(mais que um) Drops – Glenfiddich IPA Experiment

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Gosto muito de whisky, isso não é segredo para ninguém. Aliás, imagino que este seja um prerrequisito tácito para se ter um blog sobre o assunto. Do contrário, as provas e textos seriam, para não dizer nada pior, enfadonhos. Algo na linha de olha, se você gosta de whisky, é possível que vá suportar beber isto daqui, mas como eu não gosto, então, bom, achei horrível. Nao. Beba. Whisky. Nunca.

No entanto, além do melhor destilado do mundo, também tenho outros interesses etílicos. Me interesso bastante por coquetelaria – como podem ter notado ao acompanhar o blog – arranho no gim, e adoro uma boa cerveja. Gostaria de saber mais sobre outras bebidas, e, principalmente, experimentar tudo. Mas por uma questão de tempo e fígado, me vejo obrigado a escolher frentes de combate. E dessas frentes, talvez minha segunda ou terceira seja, justamente, a cerveja. Sou apaixonado pelas amargas India Pale Ale, e tenho uma preferência quase natural pelas Imperial Stouts, bem torradas. Se passar por barril ainda melhor.

Se você é como eu, provavelmente ficará ansioso com essa notícia. É que a Glenfiddich, uma das mais famosas destilarias de single malt da Escócia lançou, justamente, um whisky que é finalizado em barricas que antes contiveram cerveja IPA. É o Glenfiddich IPA Experiment, o primeiro de uma linha de single malts experimentais criados pelo malt master da Glenfiddich, Brian Kinsman.

Para o Glenfiddich IPA Experiment, Brian se juntou a Seb Jones, mestre cervejeiro responsável pela Speyside Craft Brewery. A cervejaria de Seb se encarregou de produzir três IPAs diferentes, sendo que uma delas seria escolhida para fazer parte do experimento. Após certa discussão e muita prova, Jones e Kinsman se decidiram pela IPA que levava dry-hopping de lúpulos Centennial.

Segundo Seb “usamos mais lúpulos complementares do que contrastantes (…). Eles (Glenfiddich) possuem notas de pera, então adicionamos aroma e sabor frutados. O resultado é um whisky leve e sutil. Você sente o dulçor inicial dos lúpulos, e depois há uma finalização interessante, maltada, vinda da pale ale“.

Escolhida a cerveja, era hora de colocar o experimento em prática. Kinsman então a colocou em barricas que maturavam Glenfiddich por, aproximadamente, doze anos, para que as encharcassem e penetrassem na madeira por algum tempo. Depois, a IPA foi retirada e engarrafada, e o whisky devolvido às suas barricas para passar mais alguns meses.

O processo de criação do Glenfiddich IPA Experiment
O processo de criação do Glenfiddich IPA Experiment

Segundo Brian Kinsman, “A ideia por trás do Glenfiddich IPA Experiment é pouco usual, mas é uma que focamos apaixonados – queríamos mesmo brincar com os sabores para ver o que poderíamos criar“. Para Brian, a ideia não seria criar um whisky com sabor de cerveja. Mas sim um single malt que se beneficiaria da finalização naquelas barricas pouco usuais, adicionando complexidade e sabores incomuns a single malts.

Recentemente, por uma coincidência, este Cão teve a oportunidade de provar o Glenfiddich IPA Experiment em um lugar bastante apropriado. O Empório Alto de Pinheiros, bar recentemente eleito pela revista Veja Comer & Beber como o aquele com a melhor carta de cervejas de São Paulo. A prova do single malt contou também com as ilustres participações de Cesar Adames e Paulo Almeida. Este último, o sócio por trás daquela meca para os amantes de cerveja. Aliás, na mesma oportunidade provamos também o Johnnie Walker Rye Cask e o Jameson Caskmates que passa por barris de cerveja stout.

Nossa impressão foi unânime. O IPA Experiment é muito semelhante ao Glenfiddich 12 anos. Aliás, é praticamente impossível diferenciá-los, se não forem bebidos na mesma situação. O sabor predominante é de maçã verde. Entretanto, no caso do IPA Experiment, há um retrogosto que realmente remete a lúpulo. Um amargor adocicado de frutas, que potencializa a finalização do whisky. Se você gosta de inovações, então o Glenfiddich IPA Experiment é seu whisky. Ele é suave e frutado na medida para agradar a maioria dos paladares, e pode facilmente ser bebido puro.

O único senão é que ele não virá para o Brasil. Assim, se estiver viajando e cruzar com alguma loja de bebidas, procure pela garrafa. E não se preocupe muito com suas frentes de combate. Não é todo dia que encontramos um whisky com tanta afinidade com o mundo das boas cervejas.

GLENFIDDICH IPA EXPERIMENT

Tipo: Single Malt Whisky sem idade definida

Destilaria: Glenfiddich

Região: Speyside

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: Cítrico, com mel e levemente floral.

Sabor: Frutado, cítrico, com mel e nozes. Maçã verde. O sabor residual vai se tornando progressivamente mais amargo.

