Entrevista com Colin Scott – Custodian Master Blender da Chivas Regal

Poucas pessoas no mundo prescindem apresentações. São aquelas cuja contribuição, cujas criações, têm vida independente de seu criador. Produtos que adquiriram tamanha notoriedade que falam por si.

No mundo do whisky, uma destas – poucas – pessoas é Colin Scott. Colin é uma lenda viva na indústria do whisky. Trabalhou para a Chivas Regal por quarenta e sete anos. Deu suas mãos – ou melhor, nariz – surgiram criações incríveis.

Mesmo que você não seja um entusiasta do mundo do whisky, você conhece Colin Scott. É dele a assinatura que estampa o pescoço de um dos blended scotch whiskies mais admirados do mundo. O Chivas Regal 18 anos. E a rubrica não é um simples artifício decorativo. Foi Scott que criou o lendário blend em 1996.

E depois de quarenta e sete anos de excepcionais préstimos para a indústria do Scotch Whisky, Colin finalmente está se aposentando. Mas não sem antes uma entrevista exclusiva – gentilmente organizada pela Pernod-Ricard Prestige no Brasil – com este Cão Engarrafado. Por uma hora, tínhamos o famoso master blender apenas para nós!

Vamos ao papo.

É uma honra ter você aqui. Você é um herói para muitos entusiastas do whisky como eu. E acho que todos se perguntam a mesma coisa. Como começar como blender? Como foi sua iniciação?

Meu avô, meu pai e eu estamos há cem anos no business de whisky. Meu avô tinha um negócio em Glasgow, mas eu nunca o conheci. Meu pai estava na mesma empresa. Ele então me ensinou sobre destilação , e eu basicamente cresci em uma destilaria. Então, na realidade, suponho que o scotch faça parte do meu sangue, está no DNA.

Em 1973, ingressei na destilaria Glenlivet em Edimburgo. A Seagram’s na América eram nossos agentes. A Seagram já havia comprado a Chivas Brothers em 1949, e comprou a destilaria The Glenlivet em 1978 por quarenta milhões. E então me tornei parte do grupo Chivas-Glenlivet. E isso me levou ao setor de engarrafamento. Tínhamos fábricas em Leith e perto do aeroporto de Edimburgo. Edimburgo fechou, mas Leith continuou e me tornei gerente de qualidade de embalagem.

Lá eu me envolvi na qualidade do destilado. Era uma equipe muito pequena naquela época. E isso me apresentou aos blenders, e eles me convidaram para me juntar à equipe de blendagem nos anos 1980, sob a liderança de Jimmy Lang. Ele era o master blender. Aprendi tudo sobre a herança, as tradições e a produção de Chivas Regal, nosso carro-chefe. Tudo sobre os sabores, diferenças entre scotches de todas as destilarias diferentes.

E em 1988 Lang se aposentou. E eu me tornei o master blender em 1989. Naquela época, tínhamos apenas o Chivas Regal 12 anos e o Royal Salute 21 anos como nossos principais blends. E então, agora, com inovação, marketing, entusiasmo pelo scotch nas redes sociais, Sandy Hyslop, nossa diretor de blending, tem agora a tarefa de inovar e apresentar expressões e extensões de linha para Chivas. E hoje, como custodian master Blender, posso garantir que todos os nossos produtos estão nas mais competentes mãos, com o Sandy Hyslop e sua equipe.

E, em particular, Kevin Balmforth. Eu o entrevistei em 1999.Ele está comigo há muito tempo e ele é excelente Blender do time Chivas. Agora posso ficar tranquilo porque o futuro é realmente seguro. É disso que se trata a profissão de blender. Somos os guardiões do passado, do presente e do futuro. Porque recebemos o que destilamos há 12, 15, 21 anos, o passado, e o trazemos para nossas expressões atuais de Chivas.

O blending team da Chivas Regal. Ao centro, Sandy Hyslop

E enquanto isso, hoje, todos os anos, estamos controlando, avaliando e verificando todos os new-makes e tonéis de hoje. Assim, à medida que maturarem, se tornarão whiskies de primeira qualidade. Por causa deste cuidado, temos um dos melhores estoques de whiskies em maturação do mercado.

Mas isso é o que somos. Somos os guardiões do estoque, mas garantimos a consistência, a qualidade e a experiência de sabor de todos os nossos Chivas Regals. Então, quando você beber seu Chivas Regal 18 hoje, garantimos que amanhã será igual, e no próximo ano também. Esteja você em São Paulo, Tóquio ou Londres. Isso é ser um master Blender.

Conta um pouco sobre a sua primeira experiência com Scotch Whisky, e o que é preciso para se tornar um master Blender.

Bem, isso é bastante interessante, porque temos um ótimo programa de consumo responsável e de convívio na Pernod!

Sobre minha primeira experiência. Meu pai era muito rígido em relação a aprendermos sobre o álcool e experimentarmos o álcool. E não podíamos beber álcool antes dos dezoito anos. Mas eu experimentei um pouquinho antes. Mas não fiquei impressionado com o whisky na época! Hoje, scotch é bebida de convívio. É uma bebida para todas as ocasiões, para todos.  Mas temos que beber com responsabilidade.

Para se tornar um master blender, você precisa de tempo. Sandy (também entrevisado por este Cão, aqui) está no ramo há 35 anos. Kevin há 29. Estou há 47. O tempo está aí – temos que aprender tudo sobre como os whiskies amadurecem, seus perfis, os barris e como eles se misturam. Cada vez que você pega uma amostra, você tem que construir a memória, você entende o whisky e isso chega à sua memória enciclopédica. Todos nós temos nossa própria linguagem, mas todos nós entendemos o que falamos no blending room.

Mas é importante ter paixão pelo scotch. Essa é uma grande porcentagem do que é preciso para se tornar um bom Blender.

Bem, eu tenho a paixão, mas não tenho certeza se tenho o nariz…

Isso é outra coisa que você precisa. Você precisa ter um bom nariz. Todos os anos fazemos testes de nariz. É necessário para apoiar a qualidade do produto. Dia assustador, mas é necessário e é bom. No final das contas, você tem que entender que está trabalhando com algo que é 100% natural. Scotch é malte, grão, cereal, água, fermento. E o barril. A partir daí, centenas de milhares de sabores se integram em tais scotches. Então, todo dia é dia de aula no blending room.

Um dia de trabalho produtivo.

Sobre todas as expressões. Como você começa a criar um blend? Você sabe para onde está indo? Ou você acorda e diz “ok, vou começar a blendar aqui e ver aonde isso me leva?

