Entrevista com Colin Scott – Custodian Master Blender da Chivas Regal

Poucas pessoas no mundo prescindem apresentações. São aquelas cuja contribuição, cujas criações, têm vida independente de seu criador. Produtos que adquiriram tamanha notoriedade que falam por si.

No mundo do whisky, uma destas – poucas – pessoas é Colin Scott. Colin é uma lenda viva na indústria do whisky. Trabalhou para a Chivas Regal por quarenta e sete anos. Deu suas mãos – ou melhor, nariz – surgiram criações incríveis.

Mesmo que você não seja um entusiasta do mundo do whisky, você conhece Colin Scott. É dele a assinatura que estampa o pescoço de um dos blended scotch whiskies mais admirados do mundo. O Chivas Regal 18 anos. E a rubrica não é um simples artifício decorativo. Foi Scott que criou o lendário blend em 1996.

E depois de quarenta e sete anos de excepcionais préstimos para a indústria do Scotch Whisky, Colin finalmente está se aposentando. Mas não sem antes uma entrevista exclusiva – gentilmente organizada pela Pernod-Ricard Prestige no Brasil – com este Cão Engarrafado. Por uma hora, tínhamos o famoso master blender apenas para nós!

Vamos ao papo.

É uma honra ter você aqui. Você é um herói para muitos entusiastas do whisky como eu. E acho que todos se perguntam a mesma coisa. Como começar como blender? Como foi sua iniciação?

Meu avô, meu pai e eu estamos há cem anos no business de whisky. Meu avô tinha um negócio em Glasgow, mas eu nunca o conheci. Meu pai estava na mesma empresa. Ele então me ensinou sobre destilação , e eu basicamente cresci em uma destilaria. Então, na realidade, suponho que o scotch faça parte do meu sangue, está no DNA.

Em 1973, ingressei na destilaria Glenlivet em Edimburgo. A Seagram’s na América eram nossos agentes. A Seagram já havia comprado a Chivas Brothers em 1949, e comprou a destilaria The Glenlivet em 1978 por quarenta milhões. E então me tornei parte do grupo Chivas-Glenlivet. E isso me levou ao setor de engarrafamento. Tínhamos fábricas em Leith e perto do aeroporto de Edimburgo. Edimburgo fechou, mas Leith continuou e me tornei gerente de qualidade de embalagem.

Lá eu me envolvi na qualidade do destilado. Era uma equipe muito pequena naquela época. E isso me apresentou aos blenders, e eles me convidaram para me juntar à equipe de blendagem nos anos 1980, sob a liderança de Jimmy Lang. Ele era o master blender. Aprendi tudo sobre a herança, as tradições e a produção de Chivas Regal, nosso carro-chefe. Tudo sobre os sabores, diferenças entre scotches de todas as destilarias diferentes.

E em 1988 Lang se aposentou. E eu me tornei o master blender em 1989. Naquela época, tínhamos apenas o Chivas Regal 12 anos e o Royal Salute 21 anos como nossos principais blends. E então, agora, com inovação, marketing, entusiasmo pelo scotch nas redes sociais, Sandy Hyslop, nossa diretor de blending, tem agora a tarefa de inovar e apresentar expressões e extensões de linha para Chivas. E hoje, como custodian master Blender, posso garantir que todos os nossos produtos estão nas mais competentes mãos, com o Sandy Hyslop e sua equipe.

E, em particular, Kevin Balmforth. Eu o entrevistei em 1999.Ele está comigo há muito tempo e ele é excelente Blender do time Chivas. Agora posso ficar tranquilo porque o futuro é realmente seguro. É disso que se trata a profissão de blender. Somos os guardiões do passado, do presente e do futuro. Porque recebemos o que destilamos há 12, 15, 21 anos, o passado, e o trazemos para nossas expressões atuais de Chivas.

O blending team da Chivas Regal. Ao centro, Sandy Hyslop

E enquanto isso, hoje, todos os anos, estamos controlando, avaliando e verificando todos os new-makes e tonéis de hoje. Assim, à medida que maturarem, se tornarão whiskies de primeira qualidade. Por causa deste cuidado, temos um dos melhores estoques de whiskies em maturação do mercado.

Mas isso é o que somos. Somos os guardiões do estoque, mas garantimos a consistência, a qualidade e a experiência de sabor de todos os nossos Chivas Regals. Então, quando você beber seu Chivas Regal 18 hoje, garantimos que amanhã será igual, e no próximo ano também. Esteja você em São Paulo, Tóquio ou Londres. Isso é ser um master Blender.

Conta um pouco sobre a sua primeira experiência com Scotch Whisky, e o que é preciso para se tornar um master Blender.

Bem, isso é bastante interessante, porque temos um ótimo programa de consumo responsável e de convívio na Pernod!

