Jameson Bartender’s Ball 2018

Nunca imaginei que ficaria ansioso por uma segunda-feira. Afinal, segundas costumam ser dias meio chatos. Acordar cedo, academia, trabalho, rotina. Mas aconteceu. É que este Cão foi convidado para acompanhar a final brasileira do já conhecido concurso de coquetelaria Jameson Bartender’s Ball, que aconteceu justamente nesta-segunda feira, dia 14, no Z Carniceria em São Paulo.

Como você provavelmente sabe, Bartender’s Ball é uma competição internacional de bartenders, em que cada um deve criar um coquetel próprio, utilizando Jameson. De acordo com Flávia Molina, diretora de Marketing da Pernod-Ricard Brasil (proprietários da destilaria Midleton, que produz Jameson) “O Bartender’s Ball vem sendo um sucesso ano após ano, justamente pelo fato de que o whiskey Jameson é reconhecido pelos profissionais por sua suavidade. E nada melhor do que ser suave para incrementar e incentivar novas receitas criativas e deliciosas, típicas da coquetelaria.” No ano passado, o vencedor foi Renan Tarantino com seu Sabiá.

Neste ano, além da tradicional competição, foram servidos aos espectadores três coquetéis. Um deles, uma espécie de Whiskey Mule, criação de Lula Mascella, do bar Picco. Os outros dois, elaborados por Rafael Mariachi, mixologista da Pernod Ricard. Destaque para uma incrível releitura do Old Fashioned, preparado com Jameson e batizado de Boardwalk Empire.

Boardwalk Empire

De volta à competição. Em 2018, o concurso contou com 5 semifinalistas. Thibault Cuny (Presidente da Pernod Ricard Brasil) e os mixologistas Laércio Zulu e Renan Tarantino escolheram Jairo Gama (The Sailor), Lucia Caparroz (Flor de Sal) e Sthephanie Marinkovic (Espaço 13) como os 3 finalistas.

Jurados

Após algumas horas de espera dramática e suspense – alimentado pelo embaixador da Jameson no Brasil, Lucca Campolina – a vencedora foi anunciada.  Stephanie Marinkovic, do Espaço 13, com seu coquetel “Latino America”. Com a vitória, Stephanie representará o Brasil na final global do Bartender’s Ball, que acontece na Irlanda. A vitória de Stephanie é imporatníssima. Ela é a primeira mulher a receber o prêmio em nosso país.

Este Cão deseja a Stephanie sorte na etapa global, e que sua viagem à terra do irish whiskey seja coroada por segundas-feiras tão boas quanto aquela da competição.

Stephanie e seu Latino America

 

Cinco cervejas para um apaixonado por whisky

Billy Carter, irmão do ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, disse uma vez que não há algo como uma cerveja ruim. Algumas são apenas melhores do que outras. Já o poeta Henry Lawson escreveu que a cerveja faz você se sentir do jeito que você deveria sentir sem cerveja. Já Homer Simpson, o pensador animado norte-americano, indagou se whisky conta como cerveja.

Bem, devo dizer que as duas primeiras declarações funcionam perfeitamente também para whisky. E em resposta ao questionamento de Homer, devo dizer, com pesar, que sim. Whisky conta como cerveja. E mais, whisky não apenas conta, como é cerveja. Cerveja destilada. Quer dizer, ao menos a maioria deles. Se você não sabia disso, leia aqui.

Isso me leva a uma reflexão. Talvez eu não goste de whisky. Talvez eu goste mesmo é de cerveja. Todos os tipos de cerveja, inclusive aquelas que são destiladas. Provavelmente é por isso que, ainda que o tema deste blog seja whisky há frequentes incursões no mundo do fermentado de grãos.

Pensando nisso, resolvi preparar uma lista com cinco cervejas para aqueles apaixonados por whisky. E não foi uma tarefa fácil.  Para cada uma que incluía, me lembrava de mais uma dezena que mereciam, igualmente, figurar na lista. Ficava imaginando a revolta de meus leitores cervejeiros, ao não encontrarem sua cerveja maturada preferida em meu humilde exercício. Assim, tive que recorrer a um critério bem subjetivo. Meu gosto pessoal. Desculpe-me, internet, pela parcialidade. Mas vamos a elas.

Founder’s KBS

A KBS é quase mitológica. Você provavelmente já ouviu falar dela. Mas se não ouviu, eu explico. É uma Imperial Breakfast Stout (uma cerveja escura, de alta graduação alcoólica e que usa aveia em sua composição), produzida com café e chocolate. Ela é maturada em barricas de carvalho americano que contiveram whiskey americano – reza a lenda, Jack Daniel’s – por um ano inteiro, antes de ser engarrafada.

A KBS recebeu uma pletora de prêmios internacionais, e figura como uma das cervejas mais bem avaliadas pelos usuários do aplicativo Untappd. É uma cerveja licorosa, com sabor que remete à baunilha e o mel do whiskey, mas bastante densa, com – que surpresa – notas de café, chocolate e certo apimentado de aveia. Tudo sobre a KBS é incrível. Até mesmo o nome, que é quase um convite para tomá-la de café da manhã. Nada como um desjejum nutritivo, não é mesmo?

Harviestoun Ola Dubh e Orach Slie

A Ola Dubh é uma Imperial Porter – outra cerveja escura de alta graduação alcoólica – produzida pela cervejaria escocesa Harviestoun, e maturada em barricas de single malt Highland Park. Há uma série de rótulos, sendo que cada um indica ma idade diferente. Essa é a idade do whisky que esteve na barrica antes da cerveja. Quer dizer, uma Ola Dubh 18 não passou dezoito anos em barril, mas foi maturada por um período bem menor que este, em uma barrica que antes foi usada para produzir o Highland Park 18 anos.

