Drink do Cão – Flying Scotsman

Há uns cinco anos atrás viajei para o Peru com a querida Cã. Uma viagem que no papel parecia no máximo interessante, mas que superou muito minhas expectativas. Muito provavelmente porque, também, eu não tinha tantas expectativas assim. Aliás, talvez este seja o segredo para a repentina alegria. Não esperar nada. Nunca. É como aquele whisky barato, que não promete muita coisa, mas entrega o mundo.

Mas estou a digressionar. De volta à viagem que muito me surpreendeu. Fiquei apaixonado pelas ruínas de Macchu Picchu – ainda que ruínas de civilizações antigas não sejam muito minha preferência – e adorei voar sobre as linhas Nazca. Mas o ponto alto, o melhor mesmo, foi a viagem ferroviária entre Cuzco e Aguas Calientes, à bordo do Hiram Bingham. Um trem incrível, decorado no estilo dos Pullmans da década de vinte, que conta com um vagão-bar, inteiramente de vidro. Achei aquela ideia magnífica. Era a união de três elementos: a tontura causada pelo mal de altitude, o sacolejar do vagão sobre os trilhos e um balcão open-bar de coquetéis. A receita perfeita para um Cão confortavelmente trôpego.

Ah, mas infelizmente tinha música ao vivo.

Achei aquela a melhor experiência que alguém poderia ter sobre trilhos. Quer dizer, até descobrir que a mesma empresa que operava aquele comboio também possuía outra locomotiva. Na Escócia. É o Royal Scotsman, criado com base em outro incrível trem, o incrível Flying Scotsman. E será sobre ele – e sobre o coquetel em sua homenagem – que falarei hoje. Mais sobre o trem do que sobre o coquetel, mesmo porque há poucos registros sobre este último.

Considerado por muitos como o mais famoso trem de todos os tempos, o Flying Scotsman (em uma tradução direta, o Escocês Voador) entrou em serviço em 1862, como ligação entre as cidades de Edimburgo e Londres e uma parada na cidade de York, para o almoço. Em meados de mil oitocentos e oitenta, ele foi modernizado e reformado. A viagem inteira, que originalmente levava pouco mais do que dez horas, passou para oito horas e meia. Tempo suficiente para comer bem e se embriagar.

Talvez você esteja se perguntando quão veloz era a locomotiva, para levar este sugestivo nome. Bem, sua incrível velocidade era de, aproximadamente, cento e vinte quilômetros por hora. O que na nossa realidade não parece muita coisa, mas que era algo fora do comum no começo do século XX. Porém, com o avanço tecnológico, e a medida que o tempo passava, as locomotivas foram reformadas ou mesmo trocadas. Atualmente, a máquina a vapor cedeu espaço para uma elétrica, e a viagem passou a ser feita em menos de quatro horas.

O clássico trem

A conexão entre o trem e o coquetel é um mistério. Poderia dizer que ele fora criado no bar sob trilhos que leva seu nome. Mas isso seria apenas uma conjectura. O que sabemos é que o Flying Scotsman é uma versão um pouco diferente de outro coquetel que leva scotch whisky. O Rob Roy.  Como a expectativa – e quase tudo na vida – o importante é a dosagem. A receita mais conhecida pede duas partes iguais de vermute e whisky, com apenas 1/4 de colher de chá de calda açúcar. O que já é bem pouco. Porém, o dulçor dos vermutes disponíveis no mercado varia bastante. Assim, teste e adapte a receita para seu gosto, sem temor. Um vermute mais doce demandará ainda menos calda, já um mais seco exigirá mais calda.

Assim, prezados leitores, preparem-se para embarcar em um coquetel que faz jus às mais incríveis viagens férreas de todos os tempos. E podem manter as expectativas altas. Ele é excelente.

FLYING SCOTSMAN

Antes de explicar o preparo, é preciso advertir. Há uma bifurcação no trilho de sua escolha. A forma mais frequente de serviço deste coquetel é em uma taça coupé ou de martini. Mas você pode preferir servi-lo em copo baixo com uma pedra grande de gelo, ou algumas menores, à moda de um negroni ou Old Fashioned. O que faz sentido também. Ninguém irá te repreender. Dê asas a seu escocês voador.

INGREDIENTES

  • 1 e 1/2 dose de scotch whisky (pode ser o blended whisky que preferir. Note que whiskies mais adocicados, como os Chivas Regal ou o Johnnie Walker Red Rye demandarão reduzir a calda de açúcar. Este Cão recomendaria algo como um Johnnie Walker Black Label ou até um Teacher’s)
  • 1 e 1/2 dose de vermute tinto (Este Cão usou o Miró Etiqueta Negra, bastante seco e um pouco ácido. Se utilizar um vermute adocicado – como o Martini Rosso, por exemplo – também será necessário diminuir o açúcar para atingir o equilíbrio).
  • 1/3 colher de chá de calda de açúcar (aprenda a prepará-la aqui)
  • 2 dashes (sacudidelas) de Angostura Bitters
  • gelo (bastante. Sério)
  • copo baixo, taça coupé ou de martini
  • strainer
  • mixing glass

PREPARO

  1. Adicione todos os ingredientes em um mixing glass – ou algum recipiente para misturar – com bastante gelo. Mexa, com o auxílio de uma colher bailarina ou algo equivalente.
  2. Desça o coquetel coado (com ajuda de uma peneira ou strainer) em uma taça coupé ou de martini, ou no copo baixo com gelo, conforme sua escolha.

 

Novidade do Cão – Lançamentos – Dewar’s e Aberfeldy

O que você faria se fosse convidado para beber com um de seus ídolos? Nunca havia pensado na resposta para esta pergunta. Mesmo porque, até semana passada, era uma questão totalmente hipotética e etérea. Afinal, a grande maioria dos famosos que admiro já morreu, ou habita um local altíssimo, de atmosfera rarefeita e muito pouco acessível para um Cão. Assim, este era problema que imaginava que jamais fosse ter. E que, portanto, não era um problema. Ocorre, no entanto, que graças a um magnífico convite da Bacardi, me vi obrigado a sair da zona de conforto e enfrentar este excelente – porém um pouco temeroso – problema.

