Visita à Yamazaki – Kaitenzushi

Eu sabia que existia. Mas, quando vi ao vivo, fiquei meio embasbacado. Pequenas porções de sushi em pratos nanicos, de todas as formas e cores, girando sobre uma esteira oval, como se fossem malas em um aeroporto. Ao redor da esteira, do lado de fora, clientes operando tablets e retirando os diminutos pratos de seu infinito looping. Do lado de dentro, um rapaz japonês, adicionando pedacinhos de peixe cuidadosamente cortados sobre montinhos de arroz. Era meu primeiro dia no Japão, e havia resolvido conhecer um Kaitenzushi.

É esse o nome que dão por lá para um estilo bem famoso de sushi – que em inglês, chamam de “conveyor belt sushi”. Apesar de parecer uma cena de algum filme futurista, os famosos “sushi de esteira” – como seria nossa melhor tradução – são, na verdade, os restaurantes mais acessíveis da espécie. E isso tem uma razão. A interferência humana é quase inexistente. Os comensais fazem seus pedidos usando uma espécie de iPad – caso queiram algo específico – ou simplesmente retiram os pratos que vagarosamente desfilam às suas frentes. O arroz é feito e porcionado por máquinas. O chef só coloca o peixe em cima. Até para pedir a conta, não precisa levantar a mão ou fazer o sinal universal da assinatura no ar. É só clicar na tela.

Tem uns que vem de shinkansen até

O mérito gastronômico dos kaitenzushis é contestável. Eles foram originalmente criados em meados de 1950, por Yoshiaki Shiraishi, que se baseou no modelo de linha de produção de cervejas. O objetivo era reduzir custos. Substituindo os bem remunerados chefs por máquinas, Yoshiaki conseguiu aumentar a velocidade de produção e reduzir o preço do alimento. Mas, tirou também algo que os comensais mais gourmetizados sentem falta. A experiência individualizada. A esteira não te pergunta se tá gostoso, ou qual sua preferência. É uma linha de produção. Bem gostosa, por sinal. Mas, uma linha de produção.

Quando, uma semana depois, concluí minha tão aguardada visita à Suntory, me relembrei dos Kaitenzushis. É que a visita – para nós, seres humanos comuns – é tão deliciosa quanto automatizada. O agendamento deve ser feito online. Os tours acontecem de hora em hora, e são levados a cabo em grupos de até vinte pessoas. Mesmo assim, garantir uma vaga não é fácil. A lista de espera é de quatro meses. Como eu, brasileiro que sou, tenho meu horizonte de planejamento de duas semanas, tive que recorrer a um artifício. Comprei o tour indiretamente, num desses sites de experiência para turistas. E não, ter um blog não ajuda. A Yamazaki é o centro de peregrinação dos blogueiros de whisky no Japão – não fosse a cordialidade japonesa, haveria uma fila preferencial para quem não é influencer de whisky.

Centro de visitantes

Chegando lá, fomos recepcionados – eu, a Cã e mais doze pessoas – por uma simpática guia, que contou a história da destilaria em japonês, enquanto um audioguide com fone traduzia para o inglês o que, teoricamente, ela falava. De acordo com a maquininha, a Yamazaki foi a primeira destilaria do Japão. Ela foi instalada na convergência dos rios Uji, Katsura e Kizu, por conta da qualidade de sua água. Eu, entretanto, sabia que havia outra razão. Shinjiro Torii, fundador da Suntory e da Yamazaki, morava em Osaka. E sabia que o futuro do whisky japonês estava nos grandes centros urbanos, de Kobe, Osaka, Kyoto e Tokyo. Navegar pela força gravitacional daquelas cidades era importante.

Ainda que não tenha sido mencionado – ao menos na língua ocidental – é interessante notar como aquela localização é especial. O espaço fora outrora um grande templo budista. Daí, alguns arcos Torii, com altares xintoístas nas redondezas. Fora lá, também, que o mestre de chás Sen no Rikyu refinou sua cerimônia, antes de apresentá-la a Hideyoshi. O espaço é histórico, sagrado. Mas é também uma fábrica.

Seguimos o tour pelos mash tuns e washbacks. A Yamazaki possui um par dos primeiros, enormes, feitos de aço. O wort é clarificado antes de ser adicionado nos washbacks. Aqui, meu audioguide-kaitenzushi explicou, de forma muito didática, que a fermentação leva em torno de 72 horas. Dois tipos diferentes de levedura são usadas. Distiller’s Yeast, que permite ganho alcoolico rápido, e Brewer’s Yeast, que traz complexidade por conta dos subprodutos da fermentação. O Wash é então carregado nos alambiques. É aqui que temos a maior diferença com as destilarias ocidentais.

Stillhouse

Ao contrário de uma Laphroaig ou The Macallan, a Yamazaki não possui apenas um formato de alambique. Mas diversos. A ideia não é criar um estilo único de single malt, “marca registrada” da destilaria. Mas o número mais diverso de single malts possíveis. Isso tem a ver com a concepção da Yamazaki. Shinjiro Torii jamais pensara em comercializar seus single malts. Isso aconteceu bem mais tarde, só na década de oitenta. A função da Yamazaki era produzir whiskies para compor blends – como o Shirofuda, primeiro whisky do grupo, ou o clássico Kakubin. Para isso, alambiques que produziam destilados distintos eram a chave.

A destilação da Yamazaki têm, entretanto, um traço bastante marcante. O aquecimento por fogo direto em seus wash stills. Atualmente, quase nenhuma destilaria escocesa utiliza o método. Preferem o vapor, que é mais seguro, aquece o alambique por igual, e evita deposição de matéria orgânica caramelizada na base do pote. Aqui, o Kaitenzushi foi substituído pelo Omakase. A eficiência e custo não soam tão importantes quanto a tradição. O aquecimento por fogo direto produz um new-make mais carnudo. Sempre foi assim, e sempre funcionou. Trocar não faria sentido. Quem me explicou isso não foi o audioguide. Eu já sabia, graças a um maravilhoso livro de Dave Broom.

Seguimos para os armazéns. Enormes dunnage houses, criadas ao estilo escocês. Lá, meu audioguide explicou sobre o angel’s share, e fez até a piadinha clássica sobre a cobiça dos anjos. Dei uma risada pela intervenção humorística. Acho que já estava humanizando a maquininha. A taxa de evaporação da Yamazaki é superior a 2% ao ano. A maturação é distinta da escocesa, também. Ela ocorre um pouco mais rápido, devido à maior variação térmica da região, se comparada à Escócia.

Barricas da Yamazaki

Senti vontade de perguntar sobre a reutilização das barricas, e a procedência do vinho tinto e jerez utilizado. Mas o aparelho não me deu ouvidos. Recorri, mais tarde, novamente à literatura de Dave Broom. Os barris de vinho são provenientes de Bordeaux, onde a Suntory detém o famoso Chateau Lagrange. Os de jerez são encomendados especialmente de diversas bodegas. Bourbon, bem, o nome Beam-Suntory já denuncia a procedência.

Por fim, chegamos à sala de degustação. E qual minha surpresa ao constatar que o lugar parecia, justamente, um sushi de esteira. Cabines individuais, separadas por uma barreira de acrílico, todas voltadas para a guia, que, de dentro de uma cabine – também de acrílico – explicava como degustar os whiskies, com o auxílio de um microfone. Pode parecer agressivo, mas, na verdade, foi delicioso. Yamazaki maturado em carvalho europeu, outro em americano. E, por fim, a mistura das barricas pronta.