Ainda que haja pequenas diferenças sensoriais entre os rótulos, as Ola Dubh costumam ser pouco carbonatadas, secas e pouco adocicadas para uma imperial stout. Os sabores predominantes são de madeira e café. Incrivelmente, apesar do uso de barricas encharcadas de um whisky levemente enfumaçado, o sabor de turfa é quase imperceptível.

Já a Orach Slie é uma cerveja clara, com a mesma proposta da Ola Dubh. Entretanto, o single malt utilizado é Glenfarclas. A Orach Slie é adocicada, e possui uma incrível nota de madeira e anis, proveniente de sua maturação. Ao contrário de sua irmã escura, há apenas um rótulo de Orach Slie, e nenhuma indicação da idade do single malt utilizado em sua confecção.

Orach Slie e Ola Dubh são importadas pela Beermaniacs

Brooklyn Brewery Improved Old Fashioned

A Brooklyn Improved Old Fashioned é a versão cervejeira do Old Fashioned, clássico coquetel de whiskey. É uma cerveja de centeio, que matura em barricas de rye whiskey e leva tintura de especiarias. Ela faz parte de um projeto da Brooklyn Brewery e Garrett Olivier, seu brewmaster, de criar cervejas com perfil de sabor semelhantes àqueles dos melhores coquetéis do mundo. A primeira edição prestigiou o já prestigiadíssimo Manhattan. A segunda, denominada The Concotion, foi uma releitura cervejeira do Penicillin, e teve o auxílio de seu criador, Sam Ross, para ser desenvolvida.

Para recriar o sabor do coquetel, ao invés de recorrer a alguma essência industrialmente produzida, Garrett usou como ponto de partida uma rye ale – ou seja, uma cerveja produzida com centeio – de forma a enfatizar o sabor picante proporcionado por aquele grão. Depois, deixou que a cerveja descansasse em barricas previamente utilizadas para maturar o Whiskey WhistlePig Rye. Esse estágio trouxe à bebida os sabores de fumaça e madeira. Por fim, foi desenvolvida uma tintura especial que emulasse os bitters e botânicos do Old Fashioned. Pode ser comprada na loja física do Empório Alto dos Pinheiros.

Struise Cuvee Delphine

A Cuvée Delphine foi criada pela Struise bieren/Struise beers (Cervejaria Struise) utilizando sua Black Albert Imperial Stout, e maturando-a por doze meses em barricas que antes foram usadas para maturar o bourbon Four Roses. Sensorialmente, lembra bastante a Ola Dubh, mas há um dulçor mais pronunciado e mais carbonatação. Melhor que a cerveja, apenas a história por trás de seu nome.

O rótulo, onde se lé “Truth Can Set You Free” (“A Verdade Poderá Te Libertar”) é uma obra de arte de Delphine Boël, artista plástica belga e – alegadamente – filha não reconhecida do Rei Albert II. Até hoje Delphine luta na justiça para que seja reconhecida como legítima descendente do rei. Caso vocês não tenham notado a sutileza da piada, a Cuvée Delphine é uma Black ALBERT maturada. Ou seja, uma descende da outra.

Dadiva Odonata 2016

A Odonata 2016 é outra Russian Imperial Stout para a lista. Ela leva três ingredientes mágicos: frutas vermelhas, baunilha e café. A mistura maturou em barris de carvalho americano de reuso por aproximadamente cinco meses e descansou por quase um ano em barris de inox, para finalmente ser blendada e engarrafada. A mistura rendeu mil garrafas.

De acordo com Luiza Tolosa, sócia da Dádiva, a criação foi quase uma serendipidade. Um dia, resolveram que misturariam um pouco de cada uma das odonatas da primeira edição (cada uma delas levava um dos aditivos descritos acima) para experimentar. E o resultado foi tão surpreendentemente bom, que decidiram lançar uma série limitada de garrafas com o blend. A cerveja uniu o cítrico e ácido das frutas vermelhas com o dulçor da baunilha e o torrado do café.

Mafiosa Crooner – Beer Drops

Vocês conhecem o Frank Sinatra. Frank era um cantor inigualável, um excelente ator e um ébrio como poucos. Por conta de sua paixão por qualquer coisa etílica, Frank já foi bastante mencionado por aqui. Mas tudo isso você já sabe sobre ele. O que talvez você não saiba é que Frank tinha um laço bem próximo com a máfia. Durante sua carreira, Sinatra se tornou amigo de gangsters como Lucky Luciano e Bugsy Seagal, e se envolveu com quase todas as famílias da Cosa Nostra, como Gambino, Moretti e Genovese.

E se você assistiu O Poderoso Chefão (Se não assistiu, por favor, termine de ler este post depois e veja) talvez tenha lhe ocorrido que o personagem Johnny Fontaine foi inspirado no cantor. O paralelo é bem claro. A cena em que Luca Brasi ameaça um líder de banda para livrar Johnny é baseada em um conhecido episódio, onde um gangster de New Jersey ameaçou Tommy Dorsey – famoso trombonista – para rescindir um contrato que envolvia Sinatra.

Com base nessas histórias – algumas reais e outras fictícias – a Mafiosa Cervejaria lançou sua nova cerveja. A Crooner. A Crooner é uma American Strong Ale (ABV 9% / IBU 70) que traz sabores presentes em bons bourbons e whiskeys – bebidas tão apreciadas pelo ícone Frank Sinatra – como o caramelo, a baunilha, o coco e a madeira. Este Cão provou o lançamento, e ficou surpreso. Mesmo sem qualquer passagem por madeira, há notas que remontam barricas de carvalho americano de ex-bourbon.