É que nos dias 04 e 05 deste mês de setembro, Fraser Campbell, bartender e embaixador mundial do whisky Dewar’s esteve de passagem pelo Brasil. Sua missão foi a de divulgar duas linhas de whisky pertencentes à empresa, que em breve estarão em nosso mercado. E este Cão, orgulhosamente, foi convidado a encontrá-lo, para provar, em primeira mão, estas novidades. São duas expressões dos já conhecidos blended whiskies da Dewar’s – sendo um inédito – e mais um single malt, o Aberfeldy 12 anos.  Como diria um amigo deste Cão, em um momento espirituoso – a indústria de parafusos certamente não concede oportunidades como esta.

Mas antes, vamos a Campbell. O bartender, nascido na Escócia, possui mais de treze anos de experiência em bares e hospitalidade. Recentemente foi chamado pela Barcardi para assumir a face revelada da marca de blended whiskies mais vendida nos Estados Unidos, e uma das quatro no mundo. A Dewar’s. Fraser – além de um bartender genial – é um exímio entendedor de whiskies, e conhece detalhes do processo de produção de cada um dos single malts pertencentes à Bacardi.

I’m also here for the scotch.

Segundo Fraser “O mercado consumidor de whisky no Brasil é muito relevante, principalmente o de marcas premiuns, nicho que Dewar’s é um dos principais players globais. Nos diferenciamos muito de nossos concorrentes, pois, somos uma marca mais descolada e jovem, que busca entender o que o nosso cliente quer através de suas experiências de vida, por isso, precisamos utilizar o nosso conhecimento adquirido aqui e em outros países para aumentar ainda mais a nossa presença no cotidiano do brasileiro”. Em sua masterclass, que aconteceu na terça-feira no excelente The Juniper 44º, Campbell nos apresentou três whiskies distintos. Os Dewar’s, nas expressões 12 e 18 anos, e o Aberfeldy 12 anos. Estes últimos desembarcam pela primeira vez em nosso mercado.

Campbell explicou que o coração das expressões da Dewar’s é, justamente, o Aberfeldy. A composição dos blends, porém, leva outros sigle malts e whiskies de grão, especialmente aqueles pertencentes à Bacardi. Os principais são Royal Brackla, Aultmore, Craigellachie e Macduff (Deveron). Aliás, historicamente, estes single malts raramente apareciam isolados. Porém, em 2014, com a criação dos Last Great Malts of Scotland – que reúne os maltes sob o comando da Bacardi – o acesso a estes whiskies tornou-se mais fácil.

Aliás, é curioso que em uma indústria cuja clara tendência seja não declarar a idade, todas as expressões de single malts sob o guarda-chuva da Bacardi possuem número estampado no rótulo. Nas palavras – mal traduzidas por este Cão – de Fraser, ainda que esta seja uma tendência natural devido à demanda de um mercado que está em franca ascensão, a idade é o mais claro indicador aos consumidores de qualidade. Por isso, com exceção do White Label, a Dewar’s continuará a declarar a idade de seus whiskies. E para selar qualquer polêmica, Fraser citou Tommy Dewar, um dos fundadores da companhia: “nós respeitamos muito a idade avançada quando ela é engarrafada”

Ao final, foram servidos ainda três coquetéis elaborados com Dewar’s 12 anos. Dentre eles, merece destaque o excelente Dramble, praticamente uma marca registrada de Fraser Campbell. O coquetel é uma releitura do famoso Bramble, feito com lico de amora, limão, calda de açúcar e gim. Mas, nesta versão, troca-se o gim pelo whisky.

AS NOVIDADES

Mas vamos às novidades. O Aberfeldy 12 e o Dewar’s 18 anos. O primeiro é um single malt bastante floral. Há um certo aroma vegetal muito agradável, e um sabor bastante claro de mel. Já o Dewar’s 18 é um blend  seco, com notas florais e de pão de mel (é isso mesmo!) e frutas cristalizadas. Quase um panetone líquido. Aliás, a leveza e este aroma floral – fruto do Aberfeldy – está presente em toda linha Dewar’s.

Novidades a vista.

Se você ficou ansioso para provar as novidades, saiba que as novas expressões estarão brevemente disponíveis em lojas especializadas. Além disso, este Cão visitará cada uma delas em provas isoladas, com certa periodicidade. Serão três provas ao todo – incluindo o Dewar’s 12 anos – com informações mais aprofundadas sobre cada rótulo.

Realmente, meu amigo tinha toda a razão. A indústria de parafusos não concede oportunidades como esta. Mesmo.

 

Jameson Tea & Lime – Drink do Cão

Hoje, meu caros leitores, falarei de um assunto bastante improvável. Falarei de botânica. Mais especificamente de uma fruta. O Prunus persica. Talvez você não o conheça pelo nome científico, mas certamente já experimentou. Ele é rosado, arredondado e possui uma textura curiosamente aveludada e agradável. É bastante consumido em sua forma natural e muito saboroso. Falo do pêssego.

Uma rápida pesquisa na internet revela que o fruto também é muito benéfico. O pêssego é rico em fósforo, potássio e vitamina A, importantes nutrientes para os ossos e a visão. Além disso, eles contém muitos fenóis e carotenoides, que – conforme minha pesquisa de duvidável autenticidade – combatem tumores e são extremamente benéficos para a pele. E como se tudo isso não fosse suficiente, a pele do pêssego é rica em fibras, excelente para regular o intestino.

Reúna o pêssego com o limão e você terá uma panaceia em forma de fruta. O limão auxilia na digestão – produzindo um interessante combo com o pêssego – e é riquíssimo em vitamina C, essencial para o sistema imunológico. Você poderia, claro, consumir as duas frutas em sua forma pura, sentindo-se saudável e recompensado. Porém, este Cão possui uma solução melhor. Uma solução que envolve um ilustre Irish Whiskey. O Jameson.