Me levantei, e junto com meu grupo, seguimos para o famoso espaço do balcão. Aquele, que todo mundo faz foto, com centenas de amostras diferentes dos whiskies, preenchendo as paredes. Até aqui, estava em dúvida se a passagem de trem teria compensado a visita. Qualquer dúvida se esvanescera lá. Pudemos provar – claro, mediante um investimento ridiculamente baixo – whiskies muito especiais. Yamazaki e Hakushu 25 anos, Yamazaki Mizunara, Hakushu 18. Finalmente, o Kaitenzushi dera espaço para o Omakase.

Degusta

Sem falar uma palavra em japonês – e sem ser indagado de nada, também – agradeci meio que mecanicamente “arigatou”. Passei pela porta, atravessei novamente as cinco linhas de trem que separam a destilaria da cidade, e segui para a estação. Tudo levara duas horas, mas já estava faminto. Pensei em comprar um bentô, para comer no trem, mas a viagem era curta demais. Onde jantaria? Num kaitenzushi, sem a menor sombra de dúvidas.

Especial de St Patrick’s – Irish Maid

Este é um post especial de St Patricks. Eu poderia falar, mais uma vez, de São Patrício. Comentar que ele é o padroeiro da Irlanda, e que o consumo de álcool durante as festividades em sua homenagem teve origem em uma restrição etílica no século dezessete. E depois falar tudo que o país tem de característico, como trevos, o Colin Farrell e uma dezena de escritores geniais. Mas, não vou fazer isso, porque já falei nos anos anteriores. Hoje, vou falar de pepino.

Pepino, facilmente, é meu vegetal de dupla conotação preferido. Ele dá um pau na beringela e arregaça a cenoura em benefícios, versatilidade e sabor. Pepinos, por exemplo, te deixam hidratado. Eles possuem 96% de água, que é inclusive mais nutritiva do que água normal. Além disso, cotém um punhado de vitaminas. O vegetal cilíndrico é tão pica (ops) que você nem precisa comer ele. Colocar uma fatia na pele ou nos olhos ajuda a aliviar dores de queimaduras e olheiras.

Se você for um gato, talvez não goste. Veja aqui.

Além disso, ele fica uma delícia num sanduíche, com coalhada ou cream cheese. Em conseva, nem se fala. Introduza um pepino em conserva em seu sanduíche ou hambúrguer para uma versão muito melhorada do lanche. Naturalmente, com tamanha polivalência culinária, em algum momento, alguém pensaria em enfiar o pepino em um coquetel. E foi justamente isso que Sam Ross – o mesmo cara que inventou lendas como o Penicillin e Paper Plane – fez, com seu Kentucky Maid.

O Kentucky Maid leva bourbon, limão, xarope de açúcar, hortelã e pepino. Por ser refrescante e fácil de fazer, o drink alcançou fama rapidamente. E como tudo no mundo da coquetelaria que faz muito sucesso, gerou uma pletora de variações. Por exemplo, ao trocar o whiskey por gim, tem-se o London Maid. Rum, Cuban Maid. Single malt japonês, bom, aí é nada – só mostra que você é rico e estúpido o suficiente para usar um malte japonês num coquetel que não precisa de malte japonês. Mas, enfim. Introduzindo Irish Whiskey, temos o tema desta matéria. O Irish Maid.

Na opinião deste Cão o Irish Maid é superior ao Kentucky Maid por alguns motivos. Primeiro, o drink é essencialmente refrescante. Utilizar um whiskey mais pesado, carregado de sabor ou adocicado, como a maioria dos bourbons, reduz sua drinkability. Portanto, Irish Whiskey é uma escolha perfeita. Além disso, por ter um perfil mais delicado, o destilado faz com que os outros elementos do coquetel se sobressaiam – e o afasta um pouco da óbvia comparação com o whiskey sour ou o Mint Julep.

Fora do Brasil, temos muitas opções de Irish. Por aqui, só Jameson.

É importante notar uma adição à receita do Irish Maid. Licor de Elderflower. Para reequilibrar o coquetel, usa-se meia dose de St. Germain. Em suas pesquisas, este Cão não localizou a origem dessa adição. Entretanto, recomenda que se use o licor – ele evita que o coquetel se torne excessivamente doce, se você aumentar o xarope de açúcar, ou muito cítrico. Bem, sem mais, coloquem seus pepinos em riste para um coquetel simples e refrescante, perfeito para o St. Patricks Day brasileiro. O Irish Maid.

IRISH MAID

INGREDIENTES

  • 60ml Irish Whiskey (este Cão usou Jameson)
  • 22,5ml xarope de açúcar
  • 22,5ml suco de limão siciliano
  • 15ml licor de elderflower
  • 2 fatias de pepino para amassar, mais duas para guarnição
  • parafernália para amassar e bater

PREPARO

  1. Amasse duas fatias de pepino dentro de uma coqueteleira
  2. na mesma coqueteleira, adicione os ingredientes líquidos. Bata vigorosamente com bastante gelo
  3. desça, com coagem, o coquetel num copo baixo, com bastante gelo
  4. decore com outras duas fatias de pepino.

A história da Glenfiddich – Família

Ter filhos é uma delícia, mas dá trabalho. Ao menos na idade dos cãezinhos, com seus oito e seis anos. Me disseram, entretanto, que depois piora. Dizem que os problemas vão crescendo junto com a pessoa. O que me parece apenas parcialmente coerente, porque, parei de crescer lá pelos quinze, mas meus problemas seguiram espichando, como se tomassem quantidades imprudentes de GH, até meus atuais trinta e oito. Mas, enfim.

Tento ensiná-los, na medida do possível, sobre responsabilidade. Atribuo tarefas simples – limpar o quarto, arrumar um canto bagunçado da sala. Até às vezes me dou ao luxo de pedir alguma coisa por capricho. Ei, filhota, traz uma água com gás pro papai. Incumbências simples, cujo foco é mais didático do que, efetivamente, prático. Em outras palavras, sendo mais direto, não vou chegar pro meu filho de seis anos e falar “bicho, constrói aí uma casa no lote da vovó e depois mete dois alambiques lá“.

Mas, foi justamente isso que William Grant fez, com seus nove filhos. William era gerente da Mortlach, outra famosa destilaria de Speyside, em meados de mil e oitocentos. Em 1886, decidiu abandonar sua posição, e começar sua própria destilaria. Economizou bastante dinheiro, e teve a sorte de conseguir comprar antigos alambiques da Cardhu, na época que Elizabeth Cumming reformava sua destilaria – falaremos dela em outra oportunidade.

William ao lado de sua esposa, Elizabeth – que não é a Cumming

Havia, entretanto, a questão da mão de obra. A maior parte dos empreendedores etílicos da época, destemidos fundadores das destilarias que hoje amamos, eram financiados por terceiros. Pense que construir uma casa é caro. Uma destilaria inteira, mais ainda. William, entretanto, teve uma ideia mais pragmática. Comprou o material, mas usou sua prole – e esposa – como mão de obra. A Glenfiddich foi inteiramente construída à mão pela família de William.

