Whiskies para comprar no Duty Free II

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Ah, finalmente nos aproximamos do fim do ano. Uma época recheada de contradições. Árvores de natal, neve artificial e calor infernal. Uma agenda cheia de compromissos sociais, e a vontade negativa de frequentá-los.

E você até poderia argumentar que tudo bem, que o fim de ano é chato mesmo, mas que ao menos temos os feriados. Só que neste ano, neste lindo ano de dois mil e dezesseis, nem isto serve de alento. Porque tanto o natal quanto o réveillon cairão em um fim de semana.

Assim, para nós, restam apenas duas opções.  A primeira é derreter em casa. Lentamente derreter, assistindo pela televisão aos fogos de artifício no Rio de Janeiro, levantar o pé esquerdo e entornar algum espumante, desejando que, em 2017, possamos passar menos calor e descansar ao menos um dia a mais.

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Bem por aí

A segunda é viajar. Talvez para o interior. Ou para outro estado. Ou – idealmente – para outro país. Um país mais frio e com menos gente que conhecemos. Viajar para ver novos lugares, novas culturas e novas bebidas. E, de quebra, comprar alguns whiskies no Freeshop, claro.

Assim, aí vai nossa tradicional lista de (desta vez) cinco whiskies que podem ser facilmente encontrados nos Duty Frees de aeroportos brasileiros, no embarque ou desembarque de voos internacionais. Organizados por preço, do maior para o menor. A lista anterior você pode encontrar clicando aqui.

Aproveite suas férias para beber melhor.

 

THE MACALLAN RARE CASK BLACK

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É um Macallan defumado. Realmente precisa falar mais? Bem, segundo o próprio site da destilaria, o Rare Cask Black é um whisky diferente de qualquer outro Macallan de hoje em dia. Menos de cem barricas foram escolhidas para sua criação.

O Rare Cask black tem coloração semelhante àquela do Macallan Ruby. Seu sabor, aliás, é próximo daquele, mas com um toque a mais de defumado e uma finalização puxada claramente para os taninos do vinho Jerez.

O preço é igualmente picante. US$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta dólares) em nosso duty free. Mas veja pelo lado bom, não vai sobrar dinheiro na cota para trazer chocolatinhos para todas aquelas pessoas que você não quer presentear com chocolatinhos.

 

GLENLIVET NADURRA PEATED CASK

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Glenlivet (quase) cask strength. Se não ficou convencido, então saiba que o Peated Cask é – como o nome diz – maturado em barricas que antes contiveram whisky defumado. Isso dá a ele um discreto aroma de fumaça, que se complementa perfeitamente com o dulçor do whisky.

Sua graduação alcoólica é de 48%. O Glenlivet Nadurra Peated Cask é quase tudo que um amante de whiskies poderia querer. Alta octanagem, defumação e riqueza. Além disso, graças à sua graduação alcoólica e maturação, ele é um excelente companheiro para charutos. No Duty Free, o Nadurra Peated custa US$ 95,00 (noventa e cinco dólares).

CHIVAS 1801 REVOLVE

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Algumas versões deste blended whisky foram lançadas ao longo dos anos, algumas com idade definida – dezessete anos – outras com graduação alcoólica de cinquenta por cento, e outras sem idade e com álcool mais brando.

Seja como for, o Revolve é um ótimo blend. Ele remonta a seu irmão, o Chivas 18, mas com um certo frutado, provavelmente por conta do uso do single malt Longmorn em sua composição. Mas a parte mais legal do Chivas 1801 é a sua garrafa. Ela possui uma espécie de pino no meio, que permite que você a gire como se fosse um peão. O Chivas Revolve é quase um drinking game pronto.

O Chivas Revolve custa no Duty Free US$ 85,00 (oitenta e cinco dólares). Se quiser saber mais sobre ele, clique aqui.

CRAIGELLACHIE 13 ANOS

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A Craigellachie faz parte dos Last Great Malts, um conjunto de destilarias pertencentes à John Dewar & Sons, que conta também com Royal Brackla, Aberfeldy, Autmore e The Deveron. É um dos whiskies base na composição dos blended whiskies da linha Dewar’s, e responsável por lhe proporcionar peso e especiarias.

O Craigellachie é ao mesmo tempo adocicado e picante. Há um final quase imperceptivelmente esfumaçado. É um whisky versátil e com excelente custo-benefício. Além de ter um dos rótulos mais legais que já vimos. Seu preço no Duty Free é de US$ 75,00 (setenta e cinco dólares).

MONKEY SHOULDER

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O Monkey Shoulder é um blended malt, composto de apenas três whiskies. Glenfiddich, Balvenie e Kininvie. Segundo a William Grant & Sons, empresa por trás do whisky, todas as barricas empregadas são de primeiro uso e que antes maturaram bourbon whiskey. Aliás, a referência a “Batch 27” em seu rótulo não diz respeito ao lote atual, mas sim àquele experimental, de vinte e sete barricas.

O Monkey Shoulder é um whisky saboroso e com excelente drinkability. Funciona bem puro ou em conquetéis. Assim, se você estiver procurando algo pouco custoso, versátil e de qualidade, ele é provavelmente uma das suas melhores escolhas nas prateleiras do Freeshop. Seu preço é de US$ 39,00 (trinta e nove dólares).

 

Sobre Óribtas – Jupiter Talismã Sebastiana

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Esses dias andei revendo algumas das últimas provas do Cão. Sei lá, uma vontade de recordar o que já tinha bebido, misturada com o mais profundo e cristalino tédio de domingo à tarde. E eu notei que, apesar do Cão ser um blog sobre whisky, quase metade dos posts fazem referência a outras bebidas. Ou, ainda mais, são sobre elas. Há uma dezena de provas de cervejas (todas elas, maturadas em barricas), uma de sidra e até mesmo uma de gim. Isso sem contar as receitas de coquetéis e pratos.

E acho que a ideia por aqui é mais ou menos essa. Ou tornou-se essa, ao longo deste par de anos. Orbitar o mundo do whisky, mas não sem sofrer certa influência gravitacional daqueles contíguos, como o da cachaça, cerveja e coquetelaria. Afinal, o whisky faz parte de um sistema muito maior, dele recebe e nele exerce influência.