É que as duas frutas são também ingrediente do Jameson Tea & Lime, o coquetel oficial da marca de Irish Whiskey aqui no Brasil. Ele está presente em quase todas as festividades que envolvem o ilustre irlandês. No começo deste mês, por exemplo, o coquetel foi o protagonista da arena Jameson, no Coala Festival, que aconteceu no Memorial da América Latina em São Paulo.

Coala Festival (fonte: flashbang.com.br/)

Este Cão infelizmente não pode comparecer à festividade. Porém, preocupado com a saúde de seus leitores, conseguiu a receita do drink. Que, aliás, é tão fácil quanto jogar uma pastilha efervescente de vitamina na água, mas muito melhor. O Jameson Tea & Lime:

JAMESON TEA AND LIME

INGREDIENTES

  • 1 e 1/2 dose de Jameson Irish Whiskey
  • Gelo
  • Chá de pêssego até encher o copo (você pode comprar um pronto, ou, se tiver tempo sobrando, preparar seu próprio. Este Cão sugerirá uma receita a seguir. Há uma recompensa pelo trabalho extra, mencionado abaixo. Desnecessário dizer, mas só para garantir: chá de pêssego frio, meus caros. Não quero ver ninguém perdendo dedos quando o copo explodir com o choque térmico porque colocou chá quente.)
  • Limão

PREPARO

  1. Coloque, em um copo, 50 ml de whiskey Jameson
  2. Complete o copo com gelo
  3. despeje o chá até cobrir o gelo
  4. Esprema 1/4 de limão

CHÁ DE PÊSSEGO:

  • 1 xícara de chá de açúcar
  • 1 xícara de chá de água
  • 2 pêssegos maduros, cortados finos
  • 3-4 saquinhos de chá de pêssego bom (Quer dizer, a receita pede chá de pêssego. Mas e se você usar a criatividade e trocar por outro? Alguém aí pensou em um Lapsang Souchong?)
  • 8 xícaras de chá de água

PREPARO DO CHÁ DE PESSEGO:

  1. Ferva água com o açúcar e os pêssegos em uma panela. Use uma colher de madeira para dar uma esmagadinha nos pêssegos e ajudar na infusão
  2. Depois do açúcar ter se dissolvido (note que você deve desligar o fogo bem antes do ponto de fio. É apenas para que o açúcar se dissolva – ou seja, desapareça), remova do fogo e deixe descansar por uns 30 minutos.
  3. Prepare o chá preto, com infusão de mais ou menos 4 minutos. Remova os saquinhos e deixe esfriar.
  4. A calda de açúcar e pêssego já deve ter esfriado, não? Talvez seja uma boa ideia colocá-la em uma garrafa vazia. Coe antes, com uma peneira fina, para remover os pedaços de pêssego.
  5. Aqui está a grande recompensa dessa trabalheira: você pode controlar o dulçor do seu coquetel. Basta aumentar a proporção de calda de açúcar para chá de pêssego se quiser um drink mais doce. Isso seria impossível usando o chá pronto.

 

 

O Cão Econômico – William Lawson’s

Vou começar o texto de hoje com uma citação de Voltaire. Aquilo a que chamamos acaso não é, não pode deixar de ser, senão a causa ignorada de um efeito conhecido. Voltaire, ao escrever esta frase, discutia sobre o papel do acaso na criação da vida. Para ele, não há uma definição de acaso – ele é simplesmente um coringa, um substituto para tudo aquilo que desconhecemos a razão, mas que produz determinado efeito. Porém, não soubesse disso, poderia pensar que Voltaire falava de ter filhos pequenos.  Filhos pequenos são a encarnação da causa ignorada de um efeito conhecido.

Um exemplo disso aconteceu comigo justo na semana passada. Havia terminado de jantar, e sentara-me no chão com o cãozinho para brincar com fofoblocos e assistir algum desenho no meu celular. Quando ele fosse dormir, iria comprar online algum belo whisky para uma prova. Algo inédito e sofisticado. O Cãozinho, porém, estava um pouco agitado. Gritava e atirava os fofoblocos pela sala e pouco se concentrava naquela curiosa formiga azul que cantava na tela de meu telefone. Num destes arremessos – e enquanto eu desadvertidamente tentava reunir as pecinhas já jogadas – meu celular foi atirado contra a parede.

Comportamento digno da realeza.

Não poderia dizer que aquele era um resultado surpreendente. Na idade do querido Cãozinho, os objetos são divididos em apenas dois tipos. Os que são arremessados e os que são mordidos. Eu sabia que aquilo aconteceria.  Logo que o aparelho caiu de tela para baixo e piscando em flashes agonizantes, percebi que o prognóstico não era bom. Tela rachada. Uma pesquisa na internet revelou que o preço da troca era quase comparável àquele de um aparelho novo. E pior, bem maior do que de qualquer whisky que planejava adquirir.

Por conta disto, desta minha culpa consciente (não dolo eventual) me vi obrigado a mudar meus planos. Não havia problema. Como já disse antes por aqui, devemos crescer na presença da adversidade. O que, claro, não significa deixar de beber. Por conta disso, a sofisticação e a exclusividade deram espaço para o singelo, mas agradável. O eleito, desta vez, foi um whisky que sempre relevei ao observar na prateleira – talvez em busca de algo mais caro, ou mais conhecido. Os otimistas dirão que em todo desastre há uma oportunidade. Bem, esta foi a vez dele. A vez do William Lawsons.

O William Lawsons é um blended scotch whisky sem idade definida, hoje pertencente à Bacardi. Além da expressão ora provada, há também uma versão com doze anos de maturação mínima e outra com treze, finalizada em barricas de bourbon. Há também uma bebida composta, o Super Spiced, com infusão de baunilha e pimenta. Nenhuma destas expressões chega oficialmente ao Brasil.

