A História do Whiskey Japonês – Parte I

Todos nós conhecemos o estereótipo de cientista maluco. Aquele cara que tem um sonho bizarro, quase inalcançável, é socialmente inapto e meio esquisitão. Se for personagem de um filme, ele usa jaleco branco, não penteia o cabelo e às vezes dá umas tremidas esquisitas, como se estivesse possuído pelo capiroto. Mas, por trás da bizarrice toda, está um gênio, capaz de criar algo que mudaria a história da humanidade. É uma hipérbole, como todo estereótipo. Mas, isso não significa que ele não poderia existir.

Um exemplo quase perfeito é John Whiteside Parsons – conhecido como Jack Parsons. Caso você não conheça, vou preguiçosamente transcrever aqui a descrição do primeiro parágrafo da Wikipedia. “Parsons foi um engenheiro de foguetes, químico e ocultista Telemita americano“. Convenhamos, é um currículo impressionante. Pouca gente é ocultista e mexe com foguetes. Parsons era justamente isso. Ele foi um dos principais fundadores do Jet Propulsion Laboratory, e desenvolveu um combustível sólido para jatos composto, basicamente, por amida, nitrato de amônia e amido de milho.

Além de ser um cientista brilhante, Parsons era também um ocultista. Mergulhou fervorosamente no mundo da magia negra em 1945, quando conheceu o escritor L. Ron Hubbart. Ambos conduziram uma série de rituais oculstitas através do sexo, cujo objetivo era – pasmem – que o espírito da deusa Babalon encarnasse em Sarah Hollister, namorada de Parsons. No final, deus nenhum tomou o corpo de Sarah, mas Hubbart fugiu com ela e todo seu dinheiro, e deixou Parsons sozinho.

Hubbart: falando sobre estereótipos…

Mesmo assim, o cientista ainda conseguiu se reerguer parcialmente. Casou-se com a atriz Marjorie Cameron – que também se tornou ocultista – e passou a trabalhar para o governo de Israel. Sua vida ao lado de Cameron, entretanto, durou pouco, porque ele acidentalmente se transformou em uma bola de fogo num experimento privado com explosivos em 1952.

Mas, seja como for, Parsons mudou a história da humanidade, desenvolvendo combustíveis que mais tarde seriam usados por ônibus especiais. É um legado impressionante. Tão impressionante quanto o de Shinjiro Torii e Masataka Taketsuru – dois senhores que fundaram e moldaram toda a indústria do whisky japonês, transformando-a na febre que é hoje. Vou contar um pouco sobre ela aqui. Mas antes, vamos fazer uma regressão não-ocultista:

Um passinho pra trás

A história do whisky japonês é um pouco mais antiga que o conhecido binômio Torii-Taketsuru. Ela começa na verdade em 1853, com o desembarque norteamericano sob o comando do comodoro Matthew Perry (não, não é o ator de Friends) no porto de Edo. Foi quando o Japão abriu suas fronteiras para o comércio com os Estados Unidos. Perry trouxera em seus navios algumas barricas de whiskey americano. Por dois motivos. O primeiro, e mais importante, era o consumo próprio – nada melhor do que um pouco de whiskey para aquecer os corpos e corações dos marinheiros durante a longa travessia do Pacífico.

Não é o Chandler

O segundo, comercial. Seria redundante eu, querido leitor, expor poeticamente a capacidade sócio-lubrificante do álcool. Afinal, se está neste parágrafo da matéria, é porque já é cliente. Entretanto, além de aplainar as arestas mais pontudas do choque sociocultural, o whiskey era prova da criatividade norte-americana. Afinal, frango frito e hambúrguer não resistiriam à viagem. E na época os filmes da Marvel não haviam sido lançados ainda. Whiskey era, seguramente, a melhor opção.

A importação oficial de whisky para o Japão, no entanto, levou ainda duas décadas para acontecer. Foi apenas no final do século dezenove que os japoneses começaram a trazer whisky para consumo próprio, bem como tentar criar versões nacionais rudimentares da bebida – adaptados de destilados como o sochu, que, como o nome sugere, já era produzido por lá.

O chamado para aventura

O chamado para ação do super-herói que é o whisky japonês aconteceu, na verdade, somente em 1920 e teve como pivôs Shinjiro Torii e Mastaka Taketsuru. Nomes que você deve reconhecer, ao menos, do primeiro parágrafo de conteúdo desta matéria. Já aos vinte e poucos anos de idade, Torii era proprietário de uma revendedora de produtos farmacêuticos que havia prosperado bastante. Num movimento meio parecido com o doidão da Virgin, Shinjiro resolveu ramificar para um segmento bem distinto (ou talvez nem tanto). O de vinho do porto.

A importação de vinho do porto de Torii também foi prolífica – em poucos anos, ele tinha inclusive um rótulo próprio, o Akadama Sweet Wine. E como todo empreendedor, Shinjiro se viu compelido a subir o sarrafo, e passar para um outro patamar de loucura: produzir whisky japonês. Ou melhor, produzir algo que legitimamente pudesse ser chamado de whisky no Japão. Algo genuíno, mas que ao mesmo tempo fizesse sentido para o paladar do público médio nipônico. O que – e perdão pelos spoilers dos próximos parágrafos – provou ser um desafio enorme antes de dar certo.

Antiga propaganda do Akadama Sweet Wine

Shinjiro Torii, entretanto, apesar de ser um entusiasta dos copos, nunca havia produzido whisky. Ele era um empreendedor, não um produtor. Assim, precisava de alguém que lhe ajudasse a destilar sua ambição. Foi aí que ele conheceu Masataka Taketsuru, um jovem químico. Os detalhes sobre como estas duas lendas do whisky japonês se conheceram são um pouco enevoados. Alguns afirmam que Torii contratou Taketsuru e pagou sua viagem à Escócia, onde aprendeu em destilarias como Longmorn e Hazelburn como produzir whisky. Outros dizem que Taketsuru já estivera na terra do whisky, aprendera química oganica na Universidade de Glasgow, e estagiado nas supramencionadas destilarias. A verdade está provavelmente na conjunção das duas narrativas.

Seja como for, Taketsuru passou mais de dois anos na Escócia. Lá, aprendeu detalhes de produção e maturação de whisky. Mais importante que isso, foi lá que encontrou o amor de sua vida. Jessie Roberta Cowan, uma jovem escocesa, com quem se casou. Os dois se casaram em 1920, e Jessie – que passou a atender pelo nome Rita Taketsuru – se mudou para o Japão com Masataka, e teve grande participação na fundação da Nikka, anos mais tarde. Mas, vamos chegar lá ainda.

Geografia e paladar japonês

Em meados de 1920, Torii e Taketsuru começaram a discutir sobre a localização da primeira destilaria de whisky japonês. Shinjiro, como todo bom empreendedor, preocupava-se com os custos, especialmente a logística. Seu local predileto era o vilarejo de Yamazaki, entre Kioto e Ozaki. Sua localização fora especialmente escolhida por ser a convergência dos rios Katsura, Uji e Kizu. E isso garantiria suprimento de água de excelente qualidade para a destilaria numa época em que acesso a este recurso não era tão fácil quanto hoje.

