Union Malt Extra-Turfado – Fitzcarraldo

Fitzcarraldo, dirigido por Werner Herzog, é um dos mais incríveis e insensatos filmes de todos os tempos. Lançado em 1982, a película conta a história baseada em fatos reais de Brian Sweeney Fitzgerald – apelidado de Fitzcarraldo – um barão da borracha do começo do século vinte. Fitzgerald é admirador de música erudita e do tenor Enrico Caruso. Seu sonho maluco é construir uma enorme casa de espetáculos em Iquitos, no alto da selva amazônica, para ouvir seu ídolo cantar.

Para tanto, Fitzcarraldo está obstinado a arrastar um navio a vapor completamente montado sobre uma grande montanha – subindo de um lado, descendo do outro. Seu plano é utilizar a embarcação para explorar as riquezas de certa bacia hidrográfica com a ajuda de indios, se capitalizar e construir o luxuoso teatro.

Se o sonho de Fitz parece estupidamente ambicioso, o de Herzog foi além. É que o diretor, recusando-se a utilizar miniaturas e efeitos especiais, arrastou um barco a vapor de verdade, pesando mais de trezentas toneladas em seu set de filmagem. E ainda que o resultado na tela seja magistral, a sua execução foi trágica. Membros da equipe de Herzog morreram e índios sabotaram as filmagens. Mais tarde, o cineasta publicou um livro sobre a experiência, titulado “A Conquista do Inútil”.

Tranquilo.

Transportado para o mundo do whisky, construir uma opera house em Iquitos está lá, ombro a ombro, com o sonho de produzir single malts no Brasil. Ainda mais um malt turfado, à moda dos escoceses. Mas foi justamente isso que a Union, tradicional destilaria de whisky localizada na serra gaúcha, fez. Ela lançou recentemente dois rótulos que utilizam turfa em seu processo de secagem da cevada maltada, denominados singelamente de “Turfado” e “Extra Turfado”.

A Union, porém, não é qualquer aventureiro apaixonado por ópera. Ela tem mais de sessenta anos de experiência na produção de destilados. A maioria deles, de malte, utilizados na produção de bebidas compostas. Ela também possuía uma linha de single malts não turfados, conhecidos como Union Club. Porém, recentemente, a empresa – que conta com duas destilarias – lançou uma linha surpreendente de single malts voltados para o mercado premium. Dentre eles, o Union Extra Turfado, tema desta prova.

De acordo com Luciano Borsato, diretor executivo da Union os “malte turfado e extra-turfado (que são usados de base para os whiskies) são importações que fazemos do norte da Escócia, sob especificação”. Para o Union Extra-Turfado, a medida de fenóis no malte é de quarenta partes por milhão (40ppm), intermediária entre a especificação da Talisker (20ppm) e Ardbeg (55ppm). A destilação acontece em dois wash stills de 16 mil litros – um deles da Forsyth’s, escocesa – e em um spirit still de 18 mil litros. O whisky não é filtrado a frio.

A idade mínima de ambos é de cinco anos. Por isso declaramos cinco anos, mas como mínimo – há maltes com mais envelhecimento” – conta Luciano, sobre a maturação. Os barris, de carvalho americano, são comprados de diversas destilarias americanas. O primeiro uso é dedicado a whiskies não-turfados, como o Union Malt e o Vintage. O segundo uso – por conta da característica enfumaçada – vai para a linha turfada. A coloração é totalmente natural. Não há emprego de corante caramelo.

Os alambiques da Union

Sensorialmente, o Union Malt Extra-Turfado traz no aroma um enfumaçado seco e iodado, com algas marinhas. No paladar, o sal fica ainda mais evidente, em conjunto com o característico sabor de carvão e pimenta do reino. É um malte seco e salino, quase reminiscente de algum turfado das highlands escocesas.

Alguns sonhos ambiciosos estão fadados a fracassar. Como, por exemplo, arrastar um barco a vapor inteiro sobre uma montanha, ou construir uma casa de espetáculos para música erudita no alto da selva amazônica em plena belle epoque. Mas outros – com tempo e técnica – se tornam incríveis realidades. Como, por exemplo, produzir um single malt turfado em terras brasileiras. E o Union Malt Extra-Turfado é a prova (literalmente) líquida disto.

UNION MALT EXTRA-TURFADO

Tipo: Single Malt

Destilaria: Union Malt

País: Brasil

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: iodado e medicinal, com fumaça, bacon e cereais.

Sabor: Bastante iodado e medicinal. Corpo médio. Bacon, sal marinho. Lembra bastante os whiskies turfados das highlands escocesas. O final é apimentado e enfumaçado.

Onde encontrar: Caledonia Whisky & Co., em São Paulo, ou online na Caledonia Store .

Live – XP Investimentos – Royal Salute

Ao longo desta quase (ou mais?) de meia década de Cão Engarrafado, falamos de centenas de marcas e rótulos diferentes de whisky. Mas posso contar nos dedos de uma mão aquelas que nutria uma paixão enorme mesmo antes de começar o website, e cuja admiração apenas cresceu. Uma dessas marcas é a Royal Salute.