O protagonista do William Lawsons é MacDuff. Não, não é um spin-off de Macbeth, ainda que isto combinasse bem com o tema de oportunidades e desgraças. MacDuff é o nome da destilaria que produz o single malt Glen Deveron, base deste blended whisky. Além dele, em sua composição há diversos outros whiskies de malte e de grão com perfil frutado, porém não há o emprego de qualquer malte defumado. Algo bastante incomum na elaboração de qualquer blended scotch whisky.

Glen Deveron

 

A história da William Lawson’s também é eivada de pequenos e grandes desastres. William – seu fundador – nasceu na Escócia, em meados do século XIX. Na contramão da tendência mundial, mudou-se para a Irlanda em busca de sucesso, numa época em que muitos irlandeses migravam para outros países justamente por este motivo. Lá, tornou-se gerente e depois diretor de uma empresa de blended whiskies, a E&J Burke’s, de Dublin. Porém, por algum motivo desconhecido, foi demitido da empresa em 1903. Sem emprego, Lawson voltou para sua terra natal. A E&J Burke’s, porém, continuou a utilizar a marca de William. Em 1960 foi construída a MacDuff, e em 1963, William Lawson’s foi adquirida pela Martini & Rossi, que, por sua vez, fundiu-se com a Bacardi em 1993.

O William Lawson’s é um whisky com corpo médio e sabor bem leve e adocicado. Como é de se esperar, não há qualquer aroma ou sabor enfumaçado ou medicinal. O álcool é um pouco agressivo, o que torna a tarefa de perceber os discretos sabores do whisky um pouco difícil. É um perfil de sabor próximo ao do Cutty Sark, mas com álcool mais pronunciado. A ampola de um litro custa, em média, R$ 75,00. O que o coloca frente a frente com outros blended whiskies standard, como o Ballantine’s Finest e o White Horse.

Para falar a verdade, se este Cão pudesse escolher livremente, o William Lawsons provavelmente não seria – como efetivamente não foi – sua primeira escolha. Em sua faixa de preço, teria facilmente ficado com a marca do cavalo níveo. No entanto, é um whisky que oferece uma experiência honesta dentro de seu custo. Assim, se estiver com orçamento apertado e buscando algum whisky agradável e despretensioso, vá de William Lawson’s. Mas se não tiver, também, experimente mesmo assim. Não precisa deixar que a causa ignorada de um efeito conhecido te surpreenda.

WILLIAM LAWSON’S

Tipo: Blended Whisky sem idade definida

Marca: William Lawsons

Região: N/A

ABV: 40%

Notas de prova:

Aroma: álcool, um pouco de malte, açúcar refinado.

Sabor: Açúcar de confeiteiro, mel. Um certo sabor de cereais. Álcool. Final médio e seco.

Com água: A água reduz um pouco a agressividade do álcool, mas torna o sabor de cereais mais evidente.

Benefícios do whisky para a saúde

Recentemente a internet entrou em convulsão ao saber que a Rainha Elizabeth bebe quatro drinks diferentes todos os dias. A rotina etílica da monarca inclui dry martini, gim com dubonnet, vinho e champanhe. Destes, três são consumidos à luz do dia, antes, durante e depois do almoço. Isso significa que durante seus compromissos reais, Elizabeth provavelmente está bem embriagada. O que explica, de certa forma, porque ela sai nas fotos sempre com o semblante lhano e aquele sorrisinho besta.

Talvez ela esteja apenas antecipando tendências. Afinal, gim entrou na moda há pouco tempo, mas a monarca já bebia muito antes de se tornar cool. Mas o mais incrível de tudo não é isso. O mais incrível é que a rainha da inglaterra tem 91 anos de idade. E apesar de visualmente não parecer nem um dia mais jovem, ela continua forte, saudável e absolutamente lúcida. Quer dizer, tão lúcida quanto uma pessoa que começou a beber gim antes do almoço pode aparentar. Por conta disso, muitos tem se perguntado qual a razão desta saúde inabalável.

Hipster

Porque falta de stress certamente não é. Como uma figura pública cujas responsabilidades transcendem muito o âmbito profissional, a rotina de Elizabeth é corrida e extenuante, ainda mais para uma senhora como ela. A genética talvez ajude. Basta lembrar que sua mãe, Isabel, faleceu aos cento e um anos. Porém, seu pai – o rei George VI – não viveu muito além de meio século, tendo falecido de problemas de saúde.

A nós, resta apenas conjecturar. Mas à rainha, suspeito que não. Porque se ela bebe tanto e já viveu tanto tempo, é bem possível que ela saiba de algo. Assim, resolvi seguir a tendência da mais conhecida figura real do mundo e pesquisar. Mas não sobre gim. Sobre a melhor bebida do mundo, o whisky. Os benefícios trazidos pelo whisky à saúde. Os resultados de minhas incansáveis – e ébrias – buscas seguem abaixo. É como dizem os ingleses – a dram of whisky a day keeps the doctor away (uma dose de whisky por dia te deixa longe do médico):

É LIGHT

É sério isso. Whisky não possui gordura e tem pouquíssimo sódio. Tudo bem que minha pança adquirida nos últimos anos ateste o contrário. Mas tenho certeza que não é culpa do whisky. Não, de forma alguma. A culpa é certamente do molho de mostarda com mel da salada. O molho da salada engorda demais.

Por isso a Kate é tão magra!

PREVINE A DIABETES

Pode parecer um contrasenso, mas não é. O website da fundação Livestrong – é isso mesmo, aquele das pulseirinhas amarelas – aponta também que o consumo moderado da bebida diminui a chance de desenvolver diabetes em 30 a 40 por cento. Este número foi apresentado em estudo conduzido pelo Dr. David J. Hanson. Não, não é aquele do grupo pop. É um médico pesquisador da Universidade de Nova Iorque.

