Macallan Sherry Oak 12 – Superabundância

Superabundância de escolha. Não, eu não tenho nenhuma forma mais sucinta – ou menos espalhafatosa – de descrever o fenômeno. E, para falar a verdade, foneticamente, até gosto. A palavra superabundância, com sua retumbante aliteração, cria um eco capaz de exaltar o conceito. Que vou explicar a seguir, depois desta pequena digressão introdutória.

A superabundância de escolha acontece quando tomar uma decisão se torna um processo mentalmente esgotante, por conta do enorme número de variáveis e possíveis resultados. O conceito foi primeiro cunhado pelo escritor Alvin Toffler, em um livro de 1970, chamado A Terceira Onda. De acordo com Toffler, não ter alternativa é quase tão ruim quanto ter alternativas demais. Há uma espécie de arco de sastifação. Deve haver escolha, mas não tanta escolha a ponto de trazer insegurança. Tipo quando fui na farmácia comprar absorventes para a Cã, não sabia se era noturno, com ou sem abas, soft, ultra soft ou qualquer coisa assim, e fiquei morrendo de medo de levar bronca chegando em casa.

f****-se . Vou comer um hambúrguer.

Pode até parecer meio complicado, mas não é. Quando escolhi, por exemplo, ser advogado, ponderei uma infinidade de alternativas antes disso. Algumas pareciam obviamente equivocadas – como, por exemplo, jogador de basquete, visto que minha habilidade e estatura eram comparáveis à de um gnomo de jardim. Outras, entretanto, pareciam ter contornos mais enevoados. Do alto de meu autoconhecimento aos dezessete anos de idade, como decidir entre jornalismo, letras, direito ou, sei lá, ser simplesmente um andarilho?

Mas eu sei lá porque resolvi explicar superabundância para você, leitor de um blog de whisky. Porque, se você está aqui, é porque, justamente, sente – e às vezes até mesmo se regozija – nesse excesso de escolha. É o excesso de escolha que alimenta nosso entusiasmo. E as destilarias e marcas entendem isso. Algumas, perfeitamente. Como, por exemplo, a The Macallan.

A The Macallan tem mais de uma dezena de linhas diferentes, entre whiskies para o mercado doméstico e o de duty free. Triple Cask, Double Cask, Sherry Cask, Edition Series, Concept Series, Quest Collection, Rare Cask, Harmony Collection. Mas, dentre todas elas – das mais improváveis como o Rich Cacao – até as mais simples, como o Triple Cask 12, talvez a mais clássica e admirada seja a Sherry Oak. Da qual faz parte o The Macallan Sherry Oak 12 anos, tema desta prova, e que finalmente acaba de desembarcar no Brasil.

Superabundância de alambiques?

De acordo com a destilaria, o The Macallan Sherry Oak 12 é maturado exclusivamente em barris de carvalho temperados com vinho jerez oloroso espanhol. Em uma entrevista concedida por Stuart McPherson, master of wood da The Macallan, as espécies utilizadas são Quercus Robur e Quercus Petrea. A própria The Macallan escolhe os barris. O processo de “tempero” também é levado com esmero. As barricas são preenchidas com vinho oloroso produzido sob especificação da The Macallan, e deixados para descansar. Este processo leva de doze a dezoito meses. Todo este cuidado tem um motivo – conforme a McPherson, quase 80% do sabor de seu whisky vem da maturação.

A diferença entre as linhas Triple, Double e Sherry Oak reside, justamente, no carvalho usado. E ainda que pareça contra intuitivo, quanto menor o número, mais exclusivo é o whisky. Isso tem a ver com o preço das barricas. A linha triple cask utiliza maior proporção de carvalho americano, inclusive, barris de ex-bourbon. A double cask, tanto europeu quanto americano, mas, tão somente, temperados com jerez. Já a sherry oak emprega apenas carvalho europeu. E estas barricas de carvalho europeu – do qual Quercus Robur e Quercus Petrea fazem parte – são mais caros e raros do que aqueles de carvalho americano.

Há outro ponto a ser ressaltado, também. Whiskies cuja maturação ocorre exclusivamente em barris de ex-jerez, normalmente, devem possuir um new-make intenso, oleoso e congenérico, para garantir o equilíbrio. A curva de maturação de barricas de carvalho europeu de ex-vinho, em média, é mais acentuada do que aquele do carvalho americano – um new make frágil ou muito tempo de maturação pode resultar em um single malt desequilibrado. Este não é o caso do The Macallan Sherry Oak 12. O destilado da The Macallan tem um perfil de sabor claro, que complementa os sabores e aromas trazidos pela maturação.

Sensorialmente, o The Macallan Sherry Oak 12 anos traz notas de açúcar mascavo, frutas secas, como ameixas e uvas passas e um final apimentado, com cravo, canela e pimenta do reino. É o perfil mais clássico de um whisky maturado em ex-jerez. É curioso, inclusive, que apesar da maturação, o whisky pareça sensorialmente tão acessível e equilibrado. É impossível não gostar do The Macallan Sherry Oak 12 anos. Exceto, talvez, por seu preço!

Como a maioria dos rótulos da destilaria, o The Macallan Sherry Oak 12 anos não usa corante caramelo. Isso significa que a padronização deve ser dupla. Tanto em relação ao sabor quanto à cor. O time de whisky makers, liderado por Kirsteen Campbell, deve se cetificar que toda garrafa de Sherry Oak 12 anos tenha o mesmo perfil sensorial e também cor, sem recorrer ao corante, para padronização. Isso é feito pela mistura de barricas de diferentes idades e perfis sensoriais, em proporções cuidadosamente estudadas.

O time da The Macallan

O The Macallan Sherry Oak 12 anos é provavelmente uma das mais acertadas escolhas para os apaixonados por whiskies maturados em barris de jerez. Ainda que seja inegável que para nós, entusiastas de whisky, que há uma superabundância de escolha. E que decidir entre um e outro whisky cabe tão somente a nós – nosso gosto pessoal, capital disponível e oportunidade. Mas, finalmente ter o The Macallan Sherry Oak 12 anos no Brasil, à nossa disposição, quiçá torna o processo decisório bem mais fácil. Ou não.

MACALLAN SHERRY OAK 12 ANOS

Tipo: Single Malt com idade declarada (12 anos)

Destilaria: Macallan

Região: Speyside

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: açucar mascavo, frutas secas, especiarias.

Sabor: Caramelo, pimenta do reino, uvas passas, ameixas secas. Alcaçuz, final longo, com especiarias e geléia de frutas.

5 thoughts on “Macallan Sherry Oak 12 – Superabundância

  1. Querido amigo cão, hoje finalmente adquiri este famoso whisky e achei que ele realmente é muito diferenciado. Já provei o Glendronach 12 previamente justamente porque era uma alternativa economicamente mais vantajosa (ou viável), na opinião de muitos, visto que este Macallan acabava por chegar num valor inacessível por aqui. Em minha opinião acho que atualmente está valendo a pena experimentá-lo. Aqui em Goiânia paguei 665 reais na garrafa. Em vossa opinião canina, notou muita diferença em relação à versão de 43%? Era este que costumava chegar aqui, mas na casa dos 1000 reais and above. Grande abraço!

    1. Opa, fala meu caro!

      Olha, eu não vi muita diferença não. Para te falar a verdade, não vi nenhuma – depois que me alertaram que o ABV tinha mudado. Senão, teria passado totalmente em branco. Acho bem bom esse daí!

        1. Fala Israel! Por motivos de “meu deus do céu, que polêmica” eu não falo mais de custo-benefício, hahaha!

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