Sobre minha primeira experiência. Meu pai era muito rígido em relação a aprendermos sobre o álcool e experimentarmos o álcool. E não podíamos beber álcool antes dos dezoito anos. Mas eu experimentei um pouquinho antes. Mas não fiquei impressionado com o whisky na época! Hoje, scotch é bebida de convívio. É uma bebida para todas as ocasiões, para todos.  Mas temos que beber com responsabilidade.

Para se tornar um master blender, você precisa de tempo. Sandy (também entrevisado por este Cão, aqui) está no ramo há 35 anos. Kevin há 29. Estou há 47. O tempo está aí – temos que aprender tudo sobre como os whiskies amadurecem, seus perfis, os barris e como eles se misturam. Cada vez que você pega uma amostra, você tem que construir a memória, você entende o whisky e isso chega à sua memória enciclopédica. Todos nós temos nossa própria linguagem, mas todos nós entendemos o que falamos no blending room.

Mas é importante ter paixão pelo scotch. Essa é uma grande porcentagem do que é preciso para se tornar um bom Blender.

Bem, eu tenho a paixão, mas não tenho certeza se tenho o nariz…

Isso é outra coisa que você precisa. Você precisa ter um bom nariz. Todos os anos fazemos testes de nariz. É necessário para apoiar a qualidade do produto. Dia assustador, mas é necessário e é bom. No final das contas, você tem que entender que está trabalhando com algo que é 100% natural. Scotch é malte, grão, cereal, água, fermento. E o barril. A partir daí, centenas de milhares de sabores se integram em tais scotches. Então, todo dia é dia de aula no blending room.

Um dia de trabalho produtivo.

Sobre todas as expressões. Como você começa a criar um blend? Você sabe para onde está indo? Ou você acorda e diz “ok, vou começar a blendar aqui e ver aonde isso me leva?

Bem, se você está começando uma nova empresa, provavelmente é assim que funciona, haha! Mas, em Chivas Regal, quando me tornei blender depois de Jimmy Lang, ele me guiou por todas as tradições, e herança – que nos levam até John e James Chivas. Eles foram blenders pioneiros em 1850-1860. E eles criaram um estilo de blends.

A partir daí, Charles pegou essa herança e tradições e criou o Chivas Regal 25 em 1909. E então o Chivas 12 foi criado em 1938 respeitando este perfil. E então, em 1996, quando foi decidido que iríamos estender o Chivas Regal para um 18, já tínhamos o 12 como carro chefe. O que fizemos foi pegar esse estilo e essa tradição e estender aos 18 anos. Isso nos deu um irmão mais velho de 12 anos. Tratava-se de selecionar diferentes whiskies para mudar o equilíbrio de sabores e criar uma nova expressão sensorialmente falando, mas com o mesmo estilo doce e suave do Chivas Regal.

Então foi assim que abordamos. Tivemos algumas ideias considerando aquilo que estava disponível no inventário e fizemos alguns pequenos ajustes, mudamos um pouco isso e aquilo, e então finalmente tivemos um produto na família do Chivas 12. O 18 anos foi lançado em 1997 no Japão – foi o nosso segundo maior Mercado Chivas Regal.

Ou seja, quando você está criando um novo blend, é tudo sobre o estilo, a família. Você deve preservar o estilo e as tradições dessa casa. Quando você consegue um acabamento em barril, como tequila e conhaque, você está adicionando uma pequena dimensão de sabor àquela família de Chivas Regal. É tudo uma questão de controlar os sabores para preservar o estilo da casa de Chivas. É por isso que você tem todas essas expressões diferentes. Temos diferentes tonéis para fazer acabamentos seletivos. Este é um mundo muito emocionante para se estar, hoje!

Conte-me um pouco sobre o 25. De acordo com Alfred Barnard, a maioria das destilarias de whisky na virada do século estava produzindo whiskies turfados. Mas o 25 é adocicado e floral. Então, ele foi desenvolvido com base num registro ou de acordo com o estilo da casa Chivas?

Acontece que ainda hoje não temos uma garrafa de 25 anos de 1909. Temos uma ideia de como era, mas não sabemos ao certo. Houve algumas mudanças, mas é tudo uma questão de fazer parte e preservar o estilo e a tradição de Chivas, e criar a extensão desse estilo. Mas também criando uma experiência de degustação diferente, selecionando diferentes whiskies. E por trás de tudo isso, temos Strathisla, o nosso coração, o single malte big e pesado, com seu nozes, com amêndoas, e uma espécie de ameixa, damasco, frutado. É a base perfeita para iniciar o seu blend.

Chivas Regal 25

Vamos falar um pouco sobre degustação e, bem, beber. Existe um jeito certo de beber e apreciar whisky?