Sempre gostei da marca – afinal, o que há de se não gostar sobre esta maravilha? – mas, depois de conhecer os detalhes sobre sua história e criação, a paixão se consolidou. Tive o enorme privilégio de viajar até a Coréia para experimentar em primeira mão dois de seus mais importantes lançamentos – entrevistar Sandy Hyslop e Mathieu Deslandes – e acompanhar de perto os últimos anos da marca.

E é com grande satisfação que faço um convite a nossos leitores. Uma live muito especial, patrocinada pela XP Investimentos. Conversarei com a incrível Amabile Gugliemo-Brady, senior brand marketing manager (gerente global de marketing) da Royal Salute. Baseada em Londres, Amabile lidera o pipeline de ativações e eventos globais da marca e
gerencia a ampliação das plataformas de engajamento para o consumidor em mercados como o Brasil, Índia, Cambodia , Malásia e Emirados Árabes
Unidos. E melhor de tudo – é brasileira!

O evento virtual ocorrerá amanhã, 18 de junho de 2020, às 19:00, pelo perfil de YouTube da XP Investimentos. Para acessar, basta clicar aqui .

E exclusivamente para a semana, o Caledonia Whisky & Co., nosso bar em São Paulo, lançou um kit com os três incríveis Royal Salutes disponíveis no Brasil. O tradicional Signature Blend, o intenso Malts Blend e o inovador Snow Polo Edition, único blended grain scotch whisky à venda no Brasil. São doses de 30ml, para provar os três. Para comprar, basta pedir pelo iFood.

Além disso, a Royal Salute disponibilizou um link com descontos exclusivos para garrafas deles e de outros produtos do portfólio da Pernod-Ricard. Para comprar, acesse aqui.

Nos vemos por lá!

World Class Community – Johnnie Walker 200 & Brazil

Uma pequena pausa para um anúncio que nos trouxe muita alegria. Mauricio Porto, nosso autor, foi convidado para participar de um painel no World Class Community Week Brasil, Da Diageo, com a participação dos incríveis Nicola Pietroluongo (@scotchnick ), Tom Jones (@whiskyexplorer ) Ewan Gunn (@ewangunn) e Arturo Savage (@arturosavage)!

Falaremos dos 200 anos da Johnnie Walker, sua conexão com o Brasil e da importância da marca na categoria de scotch whisky.. Abordaremos alguns temas bem atuais, como a flexibilização das regras da Scotch Whisky Association em relação ao uso de certas barricas, como as de tequila, por exemplo.

Além do painel dedicado à mais famosa marca de blended scotch whisky do mundo, haverá outros papos incríveis. Como um sobre harmonização de pratos e coquetéis, com Oscar Bosch, do Tanit, Lauren Mote, Mark Moriarty e Nicola; e outro sobre coquetéis ready-to-drink, com Alexandre D’Agostino, do Apothek, Fabio La Pietra, do SubAstor, Tai Barbin, do Liz, Nicola e Jenna Ba. Serão três dias de eventos virtuais

Quer saber a programação completa e como assistir? Veja abaixo a programação completa. E para saber mais detalhes, acesse o site oficial do evento virtual. Nosso painel acontece na quarta-feira, dia 17, às 18:00. Nos vemos por lá.

Suntory Roku Gin – Filosofia oriental

A estética e a cultura japonesa estão intimamente refletidas em sua linguagem. Os japoneses possuem palavras simples que definem conceitos incrivelmente complexos. Por exemplo, wabi-sabi, que define a apreciação das imperfeições de tudo que é natural. Ou omotenashi – que poderia ser traduzido como hospitalidade. É a virtude de antecipar as necessidades dos outros e atendê-las. A tradição de certos restaurantes japoneses de entregar uma toalhinha quente e úmida para o comensal antes da refeição é baseada nesse princípio.

Há umas palavras bem específicas, também. Como tsundoku, que define a tendência de certa pessoa comprar e colecionar mais livros do que consegue ler. É quando a sede de conhecimento supera o tempo disponível. Feliz, ou infelizmente, não há nenhuma palavra que se aplique ao irresistível impulso de comprar dezenas de garrafas de whisky sem nem ter fígado ou tempo para bebê-las.

Que é um jeito bonito de dizer acumulador.

E há também Shun – a filosofia de se apreciar certo prato ou bebida em sua estação do ano certa, e somente quando estiver na epítome de seu sabor. E foi com base neste conceito e em omotenashi, a hospitalidade, que a House of Suntory criou o gim Roku, que acaba de chegar ao nosso país.

O Roku é o primeiro gim da lendária Suntory, a maior – e primeira – produtora de whisky do Japão. A mesma responsável por maravilhas como o Suntory Hibiki, Yamazaki e Hakushu. Ele foi lançado em 2017 por lá, mas somente chegou ao Brasil recentemente. Seu nome é traduzido como “seis”, em japonês. E não é necessário ter um poder de dedução sobre-humano para observar a referência ao número. Ela fica óbvia quando examinamos a garrafa, que é hexagonal e decorada com alguns dos botânicos usados no processo.

