South By Southwest – Negroni Week Special

Monção é uma pequena cidade no extremo norte de Portugal, com pouco mais de dezessete mil habitantes. Ela é dividida em diversas freguesias, dentre elas, Pias. Ao norte, está a cidade espanhola de Salvaterra de Minho, e ao sul, a portuguesa de Arcos de Valdevez. Ainda que seja uma região bonita, não há nada que difere Monção dos vilarejos vizinhos. Come-se cabrito e bebe-se bastante vinho, especialmente da uva Alvarinho. Recentemente, entretanto, a cidade tornou-se famosa nos noticiários por conta do cancelamento de uma feira tradicional da cidade. A Feira da Foda. A fama, como você deve presumir pela risadinha boba que deu ao finalizar o último parágrafo, não se deu pelo cancelamento da feira em si. Mas, pelo nome […]

O Cão Geek – Fermentação no whisky

Para quem não sabe, sou advogado. Trabalhei por mais de dez anos em direito societário e financeiro. Então, digo com conhecimento de causa. Direito é chato. Na verdade, deixe-me ser mais específico. O Direito é aquela área de conhecimento capaz de tornar enfadonha até a mais instigante atividade. Fórmula 1 por exemplo. Tudo é empolgante: alta velocidade, competitividade, tecnologia de ponta. Mas o contrato de locação da pista é chato. Ninguém quer ler o contrato de locação da pista por puro prazer. Música também, não importa seu gosto. É uma enorme satisfação ver uma apresentação de seu artista ou compositor preferido, seja Arvo Paart, Korn, Maiara & Maraísa ou Lady Gaga. Mas, o contrato de cessão de direitos de imagem […]

Cinco whiskies que deixaram saudades

Naquela época, os carros eram bem melhores – disse meu amigo, afagando, numa direção só, o teto de seu Opala. Olha o design disso, olha o motor. Apertei os lábios em aprovação e pedi: Liga aí, vamos ouvir o barulho dele. Empolgado, colocou a chave no contato. O motor de arranque girou, girou, mas nada daquele reconfortante barulho dos gases em combustão saíndo do escape. Deve estar frio, concluiu. É, normal, naquela época era normal – concordei – abrindo a porta e sentando ao seu lado, no banco inteiriço. Me conta, faz quantos quilômetros por litro, indaguei. Cara, quando tô descendo a serra, uns quatro. Dei uma risadinha. Puxa, não é nada econômico. Mas né, mesmo com a gasolina custando […]

A História do whisky japonês – Parte II

Na semana passada contamos os primeiros capítulos da história do whisky japonês. Do desembarque de Matthew Perry no porto de Edo, até a fundação da Suntory por Shinjiro Torii e Masataka Taketsuru. Por ora, tudo estava em paz. Mas sossego nenhum dura pra sempre, então, retomaremos a história com: Conflitos domésticos e internacionais Em 1934, Masataka Taketsuru resolveu alçar voo solo. Demitiu-se da Kotobukiya e começou a trabalhar no projeto de sua nova destilaria. Essa, onde ele sempre sonhara. A ilha de Hokkaido. Por não ser um empreendedor tão nato quanto Torii, Masataka resolveu batizar seu novo empreendimento de Dainipponkaju – perfeito para se falar depois de algumas doses de Kakubin. Depois, e provavelmente ao ouvir a voz da razão […]

A História do Whiskey Japonês – Parte I

Todos nós conhecemos o estereótipo de cientista maluco. Aquele cara que tem um sonho bizarro, quase inalcançável, é socialmente inapto e meio esquisitão. Se for personagem de um filme, ele usa jaleco branco, não penteia o cabelo e às vezes dá umas tremidas esquisitas, como se estivesse possuído pelo capiroto. Mas, por trás da bizarrice toda, está um gênio, capaz de criar algo que mudaria a história da humanidade. É uma hipérbole, como todo estereótipo. Mas, isso não significa que ele não poderia existir. Um exemplo quase perfeito é John Whiteside Parsons – conhecido como Jack Parsons. Caso você não conheça, vou preguiçosamente transcrever aqui a descrição do primeiro parágrafo da Wikipedia. “Parsons foi um engenheiro de foguetes, químico e […]

