Greenpoint – Aral contra Dudinka

Seis amarelos no Aral contra quatro verdes em Omsk. Ou no Omsk. Tá bom, vai lá, mas vai ter troco, tô com dez na Dudinka. War era divertido, mas era um desserviço pra geografia. Se você me perguntar o que está entre a Russia e a China, vou demorar uns três minutos para lembrar do Cazaquistão. E isso, porque tem o Borat. Mas, na hora, a televisão mental projetará uma imagem do Aral. Very nice! As horas na frente do tabuleiro criaram uma espécie de memória fotográfica falsa de como o mundo é dividido. E nem é só na Asia, não. Aquela Califórnia enorme, esticando até os Grandes Lagos, e Nova Iorque que vai até Miami não ajudam muito. Tampouco a Colômbia, que anexou todos os países do norte da América do Sul. Ou o Chile que finalmente resolveu a celeuma sobre qual melhor pisco, incorporando o Peru. Aliás, falando em nova Iorque, eu aprendi geografia mundial com o War. Mas regional – mais especificamente, de Nova Iorque – com a coquetelaria. E nem foi porque eu viajei pra isso. Foi por causa do Manhattan. É que o coquetel tem infinitas variações – está quase dominando 24 territórios à sua […]

Glenfiddich Grand Cru 23 – Ano Novo

Ah, chegou o ano novo. E com ele, aquelas tradicionais simpatias. Pular sete ondinhas, comer lentilha, assoprar canela, comer romã e guardar as sementinhas junto com a folha de louro na carteira. Colocar dinheiro no sapato e usar branco. Por mais inofensivo que possa parecer, devo, porém, declarar que não vou fazer nada disso. Do jeito que sou azarado, provavelmente espirraria com a canela, tropeçaria e cairia no mar. Arrotaria lentilha de susto, sujaria a roupa e o sapato. O dinheiro na sola ficaria ensopado, assim como minha carteira. Que depois de um tempo começaria a mofar, devido à folha de louro e sementes de romã úmidas, guardadas lá dentro. E meu ano seria péssimo. Por isso, decidi que não vou fazer simpatia nenhuma. Aliás, para não correr riscos, resolvi passar o ano novo bem longe do mar. Num hotel da cidade, vendo algum filme. E sem champagne também, porque a chance de eu acertar meu olho com a rolha é razoável. Ao invés disso, escolhi um single malt maturado em barricas que antes contiveram champagne. Ou quase isso. O Glenfiddich Grand Cru 23 anos. O Glenfiddich Grand Cru 23 chegou ao Brasil sem grandes explosões de rolhas, no final […]

Retrospectiva de Whiskies 2023 – Os Melhores do Ano

Recebi minha retrospectiva do Spotify. E ela é impublicável. É que todo mundo aqui em casa – apesar de ter a própria conta do Spotify – prefere usar a minha. Aí, parece que tenho transtorno borderline em relação a meu gosto musical. Apenas para entender o que quero dizer: minha banda mais ouvida foi BTS, mas o gênero preferido, southern gothic. E a música individual mais escutada foi Ronaldo, do Gato Galático, ouvida trinta e sete vezes num único domingo, seguida por Friendship is Magic, do My Little Pony. Ninguém tem um gosto tão eclético assim sozinho. Mas o que eu queria mesmo ver, era a minha retrospectiva do Ifood – claro, com a contribuição de minha família. Seu restaurante mais pedido foi McDonald’s. O prato individual mais comido foi o Preferido, do Netão. Numa semana, você pediu quatro vezes Brás Pizzaria. Ao todo, juntando todos os hamburgueres e pizzas, você consumiu cinco quilos de pura banha. Seu gênero preferido foi junk food, e a tendência é, certamente, ao infarto do miocárdio. Ou então, da Drogaria SP. Sua retrospectiva chegou! Seu remédio mais pedido este ano foi a dipirona. Mas você é eclético, e tomou bastante esomeprazol, também. Mas a […]