Com esse espírito, provei na semana passada a Jupiter Talismã Sebastiana, uma Imperial IPA maturada em barricas de carvalho que antes contiveram a cachaça Sebastiana, do Alambique Santa Rufina. E fiquei muito surpreso. Minha impressão é que seria uma cerveja relativamente azeda, com muito dulçor e pouco equilíbrio. Mas ao prová-la, notei que era bem o contrário. A Talismã Sebastiana é uma cerveja muito equilibrada, onde o sabor emprestado da barrica não se sobrepõe ao amargor do lúpulo, e que não possui qualquer traço de acidez.

Na verdade, a história da cerveja e da barrica é um pouco mais detalhada que essa que acabei de contar. Ela começa com um barril de carvalho, que maturou Sebastiana por um ano e meio. Depois, foi esvaziado e preenchido com a Dez Lúpulos, outra belíssima cerveja da Jupiter. E essa Dez Lúpulos foi misturada com um lote de uma Jupiter Imperial IPA, uma edição limitada da cervejaria.

Jupiter Dez Lúpulos
Jupiter Dez Lúpulos

Tanto David Michelsohn, criador da Jupiter, quanto Beto Mattos, master blender e proprietário da Cachaça Sebastiana deixam claro que notam essa força gravitacional entre as bebidas. De acordo com Beto: “unir esses mundos que caminham em paralelo (mas com extrema similaridade), é o mais interessante. Temos atualmente uma explosão dos mercados de cervejas artesanais e de cachaça de alambique no Brasil e no mundo. Essa explosão mostra que o consumidor, principalmente o brasileiro, aceitou que nós podemos sim, ter produtos de extrema qualidade, “Made in Brazil

David completa “Para a Júpiter é uma oportunidade incrível de desenvolver uma cerveja maturada em barril com quem realmente sabe do assunto. Ele [Beto] entende muito bem o trabalho da madeira na bebida e o resultado fica muito claro no sabor e aroma da cerveja.”

A Jupiter Talismã Sebastiana estará disponível como chope tanto no EAP – Empório Alto dos Pinheiros quanto na Choperia São Paulo, da qual David Michelsohn é sócio. Foram produzidos poucos barris da cerveja, então, caso você se interesse, é melhor correr. Além deles, chegarão ao mercado apenas duas mil garrafas.

Se você é apaixonado por whisky, mas não por isso deixa de admirar uma bela cerveja ou uma excelente cachaça, não deixe de provar a Jupiter Talismã Sebastiana. Com o perdão da piadinha cretina – é algo de outro mundo.

JUPITER TALISMÃ SEBASTIANA

Cervejaria: Jupiter

País: Brasil

Estilo: Imperial IPA

ABV: 9%

Notas de Prova:

Aroma: herbal, adocicado, com um pouco de açucar refinado e banuilha.

Sabor: Encorpada, carbonatação média. Herbal, amargor seco. Final progressivamente mais adocicado, com bastante baunilha. A influência da cachaça fica clara, mas não se sobrepõe ao aroma emprestado pelos lúpulos.

Harmonia – Buchanan’s 12 anos Deluxe

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Essa semana acordei reflexivo. Após divagar por algumas horas sobre o que me fazia feliz – passando por minha família, meus amigos, cultura, whisky e um belo carbonara com pancetta – desemboquei em um pensamento de Ghandi. Ghandi uma vez disse que felicidade é quando há harmonia entre o que você pensa, fala e faz. 

O que me faz concluir que Ghandi vivia em uma época cujos meios de comunicação eram pouquíssimo eficientes, ou que ele tinha poucos amigos. Porque, para mim – um cara mais ou menos mal-humorado e artificialmente sociável –  muitas vezes tudo que quero é harmonizar a total ausência de pensamentos, com o silêncio absoluto e a mais cândida agenda.

Só que isso é simplesmente impossível, porque há o grande problema de harmonizar as harmonias. Como quando algum amigo me liga, perguntando se quero ir a algum bar, quando a querida Cã me convida para jantar fora, ou quando a Cãzinha pede para jogar bola comigo.

E aí, por pura má vontade, invento uma desculpa. Algo pensado e dito de forma a harmonizar com minha inércia egoísta. Não posso, tenho que levar o cachorro para passear, hoje precisarei trabalhar, ou papai está com dor nas costas (aliás, pega ali o controle remoto pro papai). O problema é que é fácil inventar pretextos, e – com a prática e insistência – acabamos desviando do essencial. Essas pessoas.

Quase não teve texto porque o cachorro comeu meu computador.
Quase não teve texto porque o cachorro comeu meu computador.

E toda essa filosofia de boteco (afinal, este é um blog sobre whisky) acabou me levando ao Buchanan’s 12 anos Deluxe. É que desde que criei o Cão Engarrafado – ou melhor, desde que alguém passou a ler o Cão Engarrafado – recebo quase semanalmente pedidos para falar deste Buchanan’s. E sempre invento um pretexto, porque, enfim, não quero, e o blog é meu, deixe-me com minha harmonia. Mas hoje não. Hoje não inventarei mais desculpas e prometo que não escreverei mais um parágrafo de introdução tentando em vão procrastinar antes de chegar ao tema.

O Buchanan’s 12 anos Deluxe é um blended whisky, produzido pela Buchanan’s, hoje parte da gigante Diageo, também detentora de marcas como Johnnie Walker, Old Parr e de destilarias importantíssimas, como Lagavulin, Mortlach, Dalwhinnie, Cardhu, Talisker e Caol Ila.

Sua fórmula original foi criada em 1884 pelo fundador da marca, o canadense James Buchanan, com a ajuda financeira de W.P. Lowrie, de Glasgow. James, um homem que quase exclusivamente pensava, falava e fazia whisky, também foi responsável pela criação do Black & White, e pela fundação da destilaria Glentauchers. Graças a seu empreendedorismo e talento, conseguiu também tornar-se fornecedor da bebida para o parlamento inglês.