Drops – Compass Box Menagerie

A humanidade já teve uns períodos bem esquisitos. E nem tô falando da década de oitenta, em que tudo era horroroso a ponto de até o Almodóvar fazer um filme inassistível. Me refiro a épocas bem mais remotas. Como, por exemplo, a idade média. Além da inexistência de padrões mínimos de higiene, o povo medieval curtia uns troços bem esquisitos. Especialmente os nobres. Por exemplo, muitos deles mantinham coleções de animais exóticos em suas cortes reais. Algo que, pra mim, e talvez aqui denuncie a idade, parece coisa do Sigfried & Ross. Essas coleções malucas se chamavam Menageries, e eram símbolos de poder, usados com o único fim de ostentar. Ao invés de ter uma Lamborghini – mesmo porque Lambos […]

Outras 4 celebridades que amam whisky

Este post é uma sequência de outro, lançado há alguns anos. Para ler o primeiro, clique aqui. Celebridades fazem todo tipo de anúncio. Alguns fazem muito sentido. Outros, nem tanto. Como, por exemplo, uma propaganda de 2006 de margarina, que conta com ninguém senão Ozzy Osbourne. Na verdade, um não, mas dois Ozzy Osbournes. A peça – de uma genialidade toda cretina – apresenta o Príncipe da Escuridão cozinhando com seu clone (!). Por motivos que não vem ao caso, ambos tem dificuldades de distinguir manteiga de margarina (também brilhantemente batizada de algo como “Não Consigo Acreditar que Não é Manteiga!”). Outras peças publicitárias até fazem sentido, mas só estão lá na tênue linha entre o humor e o mau […]

5 vezes que o whisky (quase) roubou a cena do filme

Ouvi – ou li – por aí. Dois mil e vinte e um foi um ano de crescimento. De amadurecer, ganhar experiência e exercitar a resiliência. Com toda a vênia, pra mim, não foi não. Pra mim, foi igualzinho dois mil e vinte, que também não teve nada de amadurecimento, experiência e resiliência. Mas, sim, de dedo naquele lugar que prefiro não nominar em prol dos bots do Google, e gritaria. Foi um caos. Se o último par de anos fosse uma peça de carne, seria um wagyu bem marmorizado. A gordura seria o tédio e a carne o desespero – que, muitas vezes, eram simultâneos ou minuciosamente entremeados. Entretanto, dois mil e vinte e um não foi um completo […]

Whiskies para comprar no Duty-Free – 2021 / 2022

Tenho que confessar uma coisa óbvia. Estou com saudades de viajar. É tanta que eu tô com saudades até da parte ruim. De ficar com o nariz ressecado no avião, sentir aquela encostadinha constrangedora do passageiro do lado enquanto ele tenta se acomodar na cadeira justamente para não dar aquela encostadinha constrangedora. E do barulho, de dormir meio na vertical e de ficar horas sem fazer nada. Aliás, esses dias sentei na cadeira mais apertada aqui de casa, liguei o ar-condicionado no máximo e o secador de cabelo do lado, só pra tentar simular aquele desconforto aéreo-sonoro-ortopédico. Talvez, em 2022, essa minha ressaca passe, e eu finalmente possa alçar voo novamente. Entretanto, apesar de meu hiato aeronáutico, minha obrigação de […]

Whiskies para dar de presente – Edição 2021

Eu até tento fugir, mas o fim do ano me persegue. Desta vez, foi meu Spotify. As musicas que você mais curtiu este ano, todas reunidas em uma só playlist. O ano é de dois mil e vinte e um, mas minha seleção musical reminesce de algum ponto entre noventa e nove e setenta e cinco. Noventa e nove e setenta e cinco para um redneck americano recém-mudado para Louisiana, bêbado, irritado e obeso. Esses dias, inclusive, comentei isso com minha querida Cã. Há uma pletora – para usar uma palavra incomum – de motivos que me fizeram casar com ela. Mas, o gosto musical certamente não foi um deles. Não há sequer um único ponto de tangência entre nossas […]