Bem, se você está começando uma nova empresa, provavelmente é assim que funciona, haha! Mas, em Chivas Regal, quando me tornei blender depois de Jimmy Lang, ele me guiou por todas as tradições, e herança – que nos levam até John e James Chivas. Eles foram blenders pioneiros em 1850-1860. E eles criaram um estilo de blends.

A partir daí, Charles pegou essa herança e tradições e criou o Chivas Regal 25 em 1909. E então o Chivas 12 foi criado em 1938 respeitando este perfil. E então, em 1996, quando foi decidido que iríamos estender o Chivas Regal para um 18, já tínhamos o 12 como carro chefe. O que fizemos foi pegar esse estilo e essa tradição e estender aos 18 anos. Isso nos deu um irmão mais velho de 12 anos. Tratava-se de selecionar diferentes whiskies para mudar o equilíbrio de sabores e criar uma nova expressão sensorialmente falando, mas com o mesmo estilo doce e suave do Chivas Regal.

Então foi assim que abordamos. Tivemos algumas ideias considerando aquilo que estava disponível no inventário e fizemos alguns pequenos ajustes, mudamos um pouco isso e aquilo, e então finalmente tivemos um produto na família do Chivas 12. O 18 anos foi lançado em 1997 no Japão – foi o nosso segundo maior Mercado Chivas Regal.

Ou seja, quando você está criando um novo blend, é tudo sobre o estilo, a família. Você deve preservar o estilo e as tradições dessa casa. Quando você consegue um acabamento em barril, como tequila e conhaque, você está adicionando uma pequena dimensão de sabor àquela família de Chivas Regal. É tudo uma questão de controlar os sabores para preservar o estilo da casa de Chivas. É por isso que você tem todas essas expressões diferentes. Temos diferentes tonéis para fazer acabamentos seletivos. Este é um mundo muito emocionante para se estar, hoje!

Conte-me um pouco sobre o 25. De acordo com Alfred Barnard, a maioria das destilarias de whisky na virada do século estava produzindo whiskies turfados. Mas o 25 é adocicado e floral. Então, ele foi desenvolvido com base num registro ou de acordo com o estilo da casa Chivas?

Acontece que ainda hoje não temos uma garrafa de 25 anos de 1909. Temos uma ideia de como era, mas não sabemos ao certo. Houve algumas mudanças, mas é tudo uma questão de fazer parte e preservar o estilo e a tradição de Chivas, e criar a extensão desse estilo. Mas também criando uma experiência de degustação diferente, selecionando diferentes whiskies. E por trás de tudo isso, temos Strathisla, o nosso coração, o single malte big e pesado, com seu nozes, com amêndoas, e uma espécie de ameixa, damasco, frutado. É a base perfeita para iniciar o seu blend.

Chivas Regal 25

Vamos falar um pouco sobre degustação e, bem, beber. Existe um jeito certo de beber e apreciar whisky?

O jeito certo é como você gosta do seu whisky. Para mim, pessoalmente, quando despejo o whisky no copo, é um trabalho feito. Você tem o whiskypara você aproveitar. Alguns gostam de puro, alguns gostam de água, alguns com gelo e alguns com misturadores. E o Chivas também é perfeito para coquetéis. Então, para mim, não existem regras. E seu humor pode mudar! Um dia, você pode gostar de tê-lo limpo. Outro, em um highball, por exemplo.

Mas, na sala de blend, fazemos nossas avaliações a 20% do volume. Então, para mim, seria 50-50 com água. Água à temperatura ambiente, sem gelo. Mas em alguns lugares fica bastante quente. Então, às vezes, eu adicionaria cerca de 2 cubos de gelo. Para mim, pessoalmente, acho que é importante não esfriar. Mas tudo se resume à sua preferência.

Para os iniciantes, qual seria sua dica para começar?

Quer dizer, geralmente as pessoas começam com os maltes. Eu escolheria Glenlivet nos maltes e, em seguida, Chivas 12. Basta despejar e, se você achar que é muito agressivo, adicione um pouco de água e continue adicionando um pouco até atingir uma força que goste. É tudo uma questão de experiência.

Outra forma seria com um coquetel. Como o Chivas Cooler. (Que é) Chivas 12 e ginger ale com um pouco de gelo e limão espremido. É um coquetel fresco e refrescante. E o gengibre equilibra o frutado e o dulçor de mel do Chivas 12. Mas, como eu disse – experimente!

E sobre o Mizunara? Qual é a história por trás dele?

Isso tem a ver com nossa relação com o Japão. Temos estado intimamente associados ao Japão. Sandy e sua equipe adquiriram os barris de mizunara no Japão. São barris virgens de carvalho japonês, que são importados para a Escócia. Sandy os preenche o blend da Chivas e monitora cada barril muito estritamente porque é um carvalho poderoso. A cada duas semanas, eles monitoram esses tonéis.

(o Mizunara) primeiro foi lançado apenas para o Japão. Mas as pessoas ficaram tão empolgadas que decidimos lançá-lo em outros países. Sandy e sua equipe realmente acertaram. É muito emocionante ter essas oportunidades de inovar.

Foi como quando criei o Chivas 18. Foi uma grande emoção. E hoje, ele demostra por si mesmo esse sucesso. E Mizunara também – alguns anos depois, é um grande sucesso. Quando essas coisas acontecem, é ótimo. Aliás, você deve experimentar Chivas Mizunara no Brasil em um pouco de highball, com água com gás ou um pouco de refrigerante de limão!

Mizunara. Katana não inclusa.

Já provei e é incrível. Os sabores realmente se complementam! Agora, a pergunta clássica sobre a ilha deserta. Qual whisky você tomaria? Um blend e um single malt?

Bem, se fosse para a tal ilha deserta, levaria comigo Chivas Regal 18. É um whisky que você pode beber facilmente a qualquer hora do dia. E você pode tomá-lo em um drink mais longo ou em um Old Fashioned. É fantástico em um Old Fashioned.

Quanto ao single malt, por algum tempo, seria Longmorn ou Glenlivet. Mas agora acho que levaria Scapa. Scapa 16 é simplesmente delicioso e me lembra de casa. Agora, 16 foi descontinuado, então, eu iria para o Scapa Skyren.