O jeito certo é como você gosta do seu whisky. Para mim, pessoalmente, quando despejo o whisky no copo, é um trabalho feito. Você tem o whiskypara você aproveitar. Alguns gostam de puro, alguns gostam de água, alguns com gelo e alguns com misturadores. E o Chivas também é perfeito para coquetéis. Então, para mim, não existem regras. E seu humor pode mudar! Um dia, você pode gostar de tê-lo limpo. Outro, em um highball, por exemplo.

Mas, na sala de blend, fazemos nossas avaliações a 20% do volume. Então, para mim, seria 50-50 com água. Água à temperatura ambiente, sem gelo. Mas em alguns lugares fica bastante quente. Então, às vezes, eu adicionaria cerca de 2 cubos de gelo. Para mim, pessoalmente, acho que é importante não esfriar. Mas tudo se resume à sua preferência.

Para os iniciantes, qual seria sua dica para começar?

Quer dizer, geralmente as pessoas começam com os maltes. Eu escolheria Glenlivet nos maltes e, em seguida, Chivas 12. Basta despejar e, se você achar que é muito agressivo, adicione um pouco de água e continue adicionando um pouco até atingir uma força que goste. É tudo uma questão de experiência.

Outra forma seria com um coquetel. Como o Chivas Cooler. (Que é) Chivas 12 e ginger ale com um pouco de gelo e limão espremido. É um coquetel fresco e refrescante. E o gengibre equilibra o frutado e o dulçor de mel do Chivas 12. Mas, como eu disse – experimente!

E sobre o Mizunara? Qual é a história por trás dele?

Isso tem a ver com nossa relação com o Japão. Temos estado intimamente associados ao Japão. Sandy e sua equipe adquiriram os barris de mizunara no Japão. São barris virgens de carvalho japonês, que são importados para a Escócia. Sandy os preenche o blend da Chivas e monitora cada barril muito estritamente porque é um carvalho poderoso. A cada duas semanas, eles monitoram esses tonéis.

(o Mizunara) primeiro foi lançado apenas para o Japão. Mas as pessoas ficaram tão empolgadas que decidimos lançá-lo em outros países. Sandy e sua equipe realmente acertaram. É muito emocionante ter essas oportunidades de inovar.

Foi como quando criei o Chivas 18. Foi uma grande emoção. E hoje, ele demostra por si mesmo esse sucesso. E Mizunara também – alguns anos depois, é um grande sucesso. Quando essas coisas acontecem, é ótimo. Aliás, você deve experimentar Chivas Mizunara no Brasil em um pouco de highball, com água com gás ou um pouco de refrigerante de limão!

Mizunara. Katana não inclusa.

Já provei e é incrível. Os sabores realmente se complementam! Agora, a pergunta clássica sobre a ilha deserta. Qual whisky você tomaria? Um blend e um single malt?

Bem, se fosse para a tal ilha deserta, levaria comigo Chivas Regal 18. É um whisky que você pode beber facilmente a qualquer hora do dia. E você pode tomá-lo em um drink mais longo ou em um Old Fashioned. É fantástico em um Old Fashioned.

Quanto ao single malt, por algum tempo, seria Longmorn ou Glenlivet. Mas agora acho que levaria Scapa. Scapa 16 é simplesmente delicioso e me lembra de casa. Agora, 16 foi descontinuado, então, eu iria para o Scapa Skyren.

Longmorn é um dos meus favoritos há muito tempo. E agora Scapa me pegou. Ele se tornou parte do portfólio da Chivas em 2005. E é uma pequena destilaria fabulosa. E (apesar da localização, na ilha de Orkney) é mais como um speyside do que um representante das ilhas. Não é um whisky esfumaçado. Tem um pouco de sal, urze, frutado – um frutado tropical.

E essa (Orkney, onde Scapa está localizada) é minha casa. Onde eu cresci. Cada vez que voava para fora da Ilha, passava por Scapa. Faz parte de toda minha vida de uma forma engraçada. E eu recomendo totalmente. Todo mundo adora.

Bem, infelizmente, nosso tempo está se esgotando! Muito obrigado pelo seu tempo e pelo bate-papo, Colin! Disseram que você está se aposentando. Algum plano de aposentadoria?

Haha, eu não tenho planos por enquanto. Mas o que é muito importante é que nos últimos 40 anos ou mais eu tenho pulado da cama para ir trabalhar. Então eu acho que é importante ter alguns pequenos projetos para me manter ocupado. Sei que há muito o que fazer, mas de uma forma relaxante. Eu não posso acreditar que está ao virar da esquina!

One thought on “Entrevista com Colin Scott – Custodian Master Blender da Chivas Regal

  1. Maravilha ! Excelente entrevista ! Os mestre Colin Scott e o mestre Maurício Porto .
    Amanhã vou abrir uma garrafa de Chivas Regal 12 . O Chivas 18 está na minha lista de objetivos pós pandemia !

    Obrigado.

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