Mas a simbologia não está presente apenas na garrafa. O Roku Gin utiliza quatorze botânicos. Seis deles, japoneses, que simbolizam as quatro estações do ano – justamente com base em Shun. Folhas e flores de cerejeira (sakura) para a primavera, chás senchea e gyokuro para o verão, pimenta sansho para o outono e casca de yuzu – aquele limãozinho japonês – para o inverno. Além deles, há também, claro, botânicos tradicionais na produção de gim, como o obrigatório zimbro, bem como cascas de laranja, limão, coentro e canela. Os botânicos são destilados em quatro destiladores diferentes, para garantir que cada grupo mantenha suas características mais vivas.

– A produção do Roku Gin acontece em uma destilaria localizada em Kaigandori, Osaka, pertencente à Suntory – bem próximo à Yamazaki, onde é produzido o maravilhoso sigle malt homônimo. O espaço também é conhecido como o “Atelier de Bebidas da Suntory“. Lá são produzidos diversos outros destilados do portfólio da empresa japonesa.

O atelier

Sensorialmente, o Roku é um gim marcante, que funciona melhor como personagem principal do que coadjuvante em coquetéis. O álcool é elegante e bem integrado, e seu perfil pende para o cítrico, com o amargor do zimbro e a pimenta trazendo força. No gim tônica, o Roku ficou bem interessante, mas foi no dry martini que – na singela opinião deste canídeo – o destilado se encontrou.

Você não precisa ser um tsundoku de garrafas. Mas, meu conselho, é que seu exerça seu “auto” omotenashi, e prove o Roku. É um gim que certamente irá surpreendê-lo. Por sorte, beber um belo gim é um hábito que podemos fazer o ano inteiro.

ROKU GIN

Tipo: Gin
Marca: Suntory
País/Região: Japão – N/
ABV: 46%
Idade: N/A

Notas de prova:

Aroma: floral e levemente cíttrico. Canela
Sabor: Cítrico e amargo, com laranja, limão, canela e coentro. Há um floral de fundo muito interessante.

Disponibilidade – lojas brasileiras como a Caledonia Store.

Laphroaig Select – Dissonância

Sem nenhuma dúvida, um dos maiores compositores da virada do século 19 foi Igor Stravinsky. Mais do que um excelente músico, o maestro desafiou dogmas seculares da música clássica. Seu trabalho revolucionou a estrutura rítmica da música erudita, e foi largamente responsável pela consagração do dodecafonismo e serialismo como técnicas de composição. Mas fique tranquilo, isso não é um texto sobre música clássica.

Além de gênio musical, Stravinsky era também um homem de bom gosto, e muito espirituoso. A prova disso é sua frase “Meu Deus, tanto gosto de beber whisky que as vezes penso que meu nome é Igor Stra-whisky”.

Mas nem sempre as coisas foram fáceis para Stra-whisky. Durante sua vida, muitos de seus trabalhos geraram enorme polêmica. A história mais conhecida é da estreia do ballet “A Sagração da Primavera”, que ocorreu em 1913 no Théâtre des Champs-Élysées de Paris, e foi uma das primeiras obras dissonantes do mundo. Já no início do espetáculo, a plateia assoviava e vaiava. Até que, em uma escalada de fazer inveja a qualquer torcida organizada de futebol, os ouvintes começaram a chutar-se mutuamente, aos berros, arrancando poltronas e as arremessando nas cabeças uns dos outros.

Enfim, um ballet tranquilo, com gente equilibrada.

Théâtre des Champs-Élysées depois do balé de Stravinsky

Um fenômeno parecido ocorreu recentemente com a Laphroaig, localizada na ilha de Islay, na Escócia, e famosa por seus whiskies com aroma defumado e bastante encorpados. No ano passado, a destilaria lançou o Laphroaig Select, uma versão mais democrática de sua obra já consagrada. E isso gerou muita polêmica entre seus fãs.

A maior crítica seria que a Laphroaig, ao invés de presentear seus fiéis com outra variação sobre o mesmo tema, teria preferido criar algo mais suave, menos encorpado e menos defumado. Um Laphroaig uma oitava acima. Na cabeça dos críticos, a ideia teria sido tentar agradar ao público ainda não fidelizado e aumentar as vendas da destilaria. Por conta disso, a reação de seus fãs foi também uma versão suavizada de “A Sagração da Primavera”. Sem descontrole físico-emocional e arremesso de cadeiras. Mas com muita gritaria.

No meu caso, a polêmica internacional despertou uma curiosidade quase doentia de experimentá-lo. Mas como sou fã de whiskies defumados, e especialmente da Laphroaig, imaginei que não passaria da primeira dose. Só que não foi o que aconteceu.

Se comparado às demais expressões da destilaria, o Laphroaig Select é, de fato, um whisky mais suave. Os aromas defumado e de maresia estão lá, só que mais discretos. E o sabor picante também, ainda que também suavizado, principalmente por conta da graduação alcoólica de apenas 40%. No entanto, o Select continua, sem dúvida nenhuma, a ser um Laphroaig. Tipo catupiry light. Continua sendo catupiry, só que mais leve.

Pensando bem, não. Catupiry light é qualquer coisa, menos catupiry.