O perfil aromático da cerveja, destaque na produção deste lote, é proveniente da adição de Baunilha e Candy Sugar e pela adição de lúpulo HBC 472, uma variedade experimental única, criada a partir de espécie selvagem americana.

Mas a história fica ainda melhor. 800 litros da Crooner foram separados e colocados em barricas de carvalho americano, para maturar. Eles servirão de base para o primeiro rótulo envelhecido em barril da cervejaria, que não tem data para lançamento ainda.

A mafiosa recomenda que a cerveja seja consumida em copo snifter, e harmonizada com carnes assadas, grelhadas, cordeiro, queijos maturados e – óbvio – charutos. Este Cão concorda, mas vá além. Experimente com uma pequena dose do seu bourbon preferido ao lado. Será uma experiência incrível. E acredite, depois dela, você estará mais leve e cantando melhor ainda que Frank Sinatra.

MAFIOSA CROONER

Cervejaria: Mafiosa

País: Brasil

Estilo: American Strong Ale

ABV: 9%

Notas de Prova:

Aroma: Açúcar mascavo, baunilha.

Sabor: Corpo e carbonatação média. Sabor de caramelo, açúcar mascavo, baunilha. O final é longo e vai se tornando cada vez mais floral, com baunilha. Podia jurar que senti alcaçuz.

Jack Daniel’s 150th Anniversary Edition

Se você assistiu ao filme Magnólia, talvez esteja familiarizado com o Premio Darwin. Mas se não estiver, eu explico. O Prêmio Darwin é uma espécie de Oscar póstumo, que premia indivíduos que conseguiram, graças à total ausência de inteligência, se remover da cadeia hereditária humana de uma forma espetacularmente idiota. Ou seja, se mataram de jeitos estúpidos.

Como, por exemplo, o americano que, inconformado com o barulho que sua caminhonete fazia, resolveu que tentaria descobrir de onde vinha o ruído olhando embaixo do automóvel. Enquanto ele estava em movimento. A sessenta quilômetros por hora. Ou o adolescente do Texas que  praticou roleta russa usando uma pistola semiautomática. Ou o nosso próprio representante deste proeminente prêmio, o padre do balão, cuja fama prescinde explicações. Tanto é que foi cunhada em sua homenagem uma nova expressão “tão doido quanto o padre do balão“.

Quase um filme dos irmãos Coen (fonte: Folha)

O que muita gente não sabe é que há um personagem muito famoso que poderia, muito bem, ter recebido um prêmio desses. É o Sr. Jasper Newton “Jack” Daniel, o ilustre criador do whiskey americano mais consumido no mundo. Segundo registros históricos, Jasper possuía um cofre em seu gabinete. Certo dia, frustado por não lembrar a combinação, deu um chute no móvel. Sua unha quebrou, o dedo infeccionou, gangrenou e o genial cavalheiro acabou morrendo de septicemia aos 61 anos de idade.

Apesar da igualmente trágica e prosaica morte, o legado de Jasper continuou e a Jack Daniel’s se tornou a mais conhecida marca de whiskey americano no mundo. Atualmente pertencente à gigante Brown-Forman, a destilaria comemorou em 2016 seu 150° aniversário. E para marcar a data, lançou uma edição especial de seu whiskey, o Jack Daniel’s 150th Anniversary.

Aqui há uma curiosidade. Apesar da Jack Daniel’s comemorar seus cento e cinquenta, sua operação não foi contínua. Em 1909 o Tennessee se tornou um estado seco (adotou uma Lei Seca), e a destilaria foi apenas reaberta em dezembro de 1933. Porém, apesar deste hiato de vinte e quatro anos, a Jack Daniel’s permanece por um século e meio funcionando no mesmo lugar em que foi fundada.

O Jack Daniel’s 150th Anniversary é produzido de uma forma bem semelhante ao seu irmão Jack Daniel’s Old No. 7. Sua mashbill é a mesma, composta 80% de milho, 12% de cevada e 8% de centeio. A filtragem em carvão de bordo – o conhecido Lincoln County Process – também é igual. Porém, o Jack Daniel’s 150th Anniversary possui graduação alcoólica mais alta, de 50%. Além disso, segundo a Jack Daniel’s, o whiskey passa por um processo de maturação sensivelmente diferente.

O destilado é colocado em barricas de carvalho americano virgens lentamente tostadas – seja lá o que isso significar – especialmente desenvolvidas para essa expressão. A maturação acontece em um dos mais antigos armazéns da destilaria. Nas palavras da Jack Daniel’s “após serem enchidos, o barris são colocados no andar superior (o “angel’s roost”) de um dos mais antigos armazéns da destilaria, onde o whiskey foi maturado por gerações em uma elevação e exposição ao sol que cria o clima perfeito para uma das melhores interações entre whiskey e barril“.

Angel’s Roost

O resultado é um whiskey adocicado, com caramelo e baunilha bem mais acentuadas do que na versão standard. A graduação alcoólica também ajuda, adicionando uma bem-vinda pungência e um final bem apimentado, mas sem muita agressividade. É um whiskey bem acabado, e que inegavelmente carrega o material genético da Jack Daniel’s.

No Brasil, uma garrafa do Jack Daniel’s 150th Anniversary sai por, em média, R$ 500,00. Isso o torna o primeiro ou segundo whiskey americano mais caro à venda em nossas terras, junto com o – também edição limitada – Jack Daniel’s Sinatra Select. Comparado a ele, o Jack Daniel’s 150th Anniversary é mais alcoólico e picante, mas, na opinião deste Cão, também mais interessante.