Longmorn é um dos meus favoritos há muito tempo. E agora Scapa me pegou. Ele se tornou parte do portfólio da Chivas em 2005. E é uma pequena destilaria fabulosa. E (apesar da localização, na ilha de Orkney) é mais como um speyside do que um representante das ilhas. Não é um whisky esfumaçado. Tem um pouco de sal, urze, frutado – um frutado tropical.

E essa (Orkney, onde Scapa está localizada) é minha casa. Onde eu cresci. Cada vez que voava para fora da Ilha, passava por Scapa. Faz parte de toda minha vida de uma forma engraçada. E eu recomendo totalmente. Todo mundo adora.

Bem, infelizmente, nosso tempo está se esgotando! Muito obrigado pelo seu tempo e pelo bate-papo, Colin! Disseram que você está se aposentando. Algum plano de aposentadoria?

Haha, eu não tenho planos por enquanto. Mas o que é muito importante é que nos últimos 40 anos ou mais eu tenho pulado da cama para ir trabalhar. Então eu acho que é importante ter alguns pequenos projetos para me manter ocupado. Sei que há muito o que fazer, mas de uma forma relaxante. Eu não posso acreditar que está ao virar da esquina!

Suntory Yamazaki 12 anos II – 2020

Essa é a segunda prova do Yamazaki 12 anos neste blog. A primeira foi escrita em 2015 (leia a original aqui). Porém, devido à volta deste desejado rótulo às nossas terras, resolvemos revisitá-lo e fazer uma prova completamente nova.


Se você tem um iPhone, abra seu teclado e procure o emoji de onda. Observe com atenção e deixe-me explicar porque esta imagem lhe parece tão familiar. O desenho é baseado em uma obra de arte clássica japonesa do período Edo. A Grande Onda de Kanagawa, uma xilogravura do artista Katsushika Hokusai – parte de sua icônica série de trinta e seis vistas do monte Fuji. Ela é provavelmente a obra de arte mais reproduzida do mundo. Está em muros, sapatos, camisetas, carteiras e até mesmo emojis.

Ao longo dos séculos, a obra de Hokusai influenciou grupos e movimentos inteiros da arte. Como a Ar Nouveau, o Simbolismo, os Nabis e os pós-impressionistas. Suas xilogravuras trouxeram a noção de que a pintura é algo bidimensional. A ilusão de profundidade – quando há – é dada somente pela cor. Uma técnica tão importante que foi usada tanto por artistas tradicionalistas, como os primitivos italianos, quanto por ícones da arte moderna, como David Hockney – basta observar por dois segundos seu famoso A Bigger Splash.

Just Hokusai it.

Hokusai foi, provavelmente, o mais importante artista japonês da época, e teve grande reconhecimento em vida. Seu sucesso se deu por um afastamento da tradição aliado a uma versatilidade literalmente oriental. A arte clássica do período retratava cortesãs e figuras humanas, essencialmente. Mas Hokusai – sob diversos pseudônimos – pintou quase tudo. De animais mitológicos a grandes paisagens passando por temas tradicionais e até mesmo pornografia de gosto duvidoso, como O Sonho da Mulher do Pescador (podem clicar, é da Wikipedia. Eu sei que vocês querem saber o que é isso).

Se A Grande Onda de Kanagawa pudesse ser comparada a uma garrafa de whisky, ela seria, com toda certeza, o Suntory Yamazaki 12 anos – que acaba de chegar ao Brasil pela Beam-Suntory. Ele foi o primeiro single malt japonês, lançado em 1984, e até hoje é um sucesso mundial. Foi ele, e seu irmão, o Yamazaki Sherry Cask, que desafiaram a noção de que whiskies excelentes poderiam ser produzidos espelhando a técnica dos escoceses, mas fora da Escócia e colocaram o Japão no mapa dos mais importantes produtores da bebida do mundo.

Engarrafado a 43% de graduação alcóolica, o Suntory Yamazaki 12 anos é maturado em barricas de carvalho americano, carvalho japonês – conhecido como Mizunara – e barricas usadas anteriormente para maturar xerez. Inclusive, a ideia de usar o carvalho Mizunara começou com a destilaria Yamazaki, em meados de 1940, quando por conta da Segunda Guerra Mundial, o fornecimento de outras madeiras era insuficiente.

Warehouses da Yamazaki (fonte: Dekanta)

A Yamazaki foi a primeira destilaria do Japão. Ela foi fundada em 1923 no vilarejo de homônimo, entre as cidades de Kyoto e Osaka. Sua localização foi especialmente escolhida – e bem debatida (leia mais sobre isso em nossa prova original do Yamazaki aqui) por ser a convergência dos rios Katsura, Uji e Kizu. Isso permitiu que, em uma época em que o acesso a recursos era mais difícil, não houvesse falta de uma das mais importantes matérias-primas para produção de whisky: água. Além disso, a variação térmica e umidade criam condições favoráveis à maturação – Yamazaki é mais quente que a média escocesa.

Há algumas especificidades interessantes sobre a Yamazaki para o whisky-geek, resultado da história de polarização da indústria de whisky no Japão. Por exemplo, a destilaria possui dezesseis alambiques, de sete diferentes formatos e tamanhos – algo quase sem paralelo na Escócia. Além disso, a destilaria utiliza dois diferentes processos de fermentação, com washbacks de madeira e de aço inoxidável de cinquenta mil litros. A fermentação leva em torno de 65 horas.

Por fim, a Yamazaki conta com mais de quinhentos mil barricas em maturação (trinta mil delas, na própria destilaria), de tipos distintos. São principalmente barris de carvalho americano de ex-bourbon, puncheons de carvalho americano de produção própria, hogsheads, barricas de carvalho europeu de ex-jerez e vinho tinto e, claro, de carvalho japonês – o famoso e desejado Mizunara.

Tamanha variedade tem uma razão. É que, como não há intercâmbio de whiskies entre grupos econômicos distintos, e poucas destilarias no país, cada destilaria é obrigada a produzir uma gama muito maior de produtos. New-make-spirits de oleosidades distintas e whiskies diferentes permitem atender às necessidades dos blends de sua empresa mãe, a Suntory – que é totalmente autossuficiente na produção da bebida.

Alambiques da Yamazaki (fonte: Jake Emen/The Whiskey Wash)

No Brasil, uma garrafa de Yamazaki 12 anos custa um pouco menos de mil reais. É um valor alto, mas, é também, curiosamente inferior à média mundial. Fora de nosso país e em mercados aquecidos, devido à escassez do rótulo, certas garrafas chegam a ser vendidas por mais de trezentas libras.

