“O tempo é a substância da qual sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me devora, mas sou o tigre; é um fogo que me consome, mas sou o fogo” escreveu Borges em sua Nova Refutação do Tempo. Desgraçadamente – para continuar no tema Borgiano – tenho tido bastante tempo para pensar nele mesmo. Não em Borges. Mas no tempo.
Ultimamente, a passagem do tempo tem me trazido ansiedade. Almejo que tudo passe logo, para voltar àquele status quo. Trabalho normal, vida corrida. Aquele em que o tempo passa tão rapidamente que nosso anseio se torna justamente o contrário – que ele demore mais. Normalmente, a passagem do tempo não é muito querida. Exceto quando em quarentena e durante alguma aula chata de matemática. E – de acordo com o senso comum – com whiskies.
É que muita gente acha que idade é sinônimo de qualidade em whisky. Mas este pensamento está absolutamente equivocado. Há características sensoriais de whiskies jovens que são praticamente irreplicáveis em whiskies mais maturados. A turfa, por exemplo. Whiskies turfados são, sensorialmente, muito mais turfados quando há pouca maturação. A influência sensorial da turfa decai com a idade. Um mesmo whisky turfado com dez anos é muito mais enfumaçado e medicinal do que seu par com meio século de idade.
E há, também, aqueles que são jovens, acessíveis e absolutamente surpreendentes. Whiskies ora delicados, ora um pouquinho agressivos, mas que – aliando casualidade e qualidade – ganham o coração de qualquer entusiasta. Fiz aqui uma lista de quatro deles. De whiskies jovens bem acessíveis àqueles que, apesar da pouca idade, custam o mesmo que o meu fígado. O meu fígado jovem, claro, porque, agora, ele só serve para fazer foie gras. Enfim, vamos a eles.
FAMOUS GROUSE FINEST
Poderia utilizar o clichê “bom, bonito e barato” para descrever o Famous Grouse, não fosse sua garrafa horrorosa com um símbolo ainda mais feio. O que, em termos práticos, não importa nem um pouco. O líquido é sensorialmente excelente, e o preço o torna ainda melhor. O Famous Grouse Finest é a prova de que whiskies sem idade e acessíveis podem, sim, ser muito bons.
Sensorialmente, é um blend relativamente encorpado, bastante equilibrado, levemente puxado para o adocicado e com nenhuma – ou talvez pouquíssima – defumação. Os principais single malts em sua fórmula são Glenturret, The Macallan e Highland Park. Uma tríade que, convenhamos, não poderia ser melhor. Para saber mais sobre ele, clique aqui.
CHIVAS REGAL EXTRA
Desenvolvido pelo master blender Colin Scott, o Chivas Extra é um blended whisky sem idade definida, composto por single malts e grain whiskies. Sua base é o Strathisla, importante destilaria pertencente ao grupo Chivas, e considerada o lar espiritual da marca. O diferencial fica por conta do uso generoso de barricas de carvalho europeu de ex-jerez.
Ainda que isso não seja divulgado, este Cão tem um palpite educado sobre o Extra. Barricas de carvalho europeu tendem a atingir seu ponto de equilíbrio mais rapidamente do que de carvalho americano. Assim, utilizando whiskies jovens, a Chivas Regal consegue atingir um equilíbrio melhor em seu blend, e dar escala de produção a ele. Quer saber mais? Clica aqui.
GLENLIVET FOUNDER’S RESERVE
A Glenlivet é uma das maiores destilarias em volume de venda na Escócia. E sua expressão mais vendida – e quiçá responsável por seu crescimento nos últimos anos – é justamente o Glenlivet Founder’s Reserve. Lançado em 2015, o Founder’s assumiu o papel de whisky de entrada do portfólio da Glenlivet – função outrora desempenhada pelo respeitado 12 anos.
o Founder’s Reserve é maturado em uma combinação de barricas de carvalho americano de primeiro uso, que antes continham Bourbon whisky, com outras barricas de carvalho americano que já haviam maturado The Glenlivet antes. Essa combinação permitiu que Alan Winchester, o master distiller da marca, produzisse um whisky consistente, escolhendo e combinando as barricas pelo sabor, e não pelo tempo de maturação em seus armazéns. Quer saber mais sobre ele? Clica aqui.
PORT CHARLOTTE SCOTTISH BARLEY
Olha, eu não poderia terminar minha lista de outra forma. O Port Charlotte Scottish Barley é tudo que um bom whisky de Islay é – bastante alcoolico, insanamente defumado e timidamente maturado. Ele é a essência de tudo aquilo que esperamos de um whisky medicinal, salino e enfumaçado.
Tudo isso, graças à sua juventude. Por conta da maturação – que não passa de dez anos – seu new-make spirit é evidente. E que new-make. Iodado e defumado, o Port Charlotte Scottish Barley é um dos rótulos à venda no Brasil mais queridos deste Cão Engarrafado. Mas como tudo tem um ponto negativo, ele não é exatamente barato. Para saber mais sobre ele, clique aqui.
Meu caro, há uma semana experimentei o Chivas Extra. Achei excepcional! Mas caro… Muito caro. E eu tenho uma forte predileção pelo Famous Grouse! O Extra é um uísque melhor que o Famous, mas o preço é quase o dobro. O Founders e o Charlotte não conheço. Ainda…
Abraço!
Olá, não conhecia o Port Charlotte, os outros sim
Estive ano passado na Escócia , provei e trouxe alguns “isley”
Gosto de sabores defumados
Muito bom o artigo e o site
Parabéns
Obrigado!!
Olá, bom dia! O que acha do Deanston Virgin Oak?
Oi Ronan, infelizmente não provei ainda!
Como vai, mestre?
Conforme te falei, preciso provar o Famous Grouse. O Black Grouse eu adorei.
Founder’s Reserve está na minha lista. Quase peguei na última compra, mas fiquei com o Aberfeldy 12yo.
Chivas Extra e PC são excepcionais!
Abraço.
Maurício, ouvi críticas à respeito da diferença do Extra depois da nacionalização, qual sua opinião???
Fala mestre. Puxa, nunca experimentei lado a lado. Imaginei que fossem o mesmo o whisky. Mas provei uma garrafa que comprei recentemenente e estava uma delicia.