Taketsuru, porém, preferia instalar a destilaria ao norte, na ilha de Hokkaido. Em seu entender, a ilha mantinha as condições climáticas ideais para maturação, por serem semelhantes às escocesas. O clima frio e úmido auxiliaria numa maturação mais longa. No entanto, o custo de transporte da matéria prima, bem como a distribuição de Hokkaido para as principais cidades japonesas da época fez com que a dupla decidisse, finalmente, por Yamazaki. E foi assim que nasceu a destilaria homônima.

A Yamazaki, nos dias de hoje.

A construção da destilaria levou aproximadamente três anos. A Yamazaki, custeada pela empresa de Torii, Kotobukiya (que mais tarde mudou seu nome para Suntory), iniciou suas operações em 1924, com o Sr. Taketsuru na função de gerente da destilaria. O primeiro whisky – um blended que incluía o destilado próprio, bem como alguns whiskys escoceses – foi lançado em 1929. Seu nome era Shirofuda e foi um completo desastre. O whisky era defumado, e os japoneses acharam bem bizarro algo com aquele sabor. A dupla, entretanto, não desistiu. E o segundo whisky lançado se tornou um enorme sucesso. O Suntory Kakubin, que hoje é um dos blended whiskies mais longevos da história.

Em benefício do tempo, paciência e sua vida, querido leitor, vamos suspender a história por aqui. Na semana que vem, continuaremos a partir de onde paramos. Sem ocultimo e gente se auto-explodindo. Mas, eivada de conflitos, rancor, ódio e, claro, sucesso. Voltem.

Drops – Compass Box Menagerie

A humanidade já teve uns períodos bem esquisitos. E nem tô falando da década de oitenta, em que tudo era horroroso a ponto de até o Almodóvar fazer um filme inassistível. Me refiro a épocas bem mais remotas. Como, por exemplo, a idade média. Além da inexistência de padrões mínimos de higiene, o povo medieval curtia uns troços bem esquisitos. Especialmente os nobres. Por exemplo, muitos deles mantinham coleções de animais exóticos em suas cortes reais. Algo que, pra mim, e talvez aqui denuncie a idade, parece coisa do Sigfried & Ross.

Essas coleções malucas se chamavam Menageries, e eram símbolos de poder, usados com o único fim de ostentar. Ao invés de ter uma Lamborghini – mesmo porque Lambos não existiam – o cara comprava um par de, sei lá, hipopótamos. E aí, tinha que ter um cara só pra limpar a montanha de caca no meio do palácio. E evitar que o tigre de bengala, que fora presente de outro nobre sem noção, não tentasse devorá-los – ou devorar o cuidador. Mas tudo era recompensador, porque quando a corte inteira ficava fedendo a cocô, o nobre podia dizer “ah, esse aroma é porque eu ganhei um casal adorável de hipopótamos, quer ver?”

Nossa, que aroma delícia, abriu meu apetite.

A Menagerie mais famosa do mundo foi a de Torre de Londres. Ela começou lá por 1200, com o Rei John, e contava com leões e ursos. Há um registro de 1235 de um outro monarca maluco dando de presente pra ele três leopardos. No século 16, a Royal Menagerie, como era conhecida, ainda estava por lá, e virou uma espécie de zoologico aberto ao público. As pessoas podiam pagar pra entrar, ou levar um cachorro ou gato pra virar comida desses bichos que nem deveriam estar lá pra começar a conversa.

É baseado nessa história completamente maluca que a Compass Box Whisky Co., famosa empresa de blended whiskies para entusiastas, criou sua nova expressão. O Compass Box Menagerie, que, não por acaso, tem estampado no rótulo um punhado de animais curiosos. De acordo com a própria Compass Box, o nome “menagerie” vem do perfil animalesco – ou selvagem – de alguns whiskies usados em sua mistura. “Algumas destilarias são famosas por seu destilado carnudo, sob uma camada frutada ou maltada, que é só um pouquinho selvagem. Nós nos inspiramos para procurar maltes com este toque – seja da destilação ou da maturação subsequente – e juntá-los em nosso Menagerie”

Como quase todo Compass Box, a receita é divulgada quase em detalhes. Os whiskies que compõe o Menagerie são: 42,5% de Mortlach, 5,4% de Laphroaig, 5% de Glen Elgin em barris de jerez, 13,1% de Glen Elgin em barris retostados, 2,5% de Deanston em barris de jerez, 14,6% de Deanston em barris de reuso e, 16,7% de seu Highland Malt Blend, que possui, muito provavelmente, Clynelish. São, em boa parte, maltes que tem algum perfil sulfúrico ou – numa tradução horrível do inglês – carnudo.

Como você já deve supor, o Compass Box Menagerie não está à venda por aqui. Mas, é uma curiosidade fantástica para aqueles que buscam entender um pouco mais sobre o processo de “blendagem” dos scotch whiskies, e a transparência do mercado. E confie em mim, tem um aroma infinitamente melhor do que o de manter um zoológico em casa.

COMPASS BOX MENAGERIE

Tipo: Blended Malt

Marca: Compass Box Whisky Co.

Região: N/A

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: especiarias, cravo, canela, muito gengibre.

Sabor: Seco e frutado, com frutas amarelas e especiarias. Final seco, longo e apimentado, com gengibre e pimenta do reino

Lamas Robustus – Slogan

Tem mil e uma utilidades. A primeira impressão é a que fica. Uma boa idéia. Vale por um bifinho. Quem pede um, pede bis. Seria até redundante dizer, mas, vou fazê-lo mesmo assim. Estes são os slogans de algumas marcas conhecidíssimas de produtos. Bombril, Axe, 51, Danoninho e Bis. Mais do que frases que colam ao seu cérebro mais do que super bonder – cujo slogan devia ser “cola tudo, até mesmo a tampa do tubo” – são frases que definem, com precisão, a essência de suas marcas.

Bombril, por exemplo, é perfeito. Há usos bem tradicionais, como limpar fogão, talheres e pratos. Há usos mais criativos, mas, ainda assim, lícitos, como usar de booster para a antena do televisor de tubo, ou esculpir uma lagartixa de ferro e dar pra alguma criança. E há todos aqueles que desafiam a lógica e a lei. Como, por exemplo, extensor para gato na rede elétrica (cuidado, vocês não ouviram isso aqui).

Ah pronto, olha lá eu ensinando coisa errada.

Outros, no entanto, são como bombril. Servem pra quase tudo – por exemplo “uma boa ideia”. Qualquer coisa pode ser uma boa ideia. Até mesmo ideias cujo resultado é bem ruim, quando concebidas, parecem ser boas ideias. Tipo beber uma garrafa inteira da proprietária do slogan. Outro deles é “potência não é nada sem controle”. Um slogan que funciona perfeitamente também na industria do whisky – especialmente, se falarmos do novo Lamas Robustus – nova adição à linha permanente da destilaria Lamas, de Minas Gerais.

O Lamas Robustus é, essencialmente, uma versão mais robusta – perdão pela obviedade – do Lamas Nimbus. A maior diferença está na graduação alcoolica, de 54%. É a mais alta permitida pela lei brasileira. Este é um fato curioso para vocês, queridos entusiastas. Por conta de nossa legislação, dificilmente haverá um whisky cask strength oficialmente à venda em nosso mercado. Boa parte destes ultrapassa o máximo de graduação alcoolica permitida para que uma bebida possa ser considerada whisky por aqui. O que não impede, claro, que tentem chegar perto do máximo – como é o caso da Lamas.