Jack Daniel’s Single Malt – Coincidências

A história é cheia de gente importante que morreu de forma estúpida. Vou dar aqui exemplos de dois indivíduos notórios, mas que comprovaram que uma vida extraordinária não exime ninguém de uma morte trivial. Aliás, a mesma morte trivial. O primeiro deles é o compositor francês Jean Baptiste Lully. Lulli nasceu na cidade de Florença em 1632, de uma família com poucas posses. Seus pais possuíam um moinho, numa época de guerra e praga na Itália. Na infância, Lully recebeu pouca educação formal e musical. Um pouco mais velho, aprendeu a tocar violão com um padre franciscano. Tornou-se autodidata no violino e na dança – e passou a se apresentar em público, vestido de arlequim, cantando e dançando. E foi assim que em 1646, Lully chamou a atenção de Roger de Lorraine, filho do Duque de Guise. Roger devia ter algum senso de humor, porque gostou de Lully mesmo em trajes ridículos, e o convidou para se tornar valet de chambres de sua sobrinha, a Mademoiselle de Montpensier. Jean Baptiste, entretanto, mirava mais alto. Atraiu a atenção do rei Luís XIV, e, em 1653 foi nomeado “compositor real”. Naquele ponto, Lulli havia se tornado um exímio dançarino e compositor, e […]

Live Free or Die – Amigo Secreto

Preciso confessar para vocês uma pequena vitória, que acabei de notar. Já estamos em dezembro, e, até agora, não fui convocado para nenhum amigo secreto. Isso é uma novidade para mim, porque, todo ano, alguém que eu não vi desde o ano anterior, me chama para um convescote desses. Além de ser um evento fastidioso, tem o presente. Eu sempre dou presente bom, e sempre ganho um vaso, ou um perfume. E eu raramente uso perfume, porque atrapalha na degustação de whisky. E aí a turma diz que eu sou difícil de agradar. Eu sou a pessoa mais fácil do mundo. É só dar qualquer coisa alcoólica. Esse negócio de muito whisky não existe. É sempre bom ter mais um. Ou algo de cozinha. Uma faca, por exemplo. Sempre tem utilidade para mais uma faca lá em casa, nem que seja esfaquear o miserável que me deu um vaso no ano anterior. Mas a verdade é que eu fiquei um pouquinho preocupado com essa ausência de amigo secreto. De certa forma, é libertador. Mas, por outro lado, pode significar que não tenho mais amigos. Ou que cheguei naquela idade em que todos nossos relacionamentos sociais arrefecem, e a gente não […]

5 Whiskies para (se) dar de presente

Respiro aliviado pela passagem da Black Friday. Ou melhor, pela sua ausência. Porque, no Brasil, a gente não tem isso de verdade. A gente tem pré-black-friday. E tem Semana Black Friday, Esquenta Black Friday, Black Friday de Fevereiro, e Aqui é Black Friday o Ano Todo. O mais curioso é que, em nenhuma dessas situações – e nem mesmo na black friday verdadeira-de-mentira – os preços são, realmente, de Black Friday. E todo mundo sabe disso, mas continua agindo como se a data fizesse algum sentido por aqui. Eu mesmo, resisti bravamente à vontade de comprar uma sanduicheira pela metade do dobro do preço que vi, há uns seis meses, numa loja do shopping. O que foi bom, porque, logo depois, percebi que era hora de começar a comprar os presentes de natal para a família. E isso me trouxe outra lembrança. De que, normalmente, nessa época do ano, faço uma matéria com novidades do mundo do whisky no Brasil, para presentear seus entes queridos – e os nem tanto – nas festividades de final de ano. E aqui está – para manter a tradição, cinco whiskies, do mais barato para o mais caro, para agradar a todos. Depois da […]

Suntory Hakushu 18 Peated 100th Anniversary Edition

Não sabendo que era impossível, foi lá e soube. Mas é a vida, sem lutas, não há derrotas. E se destacar em algo nem é bom assim. Pense, por exemplo, no prego. Prego que se destaca, é martelado. É melhor mesmo permanecer na zona de conforto. Empreender é isto: o passado não pode ser mudado, mas o futuro tem toda chance de ser um enorme fracasso. Afinal, são os sonhos que antecedem os fracassos. E quanto maior, mais chance de se lascar. A dimensão do sonho de certo Shinjiro Torii, há um século, era daquelas capazes de um tsunami de derrotas. Torii era um desses empreendedores destemidos, à la Richard Branson, só que mais baixo e com um cabelo mais comportado. Ele possuía uma empresa de produtos farmacêuticos, e também uma importadora de vinhos fortificados – a Akadama Sweet Wine. Mas seu verdadeiro sonho era criar o primeiro whisky genuinamente japonês. Os detalhes de como Torii deu os passos iniciais em direção ao abismo, digo, à criação da primeira destilaria japonesa, são enevoados. Porém, em 1923, com o auxílio de um certo Masataka Taketsuru, a Suntory nasceu na convergência dos rios Katsura, Uji e Kizu. Era a primeira destilaria japonesa, […]