Sério, o que é isso?

O Laphroaig Select é composto por um pouco de quase tudo que existe no atual portfólio da Laphroaig. Em sua fórmula estão o Laphroaig PX, maturado em barricas de ex-jerez, o QA Cask, que utiliza barricas de carvalho branco americano, o Triple Wood, que é uma versão do Quarter Cask maturada em barricas de jerez, bem como o clássico Laphroaig 10 anos. Estes whiskies, depois de combinados, são maturados em barricas virgens de carvalho americano.

É inegável que, assim como “A Sagração da Primavera” de Stravinsky o Laphroaig Select destoa dos demais whiskies da destilaria. Mas não vá lançando seu mobiliário nele só por conta disto. Experimente. Se você, como eu, é cachorro velho frente aos single malts de Islay, abaixe suas orelhas e reconheça: poucas vezes a Laphroaig produziu algo tão versátil sem comprometer a complexidade, e com um preço tão convidativo.

Agora, se você for um iniciante nos whiskies defumados, o Select é simplesmente imperdível para você. É sério. Se Igor tivesse experimentado, mudaria seu sobrenome para Laphro-vinsky.

LAPHROAIG SELECT

Tipo: Single Malt sem idade definida
Destilaria: Laphroaig
Região: Islay
ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: medicinal e defumado, mas não tanto quanto o Laphroaig Quarter Cask ou o 18 anos. Aroma de madeira queimada e frutas cítricas.

Sabor: defumado e levemente cítrico (limão siciliano), com capim santo, e final amargo e longo. Ao contrário da maioria dos Laphroaigs, há pouco defumado no sabor residual.

Com água: adicionando-se agua, o aroma defumado torna-se muito mais leve, e o limão siciliano fica mais evidente. O sabor de capim-santo também é ressaltado.

Disponibilidade: lojas brasileiras como a Caledonia Store

Whiskies jovens (ou sem idade declarada) muito bons

Foto: Tales Hideki

O tempo é a substância da qual sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me devora, mas sou o tigre; é um fogo que me consome, mas sou o fogo” escreveu Borges em sua Nova Refutação do Tempo. Desgraçadamente – para continuar no tema Borgiano – tenho tido bastante tempo para pensar nele mesmo. Não em Borges. Mas no tempo.

Ultimamente, a passagem do tempo tem me trazido ansiedade. Almejo que tudo passe logo, para voltar àquele status quo. Trabalho normal, vida corrida. Aquele em que o tempo passa tão rapidamente que nosso anseio se torna justamente o contrário – que ele demore mais. Normalmente, a passagem do tempo não é muito querida. Exceto quando em quarentena e durante alguma aula chata de matemática. E – de acordo com o senso comum – com whiskies.

É que muita gente acha que idade é sinônimo de qualidade em whisky. Mas este pensamento está absolutamente equivocado. Há características sensoriais de whiskies jovens que são praticamente irreplicáveis em whiskies mais maturados. A turfa, por exemplo. Whiskies turfados são, sensorialmente, muito mais turfados quando há pouca maturação. A influência sensorial da turfa decai com a idade. Um mesmo whisky turfado com dez anos é muito mais enfumaçado e medicinal do que seu par com meio século de idade.

E há, também, aqueles que são jovens, acessíveis e absolutamente surpreendentes. Whiskies ora delicados, ora um pouquinho agressivos, mas que – aliando casualidade e qualidade – ganham o coração de qualquer entusiasta. Fiz aqui uma lista de quatro deles. De whiskies jovens bem acessíveis àqueles que, apesar da pouca idade, custam o mesmo que o meu fígado. O meu fígado jovem, claro, porque, agora, ele só serve para fazer foie gras. Enfim, vamos a eles.

FAMOUS GROUSE FINEST

Poderia utilizar o clichê “bom, bonito e barato” para descrever o Famous Grouse, não fosse sua garrafa horrorosa com um símbolo ainda mais feio. O que, em termos práticos, não importa nem um pouco. O líquido é sensorialmente excelente, e o preço o torna ainda melhor. O Famous Grouse Finest é a prova de que whiskies sem idade e acessíveis podem, sim, ser muito bons.

Sensorialmente, é um blend relativamente encorpado, bastante equilibrado, levemente puxado para o adocicado e com nenhuma – ou talvez pouquíssima – defumação.  Os principais single malts em sua fórmula são Glenturret, The Macallan e Highland Park. Uma tríade que, convenhamos, não poderia ser melhor. Para saber mais sobre ele, clique aqui.

CHIVAS REGAL EXTRA

Desenvolvido pelo master blender Colin Scott, o Chivas Extra é um blended whisky sem idade definida, composto por single malts e grain whiskies. Sua base é o Strathisla, importante destilaria pertencente ao grupo Chivas, e considerada o lar espiritual da marca. O diferencial fica por conta do uso generoso de barricas de carvalho europeu de ex-jerez.

Ainda que isso não seja divulgado, este Cão tem um palpite educado sobre o Extra. Barricas de carvalho europeu tendem a atingir seu ponto de equilíbrio mais rapidamente do que de carvalho americano. Assim, utilizando whiskies jovens, a Chivas Regal consegue atingir um equilíbrio melhor em seu blend, e dar escala de produção a ele. Quer saber mais? Clica aqui.