Para aqueles que não conhecem, o Nimbus – e o Robustus – são defumados num curioso processo desenvolvido pela Lamas. A destilaria utiliza madeira de reflorestamento. Para isso, umedece novamente os grãos secos, para, em seguida, os secar num defumador projetado especialmente para esse trabalho. A madeira, quando queimada, libera compostos com aldeídos e fenóis, tornando o malte enfumaçado – um enfumaçado bem diferente daquele da turfa. Mais picante e amadeirado, e menos medicinal. A temperatura de secagem é importante aqui, e é este cuidado especial que traz o resultado desejado pela Lamas.

Alambiques da Lamas

O Lamas Robustus nasceu de uma visita de Alexandre Tito e Felipe Vidal – os criadores da WhiskyRio – à Lamas. De acordo com a dupla “Incentivamos a Lamas a engarrafar esse produto com graduação alcoólica mais alta, pois percebemos que isso traria mais características aromáticas e nuances da defumação, devido à concentração de alguns congêneres que, até então, estavam atenuados pela maior diluição. Assim, essa expressão apresenta aromas e sabores mais nobres e complexos”.

A maturação do Robustus acontece em barris de carvalho americano que antes contiveram bourbon whiskey. A Lamas toma especial cuidado com este processo – ela tem controle de proveniência de todos os barris em seus armazéns. Na opinião deste Cão, no caso do Lamas Robustus, a maturação alivia um pouco a graduação alcoolica, mas acentua a impressão de defumação, e traz mais complexidade ao whisky.

O Lamas Robustus está a venda no website da Lamas e, em breve, no Caledonia. Por tempo limitado, este Cão tem, inclusive, um cupom de desconto: ao fazer o pedido no e-commerce da destilaria, coloque o cupom OCAOENGARRAFADO. Viu, essa sim é uma boa idéia. E lembre-se: Quem pede um, pede bis.

LAMAS ROBUSTUS

Tipo: Single Malt

Destilaria: Lamas

País: Brasil

ABV: 54%

Notas de prova:

Aroma: baunilha, caramelo, cedro.

Sabor: adocicado, com especiarias e fumaça de sândalo. O final é longo e progressivamente defumado e apimentado.

*a degustação do whisky tema desta prova foi fornecida por terceiros envolvidos em sua produção. Este Cão, porém, manteve total liberdade editorial sobre o conteúdo do post.

Macallan Sherry Oak 12 – Superabundância

Superabundância de escolha. Não, eu não tenho nenhuma forma mais sucinta – ou menos espalhafatosa – de descrever o fenômeno. E, para falar a verdade, foneticamente, até gosto. A palavra superabundância, com sua retumbante aliteração, cria um eco capaz de exaltar o conceito. Que vou explicar a seguir, depois desta pequena digressão introdutória.

A superabundância de escolha acontece quando tomar uma decisão se torna um processo mentalmente esgotante, por conta do enorme número de variáveis e possíveis resultados. O conceito foi primeiro cunhado pelo escritor Alvin Toffler, em um livro de 1970, chamado A Terceira Onda. De acordo com Toffler, não ter alternativa é quase tão ruim quanto ter alternativas demais. Há uma espécie de arco de sastifação. Deve haver escolha, mas não tanta escolha a ponto de trazer insegurança. Tipo quando fui na farmácia comprar absorventes para a Cã, não sabia se era noturno, com ou sem abas, soft, ultra soft ou qualquer coisa assim, e fiquei morrendo de medo de levar bronca chegando em casa.

f****-se . Vou comer um hambúrguer.

Pode até parecer meio complicado, mas não é. Quando escolhi, por exemplo, ser advogado, ponderei uma infinidade de alternativas antes disso. Algumas pareciam obviamente equivocadas – como, por exemplo, jogador de basquete, visto que minha habilidade e estatura eram comparáveis à de um gnomo de jardim. Outras, entretanto, pareciam ter contornos mais enevoados. Do alto de meu autoconhecimento aos dezessete anos de idade, como decidir entre jornalismo, letras, direito ou, sei lá, ser simplesmente um andarilho?

Mas eu sei lá porque resolvi explicar superabundância para você, leitor de um blog de whisky. Porque, se você está aqui, é porque, justamente, sente – e às vezes até mesmo se regozija – nesse excesso de escolha. É o excesso de escolha que alimenta nosso entusiasmo. E as destilarias e marcas entendem isso. Algumas, perfeitamente. Como, por exemplo, a The Macallan.

A The Macallan tem mais de uma dezena de linhas diferentes, entre whiskies para o mercado doméstico e o de duty free. Triple Cask, Double Cask, Sherry Cask, Edition Series, Concept Series, Quest Collection, Rare Cask, Harmony Collection. Mas, dentre todas elas – das mais improváveis como o Rich Cacao – até as mais simples, como o Triple Cask 12, talvez a mais clássica e admirada seja a Sherry Oak. Da qual faz parte o The Macallan Sherry Oak 12 anos, tema desta prova, e que finalmente acaba de desembarcar no Brasil.

Superabundância de alambiques?

De acordo com a destilaria, o The Macallan Sherry Oak 12 é maturado exclusivamente em barris de carvalho temperados com vinho jerez oloroso espanhol. Em uma entrevista concedida por Stuart McPherson, master of wood da The Macallan, as espécies utilizadas são Quercus Robur e Quercus Petrea. A própria The Macallan escolhe os barris. O processo de “tempero” também é levado com esmero. As barricas são preenchidas com vinho oloroso produzido sob especificação da The Macallan, e deixados para descansar. Este processo leva de doze a dezoito meses. Todo este cuidado tem um motivo – conforme a McPherson, quase 80% do sabor de seu whisky vem da maturação.

A diferença entre as linhas Triple, Double e Sherry Oak reside, justamente, no carvalho usado. E ainda que pareça contra intuitivo, quanto menor o número, mais exclusivo é o whisky. Isso tem a ver com o preço das barricas. A linha triple cask utiliza maior proporção de carvalho americano, inclusive, barris de ex-bourbon. A double cask, tanto europeu quanto americano, mas, tão somente, temperados com jerez. Já a sherry oak emprega apenas carvalho europeu. E estas barricas de carvalho europeu – do qual Quercus Robur e Quercus Petrea fazem parte – são mais caros e raros do que aqueles de carvalho americano.

Há outro ponto a ser ressaltado, também. Whiskies cuja maturação ocorre exclusivamente em barris de ex-jerez, normalmente, devem possuir um new-make intenso, oleoso e congenérico, para garantir o equilíbrio. A curva de maturação de barricas de carvalho europeu de ex-vinho, em média, é mais acentuada do que aquele do carvalho americano – um new make frágil ou muito tempo de maturação pode resultar em um single malt desequilibrado. Este não é o caso do The Macallan Sherry Oak 12. O destilado da The Macallan tem um perfil de sabor claro, que complementa os sabores e aromas trazidos pela maturação.

