The Macallan Concept No. 1

O mundo do whisky é bem pretensioso. Afinal, há poucas coisas mais pedantes do que dizer que certo líquido possui aromas que evocam memórias bucólicas de campos salpicados de urze. Mas há algo que consegue ultrapassar facilmente a prepotência do whisky. As artes plásticas. Especialmente a arte moderna e contemporânea.

É natural, na verdade. A maior parte da arte não é verbal – exceto por alguma videoarte, da qual nutro uma relação que pendula entre o desprezo e a ignorância. E, por conta disto, traduzir o significado de um signo não-verbal para o mundo enunciado, muitas vezes, é um exercício extenuante. Extenuante e presunçoso. De todos os lados. Dizer que entende o conflito psicológico de Pollock ao contemplar sua obra é tão pretensioso quanto dizer que seu filho faria um quadro igual. Não há rota de emergência – a arte é pretensiosa.

E nessa pedante escala de pretensão – talvez em um dos mais pretensiosos posts deste soberbo blog – há um Megazord da afetação – um whisky que se inspira no mundo da arte. O Macallan Concept No. 1 – Art. Se você não acredita em mim, deixe-me traduzir, com frugalidade, o que está transcrito no verso do estojo que acompanha a garrafa.

Pois é, Danny

O primeiro da série, o Macallan Concept No. 1 foi inspirado no mundo da arte surrealista. Imaginado através das lentes dos Seis Pilares da The Macallan, nossa interpretação do surreal junta a imaginação e o idealismo para criar um mundo de whisky fantástico, sensorial, onde qualquer e tudo é possível. O The Macallan Concept No. 1 é um manifesto de nossa continua busca por excelência – uma que atravessa as barreiras tradicionais de produção e seleção de barricas para maturação

E continua “criado a partir de whiskies maturados primeiro em barricas de ex-jerez e, depois, por tempo igual, em barris de ex-bourbon, o Concept No.1 é um whisky criado para a explorar a maturação de forma mais imginativa. Trazendo características notas de frutas cítricas e gengibre, é um destilado que combina uma paixão inabalável pelo whisky com uma maestria infalível, incentivada por escolhas sofisticadas e destmidas

Surreal, na opinião deste canídeo, é esse papo da The Macallan. Porque, afinal, não há nada de muito inovador no processo de maturação do Concept No. 1. Ela acontece em barris de primeiro uso de carvalho europeu de ex-jerez e carvalho americano de ex-bourbon, algo bem tradicional no mundo dos maltes. As diferenças – conjunturais, na opinião deste cão – é a inversão da ordem (normalmente, a maturação em ex-bourbon ocorre antes) e o emprego de uma técnica que poderia ser considerada uma finalização pela The Macallan, talvez pela primeira vez.

Eu desisto.

Mas há algo a ser considerado. É que apesar de toda pretensão – e como acontece com muitas obras de arte – o The Macallan Concept No. 1 é bem bom. É um whisky equilibrado e oleoso, que traz o dulçor e caramelo do bourbon bem balanceados com o vínico apimentado do carvalho europeu de ex-jerez. Há, talvez, uma certa juventude lá. Mas ela está bem escondida – quase um quadro sobre um quadro.

E, por conta disso, por ser tão bom, a gente nem acha o The Macallan Concept No. 1 tão pretensioso assim. Sua garrafa e estojo – de um verde piscina bem bonito – contribuem para essa impressão. No final das contas, o Macallan Concept No. 1 é como certa obra de um grande artista. Até pode ter ultrapassado o limite da pretensão. Mas é tão bom, mas tão bom, que a gente até se sente um pouquinho pretensioso bebendo ele.

THE MACALLAN CONCEPT NO. 1

Tipo: Single Malt sem idade definida

Destilaria: Macallan

Região: Speyside

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: caramelo, baunilha. Há um claro aroma vínico, que lembra vinho fortificado. Equilibrado e agradável

Sabor: Caramelo, baunilha e mel, que, aos poucos, revela especiarias, pimenta do reino e taninos. Finalização longa e vínica.

