Quatro Coquetéis (com whisky) para o Verão

Estamos naquela época do ano. É janeiro, está calor e faz sol. A combinação perfeita entre a falta de trabalho e a inclinação climática ideal para ir à praia. E o meu Instagram não deixa dúvidas, todos estão bronzeados, felizes e devidamente alcoolizados neste incivilizado calor infernal. Todos, menos eu. Primeiro porque eu não fico bronzeado – eu fico queimado mesmo, tipo um leitão que ficou muito tempo no forno. E o calor insiste em atrapalhar minha felicidade que passa, em grande parte, pelo conforto térmico. Pelo conforto térmico e pela possibilidade de beber algo mais acalentador. Como whisky. Porque beber whisky é bom em qualquer temperatura, mas é bem – realmente bem – melhor quando está frio. E aí, longe da praia e transpirando, penso em alternativas para tomar minha bebida preferida sem recorrer ao gelo ou congelador. E a melhor saída, é, sem nenhuma dúvida, a coquetelaria. A coquetelaria é quase uma espécie de bruxaria que consegue tornar completamente palatável até o mais defumado e alcoólico whisky, mesmo na temperatura do inferno dantesco. Se você é como eu, talvez este post lhe seja de utilidade. Aí vão três drinks já revistos nestas páginas – e um inédito – para lhe […]

Especial de Reveillon – French 95

Eu não gosto muito do natal e definitivamente não ligo para a páscoa. Também não tenho muito apreço pelo dia dos pais – afinal eu acabo sempre me presenteando mesmo – e assumo que a monotemática da época carnavalesca me irrita um pouco. Mas tem uma festa que eu gosto. O Ano Novo. A festa de ano novo é a materialização daquela famosa frase de Bogart “a humanidade está duas doses de whisky atrasada”. Todo mundo fica mais otimista, bem-humorado e levemente inconsequente. É como se o peso de existir repentinamente desaparecesse, e o amanhã fosse uma oportunidade genuína de recomeçar do zero. Os problemas diminuem até tornarem-se meras esperanças. Fazemos promessas que jamais serão cumpridas. E tudo bem, porque, naquele momento, todos estão felizes. Tudo isso, em grande parte, por conta da ação de um ingrediente indispensável nesta data. O prosecco, ou espumante. O prosecco é uma espécie de combustível do contentamento momentâneo. Uma panaceia, que anestesia o desalento e potencializa o júbilo. O problema, no entanto, é que o espumante, assim como a alegria do réveillon, dura pouco. Depois de aberto, o melhor é liquidar a garrafa em algumas horas. Mas talvez você não consiga, ou talvez não […]

Drink do Cão – Godfather

Se você mora no planeta Terra, é bem possível que já tenha assistido O Poderoso Chefão (The Godfather), de Coppolla. O filme é um absoluto clássico. Há um equilíbrio difícil de atingir. Camadas, costuradas entre si pelo fino fio invisível da trama, que alterna entre momentos cotidianos da famiglia Corleone e a aspereza cruel do crime organizado da década de vinte. Por trás de personagens de aparência sofisticada e elegante há a singeleza de homens cujos fins sempre justificam os meios. E por mais que aqueles sejam criminosos de sangue frio, é impossível não sentirmos empatia por eles. Talvez o sucesso do filme resida aí, na identificação. Porque, como definiu Vincent Camby em sua crítica de 1972, ele trata de um assunto incomum (a Máfia), envolvendo uma porção isolada de um grupo étnico bem particular (os italianos americanos de primeira e segunda geração). Mas trata também de assuntos fáceis de nos relacionarmos. Honra, valores familiares, vingança e a exaustiva sensação de que, por mais que obstinadamente nademos, a corrente de nossa natureza – ou dos acontecimentos – nos jogará novamente nas pedras de onde partimos. O Poderoso Chefão não apenas definiu um gênero cinematográfico. A influência do filme pode ser […]