GLENLIVET FOUNDER’S RESERVE

A Glenlivet é uma das maiores destilarias em volume de venda na Escócia. E sua expressão mais vendida – e quiçá responsável por seu crescimento nos últimos anos – é justamente o Glenlivet Founder’s Reserve. Lançado em 2015, o Founder’s assumiu o papel de whisky de entrada do portfólio da Glenlivet – função outrora desempenhada pelo respeitado 12 anos.

o Founder’s Reserve é maturado em uma combinação de barricas de carvalho americano de primeiro uso, que antes continham Bourbon whisky, com outras barricas de carvalho americano que já haviam maturado The Glenlivet antes. Essa combinação permitiu que Alan Winchester, o master distiller da marca, produzisse um whisky consistente, escolhendo e combinando as barricas pelo sabor, e não pelo tempo de maturação em seus armazéns. Quer saber mais sobre ele? Clica aqui.

PORT CHARLOTTE SCOTTISH BARLEY

Olha, eu não poderia terminar minha lista de outra forma. O Port Charlotte Scottish Barley é tudo que um bom whisky de Islay é – bastante alcoolico, insanamente defumado e timidamente maturado. Ele é a essência de tudo aquilo que esperamos de um whisky medicinal, salino e enfumaçado.

Tudo isso, graças à sua juventude. Por conta da maturação – que não passa de dez anos – seu new-make spirit é evidente. E que new-make. Iodado e defumado, o Port Charlotte Scottish Barley é um dos rótulos à venda no Brasil mais queridos deste Cão Engarrafado. Mas como tudo tem um ponto negativo, ele não é exatamente barato. Para saber mais sobre ele, clique aqui.

San Basile White Dog – Raio X

Quando era criança, bati a cabeça bem forte. O que, num parêntesis, é uma explicação bem verossímil para certos comportamentos que tenho hoje. Eu estava me preparando para dormir, saí correndo e pulei na cama, mas devia estar empolgado demais, porque errei o alvo e fui direto na parede. Quanto aterrizei no travesseiro, não sentia metade da testa, mas percebia um líquido quente e viscoso que descia pelas minha têmpora esquerda, até a orelha. O resto foi drama. Mãe gritando, carro, hospital, raio-x.

Raio-X. Quando o médico chegou com a imagem do raio-x na mão, minha mãe ficou aliviada. Nada demais, apenas uma meia dúzia de pontos na testa, que mais tarde se tornariam uma pequena cicatriz. Mas, mais do que isso, eu fiquei maravilhado com aquela foto. Então era assim que eu era por dentro. Uma intrincada combinação de pedaços que mais pareciam um vaso de porcelana quebrado e depois colado.

Anos mais tarde – e sem qualquer relação direta com o acidente – vi uma série de outras imagens de raio-x, de coisas e bichos aleatórios. Achei bem legal. Um celular não é muito mais do que uma chapa cheia de furinhos e circuitos. E um pinguim – pasme – possui joelhos. Mas eles estão escondidos dentro da barriga. É engraçado como tudo parece diferente, mais claro, mais facilmente isolável, quando na máquina de raio-x.

A prova.

E se pudesse comparar o raio-x com alguma bebida (talvez isso tenha sido uma sequela daquela batida) diria que ele é o White Dog da San Basile, uma recém-inaugurada destilaria brasileira, focada em produtos de coquetelaria.

É que o White Dog da San Basile oferece uma experiência curiosa. A de provar, com boa fidedignidade, qual seria o sabor do new-make spirit de um single malt, totalmente isolado de qualquer influência da madeira. Como você sabe – já que acompanha o Cão Engarrafado – há diferenças entre new-makes. Mas a possibilidade de provar um já dá uma ótima ideia do tamanho da ação que o barril tem no sabor final do produto. E, ainda mais interessante e menos óbvio que isso, como o produto recém-destilado já possui congêneres e carrega sabor.

A base do White Dog da San Basile é cevada maltada – igualzinho um single malt escocês. O que é relativamente incomum para um white dog, e o torna ainda mais único. A denominação geralmente é utilizada para definir os destilados sem maturação norte-americanos. A maioria deles, com predominância de milho ou centeio em seu mosto. “Nós fizemos alguns protótipos com milho, com centeio. O milho sem envelhecimento tem um sabor, eu diria, indesejado. Então no final decidimos fazer algo só de malte, um único malte” – conta Renato Chiappetta, mestre alambiqueiro da San Basile.

Renato Chiappetta

A destilação do White Dog da San Basile é bem semelhante àquela de single malts escoceses. São duas destilações, a primeira, sem cortes, a segunda, separando cabeça e cauda. Os alambiques são também parecidos, de pescoço de cisne. “White dogs são uma coisa mais americana, mas em perfil de paladar, nosso produto se aproxima mais da Escócia” – continua Renato.