Pode até ser que Jasper Newton “Jack” Daniel tenha falecido de uma forma inesperadamente estúpida. Mas sua destilaria, ao contrário, parece disposta e saudável após um século e meio, para sobreviver por muito mais tempo. Um brinde a estes e aos próximos cento e cinquenta anos da Jack Daniel’s.

JACK DANIEL’S 150TH ANNIVERSARY

Tipo – Tennessee Whiskey

ABV – 50%

Região: N/A

País: Estados Unidos

Notas de prova

Aroma: adocicado, caramelo, açúcar mascavo, baunilha.

Sabor: adocicado, frutas em calda, baunilha, mel, especiarias. Final longo, com baunilha, pimenta e especiarias.

Com água: a água torna o final mais adocicado e curto.

Preço: Aproximadamente R$ 520,00 (aqui)

Degustação de Bruichladdich – Cateto Pinheiros & O Cão Engarrafado

Prezados, interrompemos a programação normal deste blog para um anúncio. Mas um anúncio relacionado a whisky. Aliás, um belo whisky.

Na próxima segunda-feira, dia 07/05, este Cão promoverá uma degustação de Bruichladdich, harmonizada com um incrível charuto cubano Sancho Panza no Cateto Pinheiros, tradicional bar de São Paulo.

Serão provados os dois whiskies da destilaria disponíveis em nosso país, e importados pela Interfood Importação : Laddie Classic e Port Charlotte Scottish Barley. Haverá também um coquetel especial, criado para o dia, que levará Bruichladdich, pelas mãos da bartender Neila Pamplona.

Se você não fuma, não se preocupe. Há duas opções de pacotes, com e sem charuto:

FULL TICKET (20 vagas apenas):
1 dose do single malt Bruichladdich Laddie
1 dose do single malt Bruichladdich Port Charlotte
+ cocktail a base de laddie
+ Charuto Sancho Panza belicosos
VALOR R$: 175,00

ONLY DRINK TICKET:
1 dose do single malt Bruichladdich Laddie
1 dose do single malt Bruichladdich Port Charlotte
+ cocktail a base de laddie
VALOR R$: 115,00

O valor pode ser pago no ato, em cartão de crédito.  Para reservar, basta enviar um e-mail para eduardo.cateto.bar@gmail.com e informar o pacote que deseja. Mais detalhes aqui.

 

Drops – Cachaça Sebastiana Single Barrel

 

Se você é como este Cão, provavelmente tem uma bebida preferida. No meu caso, whisky, é claro. Mas como você já deve ter percebido pelos posts deste blog, whisky não é a única paixão etílica deste ébrio canino. Cervejas também. E gins. E vermutes. E claro, cachaça. Ainda mais quando a produção da cachaça é inspirada naquela dos melhores whiskies do mundo, como é o caso das cachaças Sebastiana.

A proximidade entre a Sebastiana e o whisky é declarada. Ela fica bem clara na descrição que acompanha uma de suas expressões, batizada de Duas Barricas “A associação dos conhecimentos adquiridos na Escócia (terra dos Single Malts) e do Kentucky (terra do Bourbon nos Estados Unidos), foram base para a criação desta bebida de sabor inigualável no mercado.”

As cachaças da Sebastiana já receberam tantos prêmios internacionais quanto alguns dos melhores whiskies. Nas orgulhosas palavras da própria marca “Em 2014, a Sebastiana Castanheira foi medalha de ouro no San Francisco World Spirits Competition e no New York World Wine & Spirits Competition, enquanto que a Sebastiana Carvalho recebeu medalha de prata no New York World Spirits e Wine & Spirits Competition e medalha de bronze no International Spirits Challenge de Londres.

As cachaças são produzidas no Alambique Santa Rufina, localizado em Ibaté, no interior de São Paulo. As expressões são: Cristal (sem maturação), Castanheira (maturada em barricas de castanheira), e Duas barricas (um verdadeiro Doublewood brasileiro – maturada por 18 meses em barril de Castanheira brasileira e mais 18 em barril de Carvalho americano – absolutamente genial).

Duas Barricas

Mas a mais próxima do mundo do whisky é a Single Barrel. No melhor estilo small-batch whiskey, ela é uma cachaça maturada em barricas virgens de carvalho, e engarrafada a partir de um único barril. Algo frequentemente feito na indústria do whiskey americano, como é o caso do Jack Daniel’s Single Barrel e do Four Roses Single Barrel. O resultado é uma cachaça com aroma e sabor de madeira, frutas tropicais, baunilha e especiarias.

Se você ficou curioso, pode experimentá-la em bares como o Empório Sagarana – especializado em cachaças –  em São Paulo – ou comprar uma garrafa online neste link da Single Malt Brasil. E vá por mim, experimente. Depois, você desejará que muitos whiskeys tivessem sido inspirados em cachaças como ela.

SEBASTIANA SINGLE BARREL

Tipo: Cachaça

ABV: 40%

Alambique: Santa Rufina

Notas de prova:

Aroma: delicado, com frutas tropicais, baunilha e especiarias.

Sabor: Encorpado  e frutado, com canela, cravo e mel.

Preço: R$ 70,00 (aqui)

Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare Brora

Quando você presta atenção no tédio, ele se torna inacreditavelmente interessante. Quem primeiro proferiu essa frase foi Jon Kabat-Zinn. Um cara que nunca havia ouvido falar na vida, e que, para falar a verdade, ainda não sei bem quem é. Mas tenho a sensação de que ele está certo. Porque descobri sua frase justamente em uma tarde em que tentava aliviar um pouco o tédio pesquisando frases espirituosas.