Sensorialmente, o Suntory Yamazaki 12 é um single malt frutado e adocicado, com corpo médio para alto. Há um equilíbrio fino entre o característico sabor de compota de frutas e de passas – provavelmente, proveniente do uso de barris de ex-jerez. Se há qualquer defumação, este Cão não pôde senti-la.

Se você procura um single malt equilibrado e frutado, ou se quer entender o que é um whisky japonês, o Yamazaki 12 anos é a escolha perfeita. Ele é como uma obra-prima de Hokusai. Inegavelmente japonesa, mas capaz de surpreender positivamente apreciadores do mundo todo.

YAMAZAKI 12 ANOS

Tipo: Single Malt 12 anos

Destilaria: Yamazaki

País/Região: Japão

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: Frutado. Banana e pera, com um leve toque cítrico.

Sabor: Frutado e doce, com nozes, compota de frutas, pera e maçã. Final com baunilha, pimenta do reino e nozes. Um pouco de passas.

Disponibilidade – A venda em varejistas selecionados e no Caledonia Whisky & Co.

Suntory Hibiki Japanese Harmony – Devoção

Continuarei tentando subir até atingir o topo, ainda que ninguém saiba onde o topo é”. A frase é do nonagenário Jiro Ono, protagonista de um documentário que recentemente assisti na Amazon: Jiro Dreams of Sushi. Jiro é o proprietário e chef de um restaurante que serve apenas sushi, chamado Sukiyasbashi Jiro. O espaço, de apenas dez lugares, manteve de 2007 a 2019 uma avaliação de três estrelas pelo Guia Michelin – a premiação máxima. Em 2019 o Sukiyasbashi Jiro perdeu suas estrelas. Mas não por demérito. Mas porque ficou tão famoso que deixou de abrir reservas para o público em geral.

O documentário, lançado em 2012, mostra o cristalino devotamento do chef por sua ocupação. Jiro obceca sobre o posicionamento das esteiras em seu balcão e aponta onde cada cliente deve sentar. Jiro massageia cada polvo por no mínimo quarenta e cinco minutos, para tornar as peças mais suculentas. Jiro sabe a exata história de cada peça consumida em seu estabelecimento, e observa com diligência seus comensais – um piscar de olhos mais prolongado talvez seja sinal de que algo mudou. Jiro nasceu para fazer sushi. Seu sucesso é quase uma extensão natural de si.

E aí, Barack, tá gostoso o peixinho?

É algo que, de certa forma, poderia também dizer da Suntory, maior produtora de whiskies do Japão. Seu primeiro rótulo foi lançado em 1929. Atualmente, seu sucesso é incontestável. Os produtos da marca são tão desejados que as expressões mais maturadas até tiveram que ser descontinuadas. Pudera – a atenção aos detalhes, do líquido à embalagem, é tão meticulosa que parece até aquela de um sushiman premiado.

E depois de um longo hiato, dois rótulos da Suntory finalmente chegaram ao Brasil, para completar o portfólio com os já presentes Roku Gin, Haku Vodka e The Chita. São o single malt Yamazaki Distiller’s Reserve – parte de uma futura prova deste Cão – e o Hibiki Japanese Harmony, blended whisky e tema desta matéria.

De acordo com a Suntory, o Hibiki Japanese Harmony é considerado como a pedra fundamental da linha de blends Hibiki, e leva os mesmos maltes-base e whisky de grão das expressões mais maturadas, o Hibiki 17 e 21 anos. São três. Yamazaki, responsável por boa parte das notas adocicadas e de frutas cristalizadas do blend; Hakushu, que traz uma leve impressão de fumaça e iodo e The Chita, que traz dulçor e equilíbrio à mistura – “daishi” como define a própria empresa.

A maturação de seus componentes ocorre em cinco tipos diferentes de barricas, de três espécies distintas de carvalho. O americano de ex-bourbon serve de base – com dulçor e baunilha. Já o carvalho europeu previamente utilizado para vinho jerez traz tempero, assim como o raro carvalho japonês, conhecido como mizunara.

Observar o Hibiki Japanese Harmony mostra como é complexa a criação de um blended whisky, e o nível de conhecimento de seu master blender, Shinji Fukuyo. Seus compomentes devem ser combinados de forma a trazer harmonia, drinkability, mas, ao mesmo tempo, personalidade. Parafraseando Jiro Ono “existe equilíbrio entre o peixe e o arroz. Se não tiver em perfeita harmonia, não ficará bom”. Deve-se atentar ao equilíbrio, para evitar que certo whisky não se sobressaia, mas, também, deixar que parte do caráter de cada um seja notado. Esse a é na verdade o grande desafio de todo blender do mundo.

Shinji Fukuyo, sonhando com sushi

Mas, no caso dos japoneses, há ainda outro percalço. A matéria prima é incrivelmente escassa, porque há uma busca enorme por maltes japoneses no mundo. E o blend deve ter padronização, constância – Hibikis Japanese Harmonies devem sempre possuir o mesmo perfil sensorial. Conseguir isso com recursos limitados não é um trabalho trivial.

Há uma simbologia interessante por trás, também, do frasco. O nome Hibiki significa “ressonância” ou “harmonia”. É como se o Japanese Harmony fosse duplamente harmônico. As garrafa possui vinte e quatro faces distintas, que simbolizam vinte e quatro estações do ano do calendário tradicional japonês.

Sensorialmente, o Hibiki Japanese Harmony é um whisky bastante equilibrado, frutado e floral. Há notas cítricas, bem como baunilha, canela, pimenta do reino e coco. A intensidade de sabor é maior do que a média dos blended whiskies, mas quase não há agressividade. A textura de certa forma remonta uma irmã distante, a Haku Vodka. É curioso como o Hibiki Japanese Harmony é essencialmente um blend de luxo, mas que apela sensorialmente também para o entusiasta por conta de sua intensidade.

No Brasil, uma garrafa do Hibiki Japanese Harmony sai por, aproximadamente, 700 reais. Não é barato – mas é um preço condizente com outros blends de luxo. Alguns deles, também sem idade declarada no rótulo.

O Hibiki Japanese Harmony é, de certa forma, o resumo mais perfeito da técnica e dedicação dos japoneses em produzir whiskies. Nem mesmo seus magníficos single malts – com meu querido Hakushu – são testemunho melhor de sua técnica. Olha, meu caro Jiro, eu também não sei bem onde que o topo é – mas o Hibiki está perto dele.