Sensorialmente, o The Macallan Sherry Oak 12 anos traz notas de açúcar mascavo, frutas secas, como ameixas e uvas passas e um final apimentado, com cravo, canela e pimenta do reino. É o perfil mais clássico de um whisky maturado em ex-jerez. É curioso, inclusive, que apesar da maturação, o whisky pareça sensorialmente tão acessível e equilibrado. É impossível não gostar do The Macallan Sherry Oak 12 anos. Exceto, talvez, por seu preço!

Como a maioria dos rótulos da destilaria, o The Macallan Sherry Oak 12 anos não usa corante caramelo. Isso significa que a padronização deve ser dupla. Tanto em relação ao sabor quanto à cor. O time de whisky makers, liderado por Kirsteen Campbell, deve se cetificar que toda garrafa de Sherry Oak 12 anos tenha o mesmo perfil sensorial e também cor, sem recorrer ao corante, para padronização. Isso é feito pela mistura de barricas de diferentes idades e perfis sensoriais, em proporções cuidadosamente estudadas.

O time da The Macallan

O The Macallan Sherry Oak 12 anos é provavelmente uma das mais acertadas escolhas para os apaixonados por whiskies maturados em barris de jerez. Ainda que seja inegável que para nós, entusiastas de whisky, que há uma superabundância de escolha. E que decidir entre um e outro whisky cabe tão somente a nós – nosso gosto pessoal, capital disponível e oportunidade. Mas, finalmente ter o The Macallan Sherry Oak 12 anos no Brasil, à nossa disposição, quiçá torna o processo decisório bem mais fácil. Ou não.

MACALLAN SHERRY OAK 12 ANOS

Tipo: Single Malt com idade declarada (12 anos)

Destilaria: Macallan

Região: Speyside

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: açucar mascavo, frutas secas, especiarias.

Sabor: Caramelo, pimenta do reino, uvas passas, ameixas secas. Alcaçuz, final longo, com especiarias e geléia de frutas.

Outras 4 celebridades que amam whisky

Este post é uma sequência de outro, lançado há alguns anos. Para ler o primeiro, clique aqui.


Celebridades fazem todo tipo de anúncio. Alguns fazem muito sentido. Outros, nem tanto. Como, por exemplo, uma propaganda de 2006 de margarina, que conta com ninguém senão Ozzy Osbourne. Na verdade, um não, mas dois Ozzy Osbournes. A peça – de uma genialidade toda cretina – apresenta o Príncipe da Escuridão cozinhando com seu clone (!). Por motivos que não vem ao caso, ambos tem dificuldades de distinguir manteiga de margarina (também brilhantemente batizada de algo como “Não Consigo Acreditar que Não é Manteiga!”).

Outras peças publicitárias até fazem sentido, mas só estão lá na tênue linha entre o humor e o mau gosto. Tipo o Fabio Junior falando “você tempera e eu como“, e a Kim Kardashian endossando uma marca ultra macia de papel higiênico . E ainda que não faça o maior sentido, a gente entende a existência dessas coisas – é só pelo dinheiro mesmo.

Mas, outras – poucas – vezes, a história é quase a inversa. Uma celebridade é tão apaixonada por algo, que faz com que sua paixão transpareça na tela. E algumas dessas celebridades tem esta relação com whiskies. Esta lista reúne (mais) quatro delas. De Han Solo a Meg Griffin.

HARRISON FORD

Quando você é Indiana Jones, Rick Deckart e Han Solo, é realmente difícil que seu bom gosto por whisky seja destaque. Mas, Harrison Ford tem um entusiasmo todo especial pela bebida escocesa. Especialmente a destilaria Bruichladdich. Aliás, há uma edição de Bruichladdich Valinch – garrafas especiais que somente podem ser compradas na destilaria – com uma imagem de Indiana Jones no rótulo. A garrafa ainda conta com um autógrafo todo especial: “para as damas da Bruichladdich, amo seu trabalho. Harrison Ford”.

No filme “Morning Glory”, inclusive, Ford faz uma homenagem a sua destilaria favorita. Ele explica à personagem de Rachel McAdams o poder revigorante de um Bruichladdich 40 anos. Todas as garrafas usadas no filme aliás, são reais. Foram fornecidas pela Bruichladdich especialmente para o ator.

A Bruichladdich também aparece em outros filmes como personagem importante, mesmo sem seu entusiasta mais famoso. “Deus da Carnificina”, que ainda conta com atuações incríveis de Christoph Waltz, Kate Winslet, Jodie Foster e John C. Reilly, por exemplo – que aliás, seria um filme bem bom mesmo sem o Bruichladdich.

MILA KUNIS

A paixão por whiskey de Mila Kunis não é nenhuma novidade para os entusiastas da bebida. A atriz se tornou uma espécie de embaixadora e “face visível” da Jim Beam há alguns anos. Mas, sua paixão por whiskey é bem mais antiga que isso. Segundo ela “eu queria algo que pudesse bebericar e que fosse delicioso. Para mim, é dificil degustar vodka. E bourbon dá formigamento gostoso ao beber“. Bem, Mila, acho que todo mundo que lê um blog de whisky concorda plenamente com você.

JAMES ROBERTSON JUSTICE

O ator de filmes clássicos James Robertson Justice era um apaixonado por single malts. Tanto é que uma vez declarou que “nasceu sob uma destilaria em Skye”. O que é mentira, porque na verdade Justice nasceu em Londres. Mas – e isso tem que contar para alguma coisa – seu pai era escocês, então ele resolveu que seria escocês. Aprendeu a tocar gaita de fole e passou a usar kilt.

Para falar a verdade, o talento como ator de James estava aquém de sua personalidade. Apesar de ter aparecido em filmes bem conhecidos – como Guns of Navarone – Justice ficou mais conhecido por sua corpulência, voz grossa, barba longa e amizade com o príncipe Philip. O jovem e recém-falecido monarca, inclusive, o convidou para fazer parte de seu Thursday Club e confiou Charles, seu filho, ao ator, para que este lhe ensinasse falcoaria e caça.

No mundo dos whiskies, Justice tinha uma paixão curiosa pela Glenmorangie.

NICK OFFERMAN

Fonte: NBC/Universal

Já falamos por aqui de seu personagem Ron Swanson. O que não dissemos é que a paixão por whisky – especificamente, o single malt Lagavulin – do personagem de Parks and Recreation foi sugerido pelo próprio ator. Nick Offerman, que vive o personagem na série, é um absoluto apaixonado pela destilaria de Islay. Seu amor pelo monstro enfumaçado é tamanha que ele fez uma série chamada “My Tales of Whisky” com alguns capítulos inteiramente dedicados à Lagavulin.

Como reconhecimento pela paixão de Offerman, a Lagavulin criou uma edição especial com seu nome – a Offerman Edition. É um Lagavulin 11 anos, escolhido especialmente por Nick.

Lamas 1000 Dias – Experimento

No Alabama, há uma lei que proíbe amarrar uma aligator num hidrante. É expressamente proibido, também, dirigir com os olhos vendados. Já na Suíça, se precisar fazer um número dois antes de dormir, provavelmente terá que suportar sua malcheirosa companhia até o dia seguinte. Porque, por lá, você não pode dar descarga na privada depois das dez da noite. Não pode também praticar alpinismo pelado – que me parece que até faz sentido, afinal, a sensação das cordas roçando na virilha deve ser bem aflitiva.