O tédio é, talvez, o pai de grandes descobertas. E das pequenas também. Foi o tédio que me fez assistir Berlin Aexanderplatz, do Fassbinder, por longas quinze horas. E aprender – com uma ajudinha da internet – que leite de hipopótamo é rosa, que polvos tem três corações, e que a Universidade de Oxford é mais antiga que o Império Asteca. Mas acho que uma das descobertas mais legais que o tédio me proporcionou recentemente foi sobre o caviar do Esturjão Beluga Albino.

O caviar do esturjão beluga albino é caríssimo, ainda mais se for de uma variedade conhecida como Almas. Essa é provavelmente a comida mais cara do mundo. Um quilo custa vinte e cinco mil dólares. É que o tal do peixe, que vive no Mar Cáspio, é raríssimo. E suas ovas – o caviar – são obtidas apenas de fêmeas com idade superior a um século. É isso mesmo, o esturjão tem que ter mais de cem anos de idade. De acordo com especialistas, à medida que a fêmea fica mais velha, seus ovos tornam-se mais elegantes, suaves e aromáticos, com uma espécie de textura esponjosa.

E pra acompanhar, o melhor é leite de unicórnio virgem.

E ainda que a recomendação seja experimentá-lo puro e apenas levemente resfriado, o Almas pode ser utilizado também em receitas. Como é o caso de uma salada de lagosta e caviar – de uma espécie levemente mais em conta – preparada pelo chef internacional Gordon Ramsay. Mas não é apenas na culinária que ingredientes raros e concorridos e luxuosos são utilizados. No mundo do whisky também.

No caso do mais recente lançamento da Diageo, o Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare, esse ingrediente é o single malt Brora. Um nome que, sozinho, já justificaria um preço exorbitante em qualquer garrafa. É que Brora foi uma destilaria das Highlands, famosa por produzir maltes defumados excepcionais, e que foi desativada em 1983. Desde então, sua proprietária, a Diageo, têm lançado edições especiais limitadíssimas, utilizando seu estoque remanescente. E para aumentar ainda mais a expectativa, em 2017, foi anunciado que a destilaria seria reativada em 2020.

Além do unicórnio Brora, o  Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare leva outros fantasmas. As – também desativadas ou demolidas – Cambus e Pittyvaich. Já o adjetivo “rare” (raros) fica por conta de Royal Lochnagar, Glenkinchie, Glenlossie, Cameronbridge e Clynelish. Essa última, destilaria que herdou da Brora seu brasão. Pode parecer um pouco hiperbólico utilizar a expressão raro para definir maltes relativamente comuns, como Glenkinchie. Mas claro, isso é um conceito discricionário. E, além disso, depende das barricas escolhidas para compor o blend – estas destilarias possuem maltes raros em seus estoques, por eles produzidos.

De acordo com a Diageo “Com o continuo crescimento do interesse do consumidor tanto na arte de produção quanto na raridade por trás dos whiskies escoceses de luxo, Jim Beveridge – Master Blender do Ano em 2015 e 2016 – selecionou cuidadosamente oito inestimáveis whiskies de malte e de grãos para essa edição especial, três dos quais provem de destilarias fantasmas (…). Jim sempre foi fascinado em como whiskies de um seleto grupo de destilarias icônicas que fecharam a vários anos atrás podem conferir a extraordinária riqueza de sabor pela qual Johnnie Walker Blue Label é renomado. Da sua biblioteca de whiskies insubstituíveis ele elegeu algumas expressões únicas e marcantes desses preciosos whiskies de malte e de grãos para que as pessoas pudessem explorar, de um novo modo, a extraordinária riqueza de sabor encontrada na nossa joia da coroa.”

Brora em produção

A convite da Caruso Longe – sempre ela, com os mais extraordinários convites – e Diageo, este Cão teve o prazer de experimentar a criação em um evento especial de lançamento que aconteceu no restaurante Attimo Per Quattro, em São Paulo.

Comparado ao Blue Label tradicional, o  Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare é muito mais profundo, seco e rico. O elemento defumado – Brora – pode ser percebido, especialmente no sabor residual. A complexidade é ainda acentuada pela maior graduação alcóolica em comparação com a versão tradicional – de 46%. De certa forma, este Cão fica admirado mas ao mesmo tempo um pouco melancólico com este lançamento. É um whisky riquíssimo, capaz de mostrar toda a capacidade da Johnnie Walker de produzir um blend super-premium apto a desbancar single malts excelentes. Se o Blue Label tradicional tivesse esse perfil de sabor, não tenho dúvidas que a polêmica ao redor de seu preço seria bem menor.

O Johnnie Walker Blue Label Ghost & Rare é um whisky excelente, que terá apelo tanto para o apaixonado por whiskies – ávido para experimentar algo que leve o desejado Brora – quanto para aquele com apetite pelo luxo. Aliás, ele é justamente isso, um atestado de por que a Johnnie Walker é o primeiro nome que se vêm à mente quando o assunto é luxo no mundo dos whiskies. Eu nunca provei – e acho que jamais provarei – ovas de esturjão albino Almas. Mas se algum dia tiver essa sorte, já sei qual whisky o acompanhará.

JOHNNIE WALKER BLUE LABEL GHOST & RARE

Tipo: Blended Whisky sem idade definida (NAS)

Marca: Johnnie Walker

Região: N/A

ABV: 46%

Notas de prova:

Aroma: Adocicado, com mel, amêndoas, pimenta do reino.

Sabor: frutado (frutas em calda), mel, castanhas, nozes. Final floral e levemente vínico. Mais seco e apimentado que o Blue tradicional, com um final de pimenta do reino incrível.

