Inu Engarrafado – Yamazaki 12 anos

Yamazaki 12

A combinação entre ambição e excesso de autoconfiança é perigosa. A história está cheia de pessoas com grandes sonhos e ideias que mudariam o mundo. Só que não. Um grande exemplo é o cara que inventou o sutiã masculino. Mas o meu preferido é o Sr. Dean Kamen. Já ouviu falar dele? Pois é.

Sr. Kamen foi o inventor de um produto que, segundo informações que teriam vazado antes de seu lançamento em 2001, revolucionaria a história do transporte de pessoas. Algo que mudaria para sempre a humanidade e a forma com que ela se locomove. Segundo Kamen, os dias do carro estavam contados. Aquela invenção seria para o automóvel, o que o automóvel fora para o cavalo.

Para piorar, em um claro momento de insanidade corporativa coletiva, aqueles que tiveram acesso à invenção estavam maravilhados. Steve Jobs disse que seria maior do que o computador. John Doerr (venture capitalist por trás da Netscape e Amazon), por sua vez, disse que seria ainda mais importante do que a internet.

E em 2002, o grande visionário Dean Kamen finalmente decepcionou o mundo com sua invenção: o Segway, um diciclo elétrico, capaz de transportar uma pessoa em pé, a mais ou menos treze quilômetros por hora. Na cabeça de Kamen, que claramente apoiava o sedentarismo, as pessoas não precisariam mais caminhar. Bastava subirem em seus Segways, e inclinarem-se na direção que queriam ir. Era intuitivo e simples.

George Bush, sendo intuitivo com o Segway (Reuters)
George Bush, sendo intuitivo com o Segway (Reuters)

O plano de Kamen era vender, no mínimo, cinquenta mil Segways por ano. E em 2003 ele havia vendido menos de seis mil. Há várias razões que levaram essa maravilha tecnológica a virar o meio de transporte preferido dos seguranças de shopping center. E só deles. Dentre os motivos estavam seu tamanho, seu peso (mais que trinta e cinco quilos!), sua praticidade discutível e o preço inacreditável de quatro mil e novecentos dólares. Mas a cereja do bolo é que, nos modelos mais antigos, as pessoas caíam quando a bateria estava fraca.

Entretanto, muitas vezes, a combinação entre ambição e a autoconfiança funcionam. A Yamazaki é um exemplo disso. Ela foi a primeira destilaria de whisky do Japão. Seu fundador, Shinjiro Torii, trabalhava com importação e produção de vinhos. Na década de 20, Torii, que era um cara modesto e pouquíssimo ambicioso, resolveu que abriria a primeira destilaria do país.

Para tanto, Torii contratou o Sr. Masataka Taketsuru, engenheiro químico japonês que passara três anos trabalhando em diversas destilarias escocesas, dentre elas Longmorn e Hazelburn. Taketsuru havia recentemente retornado ao Japão, com muito conhecimento e uma esposa – a Sra. Jessie Roberta “Rita” Cowan, uma dama escocesa que conheceu durante seu período no país, e hoje é considerada uma das mulheres mais influentes na história do whisky.

Taketsuru e Rita, com a última moda em trajes de banho dos anos 30 (fonte: Nikka Whisky)
Taketsuru e Rita, com a última moda em trajes de banho dos anos 30 (fonte: Nikka Whisky)

Torii e Taketsuru então começaram a procurar o local ideal para a fundação da destilaria. Enquanto Taketsuru achava que o melhor seria instalá-la na ilha de Hokkaido, que mantinha as condições climáticas mais semelhantes às escocesas, Torii preferia fundá-la no vilarejo de Yamazaki. Lá era o ponto de confluência dos rios Katsura, Uji e Kizu, local conhecido pela pureza da água, necessária para a produção da bebida. E hoje a destilaria chama-se Yamazaki e não Hokkaido, porque afinal, quem pagava as contas era Torii.

A Yamazaki, custeada pela empresa de Torii, Kotobukiya (que mais tarde mudou seu nome para Suntory), iniciou suas operações em 1924, com o Sr. Taketsuru na função de gerente da destilaria. O primeiro whisky – um blended que incluía o destilado próprio, bem como alguns whiskys escoceses – foi lançado em 1932. O Sr. Masataka Taketsuru abandonou seu posto na Yamazaki em 1934, e fundou a segunda mais importante destilaria do Japão, a Nikka, justamente na ilha de Hokkaido.

O Yamazaki 12 anos foi o primeiro single malt japonês, lançado em 1984, e até hoje é um sucesso mundial. Engarrafado a 43% de graduação alcóolica, seu destilado é maturado em barricas de carvalho americano, carvalho japonês – conhecido como Mizunara – e barricas usadas anteriormente para maturar xerez. Inclusive, a ideia de usar o carvalho Mizunara começou com a destilaria Yamazaki, em meados de 1940, quando por conta da Segunda Guerra Mundial, o fornecimento de barricas de xerez era insuficiente.

O Yamazaki 12 anos ganhou uma infinidade de prêmios internacionais. Seu primeiro foi uma medalha de ouro no International Spirits Competition – ISC de 2003, seguida por duplo ouro em 2009, pela San Francisco World Spirits Competition, e ouro novamente pela ISC e pela International Wine and Spirits Competition nos anos seguintes.

O  Yamazaki está na moda. Seu irmão, Yamazaki Sherry Cask, foi escolhido como whisky do ano de 2015 pela Whisky Bible do Jim Murray (o mesmo que elegeu o Glenmorangie Ealanta, da mesma destilaria do Quinta Ruban, como o melhor whisky do mundo em 2014), um senhor que só por milagre continua vivo – ele provou 4.700 whiskiess diferentes para escrever sua bíblia. Por conta disso, uma avalanche tresloucada de gente quase esgotou o estoque de Yamazaki no mundo. No Brasil, como o Sherry Cask não é comercializado, o fenômeno ocorreu justamente com o Yamazaki 12 anos. Assim, se encontrar um ao vivo, não perca a chance de experimentar.

YAMAZAKI 12 ANOS

Tipo: Single Malt 12 anos

Destilaria: Yamazaki

País/Região: Japão

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: Predominantemente de nozes e banana, com um leve toque cítrico.

Sabor: Frutado e doce, com nozes e frutas. Há também um forte sabor de baunilha, que fica ainda mais claro com o gosto residual.