SUNTORY HIBIKI JAPANESE HARMONY

Tipo: Blended Whisky sem idade clarada (NAS)

Marca: Suntory

Região: N/A

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: frutas cítricas, baunilha. Canela e coco no background.

Sabor: Mel, frutas cristalizadas, floral, baunilha. Final persistente, com coco, canela e um pouco de pimenta do reino.

Onde encontrar: Caledonia Whisky & Co., em São Paulo, Caledonia Store Online e outros varejistas selecionados.

Quatro presentes de whisky para o seu pai

Ser pai é uma experiência de surpresa e autoconhecimento. De surpresa porque de todos os infinitos cenários que imaginei para mim aos trinta e tantos, nenhum deles contemplava estar acordado às seis e meia da manhã assistindo Bita e os Animais enquanto uma criança lambe a metade gostosa de uma bolacha recheada.

E de autoconhecimento porque a criança reminisce bastante a mim. Nem tanto fisicamente – neste ponto, por sorte, os genes de minha esposa foram absolutamente impiedosos. Mas quanto à personalidade mesmo. Tenho dois filhos, e me vejo neles o tempo todo. Aliás, eu nunca havia me dado conta de quão irritante e obstinado eu era, até gerar uma mini-versão feminina de mim, e discutir com ela todos os dias.

A paternidade é uma espécie de trabalho sem jornada máxima e cuja remuneração é a realização de seu chefe. O que parece ser injusto, mas é estranhamente recompensador. Ser pai é essencialmente abnegação, mas é delicioso. Ah, e tem o dia dos pais.

Não importa se você acha que o dia dos pais é uma construção social, do capitalismo, para incentivar o consumismo desnecessário. Nós, pais, merecemos. E se você concorda comigo, mas não consegue decidir o que dar para seu progenitor neste dia tão especial, aí vão quatro sugestões para todos os bolsos. Vamos a elas.

WHITE HORSE

White Horse

Calma, eu explico. Desde que abrimos um bar e loja em São Paulo, toda semana alguém aponta para o clássico White Horse na prateleira e fala algo nas linhas de “olha só, meu pai bebia aquele dali”.

A gente não sabe bem porque (na verdade, a gente sabe…) mas o White Horse se entrelaça com o conceito de paternidade de uma forma fascinante. Parece que em certa época, quando alguém virava pai, deixava de beber o que bebia antes para tomar White Horse. Ele faz parte do pacote da paternidade.

E como todo pai é um pouco nostálgico, o conhecido cavalinho branco trará de volta todas aquelas lindas memórias do passado. O White Horse não é um whisky. É uma cápsula do tempo.

CHIVAS REGAL BLENDING KIT

Se seu pai é um whisky-geek e sonha em ser um master blender para alguma marca, isto é mais do que um presente. É a realização de um sonho. A Pernod-Ricard, proprietaria da Chivas Regal, trouxe para o Brasil um kit para que você crie seu próprio blend.

O Blender Kit bem com quatro single malts de perfis sensoriais distintos, um grain whisky, conta-gotas e um becker. Há um site que indica como os elementos devem ser misturados de acordo com um teste de múltipla escolha. O candidato a blender deve responder como gosta de seu whisky, e o site sugere as proporções. À venda na loja oficial da Pernod, a Drinks&Clubs

SUNTORY THE CHITA

Há muito não víamos whiskies japoneses no Brasil. Porém, no começo deste ano, desembarcou por aqui o Suntory The Chita. Ele é um single grain – o único do tipo no Brasil. Seu cereal base é o milho. A destilação acontece em destiladores contínuos, que podem ser combinados de diferentes formas para atingir oleosidades diferentes de seu new-make. Para aumentar a complexidade, uma combinação de barricas – dentre elas, jerez, vinho tinto e bourbon – é empregada.

O The Chita é um whisky leve, delicado, com notas de coco, baunilha, caramelo e mel. Perfeito para se tomar despreocupadamente na companhia de seu pai num dia especial. E caso papai seja mais hipster, a Suntory traz também um gin. o Roku Gin. À venda em varejistas selecionados.

MACALLAN REFLEXION

Se você é um multimilionário, esta é a sugestão definitiva. Por uma fração do preço de um relógio Patek-Phillipe ou um milésimo do que custaria uma McLaren (Ferraris são óbvias, né?) você pode deixar seu velho inebriadamente (de forma literal) feliz. O Macallan Reflexion, a mais exclusiva expressão da luxuosa destilaria a desembarcar oficialmente em nosso país. Custa em torno de R$ 15.000 (quinze mil)

E nem venha me falar que é um exagero. Porque se você hoje tem no banco o correspondente ao PIB de uma pequena nação européia, é por conta dele. Não fosse pelo esforço ativo de seu pai (e a participação da sua mãe, tudo bem) você não estaria aqui para acumular seu dinheiro. Ele merece.

O Reflexion está à venda em garrafa em revendedores selecionados, e em dose em nosso espaço em São Paulo, o Caledonia Whisky & Co.

Caledonian 33 anos The Boutique-y Whisky Co. – Drops

Se você gosta de whiskies incomuns, talvez se interesse por esta pequena – porém notável – garrafa. O Caledonian 33 anos The Boutique-y Whisky Company. Há uma série de motivos que o torna um certo unicórnio no mundo do whisky escocês.

O primeiro é a sua classificação. Ele é um single grain scotch whisky. O que, per si, já corresponde a uma fração quase irrisória dos whiskies escoceses. Single grains são produzidos em uma única destilaria, utilizando quaisquer grãos – e uma pequena fração de cevada maltada – e destilados, geralmente, em Coffey Stills (uma espécie de destilador contínuo). Ainda que a produção seja grande, a maioria dos grain whiskies são produzidos para integrar blends. É muito raro que haja um engarrafamento que leve exclusivamente um deles.

Outro – e o principal – motivo é que sua destilaria não existe mais. A Caledonian fora, por um bom tempo, a maior destilaria de toda Escócia. Porém, por conta de uma série de fusões e aquisições, bem como uma superoferta de whiskies de grão no mercado, a destilaria fechou suas portas em 1988. Seu interior foi reformado e transformado em um conjunto habitacional. Sua chaminé, no entanto – uma das mais altas torres vitorianas da Escócia – permanece intacta, e é considerada monumento histórico.