É muito provável que, com o tempo, a composição do Buchanan’s 12 anos tenha sido alterada. Sucessivas mudanças de controle da marca e de destilarias que o compunham contribuíram para isto. Atualmente, diz-se que ele contém uma proporção generosa de single malts. Em torno de cinquenta por cento. Em seu coração está o “classic malt” Dalwhinnie, também pertencente à Diageo – ainda que este canídeo tenha alguma dificuldade em perceber as notas deste single malt naquele blend.

Aliás, aqui está uma curiosidade sobre a Buchanan’s. Ela é uma das únicas marcas de blended whisky que emprega dois master blenders diferentes. Keith Law e Maureen Robinson, formada em química farmacêutica, e uma das únicas mulheres no ramo. Ambos, com mais de trinta anos de experiência na indústria do whisky.

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Maureen, buscando felicidade.

O Buchanan’s 12 anos Deluxe recebeu importantíssimas premiações em competições internacionais. Dentre elas, três medalhas de ouro e uma de prata, em anos consecutivos (de 2010 a 2013) pela San Francisco World Spirits Competition.

No Brasil, uma garrafa de um litro do Deluxe custa algo em torno de R$ 160,00 (cento e sessenta reais). Proporcionalmente, o Buchanan’s 12 é um pouco mais barato que outros blended whiskies muito apreciados por aqui, como o Chivas 12 anos e o Johnnie Walker Black Label. Escolher entre um ou outro é apenas uma questão de gosto pessoal.

Enquanto o Chivas Regal é adocicado e floral, o Johnnie Walker Black Label é inegavelmente defumado. E o Buchanan’s, como um meio termo, é suave e muito democrático. Por isso, é uma excelente opção para beber com os amigos, em situações informais, de completa harmonia. Porque, para falar a verdade, como disse Christopher McCandless, a felicidade (é mesmo) somente verdadeira quando compartilhada

BUCHANAN’S 12 ANOS DELUXE

Tipo: Blended Whisky com idade definida (12 anos)

Marca: Buchanan’s

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: suavemente defumado, cítrico, caramelo, baunilha.

Sabor: Adocicado, açúcar demerara, baunilha, frutas, calda de caramelo, final progressivamente seco e esfumaçado.

Com água: A agua ressalta o sabor frutado e a fumaça.

BSOP Millions – Jack Daniel’s Gentleman Jack

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Essa semana falei em um outro texto sobre coisas que combinam perfeitamente. Mas há uma questão crucial, que deixei de abordar. Afinal, o que combina com whisky? Bom, se você respondeu quase tudo, provavelmente pensa como eu.

Mas é que tem coisas que combinam mais, e outras menos. E, provavelmente, em uma das primeiras posições – juntamente com boa literatura, um charuto ou um bom papo – está o poker. O poker é, sem a menor sombra de dúvidas, o jogo de cartas que mais combina com a melhor bebida do mundo.

Sabendo disso, a Jack Daniel’s Brasil levou sua expressão Gentleman Jack para o BSOP Millions. Para quem não sabe, o BSOP – ou, por extenso, Brazilian Series of Poker – é um dos mais importantes torneios de poker do mundo, e o maior da América Latina. A ideia é aliar o esporte de cartas – que tem crescido bastante em popularidade – com uma imagem mais madura da Jack Daniel’s. Por isso, o escolhido foi, justamente, o Gentleman Jack.

O campeonato
O campeonato

O Gentleman Jack é uma das mais conhecidas expressões da Jack Daniel’s, juntamente com seu clássico Old No. 7. Sua diferença fica por conta da dupla passagem por um filtro de carvão de bordo. A maior parte das demais expressões da Jack passa apenas uma vez pelo filtro, que retém as moléculas mais pesadas do destilado, permitindo a passagem apenas dos componentes mais leves. O resultado é um whiskey mais leve, suave e mais palatável. O companheiro ideal para uma noite do mais popular esporte de carteado do mundo. Se quiser saber mais sobre o Gentleman, clique aqui.

De acordo com Fernanda Palone, gerente de marketing por trás da expressão: “Acreditamos que esse esporte traduz perfeitamente o lifestyle do Gentleman moderno, os comportamentos e os valores essenciais da nossa marca”. “E o poker, esporte de muita atitude e inteligência, nos entrega essa mensagem”.

O Cão Engarrafado, a convite da Jack Daniel’s, conferiu o espaço dedicado ao Tennessee Whiskey e ainda participou de um torneio para imprensa – O Torneio Gentleman Jack. E apesar de não ter vencido, teve uma noite incrível e ficou muito impressionado com a qualidade e o tamanho do campeonato. Além disso, o espaço da Jack Daniel’s está incrível, com um bar que conta com todas as expressões da marca à venda no Brasil, além de kits especiais – como um belo kit com uma garrafa de Gentleman Jack e um baralho exclusivo.

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#playjack

O BSOP Millions começou ontem, 22 de novembro, no Sheraton World Trade Center, em São Paulo e durará dez dias. A expectativa é que o evento reúna milhares de jogadores de poker. São 144 mesas e 180 dealers. Além do Main Event, foram organizados torneios entre atletas olímpicos e paralímpicos e o tradicional Desafio das Estrelas – um torneio de celebridades, que teve a participação de Henrique Fogaça, Denílson, Vanerlei Luxemburgo e a medalhista Maurren Maggi.

Se você quiser conferir de perto o BSOP Millions, aí vai uma boa notícia. A entrada é gratuita, e você poderá assistir tudo bem de perto, na arquibancada montada ao lado da mesa principal. Tudo isso acompanhado de uma boa dose de Gentleman Jack, que pode ser comprada no espaço dedicado da marca. Mas se preferir ver tudo no conforto do seu lar, não tem problema. O SuperPoker a a PokerStars.tv transmitirão todos os detalhes.

Vamos de all in. E claro, com um companheiro excelente. O Jack Daniel’s Gentleman Jack.