Preço Médio: R$ 1300,00 (mil e trezentos reais)

O Cão Explica – Por que whiskies (muito envelhecidos) são caros

 

No ano passado, tive a oportunidade de fazer algo que jamais imaginaria. Provar um whisky com mais de cinquenta anos de idade. Foi no último dia do Whisky Show, em Londres. Eu estava ao lado de um dos quiosques dessas engarrafadoras independentes – mais especificamente, a Gordon & McPhail – quando ouvi uma rolha sendo aberta. Precisamos terminar com as doses dessa garrafa, ouvi do expositor, dirigindo-se para seu colega. A garrafa era um raro Glen Grant 1949, engarrafado em 2007. Ao meu lado, reunia-se uma meia dúzia de apaixonados por whisky que, assim como eu, tiveram a sorte de estar no lugar certo e na hora certa.

Estendi minha copita. Que delícia, ouvi de um dos aficionados. Nossa, realmente, acho que é um dos melhores que já provei, veja esse final carnudo, disse outro. Uma senhora, à minha frente, porém, não parecia impressionada. Interessante, muito obrigado. E sorriu em direção ao expositor. Tive que interrompê-la. O que achou do whisky? Bem, acho incrível o que cinquenta anos pode fazer com um destilado. E, mais uma vez, sorriu com toda aquela enigmática elegância inglesa.

Dei mais um gole e refleti. Pois é. A oportunidade de provar assim é incrível. Aquele Glen Grant estava entre os whiskies mais diferentes que já havia provado. E realmente era muito complexo. Havia um sabor seco que nunca havia sentido nessa intensidade em qualquer whisky. Também, um final vínico, mas longe de ser adocicado. Aliás, não havia qualquer dulçor. Era quase pimenta branca com algo azedo. Taninos, muitos taninos. Realmente, interessante. Mas estava longe de ser um dos meus whiskies preferidos, apesar do fascínio geek. A três mil e duzentas libras a garrafa, podia dizer com alívio que passaria facilmente.

Te vendo um por metade do preço, quer? Não.

Não me julgue ainda. Na verdade, aquela experiência era, justamente, a diferença entre o extraordinário e o incrivelmente bom. O Glen Grant era extraordinário, porque lá não havia nada de comum. Ele estava longe de ser um whisky medíocre. Suas características realmente o colocavam em destaque. Mas ele não era incrivelmente bom, como eu poderia esperar. Aliás, havia whiskies bem mais ordinários que ele que materializavam bem mais o incrivelmente bom.

Mas aí fiquei pensando. Se um whisky caro e com tanto tempo de barrica tinha aquele sabor – extraordinário, mas não incrivelmente bom – o que justificaria seu preço? Resolvi pesquisar.

Bem, a primeira razão é muitíssimo simples. A lei da oferta e da procura. O estoque de single malts muito maturados está cada vez mais escassa. E a demanda só cresce. Por conta disso, nada mais natural do que a elevação dos preços. Um whisky caro torna-se ainda mais caro por conta disso. Em outras palavras, há poucas garrafas disponíveis, mas muitas bocas ávidas para experimentar aquele precioso líquido. Algo como o preço da experiência. Experiências mais exclusivas custam mais, porque todos nós queremos ter experiências exclusivas. Elas rendem boas histórias.

E whiskies mais maturados realmente rendem experiências diferentes. A razão disso é científica. Mais tempo de barrica significa mais oxidação. Já abordei este assunto ao falar sobre o prazo de validade de garrafas abertas de whisky, mas vale a pena relembrar. O oxigênio, presente no ar, reage com certos componentes da bebida. São os ésteres, tióis e fenóis que proporcionam alguns daqueles tão agradáveis aromas em sua dose preferida, e que perdem ou ganham força com a oxidação, dependendo de sua natureza.

Os whiskies, enquanto passam seu amadurecimento nas barricas, oxidam. Eles estão em constante contato com o ar, por conta de uma folga nos barris. E esse elemento influencia diretamente em seu sabor. Ainda que outros truques para acelerar a maturação sejam empregados – como, por exemplo, o uso de quarter casks – o perfil de sabor proporcionado por décadas dentro de uma barrica não pode ser simulado de outra forma. E isso, somado à transferência de sabores da barrica, claro, garante uma experiência diferente. A chance de saber, na língua, o que acontece com um whisky que passou quase uma vida inteira num barril. Era a isso que a elegante senhora inglesa na introdução deste texto se referia.

Só que o problema é que o whisky evapora durante a maturação. E é também por isso que seu estoque é escasso. É a conhecida parte dos anjos. A taxa de evaporação varia de destilaria para destilaria, mas, para whiskies escoceses, a média é de 2%. Assim, uma barrica que descansou por muito tempo rende bem menos garrafas. E ainda que nesse caso a progressão geométrica ajude, ela está longe de ser desprezível. Se você fizer a conta, depois de aproximadamente vinte e um anos, apenas 50-40% do volume total de whisky resta dentro do barril. Assim, aquele Glen Grant é um whisky caro porque deve compensar por todas as garrafas de Glen Grant que simplesmente se esvaíram no ar para que ela pudesse existir.

Evaporação ilustrada

Há também a questão do custo de oportunidade. Barricas não são exatamente objetos pequenos e portáteis. Um barril, assim, ocupa espaço de outro que poderia ter um ciclo menor. Além disso, a própria destilaria pode decidir por usar um whisky muito maturado para combinar com um mais jovem, e atingir certo perfil de sabor.  Afinal, como você já sabe porque acompanha o Cão Engarrafado, a idade que está estampada no rótulo é a do componente mais jovem. Mas dentro de um whisky 12 anos pode haver uma parcela de um 25, por exemplo.

Soma-se a isso o custo fiscal. As destilarias pagam impostos sobre o destilado que matura em suas barricas. Quanto mais tempo, mais impostos são pagos sobre uma barrica que está apenas lá, e não gera qualquer receita. Falando nisso, é por conta do pagamento de impostos que convencionou-se que a evaporação é de 2%. De acordo com a lei britânica, a destilaria pode descontar 2% do volume anual de seu estoque em maturação, devido à parte dos anjos. Não é que e ela realmente seja 2% para todos os produtores. É uma ficção jurídica, para facilitar a cobrança pelo fisco.