Apesar de provavelmente ter pouco talento como pai, Grant compensava como destilador. No natal de 1887 o primeiro new-make spirit saiu dos alambiques da nova Glenfiddich. E, em pouco tempo, tornou-se febre entre os apaixonados por whisky. Tanto é que rapidamente teve sua produção inteira comprada pelo blender William Williams, de Aberdeen. O sucesso fez com que ele criasse uma empresa, a William Grant & Sons, que permanece no controle da Glenfiddich até hoje.

Durante quase um século a produção de Glenfiddich foi dedicada aos blended scotch whiskies, especialmente o Grant’s. Foi por conta dele que, poucos anos depois de fundar a Glenfiddich, William convocou novamente seu exército familiar para construir outra destilaria. A The Balvenie. Ela foi criada num terreno adjacente à Glenfiddich, em 1892, e era conhecida como Glen Gordon. Seu objetivo era complementar a produção da Glenfiddich, trazendo volume de maltes para criação de blends.

A Glenfiddich em seus primeiros anos

A dedicação e teimosia de Grant trouxeram resultados. O grupo crescera bastante. Tanto que em 1923, aumentou ainda mais sua produção, em resposta à Lei Seca Norte-Americana. Parecia contra-intuitivo, mas Grant Gordon, neto de William, apostava que a lei cairia em poucas décadas, e pretendia ter um estoque de qualidade pronto para atender aos americanos com sede. Apesar de arriscada, a manobra somente foi possível porque Grant’s era financeiramente sólida.

De Grant Gordon, o grupo passou pra Charles Gordon, bisneto de William. Este seguiu com a expansão da destilaria. Desta vez, sem utilizar mão de obra familiar. Insistiu em manter um grupo de trabalhadores especializados em produção e reparação de alambiques na destilaria, e fundou uma tanoaria própria. Algo importante para manter o padrão e disponiblidade de seus whiskies.

Por enquanto, o grupo comercializava apenas blends. Foi apenas em 1963, que Sandy Gordon, bisneto de William Grant, engarrafou o precioso líquido produzido por sua família em Glenfiddich, e levou para Nova Iorque para apresentar ao maior mercado dos blended scotch whiskies do mundo naquela época. Foi um sucesso total. Estava criada a hoje mundialmente conhecida categoria dos Single Malt Scotch Whiskies.

Aqui, há uma curiosidade interessante, e um ponto de tangência entre a Shell, Martini, o metrô de Londres e a Glenfiddich. Hans Schleger. Ele era um designer gráfico modernista e diretor artístico, que emigrou para o Reino Unido na década de 30, fugindo do antisemitismo na Alemanha. Schleger foi o responsável por desenhar posters famosos para Shell e Martini, e por atualizar o sistema de placas do sistema público de transporte de Londres. Foi ele também que concebeu a famosa garrafa triangular da Glenfiddich.

A ideia surgiu, na verdade, da necessidade. Havia uma disputa por whiskies de grão no mercado – que, como você sabe, são elementos imprescindíveis para a produção de blends. Isso fez com que Sandy tomasse duas medidas. A primeira, algo já comum para a família Grant. Construir uma destilaria. Desta vez, uma destilaria de grãos, localizada nas lowlands escocesas. A Girvan.

A segunda medida foi a comercialização de Glenfiddich como um single malt. Mas não apenas engarrafando seus whiskies de forma aleatória. Sandy investiu em propaganda, buscando criar uma marca global ao redor de seu malte. Em 1960, Glenfiddich se tornou um dos primeiros whiskies da categoria a ser vendidos em Duty-Frees. Para fortalecer ainda mais a marca, em 1969, o grupo constrói um centro de visitantes na Glenfiddich. O primeiro da Escócia. O espaço – que foi ampliado em 2005 – permite que turistas e entusiastas façam tours guiados pela destilaria, entendendo seus processos e, acima de tudo, suas singularidades.

Como é de se imaginar, tamanho sucesso demandava produtos. E mesmo trabalhando no limite, a Glenfiddich, da forma que era, não conseguia atender à crescente demanda. Assim, em 1976 a destilaria passou por uma expansão bastante generosa. Foram instalados dezesseis novos alambiques. Ao contrário da tradição, porém, nenhuma prole da família Grant envolveu-se na parte construtiva da empreitada. Desta vez, o papel foi de supervisão.

As décadas subsequentes trouxeram ainda mais sucesso à Glenfiddich. Em 1991, lançaram um dos mais raros whiskies já produzidos. O Glenfiddich 50 anos, resultado de três barricas preenchidas na década de 30. Oito anos depois, instalaram um enorme ofurô de madeira dentro da destilaria. Mas, ao invés de banhos termais, a ideia era maturar whiskies. Foi a inauguração de sua atualmente famosa Solera Vat – utilizada em certos whiskies do portfólio da destilaria – o mais famoso, o Glenfiddich 15 anos.

Atualmente, o grupo William Grant & Sons é enorme. Possui cinco destilarias na Escócia. Quatro de malte – Glenfiddich, Balvenie, Kininvie e Ailsa Bay – e uma de grãos, a Girvan. Além disso, comandam também a Tullamore, na Irlanda, e as marcas Sailor Jerry Rum e Hendrick’s Gin. Outros blended whiskies também foram lançados. Destaque para o blended malt Monkey Shoulder – um dos mais famosos da categoria.

E ainda que seja atualmente um conglomerado multimilionário, a empresa jamais saiu das mãos de seus fundadores. A família Grant – aquela, que construiu, a mão, as paredes de uma pequena destilaria escocesa. Tudo começou com a delícia de ter filhos.

Oscars 2023 – Relacionando filmes e Whisky

Este é um post sazonal. Para ler as edições passadas, de 2017 , 2018 e 2020 clique nos mencionados aqui.


Todos somos, em algum nível, hedonistas. O que mais muda, é a espécie de prazer. Não sou muito de grandes festas. Nem de shows. E ainda que adore sair, tenho uma séria tendência à eremitania. Aliás, tive que abrir um bar para descobrir o quanto eu gosto de ficar em casa. E nesse clima, facilmente minhas atividades preferidas são beber e ver filmes. Daí que surgiu a primeira edição deste post. De minha necessidade de relacionar duas coisas que amo mas não tem relação direta.

Quer dizer, médio. Provar um whisky novo é, de certa forma, como assistir um filme. Há uma abertura – seja ela metafórica ou física – que eleva, ou reduz, todas as expectativas. Já as primeiras imagens, assim como o aroma, indicam a atmosfera que encontraremos. E à medida que a história se desenrola e tomamos o primeiro gole, os pequenos detalhes aparecem. Referências, sentidos. Aroma e paladar em um, luz e som no outro. É quase complementar.

A verdade é que a arte e a bebida têm mais em comum do que imaginamos. Ambas exigem paciência, dedicação e precisão para se alcançar a perfeição. E é exatamente isso que vamos explorar hoje, nesta jornada sensorial que une a sétima arte ao universo dos whiskies. Escolhi quatro filmes indicados aos Oscars de 2023 – dessa vez, vi todos! – e os relacionei com seus pares líquidos.

Prepare-se para degustar os sabores mais refinados do cinema. Ou não.