PREVINE A DEMÊNCIA E ALZHEIMER

Há estudos que, discutivelmente, apontam que o whisky é um poderoso remédio contra a demência e o mal de Alzheimer. É claro, aqui a moderação é chave. Segundo a pesquisa, pessoas que consumiam até seis doses do destilado por semana tiveram os melhores resultados.  Este Cão acha que, como tudo na vida, há um trade-off: esqueça das coisas agora para lembrar melhor de outras no futuro. É quase um investimento a longo prazo. Aliás, o melhor deles.

Dorothy Howe concorda.

É NUTRITIVO

Tá, falar que whisky é nutritivo talvez seja uma hipérbole. Mas de acordo com o Dr. Jim Swan, em trabalho apresentado na EuroMedLab de Glasgow, em 2005, o whisky é rico em ácido elágico, também presente nas framboesas. O ácido elágico inibe certos cânceres, como de pâncreas, esôfago, pele, cólon e próstata. É claro que você sempre pode deixar o destilado para lá e comer framboesas. Mas duvido que framboesas te deixem tão feliz quanto whisky.

PREVINE DERRAMES

De acordo com um estudo da universidade de Harvard sobre bebidas alcoólicas, o consumo de whisky moderadamente pode auxiliar na prevenção de derrames e doenças cardiovasculares. Você até pode duvidar de alguns pontos deste texto. Mas vamos combinar que este é difícil de refutar. Afinal, é Harvard. Obrigado, Harvard.

Outro estudo, conduzido pelo Rowett Research Institute de Aberdeen, chegou a conclusão semelhante. Em nome da ciência, o instituto embriagou nove homens de formas diferentes. Alguns com single malt, outros com vinho, e outros com destilado não maturado (direto dos alambiques). Foi descoberto que os single malts forneceram a maior concentração de antioxidantes, importantíssimos para a saúde cardiovascular.

É FANTÁSTICO

Eu sou uma draga. Como já mencionei diversas vezes por aqui, tenho pouquíssimas restrições alimentares. Mas isso não significa que considere tudo delicioso. Como meus vegetais sem nenhum sacrifício e até gosto de alguns, como palmito, cebola e rúcula. Mas se você me fizer escolher entre qualquer deles e whisky, a balança penderá para este último. Talvez, só talvez, a rainha não saiba de nada. Ela bebe porque é bom mesmo.

Drops – Puni Alba – Single Malt Italiano

Antes de começar a escrever este texto, resolvi fazer um teste. Perguntei a dez pessoas – dentre elas a Cã, o Pai Cão e certos amigos – qual a primeira coisa que vinha à mente quando falava-se daquele curioso e comunicativo país que é a Itália. E a resposta, para minha total estupefação, foi gondoleiros.

Gondoleiros. Dentre todas as coisas pelas quais a Itália é famosa, gondoleiros foi a resposta de quatro entre dez pessoas a quem fiz a indagação. Os gondoleiros remaram na frente dos automóveis superesportivos. Dos pratos ricos em carboidratos. De Dante, Virgílio, Correggio – com os cumprimentos do Cão Pai – Da Vinci, e da Mona Lisa. Superaram a tarantella. Sobrepujaram Fellini, Spaghetti Western e Bernardo Bertollucci. Era um resultado que eu jamais esperaria.

Eu sabia, por exemplo, que jamais alguém falaria whisky. E esse era justamente o motivo daquele meu experimento. Queria saber quantas coisas poderiam ser evocadas antes de chegar à bebida. Porém, o resultado me demonstrou uma curiosa obsessão de meus conhecidos por estes tão caricatos choferes de canoa.

Acontece que, para mim, os gondoleiros ocupam uma posição bem baixa da lista daquilo que define a essência italiana. Uma posição certamente abaixo de whisky. Ainda mais agora, que a Itália possui a Puni, uma inovadora e destemida destilaria. Fundada em 2010 por Albrecht Ebensperger e sua família, a Puni localiza-se no coração dos alpes italianos, próxima ao vilarejo de Glurns. Em 2012 lançou seus primeiros single malts, dentre eles, o Alba, que ilustra este texto.

Essa é a destilaria. Feia, né?

O Puni Alba é uma criação tão improvável quanto sofisticada. Seu destilado é composto por cevada, centeio e trigo, todos maltados, o que é bastante incomum. E o que, aliás, é uma adaptação italiana do conceito de single malt, que, pelas regras escocesas, deve ser produzido somente com cevada maltada. Bourbons, por exemplo, podem possuir trigo e centeio em sua mashbill, mas estes gãos não são maltados. Sua maturação ocorre por três anos em barricas de vinho Marsala siciliano, para depois ser finalizado em barricas de segundo uso que contiveram whisky defumado da ilha de Islay, na Escócia (estes mauraram single malt escocês por um período entre dez e vinte e cinco anos)

Além do líquido, a ampola merece um parágrafo somente dela. A garrafa foi desenhada pelo designer italiano Chrisian Zanzotti. Seu visual colecionou prêmios como o de melhor design pela World Whiskies Awards e International Wine & Spirits Competition. Claro, um desenho impecável é outra coisa que poderíamos esperar dos italianos. Que, aliás, é outra coisa que vêm na frente dos gondoleiros em minha lista.

O Puni Alba é um whisky leve e equilibrado, com aroma apenas levemente enfumaçado e picante. O uso das barricas de uma forma criativa e cuidadosa disfarçam a pouca idade do single malt, que se passa por um produto ainda jovem, mas bem mais maturado. O final é curto e adocicado. Aliás, este é um dos pontos de destaque do Puni Alba. A prova de que whiskies jovens não são necessariamente  agressivos ou monotemáticos. O bom emprego de técnicas de forma criativa podem produzir resultados excelentes.

Nada de gondoleiros, artistas, massas e cinema. Pensando bem, Puni é a primeira coisa que vêm a minha mente quando sou indagado sobre a Itália.