Mas há também um fator que não tem nada a ver com física ou legislação. Um fator que prescinde a lógica e parte para o emocional. É o luxo. Whiskies muito maturados são objetos de luxo. Um Aston Martin ou uma Ferrari valem bem mais do que a combinação de todas as suas partes. No preço está a exclusividade, a marca e – claro – a expertise e a garantia de qualidade que se espera de um produto assim. Ou você realmente acha que produzir um whisky com cinquenta e oito anos de idade é fácil? Isso exige um cuidado minucioso com a evaporação, medições constantes da graduação alcoólica e total domínio sobre as condições ambientais que cercam a barrica.

Quando se comprar um artigo de luxo, em teoria, compra-se a qualidade, a durabilidade, o expertise, o design ou seja lá qual for o valor que o diferencia dos demais. Então, resumidamente, não é apenas o líquido que entra na conta. Mas também o desejo. Então, está aí. Whiskies mais maturados não são necessariamente melhores. Mas são infinitamente mais raros, por uma série de fatores econômicos e naturais. Fatores estes, que elevados à potência do luxo e da exclusividade, os tornam caros. Caros e inacreditavelmente desejados.

Puxa, quem me dera ter uma garrafa de Glen Grant 1949.

Drink Drops – El Imigrante – Finalista do Bacardi Legacy 2018

Vou fazer um pequeno intervalo para falar de uma coisa que tangencia o mundo do whisky. Coquetelaria. E rum.

Você provavelmente sabe o que é um Old Fashioned. Ou um Mojito. Um Negroni, ou seu primo Boulevardier. Certamente já experimentou um Dry Martini e provavelmente já discutiu com alguém sobre a receita correta. Estes são coquetéis clássicos, conhecidos por todos, que ao longo de muitos anos galgaram fama internacional e quase irrestrita.

Criar um destes, um coquetel que atravessa fronteiras, tanto territoriais quanto temporais – um verdadeiro coquetel do mundo – não é nada fácil. Mas é justamente isso que propõe o campeonato Bacardi Legacy, do qual o bartender Ernesto “Nica” Elizondo foi finalista brasileiro, com seu El Imigrante.

O Bacardi Legacy é um campeonato de coquetelaria internacional, que desafia os bartenders de todo o mundo a criarem o coquetel que tenha o maior potencial de se estabelecer como um clássico e deixando seu legado na coquetelaria, ao lado de drinks como o Daiquiri, Mojito, Cuba Libre e inúmeros outros clássico originalmente criado com rum Bacardi.

Nesta segunda-feira, este Cão teve a oportunidade de conversar com Ernesto Elizondo, e aprender um pouco mais sobre El Imigrante. De acordo com Nica, que é nicaraguense, o El Imigrante conta um pouco de sua história, bem como a de Facundo Bacardi. “A história da família Bacardi é muito ligada à imigração” explica Elizondo. “Em muitos momentos, foram forçados a sair de onde estavam. Facundo Bacardi imigrou para Cuba, e lá começou a Bacardi, mas muitos anos depois, seus descendentes se viram obrigados a abandonar o país e estabelecer a vida e empresa em outro lugar.

Nica e seu El Imigrante

E completa. “Isso colidiu com o fato de que recentemente tem havido muitas conversas sobre o tema da imigração. E pensei que poderia, com meu trabalho, mostrar o lado positivo da imigração – a troca de ideias e de culturas, aquilo que é criado por imigrantes e que faz a diferença. E arremata com uma frase de efeito “em um mundo sem fronteiras, somos todos imigrantes“.

Segundo Nica, a receita foi criada com base em um conceito. São bases de países diferentes, que – ressaltando a diversidade trazida pela imigração – combinadas, resultam no coquetel. Há um elemento amargo, outro adocicado e um cítrico. Cada pessoa sentirá a predominância daquilo que lhe agrada mais.

Se você ainda não teve oportunidade de provar El Imigrante, ainda há tempo. Até o final de abril, o drink será servido em diversas casas de São Paulo, dentre elas o Riviera Bar, onde Nica trabalha. Mas, se preferir, poderá optar por tentar reproduzir a receita em casa.

Aliás, essa é uma característica dos clássicos. Os ingredientes são simples, mas quando combinados, levam a um resultado muito maior do que a soma das partes. Algo que acontece também com a cultura cosmopolita, sempre influenciada pela imigração. E, é claro o El Imigrante.

EL IMIGRANTE

INGREDIENTES

  • 50 ml de Bacardi Carta Blanca
  • 15 ml de Martini Bitter
  • 15 ml de Martini Rosso
  • 15 ml de limão sicilian
  • 15 ml de xarope de açúcar

PREPARO

  1. Em um copo long drink, adicione todos os ingredientes. Complete com gelo britado até o topo.
  2. Com cuidado, coloque uma colher bailarina – dessa vez tem que ser uma de verdade, meus caros. Gire a colher rapidamente entre as duas mãos, diluindo e gelando o coquetel. Depois, adicione mais gelo britado, meia fatia de laranja e um ramo de manjericão.

Da Civilização – The Dalmore 12 anos

A civilização é algo precioso. Com ela, pudemos contar com um sem fim de coisas que nossos ancestrais nem imaginavam. Pudemos desfrutar de facilidades que hoje, tomamos como garantidas. Água encanada, esgoto, luz. Delivery de pizza, supermercados e centenas de milhares de barbearias, paleterias mexicanas e hamburguerias. Comida sem glúten e sem lactose mesmo pra quem não precisa, foodtruck de kombucha e todo tipo de solução para todo tipo de problema que não teríamos, se não vivêssemos em sociedade.