Top Gun: Maverick

Antes de mais nada – inclusive, antes de assistir o filme – é importante deixar uma coisa clara. Top Gun: Maverick, não é sobre aeronaves. Ou guerra, ou bombas. Ou o clássico deus-ex-machina, drones versus talento humano ao comandar um caça. Estes elementos são meras formalidades para ressaltar seu real tema. O Tom Cruise.

E tudo bem, porque o cara, com sessenta anos de idade, dispensou dublês e assumiu um papel que ele mesmo, trinta e cinco anos atrás, provavelmente faria pior. Ou não. Se você pensar, há também outro tema escancarado: o poderio bélico das superproduções cinematográficas norte-americanas. Top Gun: Maverick só poderia mesmo ser feito nos EUA. Não faria sentido qualquer outro país produzi-lo. Por isso, ele é, o que seria Tom Cruise se fosse whisky. Jack Daniel’s.

Banshees of Inisherin

Banshees of Inisherin é dirigindo por Martin McDonagh – o mesmo cara de Three Billboards e In Bruges. E, na opinião deste Cão, bem melhor do que eles. Ele conta a história de dois irlandeses que vivem na ilha imaginária (não para o filme) de Inisherin. Padraic (Colin Farrell), é um criador de gado, e Colm (Brendan Gleeson), um violinista taciturno.

Inisherin não é exatamente um lugar fervilhante, cheio de coisas para fazer. Então, Colm e Padraic passam as suas tardes na estalagem local – eu não chamaria aquilo de um pub – bebendo Guinness e fazendo small talk. Fizeram isso por anos, até que Colm, unilateralmente, declara que não gosta mais de Padraic. Este, incrédulo, começa uma campanha para ganhar novamente a amizade do músico – com resultados um tanto improváveis.

O filme apresenta uma série de discussões interessantes, como mortalidade, isolamento, solidão, ego e herança – cultural, mais do que material. Há um ar de fábula, também, e um leve toque histórico. Mas é a construção dos personagens e o cenário inegavelmente irlandês que ganham o espectador. Se Banshees fosse um whisky, seria um Redbreast – irlandês raiz, com um toque de refinamento e uma leve irreverência. Jameson? Não vejo Colm e Padraic num festival de música megalomaníaco.

Avatar: O caminho das Águas

Quinze minutos. O que matam, são os quinze minutos, porque depois de três horas assistindo um filme sobre smurfs aquáticos, cada segundo da sua vida é precioso. Não há nada novo sobre Avatar: O Caminho das Águas. O papo é o mesmo de 2009, assim como os efeitos visuais – que eram ótimos e melhoraram substancialmente, mas, agora, não impressionam tanto mais.

Mas o filme tem seus predicados, também. Ele é feito para agradar a todos. E apesar de durar uma era geológica (será que Pandora já continua um megacontinente?), consegue atingir seu objetivo. Com duas horas a menos, seria bem divertido. Ele é didático, também. Por exemplo, quando um personagem está animado, ele faz “woohoo”. Quando fica aborrecido, grunhe. Por conta de sua didática, e da tentativa de agradar a todos, diria que Avatar é um Buchanan’s 12. Mas que fique claro – prefiro muito mais beber o whisky do que rever essa obra. A primeira, eu faço sem esforço.

Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo

Eu tenho opiniões relativamente impopulares, como, por exemplo, não ser fascinado por Nutella, não ligar muito pra pizza e detestar frango, mesmo aquele frango da televisão de cachorro. Mas acho que essa corre o risco de causar mais polêmica. Eu me esforcei muito para gostar de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo – doravante simplesmente referido como “Tudo”, para fins sintético e estéticos deste texto – mas não rolou.

O filme tem vários elementos legais. A temática inclusiva, por exemplo. E as referências cinematográficas: 2001, Matrix, os Goonies e até “In The Mood for Love” de Wong Kar-Wai. Mas, é também justamente o que o título prega. É uma farofa que se espalha por sua duração de uma forma meio maluca, sem sentido e acaba virando um troço automaticamente e imediatamente esquecido no momento que os créditos começam a rolar.

Se fosse um whisky, Tudo não seria um só. Seriam vários. Tipo aquela infinity bottle, que você fica misturando os restinhos das suas garrafas. Tem single malt, tem bourbon, tem whisky defumado, tem blend. É gostoso, é divertido, mas é também uma bagunça meio sem sentido.

6 perguntas para Luciana Lamas – Sócia da Lamas Destilaria

Publicado originalmente em 1969, o livro mais famoso de Mario Puzo permaneceu no topo dos Best-Sellers do New York Times por mais de um ano. Foram vendidas mais de dez milhões de cópias. A obra também deu origem a uma notável trilogia de filmes, que talvez você conheça. Eu nem preciso falar o nome, assistir é quase uma oferta que não se pode recusar.

A dúvida de Michael em assumir os negócios da família é justificada. Especialmente porque envolvem traição, manipulação, chantagem e assassinato. Apesar disso, o rapaz parece ter um talento nato para o ramo, com frieza e calculismo. Tradição era a chave, mas a inovação trazida por Michael foi a que garantiu a sobrevivência de sua família num ramo bem pouco ortodoxo.

No caso da Lamas Destilaria, fundada por Marcio Lamas em Minas Gerais, a transferência da batuta foi bem mais tranquila. Afinal, a natureza do negócio envolvia entusiastas de whisky, e não a máfia siciliana. Inobstante, há uma dificuldade latente. A de seguir com a tradição da destilaria, mas procurar sempre inovação.

Um dos primeiros engarrafamentos do Lamas Nimbus

E é exatamente isso que vamos conhecer hoje. Nessa entrevista com Luciana Lamas, sócia da destilaria, vamos descobrir como a tradição familiar se mistura com inovação para produzir o que este Cão poderia definir como “craft whisky brasileiro”. Então, pegue um copo, sente-se confortavelmente e prepare-se para uma viagem pelo mundo das tradições familiares. E do whisky, óbvio.

Luciana, um prazer ter você aqui hoje conosco, neste auditório virtual! Me conta um pouquinho sobre a Lamas? Como surgiu a ideia de abrir uma destilaria de whisky?

Ei Maurício! Obrigada por me receber aqui. O prazer é meu (só é uma pena que não dá para tomar um “Deus e o Diabo” enquanto batemos esse papo, haha).

Bom, falar da Lamas é algo que me emociona e me enche de orgulho. Nós somos uma destilaria familiar mineira que surgiu inicialmente como um hobby a partir da união de 3 irmãos por uma paixão em comum: as bebidas, mais precisamente o whisky.

Tudo começou de forma bem amadora, mas o perfeccionismo e o desejo de se desafiar são traços de família que acabaram por transformar essa aventura no que hoje é uma empresa séria e comprometida com um vasto portfólio de bebidas destiladas que já somam mais de 50 prêmios conquistados nos mais diversos concursos ao redor do mundo. De todos essas premiações, mais de 40 pertencem aos nossos whiskies!

Como você se envolveu na Lamas?

No início de 2019 eu percebi que a Lamas estava começando a nascer enquanto negócio e que o que se originou como um sonho de 3 irmãos precisaria contar com o apoio de mais pessoas. Quando eles optaram por dar o sobrenome da família à empresa foi como se eu ouvisse um chamado! Foi nesse momento que eu me envolvi, inicialmente assumindo a parte do digital com as mídias sociais e, posteriormente, assumindo também o marketing e o e-commerce.