De acordo com a San Basile “A tradição de destilar a noite, sob a luz da lua, para fugir da fiscalização durante a era da Lei Seca nos Estados Unidos fez nascer o Moonshine, essa bebida originária dos Apalaches, na Carolina do Norte e na Geórgia. Hoje esse “whiskey branco” está sendo redescoberto e valorizado por novos consumidores no mundo todo. Intenso e levemente adocicado, o White Dog é uma aguardente elaborada à partir da destilação do mosto fermentado de cevada maltada. “

Sensorialmente, o White Dog da San Basile é adocicado e levemente apimentado. Há um sabor de cereais, ou pão, que é bastante identificável também quando bebemos whiskies com pouca maturação – mas que, em certos casos, é bem difícil de isolar. Assim, se você é um whisky-geek como este Cão, ou se tem uma curiosidade meio inexplicável de entender como um single malt seria se não passasse por qualquer madeira, o white dog da San Basile é perfeito. E acredite em mim – é ainda mais surpreendente que descobrir que pinguins tem joelhos.

SAN BASILE WHITE DOG


Tipo: New-make-spirit / white dog
Destilaria: San Basile
País/Região: Brasil – São Paulo
ABV: 40%
Idade: N/A

Notas de prova:

Aroma: cereais, pão, especiarias.
Sabor: corpo médio, cereais, pimenta do reino. Final apimentado e com especiarias.

Gold Rush – Sobre ideias geniais e óbvias

Ultimamente, tenho tido tempo razoável para rever uma série de filmes. Prerrogativa da quarentena. Essa semana, revi Segundas Intenções. Sei lá porque, também. E olha, é bem ruim. Você pode argumentar que não, que isso é um absurdo, porque é um clássico. Afinal, é uma adatação pop do romance Les liaisons dangereuses, de Pierre de Laclos, e integrante da corrente de grandes filmes baseados no romance, como Ligações Perigosas do Stephen Frears e Os Sonhadores de Bertolucci.

Você pode argumentar. Mas, se o fizer, você está equivocado. Ligações Perigosas sempre foi bom, e envelheceu bem. Os Sonhadores, ao ser lançado, foi arrebatador, a ponto de se tornar um clássico instantâneo. Mas não Segundas Intenções. Segundas Intenções era ruim, apelativo, afetado e raso. Melhorou um pouco, mas não é porque algo ruim envelheceu bem, que se tornou bom.

E teve sequência, com um poster que parece de softcore.

Em resumo, nem tudo que é antigo é clássico. É necessário ter qualidade. Um diferencial, algo que proteja do oblívio e dialogue com as pessoas – independente da era em que foi criado.

Mas há coisas que são tão boas, mas tão boas, que prescindem a passagem do tempo para virarem clássicos. Algumas – poucas – películas são assim (Os Sonhadores, por exemplo). E a coquetelaria, também, é povoada por clássicos modernos. Um deles é o Gold Rush. Ele foi criado na virada de nosso milênio, durante os primeiros anos do bar Milk & Honey, em Nova York. Seu criador foi o bartender T. J. Siegal. A primeira publicação que fez menção ao drink foi o PDT COcktail Book de Jim Meehan.

O Gold Rush é aquele tipo de criação que parece tão genial, mas tão óbvia ao mesmo tempo, que você mesmo começa a se perguntar porque não teve essa ideia antes. Ele é, basicamente, um whiskey sour. Só que o xarope de açúcar é substituído por uma calda de mel – na realidade, quase mel puro, diluído com um pouco de água morna apenas para garantir que não encapsule. Além disso, não há clara de ovo na receita do gold rush – o que o torna uma alternativa interessante para aqueles que não consomem o emulsificante de origem aviária.

A piada “devia se chamar Terceiras Intenções” é tão boa quanto o filme.

É engraçado como o Gold Rush possui semelhanças com diversos coquetéis conhecidos, alguns mais antigos, outros ainda mais recentes que ele. Um destes é o Bees Knees – basicamente, a mesma coisa que o Gold Rush, só que com gim. Outro – dessa vez, posterior – é o maravilhosamente delicioso (é, este é um quase-pleonasmo proposital) Penicillin. Que, aliás, foi criado por um outro bartender que passou pelo Milk & Honey – o lendário Sam Ross.

Sensorialmente, a maior diferença entre o Whiskey Sour e o Gold Rush está, justamente, na calda de mel. Assim, investir em um mel de qualidade é importante. Além disso, a recomendação deste Cão é que o coquetel seja produzido com um whiskey americano adocicado e com álcool bem integrado – como, por exemplo, o Jack Daniel’s Gentleman Jack que utilizamos. O mel – que funciona como um agente de dulçor – possui uma enorme complexidade, ainda que delicada. Um whisky muito forte iria, certamente, esconder essa complexidade.

Assim, meus caros, preparem seus shakers e seus meles (como adoro o plural de mel). Hoje prepararemos um coquetel genial de tão óbvio, e muito melhor do que qualquer coisa filmada com a Sarah Michelle Gellar. O clássico instantâneo, o incrivel – e incrivelmente singelo – Goldrush.