Drink do Cão – Blood and Sand

Caso você já acompanhe este blog há algum tempo, terá certamente percebido que uma das minhas paixões – além de whisky – é cinema. Por isso, muitas vezes, costumo relacionar filmes e whiskies. E nem sempre essa é uma tarefa fácil. Os pontos de tangência podem não ser muito claros, e, para ser absolutamente franco, na maioria das vezes, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Mas no caso do Blood and Sand, coquetel que ensinarei vocês a preparar, eu não precisei fazer nenhum esforço. É que o nome do drink é uma homenagem a um filme mudo homônimo, de 1922, dirigido por Fred Niblo. A película, por sua vez, baseia-se num livro – Sangre y Arena – de Vicente Blasco Ibáñez. A história do filme é curiosa. Ela acompanha Juan, um menino que, contrariando o desejo de sua mãe, torna-se um toureiro. Durante sua ascensão à fama, Juan casa-se com Carmen, sua paixão de infância. Só que mais tarde, ao atingir o status de celebridade nacional, conhece Dona Sol, uma proeminente dama da alta sociedade, e se vê tendo que fazer a difícil escolha entre duas mulheres maravilhosas. O amor por Carmen é sério e acolhedor, enquanto […]

Um Desvio à Moda Antiga – Brooklyn Brewery Improved Old Fashioned

Esses dias acordei e, como não encontrasse nada na geladeira que me apetecesse, fui com fome ao supermercado. E isso, como vocês devem saber, é péssimo. Ao invés de cuidadosamente separar os itens para um café da manhã saudável, resolvi fazer um voo solo pelas gôndolas que mais me interessavam naquele momento. A dos salgadinhos. Parei lá, contemplando em silêncio as dezenas de opções para aquele desjejum nutritivo. Dentre inúmeros saquinhos coloridos, um chamou minha atenção. Batatinhas sabor picanha. Sabor. Picanha. E enquanto salivava pensando em um churrasco instantâneo, comecei a pensar o que faria aquilo ter, especificamente, o gosto de picanha. Porque picanha é uma coisa bem específica. O que diferenciaria, por exemplo, um salgadinho sabor picanha de um com gosto de contrafilé? E aí, quando voltei para casa, resolvi pesquisar este fascinante mundo da comida deliciosamente artificial. A internet, prontamente, me apresentou um mundo de produtos estranhos. Batatinhas de sabores tão improváveis quanto borsh (isso é uma sopa), chocolate ao leite, salada césar – porque, se é para ser trash, melhor algo com sabor de comida saudável – e uma opção que quase me levou ao nirvana psicológico-gastronômico: chips com gosto de vieiras com alho e manteiga. Acompanhei, […]

Sobre o Frio – Irish Coffee

Não sei se vocês estão sentindo. Mas aqui está bem frio. E ainda que eu claramente prefira essa congelante brisa invernal – apesar de não estarmos ainda no inverno – ao calor senegalês do verão, há uma série de coisas que eu realmente prefiro fazer quando está mais quente. Como, por exemplo, ir ao banheiro. Eu odeio ir ao banheiro de casaco. Aliás, vou contar uma coisa mais ou menos porca para vocês. Nada relacionado a higiene pessoal é legal no frio. Escovar os dentes exige que se bocheche e, consequentemente, suas mãos sejam congeladas. Acordar de manhã e percorrer a distância até o chuveiro – e aguardar o chuveiro esquentar – só para passar frio novamente ao sair é torturante. No entanto, há uma infinidade de atividades que ficam bem melhores no frio. Cole Porter já descreveu uma delas, ao dizer que “de acordo com os Estudos de Kinsey, todo homem médio que se conhece, prefere praticar seu esporte favorito, quando a temperatura está baixa”. As outras são, por exemplo, dormir, assistir filmes no conforto do lar e, claro, beber whisky. Aliás, o frio é um ótimo pretexto para se consumir a melhor bebida do mundo. Acontece que, às vezes, […]

Da excelência e notoriedade – Manhattan

Há poucas coisas e pessoas no mundo que são tão distintas que realmente dispensam apresentações. São aqueles ícones, quase divindades em seus respectivos altares. O tempo, catalisador do oblívio, não os apagou. Pelo contrário, os alçou à categoria de lendas. Algumas delas são Bach, Ferrari, Dostoievski, Coca-Cola, Orson Welles, Cohiba e bacon – sim, caso você não tenha notado a letra minúscula, refiro-me a bacon. Isso. As costas do porco. No mundo da coquetelaria, talvez o coquetel mais emblemático do mundo seja o Manhattan. O Manhattan é a música clássica do mundo dos coquetéis. Atemporal, elegante e profundo. Três adjetivos que lhe garantiram a entrada no rol das mais distintas coisas do mundo, trazendo-lhe à imortalidade. Apesar de sua fama incontestável, não se sabe a origem do Manhattan. A história mais famosa é que ele tenha sido elaborado no Manhattan Club, em Nova Iorque, no ano de 1874, para a comemoração do aniversário de uma – também bastante distinta – senhora. Madame Jennie Jerome, mais conhecida por ser a mãe de Winston Churchill. Acontece que, como ensina David Wondrich, em seu – também icônico – livro Inbibe!, Madame Churchill não poderia estar em Nova Iorque naquele ano. Simplesmente porque estava […]