A responsabilidade dobra de tamanho uma vez que hoje os 3 fundadores passaram o bastão para mim e meus irmãos. Nós temos uma longa trajetória pela frente e muito o que aprimorar para sofisticar ainda mais a nossa operação e potencializar a experiência do nosso consumidor com a nossa marca e produtos. Cada nova conquista nos motiva a querer, cada vez mais, compartilhar a nossa história e produtos com outros apreciadores da bebida.

Alguns whiskies da linha permanente da Lamas, com nosso Caledonia III.

Qual a maior dificuldade de uma destilaria de whisky no Brasil?

O segmento de bebidas é brutalmente competitivo e o mercado é, de forma geral, dominado pelas grandes marcas.

Nós somos uma destilaria muito pequena de modo que a economia de escala é bastante desfavorável quando nos comparamos com as gigantes multinacionais do segmento de bebidas. Alia-se a isto a alta carga tributária sem incentivos fiscais no caso das destilarias nacionais. Tudo isso torna a disputa por mercado e espaço nas prateleiras algo extremamente moroso.

Contudo, é incrível ver que existem pessoas e empresas que estão vorazmente interessados no trabalho que fazemos aqui e que mesmo com tantas marcas tradicionais e consagradas há espaço para o que é novo e diferente. Poder ser um dos agentes disruptivos causadores dessa quebra de paradigma e ajudar a colocar o Brasil no mapa dos produtores de whisky tem valor imensurável.

Defina pra gente em umas poucas (ou muitas!) frases a Destilaria Lamas. Qual a essência da Lamas?

A Lamas prima pelo novo, sem abrir mão da qualidade. Eu diria que a ousadia está no nosso DNA e, por isso, fazer o mesmo que a Escócia já faz tão bem há mais de 500 anos, nunca foi uma opção. O caminho que mais nos atrai é a inovação, a raridade. O compromisso de atingir padrões sensoriais de excelência e que satisfaçam o gosto dos nossos seletos e exigentes clientes.

Além disso, estamos em um estado que tem como marca a qualidade e tradição. Minas Gerais se destaca na produção de bebidas e comidas, na cultura e no artesanato. Essa raiz da qualidade, do valor da produção artesanal, da busca pela perfeição é algo que vimos desde cedo em nossa família e entorno. É com esse cuidado que produzimos tudo aqui. Das montanhas de Minas, já saíram muitas joias e queremos produzir aqui ainda mais raridades.

Alambique da Lamas

Atualmente, a Lamas tem um portfólio bem diversificado. Rum, whisky, gim. Vocês tem planos de expandir este portfólio no futuro?

Sim! Muitos planos, inclusive. Além de nos propormos a trazer sempre alguma inovação em edições limitadas, especialmente na nossa linha de whiskies, uma outra vertente que já estamos testando são as bebidas mistas (tipo licores) e drinks prontos para consumo (RTDs). Ainda são “cenas dos próximos capítulos”, então não vou me delongar muito por enquanto.

Last, but not least. Qual seu produto preferido da Lamas?

Essa pergunta acaba comigo sempre! Haha Vou revelar um “segredo” que talvez não seja tão secreto assim… Eu, particularmente, não tenho o hábito de consumir bebida alcoólica, especialmente destilados. Nesse sentido, eu sou mais da turma do vinho e do espumante.

Contudo, eu frequentemente degusto os rótulos da Lamas (ossos do ofício) e sempre que tenho a oportunidade de ir ao Caledonia me divirto com a carta de drinks (talvez esse seja um momento propício para lembrar o amigo leitor: coma o seu garnish), mas devo admitir que o rum Norma Ouro tem um lugar especial no meu coração!

Coma seu garnish SEMPRE! Exceto se ele for algodón. Muito obrigado por seu tempo, Luciana! Na próxima, será com nosso Deus e o Diabo!

Wild Side – Film Noir

eu não me importo em ter uma quantidade razoável de encrenca” disse Samuel Spade, o investigador vivido por Humphrey Bogart em O Falcão Maltes. Este filme, junto com “The Big Sleep”, foi o embrião do film noir. A receita, hoje, é conhecida – há um tênue cordão invisível que liga todos os elementos, e que se torna evidente apenas no momento final. Um assassinato misterioso. Um detetive ébrio e com problemas de sociabilização. Uma grande cidade, controlada por uma elite corrompida e gananciosa. E tudo de bom: medo, culpa, cinismo, paranoia, insegurança e desolação.

Apesar do cenário macambúzio (vai lá investigar), há algo de reconfortante nos film noir. Gostamos de mistérios e soluções. Observar uma enorme conspiração ser cuidadosamente desvendada por um detetive resoluto – mesmo que tal perseverança às vezes tenha como combustível o álcool – é catártico. Do clássico americano Falcão Maltês ao coreano neo-hitchcockiano Decision to Leave. Vista do sofá, a quantidade razoável de encrenca é uma delícia.

Apesar da sujeita, escovar os dentes é importante também no genero noir.

Eu, como um cinéfilo apaixonado pelos dois gêneros – noir e investigativo – também não me importo de ter uma quantidade razoável de encrenca. Ainda mais quando o objeto de minha investigação é líquido. E, quando recebi, sexta-feira pela manhã, misteriosamente, uma garrafa de um whiskey americano chamado Wild Side, sabia – assim como Spade – onde estava me enfiando. Um entusiasta e um whisky misterioso, recém-chegado à lúgebre metrópole paulistana. Ah, é disso que os sonhos são feitos, diria um famoso detetive.

Primeiro, ao que sabemos do mistério. O Wild Side é um corn whiskey americano. E só. De onde veio, quem o produziu e como são mistérios à altura de um Sportello. Procurar por seu nome na internet, ou interrogar possíveis suspeitos por sua chegada traz pouco esclarecimento. Mais curioso, ainda, o fato de que não há no rótulo frontal, claramente, quem é o produtor de tal artefato. Coube a este Cão farejador descobrir. Leia até o final, porque há uma teoria interessante!

Um pequeno preâmbulo para endereçar a dúvida latente, mas silenciosa. O Wild Side é um corn whiskey, mas não um bourbon. A legislação americana – talvez num momento de inspiração brasileiro – sobre o assunto é confusa. A definição de corn whiskey possui uma intersecção com a de bourbon. Ocorre que, de acordo com o Code of Federal Regulations “bourbon” deve possuir 51% ou mais de milho em sua mashbill. Corn whiskey, por sua vez, tem seu mínimo estabelecido em 80%.

Outros Corn Whiskeys (mais) conhecidos

A lógica diria, então, que, de cinquenta e um a oitenta por cento, temos bourbon. De oitenta para cima, corn whiskey. Seria lindo e tão límpido quanto everclear (já chegaremos lá, guarde essa pista). Entretanto, não é assim. Bourbon pode ter qualquer percentual de milho, de cinquenta e um a cem por cento. Corn, de oitenta a cem. O que os separa, na verdade, é a regra da barrica.

Bourbons, de acordo com o Code of Federal Regulations, devem ser maturados em barricas de carvalho americano virgens e torradas. Corn whiskey não. Corn whiskey pode maturar em barricas que antes contiveram bourbon – o que é mais comum. Ou em barricas virgens não torradas – o que é bem maluco, e desafia a razoabilidade de um sujeito que queria vender algo assim, por isso, quase não existe.