Disponibilidade: lojas internacionais e Duty Free

5 thoughts on “The Macallan Concept No. 1

  1. Me espanta como a The Macallan vem perdendo a sua linha de produção de Whisky( Single Malts envelhecidos em barris 100% quercus robur ex Jerez) que a fez se tornar a The Macallan de hoje, tão beirando a perfeição que, seus single malts são comparados aos mais luxuosos e exclusivos veículos do mundo, os “Rolls Royce”. Mas toda essa perfeição, vem dando lugar ao marketing e ao lucro, acima de tudo, diga-se de passagem… Whisky NAS é até aceitável, desde que mantenha sua linha de produção como um legítimo The Macallan sherry oak 10 anos 100% ex sherry maturado em barris de carvalho europeu, e claro, mantendo um preço de NAS. O que vejo são Whiskys NAS, envelhecidos como a maioria dos Whiskys disponíveis em larga escala e preço barato no mercado(sem exclusividade alguma)com preços de Macallan com idade declarada e qualidade incomparável. E para piorar o que já não estava bom, a maturação e qualidade dos mesmos vem descendo um declive sem equilíbro, em queda livre. Se eu estou ficando velho, (envelheci mais ano na sexta passada dia 14/06) e o mundo perdendo a graça por conta da velhice, eu não sei haha. Hoje, os whiskys da The Macallan, são mais adquiridos pelo nome da organização, do que pela qualidade que é entregada nos seus produto. É como deixar de comprar um Golf GTI MK7 (por possuir a marca Volkswagen) e levar um Classe A190 só por ostentar a marca Mercedes Benz e ter uma estrela no capot. Mas espero que a The Macallan um dia volte a ter, como foco principal, a qualidade de seus single malts e mantendo a tradição que a fez a fama que possui hoje. Desejo não ter mais surpresas desagradáveis da destilaria dos “Rolls Royce dos Whiskys” e nem da BMW(Atual Proprietária da Rolls Royce)como uma M3 com tração dianteira hehe( Estou rindo mas é de desgosto). Um review, como sempre, impecável meu confrade! Só mesmo um review tão bem redigido para amenizar uma tragédia horripilante em uma das minhas destilarias favoritas, Slàinte! P.S.: Perdoe-me pelo desabafo!

    1. Xavier, vamos começar do começo, em ordem alfabética. Então, BMW – Olha, a M3 morreu quando ela substituiu o V8 da E9x pelo biturbo (é biturbo a atual?) de 6 cilindros. 6 cilindros em linha aspirado, vai. Era o caso da E46, que, aliás, tive o prazer de dirigir uma porção de vezes. A E46 gritava, era meio triste em baixo giro, mas compensava – e muito – na alta. A e92 V8 era absolutamente magnífica, exceto, talvez, porque depois de uns anos o dumping control começasse a falhar, e bom, a BMW se mostrava BMW, e não Mercedes-Benz. Razão pela qual hoje minha paixão é a C63 – que, diga-se de passagem, também é turbo, porque nada no mundo é perfeito.

      Perfeição, aliás, que nos leva ao segundo assunto, NAS. NAS funcionam quando há um propósito. Whiskies defumados jovens costumam reter mas o sensorial medicinal e enfumaçado. Então, faz sentido você ter um Laphroaig NAS (como é o caso do An Cuan Mór, que é comparável a BMW E92), ou um Port Charlotte ou Octomore jovens. Quando o papo é sherry, no fundo, é parecido – o barril de jerez costuma transferir congeneres de forma muito mais rápida do que o de bourbon, razão pela qual o Aberlour A’Bunadh, por exemplo, não tem idade.

      Mas, como tudo, o NAS pode ser subvertido. Não acho que é o caso desse Concept No.1 especificamente. Achei um whisky bem gostoso, apesar do preço e do papo esquisito. Ele tem equilíbrio e apesar de às vezes parecer jovem, é muito bem finalizado. Cada caso é um caso, mas acho que as destilarias, em geral, tem que tomar cuidado para não cair na armadilha da fama.

  2. Até o presente momento, provei 2 expressões da Macallan: Lumina e o DC 12yo. Sendo este finalizado exclusivamente em barris ex-sherry, senti uma grande diferença. Acho que o que falta nas expressões de maturação em mais de um barril é pelo menos a proporção justa do uso dos barris. O equilíbrio, que pelo jeito é bem claro nesta expressão.

    Abraço!
    PS: existe alguém mais criativo do que as pessoas que escrevem o texto que vai nos rótulos de whisky hahaha?

    1. Cara, o bróder que escreve o rotulo do whisky podia escrever qualquer coisa. Ele podia até me convencer que o Ford Ecosport é efetivamente um off-road

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