Caledonian (fonte: whisky.com)

Aliás, o rótulo desta edição – engarrafada pela independente Boutique-y Whisky Company – faz alusão à tal chaminé. De acordo com a marca “Ao virar da esquina da estação de Haymarket, em Edimburgo, você encontrará a Distillery Lane e, ao lado de alguns apartamentos, uma chaminé imensa! Isso é tudo o que resta da destilaria Caledonian agora. Bem, quase … um pouco de um delicioso whisky de grão também sobreviveu! Suba até o topo da chaminé e admire a vista da cidade até o Firth of Forth. Mas como isso seria perigoso (e impertinente), desenhamos para você. Seja bem-vindo.

Desde sua desativação, diversas engarrafadoras independentes compraram barricas da Caledonian e realizaram lançamentos próprios. Como, por exemplo, o tema desta prova: uma edição da Boutique-y Whisky Company, que rendeu 144 garrafas de Caledonian 33 anos. O único lançamento oficial da destilaria, porém, foi em 2015. Um monumental grain whisky de quarenta anos de idade, apelidado “The Cally”, e parte dos Special Releases anuais da Diageo daquele ano.

Feio né? (fonte: thewhiskyexchange.com)

Sensorialmente, o Caledonian 29 anos da Boutique-y Whisky Company é pouco encorpado, e possui grande influência da madeira. Há notas de caramelo, baunilha e coco. Aliás, bastante coco. É um single grain que mostra que whiskies de grão podem ser excepcionais e tão complexos quanto um bom whisky de malte. E de bônus – além do whisky maravilhoso – tem-se uma bonita garrafa. E um nome que adoramos (se é que vocês nos entendem) sei lá por que.

CALEDONIAN 33 ANOS THE BOUTIQUE-Y WHISKY COMPANY

Tipo: Single grain scotch whisky – 33 anos

Destilaria: Caledonian

Região: Lowlands

ABV: 50,3%

Notas de prova:

Aroma: baunilha, coco, frutas amarelas.

Sabor: muito leve e frutado, com coco, caramelo salgado e baunilha. Final médio, adocicado e frutado.

Suntory Haku Vodka – sobre sopas, iguarias e o vazio

Há um par de anos, fui com meu pai em um restaurante chinês sofisticado e pedi um prato improvável. Sopa de barbatana de tubarão. Fomos lá só pra isso, na mais inocente curiosidade. É que sopa de barbatana de tubarão é um prato típico chinês, geralmente servido somente em ocasiões muito especiais. Casamentos, por exemplo. Ele sugriu na dinastia Song, e é visto até hoje por boa parte da população da China como um símbolo de prestígio. Pudera. O quilo de barbatana pode custar bem mais de quatrocentos reais.

Mas o mais curioso, porém, não é o preço estelar da iguaria. Mas algo que, antes da experiência, não sabíamos: barbatana de tubarão não tem gosto nenhum. A textura é curiosa, meio gelatinosa e escorregadia. Mas o sabor é totalmente neutro. São os outros ingredientes do prato – caldo de frango, frutos do mar e temperos – que trazem sabor a ele.

Visualmente não é lá essas coisas, também.

E veja bem. Não é que estávamos sem paladar ou algo assim. Porque há jurisprudência sobre isso. O chef internacional Gordon Ramsay uma vez fez uma citação sobre a tal barbatana “É realmente bizarro. Porque não tem gosto nenhum. É como se fosse macarrão de vidro. A sopa é deliciosa. Mas podia ter qualquer coisa lá – frango, pato, milho“. Tenho que concordar, ainda que um pouco desapontado sobre o sabor do prato. Num mundo em que tudo é efêmero e nos ocupamos com experiências vazias, comer caldo de barbatana de tubarão consegue ser duplamente insignificante.

Um destilado que, por muito tempo, manteve uma fama semelhante, é a vodka. Dave Wondrich uma vez disse que a ”A vodka é o peito de frango desossado e sem pele da coquetelaria – tudo tem a ver com o tempero“. Porém, há vodkas que desafiam esse conceito. Algumas possuem sabores bem particulares, ainda que delicados. É o caso, por exemplo, da Haku Vodka, que acaba de desembarcar no Brasil oficialmente pela Beam-Suntory.

A base da Haku Vodka é arroz, que é fermentado e destilado em alambiques, criando uma espécie de low-wine do grão. Depois, este produto é redestilado, tanto em alambiques quanto em colunas de destilação. Por fim, o destilado é reunido e filtrado em carvão de bambu, removendo os congeneres mais pesados, e tornando a Haku ainda mais delicada. É um processo basante meticuloso.

A produção da Haku Vodka acontece sob o mesmo teto do Roku Gin, já revisto aqui. É uma destilaria localizada em Kaigandori, Osaka, pertencente à Suntory – bem próximo à Yamazaki, onde é produzido o maravilhoso sigle malt homônimo. O espaço também é conhecido como o “Atelier de Bebidas da Suntory“.

A destilaria

O nome “Haku” possui uma ambiguidade interessante. A palavra pode significar tanto “branco” – em referência ao arroz – quanto “brilhante”, um tributo para a capacidade de criar o destilado. Aliás, a produção de vodka da Suntory não é um fenômeno atual. Ela tem produzido o destilado desde 1956.

Sensorialmente, a Haku Vodka é bastante delicada, com álcool extremamente bem integrado. Ela é discretamente adocicada, sem qualquer apimentado. Mas na opinião deste Cão – que talvez esteja delirando – o interessante é sua textura. Ela não é um destilado tão volátil quanto parece. Há um peso, uma oleosidade, que curiosamente complementa sua suavidade sem pimenta.

Se você procura uma vodka para funcionar como vedete em seus coquetéis, como num Vesper Martini, ou mesmo algo que parecerá estranhamente delicioso se bebido puro, a Haku Vodka é uma excelente escolha.

SUNTORY HAKU VODKA

Tipo: Vodka
Marca: Suntory
País/Região: Japão – N/A
ABV: 40%
Idade: N/A

Notas de prova:

Aroma: delicado, açúcar, grãos.
Sabor: adocicada e delicada. Quase não há traço de especiarias. Relativamente oleoso para uma vodka.

Onde encontrar: lojas brasileiras, como a Caledonia Store

Macallan Reflexion – Do espólio

Esses dias estava arrumando meu guarda-roupas, e me deparei com uma camisa que adorava. Não havia nada de muito especial nela, exceto pelo valor sentimental. A comprara na primeira vez que fui a Escócia, numa lojinha de artigos locais em Inverness. Nas costas, havia a ilustração das sombras de centenas de garrafas de whisky dos mais distintos formatos. Era possível, inclusive, com algum embasamento, identificar de quais marcas eram aquelas pequenas silhuetas. Gostava tanto da tal peça que a guardava apenas para eventos especiais.