 

(mais que um) Drops – Jameson Caskmates

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Goiabada e queijo, hot dog e mostarda, limão e cachaça. Batata palha e estrogonofe, vermute e campari, linguiça e feijão. TPM e chocolate, Microsoft Windows e Ctrl + Alt + Del. Chuva e Netflix, hambúrguer e batata frita e bacon com absolutamente tudo. Há coisas que foram criadas para combinarem, involuntariamente, com outras. Coisas cujo resultado é maior do que a soma das partes. O melhor exemplo no mundo do whisky é o Jameson Caskmates e a cerveja Franciscan Well.

O desenvolvimento do Jameson Caskmates foi muito semelhante àquele do Glenfiddich IPA Experiment. Ele teria surgido de uma conversa entre dois amigos de longa data, Shane Long, mestre cervejeiro da Franciscan Well Brewery, e Dave Quinn, o mestre de ciência de whisky da Jameson. Shane queria produzir uma cerveja escura que fosse maturada em barricas de whiskey. Assim, teria pedido a seu amigo, Dave, que lhe emprestasse alguns barris para a experiência.

Quinn concordou e cedeu a Shane algumas barricas de carvalho americano de primeiro uso, que teriam sido usadas para maturar Jameson. O mestre cervejeiro, então, após produzir sua cerveja e maturá-la nas barricas cedidas, as devolveu para a Jameson. Ao recebê-las, Quinn não sabia bem o que fazer. Porque apesar de serem barricas relativamente novas, a utilização pela cervejaria poderia tê-las inutilizado. Resolveu, no entanto, que arriscaria preencher algumas com Jameson – a expressão de entrada da linha – para ver o que poderia acontecer.

A cerveja produzida pela Franciscan Well
A stout

Ao retirar o whiskey das barricas, Dave gostou tanto do resultado que resolveu criar uma edição especial. Nascia, assim, o primeiro lote de Jameson Caskmates. Aliás, tanto o whiskey quanto a cerveja fizeram tanto sucesso que, até hoje, há um tráfego constante de barris entre a destilaria irlandesa e a cervejaria.

Este Cão teve a oportunidade de provar o Jameson Caskmates em um lugar bastante apropriado, tratando-se de um whisky com vocação cervejeira. O Empório Alto de Pinheiros, bar recentemente eleito pela revista Veja Comer & Beber como o aquele com a melhor carta de cervejas de São Paulo. Com a participação de Cesar Adames e Paulo Almeida, foram provados também o Johnnie Walker Rye Cask e o Glenfiddich IPA Experiment.

Se comparado à expressão tradicional da Jameson – à venda no Brasil – o Caskmates é mais profundo e cremoso. Ainda é um whisky bem leve, mas ao invés da finalização levemente frutada e seca bem conhecida, há um certo sabor de caramelo e um fundo de café que é bem incomum. E ótimo.

Assim como os demais whiskies provados naquele dia, o Caskmates não virá para o Brasil. Mas ele pode ser facilmente encontrado em FreeShops de aeroportos internacionais, bem como lojas especializadas no exterior. O preço médio é bem convidativo, também. £26,00 (vinte e seis libras).

Se você é apaixonado por cervejas escuras, assim como por whisky, o Caskmates lhe surpreenderá positivamente. É um whisky com apelo tanto para os apaixonados por cervejas artesanais quanto whiskey irlandês. E, se você, como este Cão, adora os dois quase com a mesma força, então, meu caro, o Caskmates será sua alma gêmea.

JAMESON CASKMATES STOUT EDITION

Tipo: Irish Whiskey

Marca: Jameson

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: Frutado, adocicado, há um certo aroma doce, de açúcar queimado.

Sabor: Frutado, adocicado. Final com café, um pouco de esmalte, malte torrado.

Com água: A água ressalta o sabor de café

 

Drink do Cão – Godfather

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Se você mora no planeta Terra, é bem possível que já tenha assistido O Poderoso Chefão (The Godfather), de Coppolla. O filme é um absoluto clássico. Há um equilíbrio difícil de atingir. Camadas, costuradas entre si pelo fino fio invisível da trama, que alterna entre momentos cotidianos da famiglia Corleone e a aspereza cruel do crime organizado da década de vinte. Por trás de personagens de aparência sofisticada e elegante há a singeleza de homens cujos fins sempre justificam os meios. E por mais que aqueles sejam criminosos de sangue frio, é impossível não sentirmos empatia por eles.

Talvez o sucesso do filme resida aí, na identificação. Porque, como definiu Vincent Camby em sua crítica de 1972, ele trata de um assunto incomum (a Máfia), envolvendo uma porção isolada de um grupo étnico bem particular (os italianos americanos de primeira e segunda geração). Mas trata também de assuntos fáceis de nos relacionarmos. Honra, valores familiares, vingança e a exaustiva sensação de que, por mais que obstinadamente nademos, a corrente de nossa natureza – ou dos acontecimentos – nos jogará novamente nas pedras de onde partimos.

O Poderoso Chefão não apenas definiu um gênero cinematográfico. A influência do filme pode ser vista em restaurantes, vinhos e obras plásticas. Aliás, a barbearia de um grande amigo deste Cão leva, justamente, o nome do personagem central da trama – a Corleone. E, claro, a coquetelaria, com o drink The Godfather.

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Um coquetel como poucos

Gostaria de dizer que o Godafther é um coquetel complexo, que exige muita perícia para ser executado. Que há segredos e sofisticação – assim como no filme – para sua preparação. Mas a verdade, mas uma vez, é bem mais crua. O Godfather é um dos coquetéis mais simples do mundo. Ele leva apenas dois ingredientes. Amaretto e whiskey. A proporção clássica, divulgada pela International Bartender’s Association é de um para um.

A história do Godfather – o coquetel, não o filme – é incerta. Mas a mais aceita é que ele teria sido criado na década de setenta. Seu nome seria uma singela homenagem a Marlon Brando, que era apaixonado pelo amaretto Disaronno e que, como vocês já devem (ou deveriam) saber, encarnou Don Vito Corleone, o personagem central da trama de O Poderoso Chefão.