Mas acho que a maior vantagem de todas é mesmo a tranquilidade. Não a tranquilidade da rotina, porque se existe alguma coisa que não é tranquila nos dias de hoje, é a rotina. A rotina pra quase todo mundo é bem corrida. Tanto que às vezes nem dá tempo de fazer xixi entre uma coisa ou outra, por exemplo. Mas a tranquilidade de saber que você tem maiores chances de terminar o dia vivo. Eu sei que mesmo hoje pode acontecer todo tipo de desfortúnio desagradável que desemboca na morte. Mas pensa bem. A chance de você ser devorado por um urso enquanto dorme é bem pequena. Ou de pisar em uma taturana tão venenosa que liquefará todos seus órgãos internos em questão de segundos.

Não é Jumanji…

Se você ainda não está convencido, deixe-me exemplificar. Com whisky, claro. Em 1263 o Rei Alexander III da Escócia caminhava – ou cavalgava, sei lá – tranquilamente pelas highlands escocesas quando, repentinamente, um enorme veado, com sua galhada pontiaguda, correu em sua direção, pronto para dilacera-lo. E veja bem, não estamos falando de qualquer pessoa, mas do rei da Escócia. Um cara que hoje a gente jamais imaginaria que correria qualquer risco de ser empalado por qualquer bicho chifrudo. Bem, e o Rei Alexander III teria encontrado lá seu destino, não fosse Colin of Kintail, chefe do Clan Mackenzie, que enfrentou o animal e o abateu.

O Rei Alexander ficou tão grato com Colin que lhe cedeu as terras do atual castelo de Eilean Donan, o lema “Luceo Non Uro” e o direito de usar uma representação da cabeça do animal como seu brasão. Este brasão que, mais tarde, por uma sucessão de eventos que não tem nada a ver com o Rei Alexander e – em boa parte – nem com Colin de Kintail, se tornaria o símbolo da The Dalmore, uma das mais reconhecidas destilarias das highlands escocesas.

É que a Dalmore foi fundada por um homem chamado Alexander Matheson em 1839. Alexander era um homem rico, proprietário da East India Company, que controlava as exportações de ópio para China. Em 1878 a destilaria foi comprada pelos irmãos Mackenzie – descendentes de Colin of Kintail – e permaneceu na família até 1960. Foi nessa época que a Dalmore recebeu o símbolo do veado, em alusão à história do Rei Alexander III.

Em 1960 a destilaria foi comprada pela Whyte & Mackay. O grupo, que mesmo antes da compra utilizava os whiskies da Dalmore preponderantemente para blends, logo percebeu a joia que tinha em mãos. Afinal, Dalmore é um whisky oleoso e com muita personalidade. Assim, resolveram que engarrafariam parte da produção como single malt.

O portfólio da Dalmore mudou bastante ao longo dos anos. Foram lançadas edições raríssimas, com preços estratosféricos, como o Dalmore Constellation e Sinclair, bem como whiskies sem idade definida – como o King Alexander III e Luceo. Foram elaborados whiskies temáticos, como o Cigar Malt, desenvolvido especialmente para se harmonizar com charutos. E foram também lançadas edições mais tradicionais, que de tempos em tempos entravam e saíam de seu portfólio, como o 15 e o 18 anos. Mas a espinha dorsal da produção da Dalmore sempre foi seu 12 anos.

Pechincha (note que há três zeros depois da vírgula)

A maturação do Dalmore 12 anos ocorre de forma fracionada. Primeiro, o destilado passa nove anos em barricas de carvalho americano utilizadas previamente para maturar bourbon whiskey. Depois, apenas metade deste destilado é transferido para barricas de carvalho europeu que contiveram vinho jerez oloroso, para que passe os próximos três anos. Depois disso, as duas parte são finalmente reunidas, o whisky é cortado – adociona-se água – e engarrafado. O resultado é um single malt com uma inegável influência vínica, mas com o dulçor e o caramelo característicos do bourbon. É um whisky oleoso, com especiarias e frutas secas,  final médio, e muito fácil de ser bebido.

No Brasil, uma garrafa do Dalmore 12 anos custa aproximadamente R$ 300,00 (trezentos reais). Pode parecer bastante, e na verdade é. Mas o Dalmore 12 é também um dos melhores custo-benefício de single malts com influência de jerez à venda por aqui. Apesar da idade, ele não aparenta imaturidade e é um exemplo quase perfeito do que as tão cobiçadas barricas de carvalho europeu de ex-jerez podem fazer a um whisky. É um whisky muito civilizado e pouco desafiador, que agradará tanto os iniciantes quanto os mais experientes no universo de single malts.

Assim, se você é apaixonado por whiskies com influência vínica, ou se é um iniciante e mataria – não faça isso, estamos em sociedade – de curiosidade para saber o sabor de um single malt maturado em jerez, o Dalmore 12 anos é uma de suas melhores apostas. Ah, e enquanto o estiver degustando, dedique um brinde à civilização. Afinal, se não fosse ela, nem mesmo saberíamos o que é whisky.

THE DALMORE 12 ANOS

Tipo: Single Malt 12 anos

Destilaria: Dalmore

Região: Highlands

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: frutas cristalizadas, vinho fortificado, mel e açúcar.

Sabor: Especiarias, vinho fortificado, frutas cristalizadas. Uvas passas. Final médio, com vinho e chocolate.

Com água: Um sabor de cereais aparece e a influência do vinho fica menos aparente.

Preço: Em torno de R$ 300,00 (trezentos reais)