GOLD RUSH

(receita revista por Rodolfo Bob do O Bar Virtual)

INGREDIENTES

  • 20ml de Xarope de Mel (2 de mel para 1 de água está ótimo!)
  • 30ml suco de limão siciliano fresco
  • 60ml Bourbon Whiskey ou Tennessee Whiskey (aqui, recomendaríamos algo adocicado e delicado. Fizemos com Gentleman Jack)
  • Parafernália para bater
  • copo baixo
  • gelo

PREPARO:

  1. Coloque todos os ingredientes na coquetelaria, com bastante gelo.
  2. Bata até ficar cansado (você tem se exercitado durante a quarentena?), desenvolver bursite ou sentir uma leve condensação do lado de fora do shaker.
  3. Desça em um copo baixo com gelo.

Suntory The Chita – Carpe Diem

Uma amiga colocou uma imagem bonita. Fonte cursiva, aurora do dia, com a mensagem “que o hoje seja aproveitado sem o peso do ontem ou a expectativa do amanhã“. Balancei a cabeça com desgosto. Isso não é catártico, é infantil e egoísta. Se eu aproveitar o hoje sem o peso do ontem ou a expectativa do amanhã, vou torrar minha conta bancária com whisky sem pensar na minha família. Não vou tomar banho e vou esquecer de cortar a unha, porque, poxa, que perda de tempo cortar a unha, deixa pra amanhã, hoje tá boa pra coçar atrás da orelha.

Aquilo que pode aparentar libertador, talvez seja apenas infantil e irresponsável. Quase todas as nossas atitudes são alicerçadas em experiências passadas. Recorremos ao passado para planejar nosso futuro. Não viver no presente é ser racional. Nós não vencemos como espécie por viver no presente – mas por planejar nosso futuro.

E tem a parte do whisky. É que se todos pensássemos assim, somente no agora, não haveria whisky. Whisky demanda planejamento e paciência. Talvez o exemplo mais clássico aqui seja o fenômeno que ocorreu, há alguns anos, com os whiskies japoneses. Os bons whiskies japoneses – ao menos single malts e blends – sumiram das estantes, substituídos por outros um tanto oportunistas. Em boa parte, porque não haviam se preparado para o próprio avassalador sucesso.

E talvez você não saiba, mas há um ponto bem angustiante sobre whiskies japoneses. Acontece que quase não há leis no Japão relativas à produção e comercialização de whisky. E, por conta disso, é permitido – ou melhor, não é ilegal – que um whisky destilado e maturado em outro país e engarrafado no Japão seja rotulado como whisky japonês. Isso dá oportunidade a novos empreendedores. Empreendedores no ramo de ludibriar o consumidor, engarrafando whiskies medíocres e cobrando o preço de japoneses.

Katherine Hepburn – tão japonesa quanto alguns whiskies japoneses

Os produtores sérios – Nikka, Suntory e uma meia dúzia de outros – porém, tiveram que buscar outra saída. Uma delas, foi lançar whiskies sem idade declarada (NAS) e aguardar que seu estoque envelhecesse novamente. Afinal, nenhum whisky chega aos dezoito anos sem que se tenham passado dezoito anos. Outra, foi lançar produtos alternativos. Gins, por exemplo, como o Toki. E whisky de grão. E é aqui que entra o Suntory The Chita.

A destilaria Chita, fundada em 1973, pertencente ao grupo Suntory, foi, por muito tempo, uma heroína anônima. Poucas vezes lembrada, mas parte indissociável de blends japoneses de renome, como os Hibiki. Em 2015, porém, movida pela escassez de whiskies japoneses no mercado, a Suntory resolveu colocá-la em evidência. O The Chita, um single grain japonês sem idade foi lançado.

A ideia da Suntory é que o The Chita, leve e aromático, pudesse ser usado para elaborar highballs, muito populares no Japão. Aos poucos, porém, incentivado pela expansão da coquetelaria no mundo, o The Chita passou a ser exportado.  Inclusive para o Brasil.

Há pouca informação sobre o processo de produção do The Chita para nós, mortais. Porém, de acordo com o website Malt, que faz referência ao livro Whisky Rising, de Stefan van Eycken, a destilaria utiliza milho como seu cereal base. A destilação acontece em destiladores contínuos, que podem ser combinados de diferentes formas para atingir oleosidades diferentes de seu new-make.

Colunas de destilação da Chita

Para aumentar a complexidade, uma combinação de barricas – dentre elas, jerez, vinho tinto e bourbon – é empregada. Algo que, convenhamos, é bem raro no mundo dos whiskies de grão. Isso torna o The Chita um whisky muito leve e adocicado, com notas de coco e frutas tropicais, especialmente banana. Ele é pouquíssimo agressivo, bem agradável, fácil, e realmente perfeito como base de coquetéis, especialmente os de perfil mais cítrico.

Se você procura um whisky leve e adocicado para preparação de drinks, mas com perfil diferente dos bourbons, o The Chita será uma agradável surpresa. E, se me permite, experimente o The Chita também puro. Porque, bom, devemos sempre pensar no futuro para todas as decisões que tomamos. Mas somente às vezes, em raríssimos casos, nos sentimos confortáveis o suficiente para viver no presente, despretensiosamente relaxar, embarcar no momento e deixar as expectativas de lado. E o The Chita é um desses casos.