A receita clássica do Godfather leva whiskey americano. Entretanto, Dale DeGroff – um Poderoso Chefão do universo dos bartenders – nos fornece uma versão diferente em seu livro “The Craft of Cocktail”. Segundo este Don Vito Corleone do álcool, pode-se usar whisky escocês. E aí, meus sobrinhos, o roteiro começa a ficar interessante.

Porque, assim como acontece com o Blood and Sand – outro coquetel inspirado pela sétima arte – dependendo do whisky utilizado, o perfil de sabores do drink muda completamente. E, claro, as proporções devem ser adaptadas para manter o equilíbrio.

Por isso, talvez pela primeira vez na história deste blog, não ensinarei a receita clássica. Mesmo porque já a mencionei alguns parágrafos acima, e não há mistério algum em adicionar partes iguais de amaretto e whiskey. Não, hoje lhes passarei a variação preferida deste Canídeo, sempre testada à exaustão e quase à embriaguez. Adivinhou quem pressupôs que ela levaria whisky turfado.

Cê jura?
Cê jura?

Por fim, para evitar quaisquer polêmicas, resolvi mudar um pouco o nome do drink. Abram uma página em branco em seus cadernos mentais para esta (medíocre) invenção, coroada por um trocadilho cretino, inspirado pelo nome deste blog. Conheçam o

THE DOGFATHER (Isso é um Godfather de whisky defumado)

INGREDIENTES

  • ¾ dose de Amaretto (Disaronno)
  • 1 e ¼ doses de whisky defumado (Este Cão utilizou Johnnie Walker Double Black. Mas note que dependendo do whisky usado, o perfil do coquetel mudará. Leia a nota após a receita)
  • Gelo
  • Mixing Glass (ou algum recipiente para mexer o coquetel)
  • Strainer (ou peneira)
  • Colher bailarina (ou qualquer colher para misturar)

PREPARO

Adicione as duas doses no mixing glass, com bastante gelo.

  1. Mexa por alguns poucos segundos
  2. Desça a mistura em um copo baixo, com um gelo grande ou alguns menores.
  3. Basta se acomodar em uma poltrona de couro e, com olhar distante, contemplar seu coquetel como um Don.

Nota: A proporção aqui dependerá de seu gosto. Aumente a dose de Disaronno se você preferir um coquetel mais doce, apenas com um final defumado. Brinque com as proporções e o whisky até chegar à sua receita. Vale até misturar whiskies diferentes (que tal algo que leve Black Grouse e Ardbeg ao mesmo tempo?). Mas note que, neste caso, o equilíbrio do coquetel é alcançado quando nenhum dos ingredientes eclipsa o outro.

Convergência – Dogma EAP Russian Imperial Stout

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Se você unisse varias manias suas, onde estaria? Apaixonados por automóveis, provavelmente dirigindo um Porsche na Autobahn em direção a Stuttgart. Seu negócio é cinema? Então talvez estivesse em uma maratona de nouvelle vague na cinemateca francesa, ao lado de Jean-Luc Godard. É apaixonado pelo cosmos? Então que tal uma visita ao cabo Canaveral, ou uma viagem em alguma nave da Space X ao lado de Elon Musk? Culinária? Uma degustação guiada por todos os pratos do finado El Bulli. Puxa, então sua paixão real é o direito? Bem, neste caso, só posso lhe oferecer meus pêsames.

Mas para alguém como este Cão, um apaixonado por whiskies e amante de cervejas, talvez o programa ideal fosse degustar uma russian imperial stout com maturação em barrica de algum single malt, em um lugar importante. Um lugar importante como, sei lá, o Empório Alto dos Pinheiros. E se você compartilha comigo deste sonho, bem, saiba que ele pode ser realizado facilmente, a partir desta semana. É que nesta quinta-feira foi lançada a Dogma EAP, uma RIS muito especial. Continue comigo.

O lançamento não poderia ser melhor. a Dogma EAP, como o nome diz, é uma homenagem da cervejaria Dogma à meca cervejeira do Brasil, o Empório Alto dos Pinheiros. Aquela cervejaria é a responsável pelo melhor rótulo de cerveja do Brasil, segundo o website Ratebeer – A Rizoma. Já este bar foi eleito neste ano como o detentor melhor carta de cervejas de São Paulo. O Estilo, como dito acima, é o Russian Imperial Stout, um dos mais admirados pelos amantes de cervejas artesanais. Ela leva em sua composição aveia e café. Café envelhecido em barrica que antes continha – silêncio dramático – o single malt The Balvenie.

Bom, também poderia tomar um single malt por aqui.
Bom, também poderia tomar um single malt por aqui.

A Dogma EAP é a materialização do sonho de qualquer apaixonado por cervejas e whiskies. Não apenas na concepção, como também na execução. Há um claro aroma de café e chocolate amargo, complementado por uma sutil nota de baunilha proveniente da maturação do café.

Nas palavras de Paulo Almeida, sócio do Empório Alto dos Pinheiros “É uma grande alegria participar desse projeto e lançar essa cerveja tão especial. (…) temos imenso prazer em assistir o sucesso que a Dogma tem alcançado com produtos baseados em uma extrema busca por qualidade, trazendo ao mercado receitas incríveis. Sentimos orgulho em participar da história dessa cervejaria e certeza que a cada dia nos supreenderão mais.”

Já de acordo com a cervejaria Dogma “Quando recebemos o desafio de fazer uma cerveja pro EAP muita coisa passou pela nossa cabeça, afinal o EAP não é só um local importante para a cena cervejeira nacional, ele foi importante na nossa formação como cervejeiros! Por isso nós não aceitaríamos fazer nada menos que uma cerveja espetacular”

A Dogma EAP passa a ser vendida a partir desta semana, por R$ 33,00 (trinta e três reais). Ela vem em uma elegante lata de 473ml. E, se você tiver a sorte de passar pelo Empório Alto dos Pinheiros nestas próximas semanas, muito provavelmente poderá degustar a versão em chope da criação.

Nunca foi tão fácil unir paixões.

DOGMA EAP RUSSIAN IMPERIAL STOUT

Cervejaria: Dogma

País: Brasil

Estilo: Russian Imperial Stout

ABV: 10%

IBU: 50

Notas de Prova:

Aroma: café, chocolate em pó, baunilha.