PUNI ALBA

Tipo – Single Malt

ABV

Destilaria: Puni

País: Itália

Notas de prova

Aroma: frutas secas, pimenta do reino.

Sabor: discretamente enfumaçado no começo, com borracha queimada. Frutas vermelhas, cravo. Final mais adocicado e frutado.

Disponibilidade: Apenas lojas internacionais

Irmão do Meio – Glenlivet 15 anos

Sou filho único. O que, para falar a verdade, não quer dizer muita coisa. Crescer sem irmãos não significa que tenha conseguido tudo que quero. Nem que seja mimado ou estragado, e tampouco egoísta. Quer dizer, exceto com comida. Comida é algo realmente difícil de dividir. Ser filho único, porém, significa que tive que responder mais de um sem fim de vezes a clássica indagação. Se eu não sinto falta de ter irmãos. E minha resposta, desde a mais tenra idade, sempre foi a mesma. É claro que não, afinal, não poderia sentir falta de algo que nunca tive.

Minha mãe, no entanto, possui irmãos. E ela está na pior posição possível. Ela é a irmã do meio. O que, para ela, significava ter as refeições roubadas pelo irmão mais velho enquanto era solenemente ignorada pelos pais, em favor do irmão mais novo. Significava não ter idade para fazer algumas coisas que o primogênito fazia, mas ser velha demais para se envolver com as atividades de criancinha do caçula. Segundo ela, galgar espaço como a irmã do meio não era nada, nada fácil.

Relembrei disso ao experimentar novamente, após bastante tempo, o Glenlivet 15 anos. O Glenlivet 15 é a expressão intermediária do portfólio permanente da destilaria, e está posicionado entre o 12 anos – ou, em alguns mercados, o Founder’s Reserve – e o 18 anos. E como o irmão do meio da família de single malts mais vendida no mundo, o Glenlivet 15 anos realmente não recebe a atenção devida. Um exemplo claro disso é que ele foi o derradeiro a ter uma prova neste blog.

Glenlivet 15 à esquerda.

A maturação do Glenlivet 15 anos é um tanto incomum. Ela ocorre predominantemente em barricas de carvalho americano que antes contiveram bourbon whiskey. Porém, parte do destilado é transferido para barricas de carvalho francês – ou seja, carvalho europeu – da região de Limousin. E isso não teria nada de muito especial, não fosse um pequeno e quase imperceptível detalhe. As barricas de carvalho francês utilizadas pela Glenlivet são virgens. Algo bastante incomum no mundo do scotch whisky, que prefere fazer uso de madeiras que já tenham sido utilizadas para maturar outra bebida.

Este processo, batizado pela destilaria de selective maturation (maturação seletiva, seja lá o que for isso) dá ao Glenlivet 15 anos um sabor bastante picante e frutado, mas ao mesmo tempo adocicado. Algo que, na minha singela e canídea opinião, o coloca em bastante destaque frente às demais expressões do portfólio permanente da Glenlivet, mesmo se comparado àqueles mais maturados, como o Glenlivet 18 e o 21 anos.

Ele é claramente mais complexo e profundo que seus irmãos mais jovens. O real fogo amigo vem do Glenlivet 18, com maturação e perfil de sabor semelhantes. Porém, em comparação com seu irmão maior de idade, o Glenlivet 15 anos é mais pungente, menos seco e mais adocicado. Há mais baunilha – provavelmente resultado do emprego das barricas virgens. Ele é mais adocicado, enquanto o dezoito anos possui mais taninos.

O The Glenlivet é, atualmente, o single malt mais vendido do mundo. Após uma acirrada batalha pela supremacia do mercado, a The Glenlivet superou sua rival Glenfiddich em meados de 2015. Atualmente, a destilaria vende mais de doze milhões de garrafas por ano. Seu whisky mais vendido é o Glenlivet Founder’s Reserve. Parte de sua produção também é utilizada nos blended whiskies pertencentes à Pernod Ricard, sua detentora, como Chivas Regal e Ballantine’s.

Alambiques da Glenlivet. Feio né?

O Glenlivet 15 anos recebeu prêmio de Liquid Gold (Ouro Líquido) pela Jim Murray Whisky Bibile de 2014, e ouro pela International Wine & Spirit Competition em 2017 na categoria de Single Malt de Speyside. Também faturou o ouro pela The Scotch Whisky Masters em 2015 e 2014, na categoria de single malts entre 13 e 19 anos.

Se você já deu seus primeiros passos no mundo dos single malts e agora procura algo com bom “custo-benefício”, ou se – assim como este Cão – você preferiu pular alguns degraus e agora deseja retomá-los, o Glenlivet 15 anos é uma excelente alternativa. Este é um irmão do meio como muitos outros. Basta um pouco de atenção para que mostre seu brilhantismo.

GLENLIVET 15 ANOS

Tipo: Single Malt com idade definida – 15 anos

Destilaria: Glenlivet

Região: Speyside

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: frutado e adocicado. Baunilha com uma certa pimenta.

Sabor: frutado, com maçã, baunilha e caramelo. O final traz mais baunilha e uma certa canela.

Com água: o sabor fica mais adocicado e menos picante.

Preço: R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais)

 

Drops – Nikka Taketsuru 21 anos

O drops desta semana fala de um whisky japonês. O Nikka Taketsuru 21 anos. Para introduzi-lo, eu poderia cair na tentação de falar sobre a disciplina japonesa. Sobre o conceito de Yin-Yang, emprestado do taoísmo chinês, que influenciou grande parte do Japão, e como este conceito está presente mesmo em coisas tão mundanas quanto um whisky. Poderia apontar que Yin é o símbolo da terra, escuridão e passividade, enquanto o Yang é seu direto oposto. E desembocaria, finalmente, no Dô – o caminho, entre as duas forças opostas. Sempre, claro, fazendo um paralelo com uma belíssima dose deste blended malt. Eu poderia, mas não vou, porque isso seria bem brega. Mesmo.