Por falar em virilha, na Itália, você não pode mexer nas partes baixas em público. Mais especificamente, é contra a lei aprumar o seu amigão na companhia de outras pessoas. Se tá esquisito lá dentro da cueca, virado de lado ou coçando, esquece – nem a boa e velha manobra do bolso da calça é permitida. Por lá, homens também eram proibidos de usar saia. O que talvez fosse um problema para os escoceses mais tradicionalistas.

Na Itália, nem pensar.

O mundo está cheio de leis malucas. Cada país tem as suas próprias. E ainda que seja engraçado indagar as razões de suas criações, há um ponto genial nelas. São reflexo da cultura, ambiente e das prioridades de cada nação. Aquelas cujo objeto é whisky são assim também. Por exemplo, na Escócia, de acordo com a regulamentação da SWA, o tempo mínimo de maturação para que algo seja considerado whisky é de três anos. No Brasil, entretanto, é apenas dois – em boa parte, para atender a lei americana, que não traz limite mínimo. Mas, também, porque aqui, nosso clima quente acelera a maturação.

Esta curiosa diferença foi tema de um lançamento da Destilaria Lamas, de Matosinhos-MG, e do professor Cesar Adames. Um single malt denominado 1000 dias. Que, como você já deve ter presumido, é maturado por este tempo em um único barril de carvalho americano que antes conteve whiskey americano – para ser mais preciso, Jack Daniel’s.

De acordo com a Lamas “Na Escócia, o tempo mínimo de maturação exigido pela legislação é de 3 anos (1.095 dias); enquanto no Brasil, assim como nos Estados Unidos, esse tempo é de 2 anos (730 dias). Isso evidencia a relevância da temperatura média onde o whisky é maturado; quanto mais quente, mais acelerada é a cinética da maturação, considerando, naturalmente, a qualidade dos barris.” Mil dias não está nem tão para a Escócia, nem tanto para o Brasil – é quase a média de ambos.

Para que o barril fique em evidência, o Lamas 1000 Dias não usa qualquer malte defumado. Apenas malte pilsen, sem defumação – o mesmo usado nos Lamas Verus e Plenus. Sensorialmente, o single malt traz notas de caramelo, mel, baunilha, pão e um curioso herbal, que evidencia a personalidade do new-make spirit da Lamas. É um whisky jovem, sem nenhuma sombra de dúvida, mas é também uma experiência curiosa sobre a maturação no Brasil. O Lamas 1000 dias não parece algo inacabado – pelo contrário, tem uma personalidade bem clara.

Prof. Cesar Adames

O Lamas 1000 Dias foi lançado em Março de 2022, com tiragem única de trezentas garrafas – o que rendeu um único barril de ex-Jack Daniel’s. O single malt foi engarrafado a 40% de graduação alcoolica, e vendido a, aproximadamente, R$ 150 (cento e cinquenta reais). No momento de lançamento desta prova, de acordo com Adames, mais da metade da produção já havia sido vendida – uma marca surpreendente, que revela o apetite (ou melhor, a sede) do entusiasta brasileiro por lançamentos nacionais.

Para todos os apaixonados por whiskies nacionais ou simplesmente curiosos sobre a indústria do whisky, o Lamas 1000 dias é uma prova interessantíssima, que coloca em discussão a razão das regras por trás da melhor bebida do mundo. Mas cuidado, não vá aplicar a experiência em outras áreas. Nada de amarrar crocodilianos em hidrantes, dirigir vendado, se aliviar antes de dormir na Suíça ou dar aquela aprumada estratégica na Itália. Reserve a rebeldia para o mundo do whisky.

LAMAS 1000 DIAS

Tipo: Single Malt

Destilaria: Lamas

País: Brasil

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: baunilha, caramelo, mel.

Sabor: Mel, caramelo. Açúcar demerara. Herbal, com hortelã e pimenta do reino. Final seco que evidencia o new-make spirit.

Presbyterian – Nome de batismo

Coca-cola, Apple, Virgin. Há um monte de marcas com nomes curiosos. O refrigerante, por exemplo, tem uma explicação bem concreta. A receita original da Coca-Cola, inventada em 1885 pelo farmacêutico John Pemberton, de Atlanta, levava, literalmente, cocaína. Obviamente não o pó, mas um extrato da folha de coca, semelhante ao chá usado para o mal de altitude no Peru. A “cola” vinha da noz de kola, que contém cafeína.

A Apple, por outro lado, é um caso mais misterioso. Há infinitas teorias que tentam explicar a obsessão de Steve Jobs por maçãs. Uma delas é quase a síntese da navalha de Ockham – ele simplesmente curtia o gosto. Outras são mais sofisticadas. O nome Apple vem antes de Atari na lista telefônica, e Jobs trabalhara para a Atari. Ou seria uma homenagem ao matemático Alan Turing, um dos pais da computação e que morrera ao comer uma maçã com cianeto. Ou, talvez, seja uma conjugação de tudo isso. Como normalmente é no mundo real. As coisas tem mais e uma explicação. Mas, até hoje, muita gente se pergunta sobre a origem da Apple e da maçãzinha mordida em seu logo.

Quando você menciona o Presbyterian – o coquetel, claro – para alguém, a reação é parecida. Ninguém pergunta sobre os ingredientes, o que é raro. Mas, sim, sobre o curioso nome. Devo, aqui, no entanto, e de forma apologética, admitir que não sei a real razão de um Presbyterian se chamar Presbyterian – assim como a Apple. Na verdade, provavelmente, ninguém sabe. Uma teoria é que haja uma referência a um de seus ingredientes, como o drink leva scotch whisky, e a igreja presbiteriana foi fundada na Escócia. Ou isso, ou é só uma forma passiva-agressiva de algum ébrio homenagear a temperança cristã.

Uma certeza temos: não foi criação dele.

Independe da origem de seu curioso nome, porém, o Presbyterian é um drink extremamente versátil. E ridiculamente fácil de fazer também. É mais fácil até do que um Boulevardier, porque, no Boulevardier você usa três ingredientes, e no Presbyterian, só dois. Uma matéria do Liquor.com tem uma citação interessante de Alex Day e David Kaplan, do Death&Co, que ora transcrevo e traduzo de uma forma porca: “O Presbyterian clássico é parecido com o Moscow Mule ou Dark and Stormy, sendo, simplesmente, um destilado misturado com ginger ale”. A versão do bar – e do livro – inclusive, não pede scotch, mas Rye.

De certa forma, o Presbyterian é uma variação de outros infinitos coquetéis que já conhecemos, como o Highball e o Mamie Taylor. A ideia é a mesma. E o objetivo também – um drink fácil de beber e equilibrado, que pega emprestada a complexidade do whisky e devolve drinkability e refrescância. Perfeito para os momentos mais abrasadores de nosso ano. Como, por exemplo, o atual.