Royal Salute 30 – The Keys to the Kingdom

Na matéria desta semana, vou recorrer, mais uma vez a Wittgenstein. “O homem é um animal ritualístico“. Ou de uma forma mais poética, a Clifford Geertz. O homem é um animal suspenso em uma teia de significados que ele mesmo teceu (…). A cultura é esta teia“. Somos mesmo, bichos que gostam de uma cerimônia. Do mais simples aperto de mão à mais opulenta coroação. Ritos são parte de nossa comunicação diária, e definem nossa cultura e comportamento. Em Edimburgo, acontece, anualmente, uma cerimônia que encapsula a essência da observação de Wittgenstein e Geertz. A Cerimônia das Chaves. É um ritual, em que o Lorde Reitor cede as chaves simbólicas da cidade ao monarca, que as devolve, apontando que ninguém melhor do que aquele cedente como guardião daquelas. É só isso. A Cerimônia das Chaves geralmente acontece em julho, e marca o início do período de férias da monarquia britânica na capital escocesa. Em outras palavras, é basicamente quando o proprietário do AirBnB que o rei vai ficar entrega as chaves da casa pra ele. Só que a casa é a Escócia inteira. É este breve rito que a Royal Salute, marca de blended whiskies de luxo escocesa, presta homenagem […]

Suntory Yamazaki 18 anos 100th Anniversary Edition

Se você quer aparecer, coloca uma melancia na cabeça e sai na rua – repetiu uma mãe para uma criança, que fazia escândalo na minha frente, no supermercado. Não sei o que me deu, mas completei baixinho “ainda mais se for uma Densuke“. A mulher ouviu, e me olhou numa mistura de ódio e intriga. Abanei a cabeça – “tô pensando alto, falando sozinho, desculpa“. Ela bufou e virou pra frente de novo. Não expliquei. Mas uma das frutas mais raras e caras do mundo é a melancia Densuke japonesa. Ela cresce somente na ilha de Hokkaido – ao norte do Japão – e tem sua casca completamente preta. O sabor é descrito como mais adocicado do que da melancia comum, e com menos caroços. Exceto por essa diferença marginal, a Densuke é uma melancia como qualquer outra. Exceto pelo preço. Uma Densuke custa em torno de mil e quinhentos reais, mais ou menos, ainda que em 2008 uma bem grande tenha saído por seis mil dólares! O Japão tem todo um fascínio por matérias primas caras e raras. Melancias quadradas também são produzidas lá, assim como morangos do tamanho de bolas de tênis. Isso sem falar do baiacu, cuja […]

Royal Salute Jodhpur Polo Edition – King Khan

Três e meio bilhões de pessoas. De acordo com uma entrevista de 2019 a David Letterman, esta é a base de fãs do ator, apresentador, produtor e dançarino indiano Shah Rukh Khan. Ele figurou em filmes importantíssimos, como Kuch Kuch Hota Hai, Rab Ne Bana Di Jodi e Veer-Zaara, e faturou, em sua vida, mais de seiscentos milhões de dólares em sua prolífica carreira. Uma a cada três pessoas no mundo conhecem “King Khan” – como ele também é chamado. É curioso isso, porque eu não fazia a mais rasa ideia de quem ele era. E mais, nunca vi sequer um filme dele. Escrever o parágrafo acima parecia quase um esforço de ficção. Mas não é. Ele só demonstra o tamanho do poder cultural – e populacional, claro – da Índia. O país, aliás, é famoso por muitas coisas. Culinária (apimentada), mausoléus grandiosos, diversidade religiosa incomparável, trânsito caótico, sacramentação de bovinos. E críquete. Críquete é muito mais popular que futebol na India. Mas o coração esportivo do país é dividido. Por conta da colonização britânica, outro esporte muito querido por lá é o polo equestre. Aliás, a India é o berço do polo equestre moderno. Ele se originou de um […]