Resolvi experimentá-la. O resultado foi desastroso. Se tivesse um pouco menos de senso crítico, poderia, de certa forma, dizer que ela teria ficado entre o à-la-Bruce-Willis e o mira-me-cuerpo. Mas, exibindo uma pancetta displicentemente cultivada nos últimos dez anos, percebi, com decepção, que não poderia mais usá-la. Havia guardado a peça de roupa para ocasiões tão especiais, que ela deixou de me servir.

Sinto que há uma relação semelhante com whisky: a de guardar garrafas para momentos extraordinários. Faço isso, acho que quase todos fazemos. Mas não sem algum arrependimento. Como certa vez disse um grande amigo “suas garrafas fechadas serão bebidas com água de coco em uma pool party por seus filhos. Beba“.

Macallan, UHUL!

Então, num arroubo de titubeante impavidez, decidi experimentar um whisky que há muito almejava. O The Macallan Reflexion – a expressão mais cara da destilaria de Speyside a chegar ao Brasil, por uma folgada margem de diferença. O privilégio ajudou – uma garrafa havia acabado de chegar a nosso bar em São Paulo – o Caledonia Whisky & Co. E desta experiência, surgiu esta prova.

O Reflexion faz parte da Masters Decanter Series, que também contempla o Macallan M e o No. 6. Ele é, incrivelmente, a expressão de entrada da luxuosa coleção, que procura demonstrar a importância da maturação nas características sensoriais de um whisky. De acordo Stuart MacPherson, Master of Wood – o responsável pelas barricas – da The Macallan “a madeira está no coração daquilo que fazemos, e esta série demonstra mais profundamente o papel vital de nossos barris na produção destes whiskies incríveis

E que maturação. Uma boa parte do Macallan Reflexion é envelhecido em pequenas barricas, conhecidas como hogsheads, de aproximadamente 250 litros. A ideia é que a área de contato do líquido com a madeira seja maior, e interaja mais rapidamente para acelerar sua influência. A maturação ocorre exclusivamente em barris de primeiro uso (ou seja, é a primeira vez que recebem scotch whisky) que antes contiveram vinho jerez espanhol.

Ainda que a The Macallan não declare a idade do Reflexion, nota-se que é um single malt bastante maturado. A cor confirma a suposição. É um tom reminiscente de mogno, totalmente natural. A informação extra-oficial é que Bob Dalgarno, ex-whisky maker (o responsável pela criação) da The Macallan, teria selecionado whiskies destilados entre 1970 e 1990 para a expressão.

A The Macallan aponta como predominantes no Reflexion notas cítricas, de maçã chocolate e trufas, com sutil lembrança de uvas passas, canela e gengibre. Este Cão, porém, teve uma impressão distinta. O whisky pareceu predominantemente vínico, com notas de frutas secas, como ameixa e passas. Há bastante gengibre e canela também. A nota mais delicada – na opinião dissonante deste canídeo – é o cítrico. Seja como for, é um whisky magnífico, que apresenta a influência do vinho jerez e da maturação como muito poucos, e de uma complexidade inacreditável.

Acho sensacional o liquido. Foi uma grande surpresa a primeira vez que bebi. Tenho o privilegio de beber grandes bebidas por conta do meu trabalho, e acho ele surpreendente. Ele tem uma densidade de madeira fantástica. É denso, sem ser ‘cru” (….). A Macallan trabalha muito também a questão da textura. E o Macallan tem uma densidade de boca muito legal.” declarou Mauricio Leme, gerente de marketing de destilados e licores da Aurora, importadora responsável pela marca no Brasil, em um papo exclusivo com o Cão Engarrafado.

No entanto, a experiência extraordinária tem um preço. No Brasil, o Reflexion custa em torno de R$ 15.000,00 (quinze mil reais). O que o torna, talvez, a expressão à venda no Brasil mais cara já revista em nosso website. Foram trazidas pouco mais de vinte garrafas por sua importadora oficial no Brasil, a Aurora.

De acordo com Mauricio Leme “Trazer o Reflexion foi um privilégio, porque não é fácil trazer produtos caros por conta da carga tributária (…). Tem todo um estudo que precede trazer o rótulo, não é só uma vontade. E no Reflexion fizemos um estudo claro de que ele será um whisky caro, mas vai entregar – o líquido é impressionante, o estojo é lindo, e a garrafa também. Ele tem todas as credenciais”.

Leme. Dream job.

Não vou me atrever, aqui, a recomendar o Macallan Reflexion. Prová-lo ou não é mais uma questão de privilégio do que iniciativa. Porém, se tiver – e puder – faça isso. Mesmo que não tenha acontecido nada de especial. O Reflexion é o tipo de whisky que torna o dia mais prosaico em uma experiência absolutamente extraordinária.

Tipo: Single Malt sem idade definida

Destilaria: Macallan

Região: Speyside

ABV: 43%

Notas de prova:

Aroma: uvas passas e frutas cristalizadas, chocolate amargo e baunilha.

Sabor: Mel, frutas cristalizadas, uvas passas, ameixa seca. A influência do vinho jerez é muito clara, e torna-se evidente na finalização, que é longa, adocicada e com sabor de vinho fortificado.

Com água: A impressão de especiarias se reduz e um aroma adocicado sobe. O whisky torna-se mais suave.

Disponibilidade: lojas brasileiras, inclusive o Caledonia Whisky & Co.

Bruichladdich Octomore 8.2 Masterclass – Drops

Algumas memórias são mais perenes que outras. Para whiskies também. Há rótulos que nem lembro de ter bebido – o que, na verdade, é ótimo e não é. Porque, por um lado, é uma desculpa pra beber de novo. Por outro, se eu não lembro, então é porque não era nada demais. Então é só uma desculpa pra beber de novo algo medíocre.

Mas enfim, há outros tão arraigados em nossa memória que se tornam quase marcos etílicos. Um deles, para mim, é o Octomore – conhecido como o whisky mais defumado do mundo. Experimentei o Octomore (a edição 3.1) quando fui para a Escócia há uns bons anos. Vou contar como foi.

Como um apaixonado por whiskies defumados, quando estive por lá, procurei o Octomore por toda parte, mas sem sucesso. Comentei isso com um rapaz de uma loja de roupas – não me pergunte por que entrei no assunto de whiskies com um vendedor de uma loja de vestuário masculino, talvez por ser a Escócia – que se compadeceu com meu ébrio sofrimento e recomendou um bar que possuía uma garrafa – o The Abbotsford. Corri tanto que quase me teleportei para lá.