Então, introduzirei este texto simplesmente dizendo que o Nikka Taketsuru 21 anos é um whisky absolutamente e reconhecidamente incrível. Ele foi inúmeras vezes premiado. Recebeu quatro vezes o título de melhor blended malt do mundo pela World Whisky Awards, nos anos de 2007, 2009, 2010 e 2011. Recebeu ouro pelo International Spirits Challenge nos anos de 2008, 2009 e 2010. Com um currículo como este, e mesmo para alguém que nunca foi um grande apreciador da marca criada por Masataka Taketsuru, o Nikka 21 é redenção.

Como você pode ter presumido, o nome do whisky é uma homenagem ao fundador da marca, Masataka Taketsuru. Masataka foi um dos personagens centrais da história do whisky no Japão. Foi ele, com o auxílio de Shinjiro Torii, que trouxe àquele país as técnicas de destilação e produção de whisky, aprendidas na Escócia durante os anos em que lá viveu. Taketsuru trabalhou com Torii – o fundador da Suntory – para, anos mais tarde, fundar sua destilaria e criar sua própria marca.

Taketsuru e Rita, sua esposa, com a última moda em trajes de banho dos anos 30 (fonte: Nikka Whisky)

O Nikka Taketsuru 21 anos é composto por dois maltes diferentes. O primeiro da destilaria de Yoichi, conhecida por produzir um malte oleoso e enfumaçado. O segundo, da Miyagikyo, cujo perfil do destilado é mais leve e frutado. Maltes complementares, que certamente produziriam algo excelente se reunidos com sabedoria. Mas não, eu ainda não estou aqui falando sobre o equilíbrio ou sobre forças opostas, como o Yin e Yang.

Como na Escócia, a idade é do componente mais novo em sua composição. Neste caso, vinte e um anos. Porém, ao contrário do que acontece naquele país, no Japão quase não há intercâmbio de barricas entre empresas concorrentes. A maioria dos blended whiskies é produzida totalmente in-house. Por isso as destilarias são muito maiores do que as Escocesas, e possuem diversos formatos diferentes de alambiques, distintos limites de corte do destilado e várias espécies diferentes de leveduras. É justamente este o caso da Nikka, e de seu Taketsuru 21 anos.

O aroma do Nikka Taketsuru 21 é bastante frutado. Há um certo aroma de frutas secas. Algo que remonta, de longe, os maltes da linha Sherry Oak da The Macallan e os Aberlour. O sabor é bastante frutado, com ameixas secas, e apenas com um toque de fumaça ao fundo. O corpo é médio, e seu final bastante longo. O álcool está absolutamente integrado e é quase imperceptível.

Infelizmente, o Taketsuru 21 anos não está à venda no Brasil. E para falar bem a verdade, assim como muitos whiskies japoneses, ele não está à venda em quase lugar nenhum. Assim, se você cruzar com uma garrafa destas, experimente. Você até pode trilhar o caminho do equilíbrio,  mas vale a pena sair dele por alguns instantes por um whisky como este.

NIKKA TAKETSURU 21 ANOS

Tipo: Blended Malt Whisky com idade definida – 21 anos

Marca: Nikka

País: Japão

ABV: 43% (poderia ser mais!)

Notas de prova:

Aroma: Frutado e levemente azedo, com frutas secas. Fumaça discreta.

Sabor: Mais frutas secas. Ameixas secas talvez. Ou damasco. Final longo e frutado, com fumaça e álcool perfeitamente integrados. Corpo médio.

Com água: A agua ressalta o sabor de frutas secas. Porém, este é um malte que pode ser provado sem água tranquilamente.

Preço: 300 Libras (trezentas libras!)

NOTA: Agradecimentos especiais ao Sr. Sylas Rocha, do Riviera Bar, por ceder este malte mágico para a apreciação deste Cão!

 

 

Drink do Cão – Rusty Nail

A simplicidade é o tom de toda verdadeira elegância

A frase acima, atribuída a Coco Chanel – sim, a da grife de moda – provavelmente tinha como objeto algum artigo de alta costura. Um belo vestido, um chapéu ou uma bela bolsa. Se este Cão não soubesse melhor, porém, poderia afirmar que a frase fora dita pela estilista ao preparar e provar um Rusty Nail.

Composto por apenas dois ingredientes – Drambuie e whisky – o coquetel é a liquefação da citação de Chanel. Um drink simples, facílimo de ser preparado, mas um clássico atemporal. Tanto é que atualmente, o Rusty Nail figura entre os “inesquecíveis” da International Bartender’s Association (a Associação Internacional de Bartenders) e está entre os cem mais do Difford’s Guide. O engraçado é que até hoje, a origem de seu nome, que significa “prego enferrujado” em inglês, é desconhecida.

O sucesso do Rusty Nail, porém, demorou um pouco para – perdão pela metáfora oportunista – pregar. De acordo com David Wondrich, historiador especializado em coquetelaria, nas quase três décadas iniciais de vida do Drambuie, nenhuma referência foi feita a ele. Segundo Wondrich, sua primeira aparição foi em 1937, pelas mãos de certo  F. Benniman, sob a alcunha de  B.I.F. O coquetel teria sido criado para comemorar a British Industry Fair – literalmente, uma feira de produtos industriais britânicos. Quem dera todas as feiras possuírem um coquetel próprio!

Vamos encher a cara e operar maquinário pesado!

De lá em diante, o drink assumiu diversas outras identidades, como Little Club No.1, Mig-21 e Knucklehead.  Em 1967, contudo, Gina MacKinnon, presidente da Drambuie Liqueur Company o consagrou oficialmente ao declarar que seu nome deveria ser, daquele dia em diante, Rusty Nail.