Da Improvisação – Wild Turkey 101 Rye Whiskey

Quando eu era criança, assistia muita televisão. Via todo tipo de programa. Pra falar a verdade, via qualquer coisa que estivesse passando. Mesmo porque eu não tinha muita escolha. Com apenas umas três ou quatro opções de canais, me encontrava constantemente no dilema entre ver jornal, jardinagem ou aquele mesmo filme, reprisado pela centésima vez. Aquele, com uma turminha do barulho, vivendo altas aventuras com Patrick Swayze, Winona Ryder e  Daryl Hannah. Dublado pela VTI-Rio*. Mas havia também aqueles programas que eu realmente gostava. Entre eles, ocupando posição de destaque, estava MacGyver.  Caso você não viva neste mundo, ou tenha nascido após o advento da televisão a cabo, eu explico. MacGyver foi uma série cujo protagonista – Angus MacGyver – era um agente secreto, interpretado por Richard Dean Anderson. Suas missões consistiam, resumidamente, em derrotar inimigos de sua pátria ou prevenir hecatombes. Até aí, MacGyver parecia um agente secreto ordinário da ficção científica, como muitos Bonds e Bornes por aí. Só que Angus era diferente. Por ter sofrido um trauma de infância envolvendo um revólver, ele não utilizava armas. Assim, a solução de seus problemas passava, quase sempre, por preparar alguma gambiarra sinistra, normalmente criada com o auxílio de seu canivete suíço. […]

Especial Jameson Bartenders Ball – Liffey – O Cão Engarrafado

Este é o terceiro e último post sobre os coquetéis provados durante o Jameson Bartenders Ball Bar Crawl, que, a convite da Jameson Irish Whiskey, tivemos o prazer de participar. O primeiro foi o Barrel Cocktail, de Vinícius Gomes e o segundo, Irish Pleasure, de Jean Dall Acqua. O drink dessa semana é o Liffey, elaborado pela bartender Barbara Salles, chefe de bar do Alberta#3. O Liffey é um coquetel cítrico e adocicado. Coincidentemente, é um contraponto perfeito com o coquetel de Dall Acqua (cítrico e com especiarias) ou o de Vinicius (seco e levemente amargo). Há um leve sabor de pimenta, mas que está longe de deixar o coquetel realmente picante. O que é bom. Segundo Bárbara, o coquetel foi elaborado com uma combinação de ingredientes que agradasse o paladar da bartender, mas que fosse também compatível com o gosto da maioria dos brasileiros, que tendem a preferir bebidas doces. Nas palavras de Bárbara “Como a maioria dos brasileiros têm um paladar mais adocicado, pensei em um coquetel que conseguisse satisfazer a todos. O cítrico do limão siciliano ajuda a suavizar o sabor do álcool e escolhi o xarope de maracujá por seguir uma linha mais cítrica, além de bem […]

Especial Jameson Bartenders Ball – Irish Pleasure

Este é o segundo post de uma série de receitas dos coquetéis provados durante o Jameson Bartenders Ball Bar Crawl, que, a convite da Jameson Irish Whiskey, tivemos o prazer de participar. O primeiro foi o Barrel Cocktail, de Vinícius Gomes. O Coquetel desta semana é o Irish Pleasure, criado pelo bartender Jean Dall Acqua, do restaurante Bossa. O Irish pleasure é um coquetel predominantemente cítrico, à moda de um whisky sour, mas com sabores secundários de nozes e especiarias. A ideia de Jean foi criar um drink com cara brasileira, mas que preservasse o toque irlandês do Jameson Irish Whiskey. Segundo Dall Acqua, “Para criar este coquetel fui pego de surpresa, somente dois dias antes de apresentar o drink, fui avisado sobre o Campeonato da Jameson. (…) basicamente todos os ingredientes eu já tinha em meu local de trabalho, exceto o mel que é temperado com pimenta, tabasco e vinagre de maçã. Acabei achando esse ingrediente em nossa cozinha. (usado no prato Medalha de Tapioca –  uma entrada em nosso restaurante)” Jean diz que, ao provar o mel temperado, notou que era perfeito para o coquetel. O ingrediente era, ao mesmo tempo, cítrico, adocicado e apimentado. Para aguçar o […]