De volta ao mistério. Resolvi recorrer à primordial fase bucal para seguir com minhas investigações. Abri a garrafa e servi uma dose. O aroma é adocicado e alcoolico. Na boca, há notas de caramelo, mel e baunilha. É pouco apimentado – menos do que um bourbon médio – o que talvez torne seu álcool mais aparente. Observei, com cuidado, a embalagem, enquanto degustava o whiskey.

E foi aí que aconteceu. Como em muitos film noirs, a pista mais preciosa estava evidente desde o começo. O rótulo lateral do whiskey. Ele diz, em letras bem diminutas, que fora produzido pela Clear Springs Distilling Company, localizada em 10101 Linn Station Road. Pouco conclusivo, ainda. Graças à tecnologia (obrigado, Google Maps), porém, descobri que o endereço, pertence à Sazerac Company. Então a Clear Springs pertence à Sazerac! Ah, essa é parte da solução! A grande corporação! Mas, de onde veio o whiskey?

Um pouquinho mais de pesquisa revela que a destilaria tem também outros produtos, como um álcool neutro de cereais, com 85% ABV – uma espécie de everclear. E um bourbon, chamado Chestnut Farms. Quase dei um pulo de animação. O Chestnut Farms é feito pela Barton 1792, destilaria localizada no Kentucky, comprada pela Sazerac Company em 2020. Clear Springs é um “nome fictício” utilizado pela Sazerac. E sabe o que mais a Barton 1792 fazia, antes de ser comprada? Pausa dramática.

The stuff dreams…

Um “American Whiskey” chamado Early Times (obrigado, Rodolfo Bob, por lembrar desta maravilha e apresentar a teoria!) Por conta das regras do Code of Federal Regulations, o Early times não era considerado bourbon – especialmente por conta do emprego de barricas previamente usadas. Diz-se que, inclusive, a água usada no Early Times é filtrada em pedra calcário. Imaginem minha surpresa ao ler no rótulo do Wild Side que ele é “destilado dos melhores grãos americanos e finalizado com água de uma fonte filtrada em pedra calcário”.

Como um film noir decente, vou deixar aqui, espaço para dúvida. Mas apostaria em algo próximo do Early Times como a peça central do quebra-cabeças. Respirei aliviado e sentei no sofá com minha generosa dose de Wild Side. O relógio já batia quase dez horas da noite. Fosse um detetive de film noir, jogaria meu chapéu e sobretudo bege no cabideiro e fumaria cigarro com sabor de vitória. Mas, não fumo cigarro, e tampouco acho chapéu e sobretudo uma indumetária razoável para um dia de janeiro em São Paulo. Então, só liguei a televisão e procurei por algo para assistir. Vício Inerente, talvez?

WILD SIDE CORN WHISKEY

Tipo – Corn Whiskey

ABV – 40%

Região: N/A

País: Estados Unidos

Notas de prova

Aroma: adocicado, com bastante baunilha e mel.

Sabor: doce, com mel, baunilha, caramelo e coco.

Drops – Benromach 40 anos

40 anos, first-fill, oloroso, cask strength. As palavras soam como um feitiço para qualquer entusiasta de whisky. A conjunção delas traz quase a certeza que se está diante de algo fora do comum. É o caso do Benromach 40 anos, recentemente provado por este Cão.

Não há nada de ordinário a respeito do Benromach 40 anos. Ele é a expressão mais maturada da linha oficial da Benromach. É uma edição limitada anual, que rende pouco mais de mil garrafas por tiragem. No caso do 2021 – provado por este Cão – foram quatro décadas, desde 1982, maturando em barris de carvalho europeu de ex-jerez oloroso.

A graduação alcoólica é também surpreendente – 57,1% – especialmente considerando sua idade. Scotch whiskies tendem a perder mais álcool do que água durante o processo de maturação. É o famoso angel’s share. Com essa perda, a graduação alcoolica vai se tornando mais baixa. Garantir um ABV alto depende de uma cuidadosa manutenção dos barris.

Foram lançadas pouco mais de mil garrafas mundialmente do Benromach 40, em sua edição de 2021. Apesar da diminuta tiragem, o single malt ganhou prêmio de melhor whisky do mundo em 2022 pela San Fransicso World Spirits Competition. Em sua segunda edição, de 2022, um número semelhante de garrafas foi lançado! Ah, agora sim, vai ser fácil provar esse novamente.

BENROMACH 40 ANOS

Tipo: Single Malt

Destilaria: Benromach

Região: N/A

ABV: 57,1%

Notas de prova:

Aroma: frutas vermelhas, fumaça, especiarias

Sabor: Frutas vermelhas, café, chocolate. O álcool é extremamente bem integrado, apesar da graduação elevada. Final longo, com fumaça e frutas vemelhas.

Visita à Union – Leviatã

Criaturas mitológicas gigantes povoaram a imaginação humana desde tempos imemoriáveis. São a materialização do temor do desconhecido. Seja por mares jamais navegados ou terras nunca desbravadas. A lista é grande, e se alonga pela mitologia, folclore e literatura. Moby Dick, Kraken, Leviatã, Amarok (o lobo, não o carro). Em comum, seu tamanho gargantual, e a incredulidade de quem os supostamente viu em carne e osso.

A Union Distillery, em Bento Gonçalves, talvez seja uma lenda destas, no folclore do whisky brasileiro. Uma destilaria enorme, instalada em um vale cheio de vinícolas, e capaz de rivalizar em tamanho e capacidade com algumas notáveis fábricas escocesas. Parece material de lendas. Mas, neste caso, por mais cafona que pareça esta introdução, é verdade.

Centro de visitantes da Union

Desavisados que desconhecem a dimensão da Union surpreendem-se. Avisados, também. Vista por fora ou por dentro, a Union é um gigante. Ela produz em torno de 1,5 milhões e meio de litros por ano de single malt, com capacidade máxima de aproximadamente 3,5 milhões.

Importante apontar que a Union possui duas destilarias. Uma menor – a primeira a ser construída – em Veranópolis. E uma maior em Bento Gonçalves. Foi esta que visitamos. A destilaria de Veranópolis não destila mais – entretanto, uma parcela do estoque de barricas permanece lá. Boa parte dos whiskies da Union atualmente no mercado, entretanto, ainda utilizam malte da antiga destilaria.

Números apresentados, a primeira impressão é de incredulidade. Uma destilaria daquele tamanho, com tal capacidade produtiva e tecnologia, jamais poderia estar no Brasil. Nosso mercado de single malts é minúsculo, e nada justificaria um leviatã destes. Ocorre, entretanto, que apenas 1% de tudo que a Union produz, vira single malt com sua marca. Boa parte de sua produção é exportada – especialmente para o Japão. Outra parte, torna-se ingrediente na composição de blends e bebidas compostas à venda no mercado brasileiro.

Prédios de produção à esquerda

A operação da destilaria é, também, bem sofisticada. A água provém de três poços artesianos dentro da propriedade da Union. A cevada é, em boa parte, comprada como commodity, de fornecedores brasileiros. A principal delas é a Agrária. Entretanto, a cevada turfada é importada, adquirida de dois produtores. Boortmalt e Castle. Durante a degustação que participamos, tivemos a oportunidade de provar os três new-makes.