O coquetel tornou-se praticamente viral na década de setenta, graças ao Rat Pack, o grupo de artistas americanos – cantores e atores – que contava com nomes de peso, como Humphrey Bogart, Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Joey Bishop, Lauren Bacall, David Niven e Peter Lawford. Artistas talentosíssimos, que, em comum, possuíam a incrível habilidade de consumir doses leviatanescas de álcool. Naquela década, o Rat Pack enamorou-se com o coquetel. E como aqueles famosos artistas transpiravam a elegância etílica de outrora, o drink rapidamente caiu nas graças do povo.

Mais recentemente o coquetel foi relembrado pela série Better Call Saul. Na cena, Goodman – o famosíssimo advogado de ética duvidosa – prepara um Rusty Nail antes de uma sessão de vídeos nostálgicos de suas glórias passadas.

Reconhecem as mãos de Saul?

 

Apesar da facilidade de preparo, a maior polêmica ao redor do Rusty Nail é a proporção. Muitos afirmam que o ideal seja meio-a-meio (ou seja, uma parte de whisky para uma parte de Drambuie). Essas pessoas não sabem o que falam. David Wondrich, mais ajuizado, recomenda que o ponto de partida seja 2 doses de whisky para 1/2 dose de Drambuie.

A ideia é que cada um ajuste as proporções da forma que mais gosta, partindo da receita de Wondrich. Se você prefere um coquetel mais seco e menos adocicado, use maior proporção de whisky. Entretanto, se gostar do sabor mais adocicado e licoroso do Drambuie, eleve sua participação no drink. A receita abaixo é uma sugestão – a que este Cão mais gosta.

Assim, caros, preparem-se para contemplar a elegância da simplicidade aplicada à coquetelaria. Um coquetel um terço mais fácil de fazer do que um Boulevardier. O singelo, mas delicioso, Rusty Nail.

RUSTY NAIL

INGREDIENTES

  • 3/4 dose de Drambuie
  • 2 doses de whisky (use um bom blended whisky, como um Johnnie Walker Black Label ou Famous Grouse Finest. Lembre-se que dependendo do whisky utilizado, a proporção deverá ser adaptada. Um whisky mais adocicado como o Chivas 12 pedirá menos Drambuie do que algo mais seco, como um Black Label).
  • casca de laranja (totalmente opcional)
  • Gelo

PREPARO

  1. Em um copo baixo, adicione o gelo (uma pedra grande ou algumas menores)
  2. Adicione o whisky e o drambuie e mexa vagarosamente.

Na foto, este cão adicionou uma pequena fatia da casca de um limão siciliano. Note que isto não faz parte da receita clássica do coquetel, tampouco da versão de Wondrich. Porém, ao que parece, é uma adição bastante comum. Se gostar de um leve aroma cítrico, vá em frente e arrisque. No limite da razoabilidade, claro.

 

 

Drops – Aultmore 18 anos

A Escócia possui muitas destilarias. Algumas delas são amplamente conhecidas, como Ardbeg, Laphroaig, Macallan, Glenfiddich e Glenlivet. Estas brilham com single malts já bastante renomados e conhecidos até mesmo do público que não é assim, tão fascinado por whiskies.

Outras, porém, não são tão conhecidas. E sair da obscuridade para cair nas graças do público não é exatamente uma tarefa simples, ainda que, certas vezes, aconteça. É o caso da Mortlach, que adquiriu fama com seu Flora & Fauna 16 anos, a ponto de ser reposicionada pela Diageo – sua detentora – como um malte super premium, precificado ombro a ombro com The Macallan.

Às vezes é preciso um pouco mais do que um bom malte. Um empurrãozinho do pessoal de marketing, por exemplo, ajuda bastante. E aí é que está o Aultmore. Mais especificamente, o Aultmore 18 anos. O Aultmore era – quer dizer, ainda é – um malte bastante usado nos blended whiskies da Bacardi, como o Dewars, mas que não aparecia muito em voo solo. Até que aquela resolveu que o destacaria também como um single malt.

Reunindo outras destilarias sob seu comando, a Bacardi criou um grupo com um nome bastante modesto. Os  The Last Great Malts of Scotland (os últimos grandes maltes da Escócia), formado por Aultmore, Glen Deveron, Craigellachie, Aberfeldy e Royal Brackla. A cada um deles foi dada uma certa personalidade e identidade visual bastante próprias. Há mais de uma expressão de cada uma das destilarias. O portfólio da Aultmore, por exemplo, além do ora comentado Aultmore 18 anos, conta com um 12, um 21 e outro 25 anos.

O grupinho

A Aultmore está localizada em Keith, Banffshire, bem no coração da região de Speyside. A destilaria foi construída em 1895 por um cavalheiro chamado Alexander Edward, outrora proprietário também da Benrinnes. Ela foi vendida para a John Dewar’s & Sons em 1923, posteriormente adquirida pela United Distillers – que mais tarde tornou-se a Diageo – em 1987. Por fim, terminou nas mãos da Bacardi.

A garrafa do Aultmore já vêm com quase tudo que você precisa saber sobre o malte. Ela diz que a água utilizada pela destilaria provém de uma fonte conhecida como Foggie Moss. O Aultmore 18 é bastante adocicado e delicado, e não há qualquer traço de defumação. Reza a lenda – ou talvez o marketing – que apesar de pouco conhecido, o whisky era bastante consumido pelos pescadores de Buckie, que se referiam a ele como “uma dose daquele na estrada de Buckie”.

O Aultmore 18 anos é claramente distinto de seus irmãos já revistos por aqui – o Craigellachie 13 anos e o Royal Brackla 16 anos – e perfeito para aqueles que apreciam um whisky leve e bastante floral. Se você gosta de maltes delicados, ou se é um fã dos Dewar’s, este desconhecido certamente lhe agradará.

AULTMORE 18 ANOS

Tipo: Single malt com idade definida (18 anos)

Destilaria: Aultmore

Região: Speyside

ABV: 46%

Notas de prova:

Aroma: Floral, cítrico, ervas (as lícitas…).

Sabor: Herbáceo, levemente cítrico. Floral. Final médio e floral.

Disponibilidade: Duty Free de embarque internacional/lojas internacionais