Sabor: Encorpada e com pouca carbonatação. Sabor predominantemente de café, com um pouco de chocolate amargo,  marshmallow, baunilha. O alcool está lá, mas é pouco perceptível.

Sobre Prodígios – Talisker 10 anos

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Envelhecer é algo curioso. A tendência é que ficamos menos dispostos. As coisas passam a não funcionar tão bem quanto funcionavam antes. Temos dores improváveis em locais quem nem sabíamos que existiam, e tudo vai se tornando progressivamente mais amargo. Inclusive nosso gosto.

As manias se agravam e a boa vontade diminui. Tornamo-nos mais metódicos, cerimoniosos e nostálgicos. Mesmo quando não temos nenhum motivo para sentir nostalgia. O tempo tende a atenuar as dores e potencializar os momentos alegres do passado. O que, ainda que assim o pareça, não é necessariamente bom.

O whisky era tão melhor quando eu era mais jovem!
O whisky era tão melhor quando eu era mais jovem!

A idade, na verdade, não nos torna piores, mas nos faz mais complexos. E nisso, seres humanos e whiskies costumam se assemelhar bastante. Só que, para a maioria de nós, o avançar da idade é temeroso. Já no caso da melhor bebida do mundo, ele costuma ser às vezes até mesmo supervalorizado.

Temos a falsa impressão de que o whisky mais amadurecido é necessariamente melhor. E que, numa situação em que há dois produtos de idades diferentes e preço semelhante, o jovem deve ser preterido em favor do mais maturado. Acontece que, dentro desta lógica pouco razoável, acabamos negligenciando os prodígios. Prodígios como o Talisker 10 anos, que acaba de desembarcar no Brasil pelas mãos de sua importadora oficial, a Diageo.

Para um single malt de apenas um decênio, o Talisker 10 anos é inacreditavelmente complexo. Com sabor levemente defumado, de especiarias e com um certo aroma medicinal que surge no sabor residual, o single malt se passa por algo muito mais maturado com facilidade.

Ao contrário de seus primos de Islay, o Talisker é apenas levemente defumado. Há um equilíbrio interessante entre o turfado e o sabor proveniente de sua maturação, algo bem incomum para whiskies com sua maturação. Maturação que, aliás, ocorre, principalmente, em barricas de carvalho americano que antes contiveram Bourbon whiskey – ainda que a própria Talisker faça bastante segredo sobre isso.

A Talisker é a única destilaria ativa em uma das mais belas paisagens naturais da Escócia. A Ilha de Skye. Famosa pela costa rochosa e geografia dramática, Skye é um dos destinos preferidos de lua de mel para os escoceses que não querem sair de seu país. A ilha é a maior porção de terra das hébridas internas, e a quarta mais populosa – com pouco mais de dez mil habitantes.

Imagine beber um Talisker com esta vista!
Imagine beber um Talisker com esta vista!

Ela foi fundada 1830 por Hugh e Kenneth MacAskill, dois irmãos que criavam ovelhas e estavam dispostos a diversificar os negócios familiares para atingir – literalmente – mais liquidez. A escolha pouco usual para aumentar o leque de negócios familiar atraiu a ira do pároco local, que, por muitos anos, proferiu sermões sobre a maldição que seria a destilaria. Entretanto, apesar da oposição clerical, a destilaria prosperou, e, inclusive, trouxe novos habitantes para a ilha.

Atualmente, a Talisker faz parte da Classic Malts Collection da Diageo, juntamente com single malts como Lagavulin, e Cardhu. Mas ao contrário destas – que possuem um portfólio bem enxuto – a destilaria de Skye tem uma boa variedade de expressões. Há whiskies sem idade declarada, como as jovens Port Ruighe e Dark Storm, já revistas nestas páginas caninas, e outros bem maturados, como o 25 e 30 anos. Além disso, Talisker é também um componente importante de diversos blends da Diageo, dentre eles, o Johnnie Walker Green Label.

O Talisker 10 anos, porém, é a espinha dorsal de todas as expressões da destilaria. É o denominador comum, e a prova de que um whisky não precisa ser necessariamente muito maturado ou caro para atingir complexidade e equilíbrio.

Se você gosta de whiskies levemente defumados e bastante equilibrados, ou se está começando a experimentar o mundo dos single malts esfumadaçados, o Talisker 10 anos não lhe decepcionará. Porque até pode ser que fiquemos mais chatos ao envelhecer, mas, para apreciar um bom whisky, não há idade máxima.

TALISKER 10 ANOS

Tipo: Single Malt Whisky com idade definida (10 anos)

Destilaria: Talisker

Região: Islands

ABV: 45.8%

Notas de prova:

Aroma: Defumado, com algas marinhas e sal. Frutado

Sabor: Frutado, talvez com maçã, final progressivamente defumado e apimentado. Algas, herbal.

Com água: A agua ressalta o defumado e reduz o dulçor do whisky

Semana Internacional do Jerez (ou O Que é Jerez?)

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Qual o ponto em comum entre The Dalmore, a linha 1824 da The Macallan, Whyte and Mackay, a maioria dos Glenfarclas, o Glenmorangie Lasanta e uma região da Espanha conhecida como Andalucia?É que todos estes whiskies passam parte de sua maturação – ou toda – em barricas que antes continham vinho jerez. E este vinho é, justamente, produzido em Andalucia.

Aliás, talvez você já tenha se perguntado o que afinal é vinho jerez, ao ler este blog. Porque eu falo tanto sobre barricas de ex-jerez e nunca parei para explicar o que é, realmente, essa bebida. Bem, talvez essa seja a oportunidade perfeita para isso.

É que começou essa semana o Sherry Wine Week, por aqui conhecida também como a Semana Internacional do Jerez. O objetivo é mostrar – em eventos públicos em bares, restaurantes, hotéis  – a versatilidade deste vinho, tanto para coquetelaria quanto na harmonização com pratos.