É importante mencionar aqui a questão do destilado. A versão mais clássica – e presbiteriana – do Presbyterian leva scotch whisky. Entretanto, atualmente, o coquetel pode ser feito com qualquer whisky que desejar. Além dos clássicos blends defumados, um que realmente me agrada é a versão com Rye. O apimentado herbal, que às vezes remete a hortelã do Rye realmente combina com uma ginger ale mais seca. Assim, querido leitor, use sua criatividade.

Por fim, vale apontar que algumas versões do Presbyterian pedem por partes iguais de ginger ale e água com gás, ou club soda. Faz sentido, se você utilizar um whisky leve, e que pode ficar escondido pela intensidade da Ginger Ale. A receita deve ser adaptada para cada gosto e de acordo com o destilado usado. Aliás, vamos a ela.

PRESBYTERIAN COCKTAIL

Ingredientes

  • 50ml whisky (teste com Rye!)
  • 100ml ginger ale, ou 50-50, ginger ale e club soda.

Preparo

  1. Num copo Highball, adicione bastante gelo
  2. Adicione o whisky e depois a ginger ale e a club soda (ou não).
  3. com o auxilio de uma colher bailarina, dê uma mexidinha no fundo do copo, para certificar-se que os ingredientes foram misturados.

The Macallan Sherry Oak 18 anos – Oportunidade

Há um aforismo de Seneca que diz que a sorte é onde a oportunidade encontra a preparação. Por ser o pai do estoicismo, e por estar convenientemente separado por dois milênios e poucos de história, posso quase certamente afirmar que Seneca não proferiu a máxima durante uma palestra de coaching. Aliás, coaches que proventura leiam este post, por favor, sejam mais estoicos e resistam à tentação de empregar Seneca em suas apresentações. Mas, enfim, mal comecei e já estou a divagar.

De volta, tenho minhas dúvidas sobre a irrefutabilidade do aforismo. E longe de mim falar de meritocracia, especialmente nessa prova. Mas conheço uma pá de gente, cujos nomes não vem ao caso, que está viva e bem só pela mais cândida sorte. Por outro lado, e confirmando Seneca, o Premio Darwin e o padre do balão estão aí (estou um pouco confuso sobre que tempo verbal usar) pra mostrar que às vezes um pouco de capacitação não faz mal a ninguém.

Preparação.

De uma forma pouco estoica, devo sucumbir à tentação de “apetrechar” a máxima do filósofo e transmutar um pouco seu sentido. Muitas vezes, reconhecer que teve sorte exige preparação e oportunidade. Foi meu caso, por exemplo, quando provei pela primeira vez o The Macallan 18 anos sherry oak. Tinha pouco mais de dezoito anos, e nenhuma preparação. Fora oferecido uma dose pelo pai de um amigo. Bebi sem muita cerimônia, sob um olhar semelhante àquele de um clérigo que condenava um herege, vindo do progenitor de meu coleguinha. Legal, Macallan 18 anos. Não tinha muita ideia do que estivera em meu copo.

Naquela oportunidade, eu não sabia. Mas levaria bons cinco anos para beber aquele whisky pela segunda vez – em uma degustação na antiga destilaria da The Macallan – e mais uma década para prová-lo pela terceira vez. Dessa vez, em terras brasileiras, no lançamento do rótulo por aqui. Depois de quinze anos, a expectativa era grande. Especialmente porque, dessa vez, eu sabia exatamente o que encontraria pela frente, e almejava saber se minha memória sensorial correspondia àquela maravilha. Um dos rótulos mais famosos de uma das mais famosas destilarias da Escócia – e um whisky que – inependente de qualquer esforço estoico – já começava a emocionar só pela tarjeta de preço.

Primeiro, vamos aos fatos. O The Macallan Sherry Oak 18 anos é maturado exclusivamente em barricas de carvalho europeu que antes contiveram vinho jerez espanhol. A idade estampada no rótulo indica que o componente mais jovem passou dezoito anos em ditas barricas. Sem prejuízo, entretanto, de whiskies bem mais maturados na mistura. Foi este perfil – o de carvalho europeu de ex-jerez – que contribuiu imensamente para a fama da The Macallan durante a década de oitenta. Seus rótulos mais reconhecidos e cobiçados utilizam, justamente, tais barricas. Dentre eles está o Sherry Oak 18 anos.

Aqui cabe um aviso e um respiro. Se você for um whisky geek, siga pelos próximos três parágrafos. Entretanto, se você só quiser saber se deve ou não dispender o equivalente ao PIB de uma pequena república européia neste single malt, te vejo daqui três paralelepípedos de palavras.

UMA DIGRESSÃO PARA OS WHISKY GEEKS

A The Macallan utiliza, de uma forma um pouquinho confusa, a palavra “seasoned” em seus rótulos – traduzido para cá como temperado – para explicar as barricas da linha Sherry Oak. “Maturados em barris temperados de vinho jerez”, dizem os rótulos. Essa é uma situação irônica. Uma destilaria que guarda tantos segredos, ao tentar esclarecer algo para o consumidor, causou ainda mais confusão. A confusão foi ainda maior porque a frase foi incluída após um rebranding da marca. O que poderia indicar que havia também uma guinada de processo. Mas nada disso aconteceu. Ao menos, não no mesmo momento do emprego da expressão.

A introdução da expressão “seasoned” serviu apenas para apontar algo que a The Macallan já fazia. E demonstra seu cuidado especial com as suas barricas. A destilaria encomenda de tanoarias espanholas, como a Tevasa, Vasyma e Hudosa, barris de carvalho europeu temperados com um jerez produzido sob medida para a The Macallan. Em outras palavras – o controle sobre o processo passa pela padronização do jerez também. Aquele jerez não é produzido para ser comercializado. Mas, tão somente, para trazer sabor às barricas que mais tarde serão preenchidas com o new-make da The Macallan.

Vasyma: barris de jerez para a The Macallan

O tempo, aqui, também é chave. Há um equilíbrio fino entre a potência do barril e a influência de jerez. O prazo que o barril deve guardar o vinho espanhol deve ser somente suficiente para que este entre em seus poros, e influencie no sabor do whisky. Mas, não grande o suficiente para roubar a potência da madeira. É um tradeoff, numa progressão bem ardilosa. Mais tempo pode, discutivelmente e até certo limite, trazer mais influência do indrink, mas menos da madeira. Seja como for, a própria The Macallan diz que o prazo de cura – que aliás, é um termo bem melhor do que tempero – é de um a dois anos.

PERFIL SENSORIAL E MAIS

O The Macallan Sherry Oak 18 anos traz notas de frutas secas, pimenta do reino, gengibre, canela, cravo e um certo floral bem sutil. O final é longo e seco. Essa é a parte mais interessante. Em comparação com o The Macallan Rare Cask, o Sherry Oak 18 anos é mais elegante, menos doce e mais apimentado. Mas, é também, mais sisudo. Se me permitem mais uma digressão para comparação. Se ambos fossem carros, provavelmente, seriam o mesmo modelo de carro esportivo. Mas o Rare Cask seria vermelho com faixas brancas. O Sherry Oak 18, todo preto.

