era um whisky excepcional – o melhor que experimentei durante toda a viagem. Pensei, porém, que talvez a impressão tenha se dado por conta do ambiente. Provar um whisky direto de um barril, em uma belíssima destilaria costeira, eleva qualquer experiência. Talvez aquele Port Charlotte não fosse tudo aquilo – afinal, é mais fácil se apaixonar por um malte no frio de Islay, ao lado de um poético armazém de pedra e cercado de amigos, do que no calor escaldante de São Paulo, sozinho na frente de um computador.

Paixão ao primeiro gole

Quando voltei para casa, uma certa languidez etílica tomou conta de mim. Jamais teria a oportunidade de provar aquele whisky de novo e entender o que tanto me impressionara. Ao menos era o que imaginava, porque quase um ano depois, a Bruichladdich anunciou o lançamento de algo que me pareceu bem semelhante a ele. Quando soube disso, tive uma extrassístole. Não podia perder a chance de ter uma garrafa. Cheguei ao absurdo de ligar para a destilaria e comprar a ampola por telefone, para que entregassem na casa de um amigo que mora no exterior. Levaria algum tempo, mas meu querido MRC:01 finalmente chegaria até mim.

O apaixonante Port Charlotte MRC:01 faz parte de uma série especial limitada da Bruichladdich, denominada Cask Exploration Series (Série de Exploração de Barricas). De acordo com a destilaria “com mais de 200 diferentes tipos de barricas maturando em nossos armazéns, nossa série de exploração de barricas demonstra a influencia da madeira em nosso destilado turfado. Engarrafado a 59,2% de graduação alcoólica, e limitado em números, introduzimos o Port Charlotte MRC:01 2010. Destilado a partir de 100% cevada escocesa da região de Invernessshire, este destilado adocicado e frutado passou tempo em barris de primeiro uso de whiskey americano e de segundo uso de vinho francês. Estes componentes foram então combinados e maturados por um ano extra nos melhores barris de carvalho europeu da margem esquerda de Bordeaux.

Em outras palavras, a Bruichaddich quer dizer que a maturação de seu Port Charlotte MRC:01 é fracionada. 50% matura por seis anos em barricas de carvalho americano de ex-bourbon de primeiro uso. Os outros 50%, em carvalho de ex-vinho francês de segundo uso. As duas partes então são reunidas, e passam um ano extra em barris de carvalho europeu que contiveram o vinho Mouton Rothschild – o tal vinho da margem esquerda de Bordeaux. Daí vem o código “MRC” – Mouton Rothschild Cask.

O Chateau

Sensorialmente, o Port Charlotte MRC:01 é um exagero. A fumaça é claramente sentida, junto com uma certa salinidade, que complementa perfeitamente o adocicado vínico proveniente das barricas de carvalho europeu de vinho francês. É um whisky superlativo em tudo, que fica curiosamente equilibrado. E ainda que pareça contra-intuitivo, a exagerada graduação alcoólica de 59,2% contribui para essa estranha sensação de equilíbrio – com uma graduação mais baixa, talvez o whisky ficaria adocicado demais.

Sinceramente, não sei se o MRC:01 foi o mesmo whisky que provamos direto do barril, naquele armazém. Porém, se não for o mesmo, é bem provável que seja uma criatura bem semelhante. E igualmente – ou talvez mais – arrebatadora. É realmente inusual se apaixonar à primeira vista – ou gole – por um malte. Mas consolidar e elevar esta impressão depois da segunda vez é ainda mais raro. Independente do lugar, situação e humor – o Port Charlotte MRC:01 é um whisky excepcional.

BRUICHLADDICH PORT CHARLOTTE MRC:01

Tipo – Single Malt com idade definida – 7 anos

ABV – 59,2%

Região: Islay

País: Escócia

Notas de prova

Aroma: Frutado, com um certo pêssego, e ao mesmo tempo defumado, com bastante maresia.

Sabor: Salgado, algas marinhas. Frutas vermelhas e fumaça. O final é longo, picante e progressivamente defumado e medicinal, mas também com um dulçor que lembra pêssegos em calda. Vínico, mas mais adocicado do que taninoso.

Com água: A água torna o whisky um pouco mais adocicado, e reduz a impressão de pimenta e das especiarias.

5 thoughts on “Drops – Port Charlotte MRC:01

  1. Port Charlotte é excepcional, não é mesmo, mestre? Lembro da dificuldade que foi conseguir o meu Scottish Barley HP. E como foi proveitosa sua dica da meia tampa PET hahaha. Estava vendo no site deles sobre a linha HP. Gostaria muito de provar a versão semelhante a minha, mas de 10y.

    Grande abraço!

  2. Boa tarde. Gostaria de tirar uma pequena dúvida, talvez este não seja o post adequado, mas enfim. Acabei de ganhar duas garrafas lacradas (Old Parr 12y e um Cutty Sark garrafão 1.75) com uma idade provavelmente acima de 30 anos. Estavam guardadas em local escuro e bem armazanadas. Foram adquiridas em duty free, e acredito serem originais. A minha dúvida e a seguinte: qual a chance de serem whiskys falsificados devido ao período em que fora comercializado, e se esses eram whiskys mais visados pelos falsificadores. Um forte abraço e parabéns pela página. Forte abraço.

    1. Opa, fala Fabrizio, tudo bem? Desculpe a demora em responder.

      Olha, é impossivel precisar a chance sem saber onde exatamente foram adquiridos e sem ver fotos das garrafas. Se foram comprados no Paraguai, em mercado de fronteira, na década de setenta, a chance de serem faltos é altíssima. Especialmente or serem dois blends bem procurados e de entrada, em garrafas com volume incomum. Mas se foram compradas em lojas de confiança da época, a chance é menor. Note que que durante essa época – anos 70 e 80 – a falsificação era bem mais comum do que é hoje, tanto pela facilidade de se esconder quanto pelo hermeticismo de nosso mercado.

      Um abraço

      Mauricio

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