E o Cão teve a sorte de ser convidado, justamente, para um workshop de coquetelaria com o ilustre bartender Laércio Zulu, que apresentou drinks que poderiam ser feitos com o vinho fortificado. Mais especificamente, o jerez fino Tio Pepe, produzido pela Gonzalez Byass – a mesma que fornece barricas para a destilaria The Dalmore. A degustação foi apresentada por Antonio Palacios, embaixador da vinícola.

Aurora Tio Pepe
Antonio Palacios e uma garrafa de Tio Pepe bem vestida.

VOCÊ DISSE COQUETÉIS?

Sim. Incrivelmente, o Tio Pepe funciona muito bem para coquetéis. Inclusive, coquetéis com whiskey. A prova disso foram os drinks produzidos por Laércio Zulu, e provados pelos convidados no recém-aberto Boteco São Conrado, na Vila Madalena. Cada um com uma proposta diferente, mas todos com jerez em evidência.

Foram feitos quatro coquetéis, todos eles com o jerez Tio Pepe como vedete. Um, chamado Penélope, com o vinho fortificado, vodka, licor de pitanga, mel e suco de limão. Outro – o God Save the Sherry – com gim, Tio Pepe, açúcar, cerveja e angostura. O terceiro como uma releitura do clássico Daikiri (Daiquipepe) com Kraken Rum, jerez, suco de grapefruit e açúcar. E, por fim, o preferido deste Cão (por motivos óbvios), um sour com bourbon whiskey, jerez, abacaxi, suco de limão e angostura, batizado de Frontera.

Laércio Zulu fazendo mágica
Laércio Zulu fazendo sua mágica

Além deles, Zulu presenteou os convidados com coquetéis improvisados com o jerez da Gonzales Byass, de acordo com o que cada um mais gostava. Meus brindes foram um bloody mary que levava também Glenfiddich 12 anos e uma espécie de boulevardier, com Amaro Lucano e Tio Pepe. Ambos fantásticos. Tudo isso combinado com ótimos tapas da cozinha do São Conrado, um dos mais bonitos bares da Vila Madalena.

E AFINAL, O QUE É JEREZ?

Vamos então ao papo técnico. Jerez é um vinho fortificado, produzido no conhecido triangulo do Jerez, na região de Andalucia, Espanha. O triângulo é formado por Jerez de la Frontera, Sanlúcar de Marrameda e El Puerto de Santa María. Essa região possui solo rico em calcário, e é excelente para o cultivo das uvas utilizadas na produção de jerez: Palomino, Pedro Ximenes e – com bem menos frequência – Moscatel. Um dos maiores produtores de vinho jerez do mundo é a Gonzalez Byass, que possui, entre outros, o jerez Tio Pepe.

Existe uma infinidade de tipos diferentes de jerez. Mas, de uma forma simplificada, podemos dividi-los nos seguintes tipos: Fino, Manzanilla, Amontillado, Palo Cortado, Oloroso, Pedro Ximénez, Moscatel e Dulce. A diferença entre eles – de uma forma porcamente simplista – está no tipo de uva usada, na técnica de fermentação, na maturação, na adição de álcool ou no fato de serem ou não adoçados posteriormente. Para evitar que isto se torne um enfadonho texto de seis páginas, deixarei de descrever cada um deles, e focarei na parte do whisky.

No universo do whisky – afinal, este não é um blog sobre vinho jerez – os tipos mais populares são Pedro Ximénez e Oloroso. Populares porque as barricas previamente utilizadas para armazenar estes vinhos é bastante usada pela indústria do whisky para maturação. Como disse acima, toda a Série 1824 da The Macallan é maturada em barricas de ex-oloroso e PX. O Glenmorangie Lasanta também é finalizado em barris dos dois tipos de sherry, e a maioria dos whiskies da Glenfarclas também. No entanto, há também whiskies com finalizações em outros tipos de jerez, como é o caso do Glenmorangie Dornoch, que usa barricas de ex-amontillado.

Ruby, maturado em barricas de jerez.
Ruby, maturado em barricas de jerez.

O Jerez Oloroso é produzido utilizando um mosto de uvas mais pesado do que outros tipos de Jerez – como o conhecido Fino. O vinho é então fortificado (ou seja, um destilado é adicionado) até atingir graduação alcoólica de aproximadamente dezoito por cento. O vinho resultante, porém, chega a atingir graduação de vinte e quatro por cento, graças à evaporação. Para um whisky-geek, isso é interessantíssimo. É uma espécie de Angel Share que aumenta a concentração de alcool!

Já o Jerez PX, ou Pedro Xímenez, Jimenez ou qualquer outra variação com “s”, “z”, “x” ou “j”, é um vinho de sobremesa, produzido com ao menos oitenta e cinco por cento das uvas homônimas. Este tipo de Jerez é muito mais adocicado do que Oloroso. Como a uva utilizada como matéria prima possui, naturalmente, mais açucares do que aquelas tradicionalmente usadas para Oloroso, pode-se chegar a uma graduação alcoólica alta sem a necessidade de adição de qualquer destilado.

O Tio Pepe, por sua vez, é um fino. Jerez Fino é produzido com a uva Palomino, e é biologicamente maturado sob uma camada de levedura. Essa camada protege o vinho do contato com o ar, e lhe empresta um certo sabor herbal e de amêndoas.

Se você quiser saber mais sobre – e claro, provar – essa bebida tão importante para o mundo do whisky, esta é a sua chance. Para ficar por dentro dos eventos que já foram registrados na página internacional do festival, clique aqui. E fique ligado, em breve divulgaremos a receita do coquetel preferido deste Cão, o Frontera.

 

Guest Post – Mulheres do Whisky

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O texto de hoje é dedicado às mulheres do mundo do whisky. Para tanto, nada melhor do que convidar Carolina Ronconi, co-fundadora do Blog Meninas no Boteco, para escrever a introdução e conclusão desta lista de incríveis mulheres.

INTRODUÇÃO

Seis histórias envolventes e inspiradoras sobre mulheres apaixonadas por whisky, que dedicaram (e algumas ainda dedicam) suas vidas à produção e inovação da bebida que é tão querida e apreciada no mundo inteiro.