O The Macallan Sherry Oak 18 anos é uma edição limitada anual da The Macallan. Cada whisky aponta, em seu rótulo, o ano de seu engarrafamento. O whisky provado para este post foi o do ano de 2021, que acaba de desembarcar no Brasil oficialmente. A introdução do ano no rótulo aponta duas coisas: primeiro, que pode haver pequenas variações de lotes, dependendo do ano. Em segundo, que este é um produto que pode apelar bastante para um colecionador.

Alambiques da The Macallan

Agora, preparem-se para talvez a parte que mais se afasta do estoicismo desta prova. O preço. No Brasil, uma garrafa de The Macallan Sherry Oak 18 anos custa, aproximadamente, sete mil reais. Nem Sêneca, com seu cinismo, poderia ficar indifrente a um preço destes. É uma quantidade de dinheiro que ultrapassa a barreira do valor relativo, e passa para a categoria do valor absoluto. Por conta disso, não vejo como poderia responder à dicotomia do “vale a pena”. Não seria justo – isso dependerá exclusivamente do comprador.

Mas – e colocando o pensador de lado – caso você tenha sorte, ou a oportunidade, prove o The Macallan 18 anos. Além de ser um single malt irretocável, é um dos mais clássicos, cobiçados e inspiradores single malts da Escócia. É inevitável reconhecer que, ter um single malt deste calibre à venda em nosso mercado é, irrefutavelmente, uma vitória e uma emoção. Na frente de um The Macallan 18 anos, não há estoicismo que resista.

THE MACALLAN 18 ANOS SHERRY OAK

Tipo: Single Malt com idade (18 anos)

Destilaria: The Macallan

Região: Speyside

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: uvas passas, especiarias, gengibre.

Sabor: Frutas secas, ameixas secas, uvas passas. Pimenta do reino, cravo, canela. Final longo, apimentado, com gengibre e pimenta.

Regiões Produtoras de Whisky da Escócia (Parte II)

Na primeira parte deste texto expliquei, de uma forma bastante resumida, a questão das cinco regiões escocesas. Discorri sobre minha inveja daqueles que apreciam vinhos, uma bebida que transpira sofisticação e elegância. Também falei sobre as duas maiores regiões produtoras de whisky na Escócia: Highlands e Speyside. Se perdeu este texto, leia-o aqui.

LOWLANDS

Girvan, nas Lowlands

De uma forma pouco acadêmica, podemos dizer que tudo que não está dentro das Highlands e não é a ilha de Islay nem Campbeltown faz parte das Lowlands. Infelizmente a Escócia está longe de um país avantajado em extensão territorial. Por isso, não sobra muita coisa nesta estranha intersecção entre a matemática e a geografia.

Seja como for, a região das Lowlands está ao sul da Escócia e ao norte da Inglaterra. Segundo a SWA, numa definição brilhantemente econômica, Lowlands é aquilo que “está ao sul da linha que divide a região das Highlands da região das Lowlands”.

Estudiosos da história do whisky apontam que as destilarias das Lowlands seriam famosas por empregar tripla destilação. Algo bastante comum para whiskies irlandeses, mas bastante raro nos Escoceses. Esta regra, no entanto, faz pouco sentido. Apenas Auchentoshan continua empregando a técnica em seu core range. Ainda que exista poucas destilarias de malte, grande parte das de grãos estão nesta região – é o caso da Girvan.

Apesar da pequena quantidade de destilarias nos dias de hoje, as Lowlands já foram um importante polo de produção de whiskies. Se você é um apaixonado pelas famosas destilarias do passado, desativadas ou demolidas, talvez reconheça alguns nomes bastante concorridos em nossos dias, como St. Magdalene, Rosebank e Littlemill.

CAMPBELTOWN

Campbeltown

A história da região de Campbeltown é quase uma lição de economia. No começo do século XX, havia mais de trinta destilarias na região, que correspondia a pouco mais do que um vilarejo em uma península, localizada na parte oeste da Escócia. Naquela época, Campbeltown era conhecida como a capital mundial do whisky.

Acontece que – perdão pela ambiguidade cretina – as destilarias exageraram na dose. Elas produziram tanto whisky que em pouco tempo não havia mercado consumidor capaz de dar cabo dos produtos vendidos. Para piorar, o maior mercado consumidor da época eram os Estados Unidos, que sofria com a recessão e a instauração da Lei Seca na década de vinte.

Assim, por conta da abundância de produção e o minguante mercado, pouquíssimas destilarias resistiram. Atualmente, Campbeltown possui apenas três. Springbank, Glen Scotia e Glengyle – que na verdade é uma espécie de extensão da Springbank. Aliás, aqui está uma história confusa. A destilaria Glengyle produz um single malt chamado Kilkerran, que é, na verdade, o nome de outra destilaria que foi demolida. É que os direitos sobre o nome Glengyle pertencem à Glen Scotia, vizinha da Springbank.

Segundo a SWA, Campbeltown é “o sul do ward de Kintyre do conselho de Argyll & Bute, conforme a Ordem Eleitoral de Argyll & Bute de 2006”. Ainda que Campbeltown esteja longe de ser um importante polo produtor de whisky da atualidade, seus maltes são bastante reconhecidos.

ISLAY

Kildalton Cross, em Islay

Tento tanto quanto posso manter minha imparcialidade. Mas dessa vez terei que abrir uma exceção, já que deixei o melhor para o final. Islay é uma ilha localizada a oeste da parte continental da Escócia. A classificação da SWA é até redundante: a região de Islay engloba a ilha de Islay, em Argyll.

Islay talvez seja o melhor exemplo de uma região com perfil sensorial bem delineado. É que a maioria das destilarias da ilha produz um malte incontestavelmente defumado e medicinal. Algo que, apesar de ser produzido também nas destilarias das demais regiões, é predominante nesta ilha.

Islay conta com oito destilarias ativas: Ardbeg, Bowmore, Bruichladdich, Bunnahabhain, Caol Ila, Kilchoman, Lagavulin e Laphroaig. Há também uma celebridade do passado, a Port Ellen, um dos mais valorizados maltes por colecionadores, que foi convertida em malting floor e fornece matéria prima para outras destilarias.

Todas as destilarias de Islay possuem ao menos uma expressão enfumaçada. A maioria delas, porém, tem quase seu portfólio inteiro com essa característica. Exceções são a Bruichladdich e Bunnahabhain, que possuem linhas inteiras de single malts sem qualquer traço de fumaça.

CONCLUSÃO

Apesar da quase irrelevância das regiões – com exceção de Islay – muitos ainda insistem em suas características históricas. Talvez por uma histeria classificatória, ou por não lidarmos bem com o fato de que tudo tende ao caos e a entropia. Ou, quiçá, seja porque temos uma necessidade inata de identificação. Precisamos classificar para separar, de alguma forma, aquilo que gostamos daquilo que não nos agrada. Polarizar –de uma forma saudável – é uma forma de arriscar menos.

O problema disso é que arriscar é justamente a alma do negócio. Como já repeti uma centena de vezes, a formação do gosto passa pela experiência. Eu jamais poderia dizer que gosto dos whiskies enfumaçados se não os tivesse experimentado. Da mesma forma, não poderia afirmar que não gosto dos single malts das Highlands só porque, em algum momento de minha vida, tenho tomado meia dúzia de whiskies medíocres de lá.