Tanto mash tuns quanto washbacks são feitos de aço inox. Os washbacks, inclusive, foram herdados da vinícola outrora instalada no prédio da Union, que encerrou suas atividades e deu espaço à destilaria. Todo processo de produção da Union é informatizado. A transferência do wash, dos washbacks para o wash still, e do wash still para o spirit still. O processo de destilação, inclusive, tem algumas particularidades interessantes, que explico a seguir.

A Union possui três alambiques. Dois wash stills e um spirit still. O spirit still (de segunda destilação) é maior do que os wash stills (de primeira destilação) – o que é bem incomum. Isso justifica-se por reunir as duas parcelas de low-wines da primeira destilação. Um dos spirit stills foi importado da Escócia, produzido pela famosa Forsyth’s. O outro wash still e o spirit still foram fabricados no Brasil, pela Santa Efigênia, com base nas medidas do escocês.

A carga inicial conjunta na primeira destilação é de aproximadamente trinta e dois mil litros de wash, reduzida para dezesseis mil litros de low-wines na segunda destilação. Os dois wash stills alimentam o único spirit still. Após a segunda destilação, com o corte de cabeça e cauda, sobram mais ou menos três mil e quinhentos litros de new-make spirit. O processo é todo informatizado – da transferência dos washbacks até a separação do coração. Este new make é cortado e colocado nos barris, para maturar.

Os armazéns de maturação da Union também surpreendem. São altíssimos, e a maioria dos barris é armazenada na vertical, paletizados. Isso facilita o acesso, e permite que a destilaria economize um espaço precioso em suas dependências. Ainda assim, há alguns poucos barris armazenados na horizontal, como rickhouses. Há todo tipo de barril na destilaria. A maioria começou sua vida maturando bourbon. Há first-fills e refills, e também alguns poucos barris virgens. Há barris de carvalho americano e europeu, e barris que maturaram vinho. Há também uma salinha especial, com experimentos maravilhosos.

Por fim, a Union conta também com um centro de visitantes muitíssimo bem equipado, com um espaço de degustação e uma loja. Lá, o entusiasta pode comprar a linha completa de produtos, e alguns souvenirs exclusivos, como taças de degustação e uma cerveja. Mais especificamente, um Barleywine, produzido sob encomenda para a Union. Como um bom parque de diversões etílico, o tour começa e termina neste espaço.

Nossa degustação foi um tanto fora da curva. Provamos alguns futuros lançamentos, e parte dos new-makes da destilaria. Porém, para evitar qualquer spoiler, ficarei por aqui, com talvez uma conclusão que resuma toda a experiência perfeitamente. A Union parece tema de folclore – mas não é. Desavisados e avisados se surpreenderiam.

Suburban Cocktail – Dos cavalos

Este é um daqueles posts cuja introdução já vem pronta. O Suburban Cocktail tem uma história tão legal, que é desnecessária qualquer digressão introdutória. Entretanto, em nome da coerencia narrativa, meu preâmbulo envolverá cavalos, investimentos em mineração e uma copiosa quantidade de álcool.

Para entender de onde veio o coquetel, é preciso conhecer James Robert Keene. Um britânico expatriado, que se mudou com sua abastada família para os Estados Unidos, em 1852. Sua vida foi relativamente agitada. Keene começou como jornalista, mas abandonou a profissão para investir em mineração. A estratégia deu certo. Em pouco tempo, Robert possuía uma fortuna. Em pouco tempo, mas não por muito tempo. Perdeu tudo que tinha ao diversificar seus investimentos, focando em grãos.

Um distinto colecionador de bigodes.

Entretanto, em 1884, ele fez um retorno extraordinário. Foi contratado pelo investidor William Havemeyer para gerenciar fundos de investimento. Naquele ponto, Keene já conhecia uma ou outra estratégia de manipulação do mercado – como por exemplo espalhar rumores sobre companhias para inflacionar o preço de suas ações. Logo recobrou sua notoriedade, e foi contratado pelo J. P. Morgan e Rockfeller para gerenciar seus fundos.

Apesar de extremamente talentoso, Keene tornou-se notório não por seu trabalho com fundos de investimento. Mas, sim, cavalos de corrida. Vivendo em Nova Iorque, envolveu-se com criação de puro-sangues, e fez um enorme investimento neles. Alguns de seus animais eram ainda mais notáveis do que ele próprio. Os belos Colin, Peter Pan, Commando, Maskette e Sysonby lhe renderam seis vitórias no Belmont Stakes e uma no Preakness Stakes – parte da Tríplice Coroa.

E aí que está o ponto de conexão com o Suburban. Corrida de cavalos era um passatempo muito popular na classe alta de Nova Iorque. Outro destes passatempos – quiçá mais barato – era beber. Naturalmente, em algum ponto, surgiria um ponto de tangência entre os dois. Coquetéis como o Suburban foram criados em homenagem a estes criadores e entusiastas equestres. Em 1935, uma edição do Old Waldorf-Astoria Bar Book explicitou que “coquetéis como Futurity, Suburban e outros celebravam os triunfos de Robert Keene e seus companheiros de corrida, e outros notáveis proprietários de estábulos ou pistas de corridas“.

É importante apontar, como lembrado por Marcelo Sant’Iago, do Top Cocktails, que o Suburban provavelmente foi criado muito antes – provavelmente, antes da Lei-Seca norte-americana. Há registros do Suburban Stakes – a corrida que empresta o nome ao drink desde 1884. A vitória de James Keene é de 1908, de um cavalo chamado Ballot.

Suburban Stakes é uma corrida anual, que acontece em Nova Iorque

O coquetel seria apenas mais uma criação ligada ao mundo equestre, não fosse o grande David Wondrich. Incluiu a mistura em seu Esquire Drinks, e elevou o coquetel a um elixir. Escreveu que “se você pudesse destilar painéis de carvalho esculpido e poltronas, volumes encadernados em couro e mesas de bilhar com três almofadas, isso é o que você conseguiria.” E, de certa forma, a descrição de Wondrich tem pouco de hiperbólica.

O coquetel tem mais ou menos a estutura de um vieux carré, com boas modificações em seus ingredientes. Leva Rye Whiskey, rum maturado, vinho do porto e bitters aromáticos e de laranja. É intenso e oleoso, mas é menos adocicado na língua do que parece no papel. Claro, o equilíbrio dependerá dos ingredientes. A dica deste Cão é utilizar um rum bem puxado para baunilha, ou bastante aromático, como o Havana Club 7 anos. O porto utilizado aqui foi um Niepoort Tawny sem idade. Mas, sinta-se a vontade para testar com o que tiver. Com vocês, o Suburban.

SUBURBAN COCKTAIL

INGREDIENTES

  • 45ml Rye Whiskey
  • 15ml Rum (Havana Club 7)
  • 15ml vinho do porto
  • 1 dash Orange Bitters
  • 1 dash Angostura Bitters
  • Parafernália para mexer
  • taça coupé, de martini ou Nick & Nora.

PREPARO:

  1. Mexa todos os ingredientes num mixing glass com bastante gelo
  2. desça na taça
  3. beba e comemore a vitória de seus cavalos imaginários.