Foi com muito talento, confiança, dedicação, olfato, suor, destemor, esforço, charme, magnetismo, cooperação, criatividade, perfeccionismo e persistência, que elas superaram o machismo e o preconceito, para realizar projetos indefectíveis e surpreendentes, e mudar o destino de algumas das mais importantes destilarias do mundo.

Preparem-se para serem abduzidos para o universo feminino do whisky e encontrarem heroínas de verdade, com histórias que valem a pena serem contadas e recontadas.

Carolina Ronconi

Co-Fundadora do blog Meninas no Boteco

meninasnoboteco.com.br

Instagram/Facebook: meninasnoboteco


BESSIE WILLIAMSON

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Não poderia começar a lista de outra forma. Bessie é a razão pela qual atualmente ainda temos, entre nós, o querido single malt Laphroaig.

Sua trajetória começou em 1932, quando aceitou um trabalho de verão na destilaria. E ainda que planejasse passar apenas alguns parcos meses, acabou ficando até 1972, quando se aposentou. Bessie tornou-se diretora da Laphroaig durante a Segunda Guerra Mundial. E foi somente graças à sua inflexão e esforço, que aquela lenda de Islay não foi completamente desmontada para tornar-se um depósito secreto de armas, como teria ocorrido com tantas outras destilarias da época.

Bessie convenceu o ministério da defesa do Reino Unido a utilizar apenas parte de seus armazéns para estocar a munição. Aliás, muito mais do que isso. Williamson tanto fez que conseguiu que aquele ministério construísse novos armazéns para guardar o armamento bélico. Estes prédios, mais tarde, se tornariam armazéns da própria destilaria.

De quebra, ela também foi uma das precursoras na divulgação dos whiskies single malt no mundo, especialmente nos Estados Unidos. Isso sim que é um trabalho de verão produtivo.

RACHEL BARRIE

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Rachel é uma pioneira. Ela é a primeira mulher a ocupar a posição de master blender da indústria do whisky. Se você já foi agraciado com a possibilidade de experimentar algum Glen Garioch, Auchentoshan ou Bowmore, é altamente provável que sua criação tenha vindo das mãos – ou melhor, do nariz – desta senhora.

Rachel é formada em química, e possui mais de vinte e um anos de experiência na criação de whiskies extraordinários. Em 1991, Barrie foi admitida no Scotch Whisky Research Institute depois de, durante sua entrevista de emprego, ter identificado perfeitamente mais de vinte fragrâncias diferentes, de piche a zimbro. De lá pra cá, trabalhou na Glenmorangie, e hoje capitaneia a criação dos whiskies das três destilarias sob o comando da Morrison Bowmore.

GEORGIE CRAWFORD

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Georgie é a mulher por trás da mais querida – e cult – destilaria de Islay desde 2010. A Lagavulin. Nascida naquela ilha, Georgie diz que conseguir seu trabalho aconteceu quase de forma orgânica. Ela teria começado na Scotch Malt Whisky Society, mudado para a gerência de um bar e, depois, de uma loja de whiskies. Por fim, lançou suas raízes onde sua vida começara: Islay.

ALISSON PATEL

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Allison é uma espécie de porta-voz das mulheres no mundo do whisky. Além disso, ela é a fundadora e idealizadora do whisky Brenne, um single malt produzido na – prepare-se para a surpresa – França, mais especificamente, no coração da região de Cognac. Ao assistir suas entrevistas, é fácil perceber que seu destemor e esforço somente podem ser comparados a seu charme e magnetismo.

De acordo com Allison “Quando eu comecei, não havia muitas mulheres – especialmente nas posições mais altas – e isso facilmente poderia ter criado competição e ciúmes entre nós, mas o oposto completo aconteceu. Eu me refiro a estas mulheres, espalhadas todas ao redor do mundo como minhas ‘irmãs de whisky’, porque, para mim, é o que elas realmente são”.

CARA LAING

Cara Laing é, atualmente, a responsável pela criação e marketing de uma das mais importantes engarrafadoras independentes da Escócia. A Douglas Laing & Co. A trajetória de Cara se iniciou na Whyte & Mackay, tendo sido gerente de marca dos single malts da destilaria Jura. Depois, mudou-se para a Morrison Bowmore – a mesma de Rachel Barrie – até que, finalmente assumiu a empresa da família e tornou-se um de seus maiores expoentes.

Se você já experimentou whiskies como Big Peat, Rock Oyster ou Scallywag, ou se está no clube dos afortunados e é o orgulhoso proprietário ou bebente de alguma expressão da série Director’s Cut, é bem provável que tenha degustado o impecável trabalho de Cara.

GEORGIE BELL

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Esta é a segunda Georgie da lista, e a última mulher deste post. Georgie é uma embaixadora mundial do whisky. Ela foi, durante muitos anos, a embaixadora internacional do single malt Mortlach, da Diageo, também um dos preferidos deste canídeo que vos escreve.

Georgie conta que sua iniciação no mundo do whisky partiu de seu pai. Inspirada, Georgie estudou destilação no Institute of Brewing and Distilling e se tornou embaixadora internacional da Scotch Malt Whisky Society, passando mais tarde para Mortlach e, por fim, a partir do mês passado, a Bacardi.

Bell passa a maior parte de seu ano em viagens internacionais, organizando degustações de whiskies e espalhando a boa palavra sobre a melhor bebida do mundo por aí.


CONCLUSÃO

Essas mulheres empoderadas deixaram um legado e formaram uma corrente de sororidade, que Alisson Patel denomina de “irmãs de whisky”.

Elas não frequentaram as, atualmente cogitadas, “Escolas de Princesas”, que têm como objetivo definir um padrão de comportamento feminino limitador da independência e da liberdade de futuras gerações de mulheres.

As histórias de Bessie Williamson, Rachel Barrie, Georgie Crawford, Alisson Patel, Cara Laing e Georgie Bell, são um suspiro de alívio e a certeza de que lugar de mulher é onde ela quiser, e com um copo de whisky na mão!

 

Carolina Ronconi

Co-Fundadora do blog Meninas no Boteco

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