Abrir mão das classificações e criar seu próprio gosto é aumentar seu próprio leque de opções. Assim, o conselho deste Cão é que experimente tudo aquilo que lhe interessar. Leia, pesquise, entenda. Crie sua própria classificação. Afinal, ela é a única que realmente deveria importar para você.

Regiões Produtoras de Whisky da Escócia (Parte I)

Uma vez disse por aqui que eu queria gostar mais de vinho. Pois é.

É que vinho quase não é bebida alcoólica. Tenho um par de amigos que não bebe, mas toma uma taça de vinho de vez em quando. Afinal, faz bem para o coração.

Vinho é elegante. Em certas situações, beber vinho é quase excêntrico. Sonho em degustar um belo Dolcetto D’Alba vestindo um colorido robe de chambres ao som de algum compositor pós-gótico. Mas, infelizmente, nem saberia identificar um belo Dolcetto D’Alba. Além disso, não tenho nem roupão e sou bem mais propenso à música clássica moderna ou ao rock.

Vinho também é cultura. É quase um curso em gastro-eno-geografia, se o termo gastro-eno-geografia existisse. As pessoas comentam sobre diferenças entre regiões, safras e uvas. Sobre aquele pequeno produtor cujo chateau produz apenas mil garrafas por ano, mas que é o melhor vinho daquele terroir. Aliás, adoraria poder falar sobre terroir de certo whisky. Mas isso é outro papo. Ou não.

Queria que whisky fosse legal como vinho.

Caso você já tenha dado seus primeiros passos no mundo do whisky, talvez tenha esbarrado na clássica divisão de regiões da Escócia. São cinco. Highlands, Campbeltown, Speyside, Islay e Lowlands. Esta é a classificação oficial fornecida pela Scoch Whisky Association, e proveniente das Scotch Whisky Regulations de 2009 – documento que regulamenta a produção e comercialização da bebida.

E caso você já tenha certa intimidade com a bebida, talvez tenha notado que não há qualquer menção ao território das ilhas na classificação oficial. Acontece que, oficialmente, as “Islands”, como são conhecidas, fazem parte das Highlands. Ainda que certa empresa do mundo dos destilados tente nos convencer do contrário. Uma grande empresa, que criou uma linha de maltes clássicos, com representantes de seis regiões da Escócia.

Seja como for, trago más notícias. Atualmente, as regiões possuem pouquíssima importância. Até meados do século XX, elas ainda poderiam fornecer algumas pistas sobre as características dos maltes, mesmo que já existissem numerosas exceções. Hoje em dia, e perdão pela opinião um pouco extrema, a classificação faz pouco sentido.

Ainda assim, a divisão permanece. Talvez porque nós, seres humanos, sempre tentamos classificar e dividir, mesmo o inclassificável ou indivisível. Ou talvez porque nós, amantes de whiskies, temos uma certa inveja dos apreciadores de vinho, e todo aquele papo sobre terroir. Por conta desta insistência, explicarei brevemente as regiões e suas características históricas, de acordo com a classificação da SWA.

É importante apontar que, ainda que a própria SWA insista que há um perfil sensorial clássico para cada região, a origem da classificação pouco tem a ver com aroma ou sabor. A divisão foi feita com base nos estudos de Michael Jackson (não, não o rei do pop, mas o estudioso de cervejas e whisky), que levou em conta fatores históricos de cada região.

O verdadeiro rei.

Assim, por exemplo, a região de Campbeltown está separada das Highlands não por qualquer diferença em seu perfil sensorial -afinal, o lugar tem apenas três destilarias. Mas, porque, históricamente, faz sentido. Campbeltown foi o centro da produção de scotch whisky antes da época da Lei Seca Norte-Americana. E, depois do Volstead, encontrou sua ruína. Leia mais sobre isso aqui.

De toda forma, vamos às regiões, como manda o livrinho.

HIGHLANDS

Eilean Donan Castle, na região das Highlands, a caminho de Skye.

Vamos começar pela maior delas. As Highlands incluem quase tudo que está ao norte da linha imaginária das Lowlands. Ou seja, quase a Escócia inteira. Por conta da extensão territorial, há uma enorme variedade de maltes, com as mais diferentes características organolépticas. Há whiskies florais e leves, como os Glenmorangie, e whiskies oleosos e turfados, como os Highland Park.

É virtualmente impossível estabelecer as características em comum entre os whiskies das Highlands – exceto, é claro, pelo fato de serem todos whiskies. A situação fica ainda pior se pensarmos que todas as ilhas a oeste da parte continental da Escócia – com exceção de Islay – fazem parte das Highlands.

Assim, destilarias tão diferentes como Highland Park, Tobermory, Jura, Arran, Ben Nevis, Oban, Aberfeldy, Pulteney, Clynelish e Glenmorangie fazem parte do mesmo grupo. Não há qualquer lógica que justifique esse agrupamento, considerando apenas perfil sensorial.

Para resolver esta aparente crise de personalidade da região, alguns autores propuseram uma subdivisão extraoficial do território. Por ela, haveriam diferenças entre os whiskies das regiões norte, sul, leste, oeste e das ilhas que compõe as Highlands. Mas como nem essa classificação funciona direito se submetida a escrutínio detalhado (Dalmore, e Glenmorangie? Scapa e Highland Park?), deixarei o assunto por aqui.

 SPEYSIDE

O Castelo de Balvenie, em Speyside.

A região de Speyside está no coração das Highlands. É lá que está mais da metade das destilarias da Escócia, assim como as três maiores – Glenlivet, Glenfiddich e The Macallan. De acordo com a SWA, Speyside é constituída por wards – uma espécie de município – enumerados em seu texto. Se você não está com sono e quer saber quais são, os descreverei no parágrafo seguinte. Caso contrário, vejo vocês daqui um paralelepípedo de texto.

Bem, inspire profundamente, porque aí vai. Speyside é constituída pelos wards de Buckie, Elgin City North, Elgin City South, Fochabers Lhanbryde, Forres, Heldon e Laich, Keith e Cullen e Speyside Glenlivet do conselho de Moray, de acordo com a Ordem Eleitoral de Moray de 2006; bem como os wards de Badenoch e Strathspey do conselho das Highands, de acordo com a Ordem Eleitoral das Highlands de 2006.

A região de Speyside, como o nome sugere, é cortada pelo rio Spey. No passado, acesso fácil à água era importante. Assim, muitas destilarias preferiram se instalar próximas àquele rio ou seus afluentes – um dos maiores da Escócia em extensão, apenas atrás dos rios Tay e Clyde. Além do trio de gigantes, Speyside é o lar de destilarias como Aberlour, Mortlach, Glenfarclas, Craigellachie, Cardhu, Balvenie, Kininvie, Benromach, Tomintoul, Benriach, Longmorn, Glen Grant e Strahisla, entre muitas outras.

Em tese, o perfil de Speyside é frutado, equilibrado e complexo. São whiskies encorpados ou de corpo médio, e que utilizam maturações vínicas. Faz sentido até certo ponto – de fato, a maioria dos whiskies da região se encaixam nessa descrição. Mas há exceções.

No próximo texto este Cão tratará das regiões de Lowlands, Islay e Campbeltown – ACESSE AQUI