Com água: A agua ressalta o aroma e sabor de maçã verde, e torna o final ainda mais frutado e amargo.

Preço: GBP 50,00 (cinquenta libras – fora do Brasil)

 

 

16 thoughts on “(mais que um) Drops – Glenfiddich IPA Experiment

  1. Como vai, Maurício?

    “Mas por uma questão de tempo e fígado, me vejo obrigado a escolher frentes de combate.” – resume bem uma das injustiças da vida – tantas destilarias para conhecer, tanta água da vida aguardando para ser degustada e nós aqui com apenas um fígado e sofrendo com a efemeridade do tempo…

    Um grande abraço e viva a inovação!

  2. Interessante, pena que não criou algo muito diferente.
    E sobre a cerveja que foi usada? Está à venda?
    É uma boa concorrente para o Olah Dubh

    1. João, a cerveja está à venda, mas não vem para cá. Aliás, acho que nenhum rótulo da Speyside vem. Acho que a concorrência aí está mais para a Orach Slie e as ales da Innis & Gunn. A Ola é uma porter, que briga com as outras porters e stouts maturadas em barricas. Aliás, falando em porters e stouts, fique de olho por aqui, já já falaremos de um Jameson que passa por barricas destas cervejas

          1. Olá. Encontrei na Cellshop Duty Free, em Foz do Iguaçu, no Shopping Catuaí Palladium.
            Abraços!

    2. Caro João,

      Conheço a Ola Dubh 12 e 16. Acho improvável que a cerveja maturada em barricas suavemente adormecidas em Glenfiddich, processo distinto da Harviestoun´s, que utiliza barricas provenientes da produção do whisky (reproduzindo sacada dos escoceses com Jerez e Bourbon) seja uma concorrente.

      Minha opinião pode e certamente está contaminada por minha paixão pela destilaria Highland Park, então vale conferir na primeira oportunidade.

      Nos deixe informado.

      Abraços,

      Sócrates

  3. Prezado Maurício,

    Meu xodó é vinho, mas sou vidrado em destilados (whisk(e)y, brandy espanhol, cognac, armagnac, calvados e gin) e cervejas. A história mais curiosa que conheço sobre a alquimia envolvendo cerveja e whisky é o caminho tortuoso que terminou na criação da escocesa Innis&Gunns. O projeto original era produzir um whisky com acabamento em barricas usadas para maturar ale. Elaborada a cerveja conforme receita para atingir os efeitos desejados no whisky e passado o período de maturação previamente definido, a cerveja seria simplesmente descartada para liberar as barricas. A instrução do descarte teria sido dada para um profissional que resolveu experimentar a cerveja. Não cumpriu a instrução, retornou com amostras e solicitou que os envolvidos com o empreendimento provassem a cerveja. A cerveja não foi descartada, nasceu a Innis&Gunns e nunca mais retomaram o projeto original. Estou vendendo a história pelo preço que comprei. Não há lucro. Independentemente da veracidade, recomendo as Innis&Gunns Original, Toasted Oak IPA e Rum Finish, para mim a melhor.

    Abraços

    1. Sócrates, sim, já tinha ouvido essa historia. Olha, se não é verdade, tornou-se verídica. A própria Innis a contou.

      Rum Finish é realmente muito boa. Todas são. Nesta linha, temos também a Orach Slie, uma ale clara, produzida pelo pessoal da Harviestoun – ah, os mesmos da magnífica Ola Dubh – e que é maturada em barricas de Glenfarclas. A história não é tão romântica, mas a cerveja está à altura.

      1. Caro Maurício,

        Descontando o efeito do Highland Park 1998 que tomei em generosa quantidade hoje, acho que a Harviestoun´s utiliza barricas da Highland Park e não de outra queridinha, que é a Glenfarclas.

        Na primeira oportunidade provarei a Orach Slie. Grato pela dica.

        Abraços,

        Sócrates

        1. Sim senhor, é isso mesmo. Eu disse outra coisa? Se sim, I stand corrected. Ola Dubh é maturada em Highland Park. Orach Slie, Glenfarclas. Todas as harviestoun são apaixonantes, mas a série “engine oil” e as Ola são hors-concours.

  4. QUIS SER CULTO MAS CAGOU NO PORTUGUES KKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
    NAO É “PRERREQUISITO” E SIM “PRÉ-REQUISITO”

    1. Opa! Obrigado pela dica, Raisha! Mas no Howaiss está “Prerrequisito” e “Pré-requisito”. Provavelmente se tornou forma válida por conta do novo acordo ortográfico! kkkkk! É esquisito né?

    2. Bom, ele se saiu bem melhor do que você, que quis pagar de hater com um “hint de Professor Pasqualle” e ficou parecendo um adolescente fazendo baderna na internet e, por acaso, deu de cara com este artigo e resolveu aprontar pra aproveitar o ensejo. Completamente constrangedor. Isso aqui é um ambiente de discussões adultas e sobre algo muito específico. O Twitter é lá do outro lado, garotão arteiro.

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