SUNTORY THE CHITA

Tipo: Single Grain Whisky

Destilaria: Chita 

País: Japão

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: adocicado, coco, caramelo, banana.

Sabor: Coco bastante aparente, mel, banana, frutas amarelas. O final é médio e com bastante baunilha.

Disponibilidade: lojas brasileiras, como a Caledonia Store

Highball Cocktail – Simplicidade Intrincada

Foto: Tales Hideki

Há coisas que parecem simples, mas são, na verdade, extremamente intrincadas. Os japoneses tem até uma palavra pra isso. Shibusa – ou shibui. Que na minha (assumo, limitada) interpretação da cultura oriental, poderia ser traduzido – não sem alguma perda – como “austero”. Shibusa definiria algo que fosse despojado de ornamentação excessiva. Algo que tivesse um equilíbrio fino entre o elegante e o bruto, o formal e o espontâneo. Entre o simples e o complexo.

A palavra é, geralmente, aplicada a objetos – mais frequentemente, arte e moda. Ainda que quase tudo possa ser Shibusa. Pode ser uma comida. Que, aliás, cunhou o termo “shibui”, até hoje utilizado como sinônimo de adstringente. Uma bebida ou um coquetel, também. Por exemplo – e como não poderia deixar de ser – o Highball.

O Highball é o tipo de coquetel que é incrivelmente fácil e ao mesmo tempo, inacreditavelmente intrincado. Se a frase anterior lhe parece um paradoxo, deixe-me explicar. Produzir um whisky-soda, ou melhor, misturar whisky com qualquer coisa com bolhas, é bem fácil. Se meu cachorro tivesse polegares opositores, ele provavelmente faria tranquilamente. A questão, aqui, são os detalhes que permeiam os ingredientes, e o cuidado no preparo.

Em primeiro, é preferível que o copo – tradicionalmente uma caneca alta – esteja bem gelado. Aliás, é melhor que esteja tudo bem gelado: club soda, whisky, copo e (já que estamos falando obviedades) o gelo. Atenção especial para este ingrediente. Um gelo opaco, com muito ar represado em seu interior, poderá diluir muito rapidamente, e atrapalhar na carbonatação (as bolhinhas).

Tá, vai com calma, campeão!

Prefira um gelo mais translúcido – não necessariamente grande. Aliás, falando nas bolhinhas, este é outro ponto importante. Use club soda, ou uma água com gás neutra com bastante gás. Bastante mesmo, a ponto de ser quase imbebível pura. A temperatura baixa, aliada à diluição com gelo e whisky tratarão de equilibrar o gás.

Tradicionalmente, o highball leva apenas gelo, whisky e club soda. Porém, nada impede que você sofistique sua receita. No Caledonia Whisky & Co., nosso bar em São Paulo, por exemplo, servimos com uma lasca de gengibre e uma folha de limoeiro. Essas adições aromáticas são super bem vindas, e ajudam a trazer complexidade para a mistura. Um chá delicado também pode ser uma boa ideia, mas cuidado para não exagerar – lembre-se de shibui. A nota predominante deve ser do whisky, com a leveza da água carbonatada.

Como muitos coquetéis clássicos, a origem do highball é discutível. A ideia de misturar uma bebida alcoolica com algo carbonatado data do final do século dezenove nos Estados Unidos (há um coquetel chamado Simplificatore no Bartender’s Manual de Harry Johnson, de 1900). Porém, os responsáveis por sua popularização são, indiscutivelmente, os japoneses. Na década de vinte os japoneses já consumiam whisky com club soda. Em meados de 1960, Shinjiro Torii, fundador da Suntory, abriu uma cadeia de bares chamados “Torys”, que serviam o drink. Aí, a popularidade da mistura decolou.

Mas vamos deixar este post simples. Aí vai uma receita tão simples quanto misturar whisky e água com gás, mas tão intrincada quanto fazer um niguiri.

Talvez mais.

HIGHBALL (AKA HAIBORU):

INGREDIENTES

  • 1 dose (30ml) de Whisky (escolha um whisky que tenha uma influência clara de madeira ou turfa. Se pegar algo delicado, a tendência é que ele perca força por conta da água carbonatada).
  • 3 doses (90ml) de Club Soda ou água com gás (escolha uma que tenha bastante gás!)
  • Gelo bom
  • Copo alto ou caneca previamente gelada
  • adições aromáticas (seja criativo)
  • aparato para mexer

PREPARO

  1. Gele tudo. Copo, whisky, água com gás. Gele até o gelo, só pra ter certeza.
  2. Adicione na caneca (ou copo) gelada, o gelo. Ele deve ser suficiente para cobrir quase todo copo. Se conseguir produzir um gelo grande e comprido, melhor. Senão, vá com pedras grandes – isso vai garantir que a diuluição e a carbonatação estejam corretas.
  3. adicione o whisky e a club soda
  4. mexa suavemente com a colher bailarina, como se puxando o whisky do fundo para cima. Não exagere.
  5. Se quiser, adicione uma lasca de gengibre, ou algum elemento aromático que você goste. Lembre-se que o higball é um coquetel delicado!