A História da Glenlivet – Dos Abacaxis

Este é o primeiro de uma série de posts eventuais sobre histórias de marcas de whisky. Quando outras matérias surgirem, você poderá acessá-las por aqui.


Hoje fui ao supermercado e vi um abacaxi. Aliás, um não, vários. Pensei em comprar, mas achei caro. Dez reais. Gosto bastante de abacaxi, mas não tenho nenhum grande fascínio pela fruta. Porém, se eu vivesse na Europa do século dezoito, certamente teria uma opinião bem diferente.

É que naquela época o abacaxi era considerado o supra (desculpem-me pela ambiguidade cretina hifenizada)-sumo do luxo. A mera presença da fruta exalava requinte. Muitas vezes, o abacaxi nem era comido – era apenas uma peça de decoração. E quem não podia comprar um, alugava. Mas tinha que tomar cuidado, porque era capaz de algum convidado comer a peça de decoração.

O abacaxi se tornou tão desejado na Europa do século dezoito, que virou símbolo de hospitalidade. Tanto é que muitas mansões construídas naquela época exibiam esculturas de abacaxi na entrada, para dar as boas vindas a seus visitantes. O abacaxi figurou também em brasões, cabeceiras de cama e pratos de porcelana. Imaginem, então, o sucesso que um whisky com notas de abacaxi teria feito.

Bob Esponja esperto

Bom, e foi exatamente o que aconteceu. Em uma época – meados do século dezenove – em que a vasta maioria das destilarias escocesas produzia maltes defumados e oleosos, um cavalheiro chamado George Smith era uma exceção absoluta. Sua destilaria produzia um whisky mias leve e frutado, com notas reminiscentes de pera e abacaxi. Esta destilaria, mais tarde, passaria a ser conhecida como The Glenlivet – que hoje, figura entre as três com maior volume de vendas da Escócia. Vou contar um pouco de sua história.

Diz-se que a The Glenlivet foi fundada em 1823. Mas isso está longe de ser verdade. Sua história começa bem antes, em 1774, quando o pai de George, Andrew Smith, começa a destilar ilegalmente em sua fazenda, a Upper Drumming. Em 1817, Andrew falece, e George herda a atividade informal, por assim dizer, de seu pai.

Neste ponto da história, apesar da ilegalidade, a destilaria de Drumming já era bem conhecida e respeitada. Convenientemente, a lei que proibia a destilação em território Escocês foi alterada em 1823, graças a um movimento encabeçado por um distinto e ébrio nobre, o Duque de Gordon. A partir daquele ano, os alambiques ilegais espalhados pela Escócia poderiam ser legalmente autorizados a destilar em pequenas quantidades, ao comprar uma licença por dez libras – algo próximo de mil e cem libras, considerando a inflação até os dias de hoje.

E uma das primeiras destilarias que comprou sua licença foi a de George Smith. Essa é uma coincidência interessante. A fazenda Drumming, onde George destilava ilegalmente, pertencia justamente àquele Duque de Gordon. Mas óbvio que o Duque não sabia de nada – ele jamais poderia permitir qualquer atividade ilegal em suas terras. Mais coincidência ainda era o fato de haver no palácio do duque, dezenas de barricas de whisky, produzidas em algum misterioso lugar da região. É, engraçado isso.

George

A legalização da atividade de George, porém, não foi muito bem vista por seus demais colegas alambiqueiros ilegais. Naquela época – 1823 – o contrabando de whisky na Escócia já era um negócio bem fundeado, e que movimentava bastante dinheiro. Pra você ver que o comércio de entorpecentes ilegais sempre foi altamente rentável. Para evitar que a concorrência ilícita literalmente o matasse, George passou a carregar duas pistolas Winchester, que foram utilizadas mais do que uma vez para salvar sua vida.

Em 1858, porém, ocorre uma catástrofe. Como sempre digo, destilarias pegam fogo. E um incêndio atinge a destilaria em Drumming. Mas George Smith não se deixa abalar. Compra a fazenda Minmore, vizinha, e abre uma destilaria que batiza de Glenlivet – graças à sua localização, às margens do famoso rio Livet. Pouco mais de vinte anos depois George falece – de causas naturais, incrivelmente – e é sucedido por John Gordon Smith e George Smith Grant, filho e neto de George, respectivamente.

Aqui, no final do século dezenove, a Glenlivet já era conhecida por toda Escócia e mais querida que abacaxi. Tanto é que diversas outras destilarias teriam decidido embarcar na fama, e utilizar o nome “Glenlivet” como uma denominação de origem. O que era uma prática bem safada, afinal, qual era o limite territorial para uma destilaria se autodenominar Glenlivet?

Uma das últimas destilarias a abandonar o sufixo foi a Tomintoul

George Smith Grant, porém, não se sentia muito à vontade com essa história de outros usarem o nome de sua destilaria, e resolveu processá-los. Após uma longa e intrincada briga judicial, Grant saiu quase vitorioso. Foi decidido que ele teria exclusividade sobre o nome “The Glenlivet”, e que as demais destilarias somente poderiam usar a denominação como um sobrenome, com hífen (como é o caso de “Tomintoul-Glenlivet” e – meu deus, imagine que delícia se isso fosse um blended malt – “Aberlour-Glenlivet”)

Até lá, exceto pelo fogo, The Glenlivet foi uma das poucas destilarias que jamais interrompera sua produção. Ela permaneceu aberta durante a grande depressão norte-americana, que afetou enormemente o mercado de scotch whisky. A primeira vez que sua produção foi suspensa ocorreu somente durante a Segunda Guerra Mundial. A interrupção – mothballing – não durou muito tempo. Ao final da guerra, o Reino Unido estava endividado, e buscava produtos de exportação para acertar a balança comercial. Whisky era perfeito – havia demanda e preço. Assim, a The Glenlivet voltou a funcionar.

Em 1953 a The Glenlivet se juntou a outra destilaria, a Glen Grant, formando um grupo comercial, o brilhantemente batizado The Glenlivet and Glen Grant Distillers, Ltd. E você achando que era falta de criatividade todo mundo se chamar John ou George. Bem, de toda forma, o grupo passou por mais algumas fusões. Em 1970 com a Hill Thomsom e Longmorn, e em 1977 com a Seagram’s. O resto da história é relativamente conhecido, e meio confuso. A Seagram’s foi comprada pela Pernod-Ricard e Diageo em 2000. Seus ativos foram divididos ou vendidos. A Pernod-Ricard ficou com a The Glenlivet. A Glen Grant foi vendida para o grupo Campari.

Com o investimento da Pernod-Ricard, e o crescente interesse por single malts, a The Glenlivet tornou-se rapidamente um gigante. A maior das expansões ocorreu em 2015, e aumentou a capacidade produtiva da destilaria em 75%. Com isso, a The Glenlivet passou a produzir 21 milhões de litros por ano. Estima-se que venda aproximadamente 16 milhões de garrafas, sendo os EUA um dos principais mercados.

Atualmente, The Glenlivet está entre os três single malts mais vendidos do mudo, concorrendo, ombro a ombro, com The Macallan e The Glenfiddich. De sua origem aos tempos atuais, muita coisa mudou. O abacaxi se tornou uma fruta bem mais mundana. Mas a The Glenlivet permaneceu como uma das destilarias mais famosas e queridas do mundo.