Apontei para o Octomore na prateleira. O bartender, então, num misto de descrença e masoquismo, me serviu uma dose, enquanto atentamente observava minha reação. Notei que meu vizinho de balcão – um senhor que devia ter visto a construção do palácio de Holyrood – também ficara interessado por meu pedido aparentemente insólito, e coçava a barba em expectativa. Sorri – nada poderia ser mais forte do que um Aberlour A’Bunadh, por exemplo. Eu estava resoluto. Tomei um gole.

A tênue linha entre a coragem e a burrice.

A medida que o defumado descia pela minha língua em direção ao esôfago, senti que ruborizava. Meus olhos encheram de lágrimas, mas não de alegria. Meu deus do céu, aquele whisky era absurdamente enfumaçado e alcoólico. Era uma delícia, mas, prová-lo pela primeira vez fez meu corpo discordar de meu paladar. Me segurei para não franzir a testa. Apertei os lábios e, passando a língua pelo céu da boca, acenei com a cabeça. O senhor, ao meu lado, levantou seu copo num misto de surpresa e orgulho. Fiquei contente – aquilo foi praticamente um rito de passagem para mim.

E ainda que aquela experiência tenha sido um tanto desconcertante, acabei amando o Octomore. Tanto que se tornou um de meus rótulos preferidos. Quando voltei para a Escócia, bons cinco anos depois, tive a oportunidade de visitar a destilaria. E lá encontrei uma garrafa de algo que me fez novamente suar. Mas de expectativa. O Octomore 8.2 Masterclass, insanamente defumado, e maturado em barris de vinho. Tive que levar uma.

Logo que cheguei em casa, resolvi experimentá-lo. E novamente, meus olhos marearam. Mas, dessa vez, não pela força do whisky. Mas porque ele era fantástico. O turfado era latente. Tão enfumaçado que a dose que descansava no copo podia ser sentida há metros de distância. Mas, no paladar, além da fumaça, iodo, esparadrapo e couro, havia um adocicado floral delicioso, que amarrava todo aquele material em chamas. Era ainda melhor do que a lembrança que tinha do outro Octomore. Resolvi pesquisar sobre ele.

O Octomore 8.2 Masterclass possui 167 PPM de fenóis (a medida que indica o quão defumado é o whisky). Em comparação, um Ardbeg possui em torno de 50. E sua maturação é bem mais complexa do que imaginava, ainda que breve – 8 anos. Primeiro, partes de seu new-make são maturados em três diferentes barris de vinho. Mourvèdre (um vinho tinto bastante terroso), Sauternes (adocicado e floral) e um certo vinho doce austríaco. Depois, as três partes são reunidas, e passam mais dois anos em barris de Amarone – um vinho tinto italiano bastante intenso, de Corvina Rondinella.

É uma uva, não um peixe.

Os Octomore são edições limitadas anuais da destilaria Bruichladdich, localizada em Islay, na Escócia. São sempre whiskies extremamente turfados – utilizando, inclusive, métodos inovadores para atingir tais marcas – que desafiam convenções do mundo do whisky. De acordo com a destilaria “Uma série esotérica de lançamentos numerados, experimentais, na maioria muito limitados, enfraqueceu fatalmente a suposição de que a qualidade do uísque escocês single malt é simplesmente uma função de sua idade.

Se você gosta de desafios, é apaixonado por whiskies defumados – mas apaixonado mesmo – ou aprecia single malts extremos, o Octomore 8.2. é para você. Pra falar a verdade, ele é para você mesmo que você não goste de nada disso. Se puder, prove o Octomore 8.2. Uma coisa é certa – este criará uma memória difícil de ser olvidada.

BRUICHLADDICH OCTOMORE 8.2 MASTERCLASS

Tipo – Single Malt com idade definida (8 anos)

ABV – 58,4%

Região: Islay

País: Escócia

NOTAS DE PROVA

Aroma: fumaça, couro, esparadrapo. Há um certo alcaçuz de fundo, com frutas vermelhas. Mas a turfa é a nota predominante.

Sabor: Turfa, com couro, carvão, pimenta do reino, couro, bacon e esparadrapo. O frutado fica mais evidente do meio para o final. Floral, mas sem ser enjoativo, framboesa.

Quatro novidades no mercado de whisky brasileiro

Comprei uma geladeira nova. O compressor da minha antiga – que sobreviveu bons quinze anos – finalmente cedeu, e deu sua última vibradinha na semana passada. Assim, súbita e friamente, como somente se poderia esperar de um eletrodoméstico que gela coisas. Sem nenhum prenúncio e no meio da maior pandemia do século. Não havia muito a fazer. A assistência custaria quase o preço de um aparelho novo. Resolvi, então, procurar na internet uma substituta.

Fiquei estupefato. É incrível como a tecnologia evoluiu rápido com refrigeradores. Ainda mais pensando que a geladeira doméstica, mais ou menos como a conhecemos, foi inventada somente em 1913. E sem freezer. Este aí, levou mais bons trinta e sete anos até que fosse adaptado para o uso doméstico. Há menos de um século, a possibilidade de congelar seus víveres era uma tarefa um tanto complicada. Mas hoje, há modelos que falam com você. Que avisam pelo celular quando a porta está aberta, e quando o compartimento de cerveja está vazio e é preciso comprar mais. O que, pra mim, é absolutamente inútil, porque é sempre hora de comprar mais cerveja.

A quantidade de modelos distintos também é desconcertante. Freezer em cima, freezer embaixo, french door, freezer de um lado e geladeira do outro. Slim, baixinha, quadradinha, retrô.

Mas não foi somente o mercado de geladeiras que evoluiu. O de whiskies também. Há menos de quarenta anos, no Brasil, tínhamos poucos rótulos comercializados amplamente. White Horse, Black & White e o Glenfiddich, precursor dos single malts, eram alguns deles. Há quase meio século, era impensável um single grain japonês no Brasil. Ou um single malt produzido em terras nacionais. Atualmente, porém, tudo isso existe.

Separei aqui quatro novidades no Brasil. Mas não apenas isso, expressões inovadoras, que seria inimagináveis em nosso mercado há pouco tempo. Todos eles, cim importação oficial para nosso país. Vamis a eles.

Suntory The Chita

Esta é uma novidade oriental. O Suntory The Chita é o único single grain disponível oficialmente no Brasil. E um single grain bem especial. Seu cereal base é o milho, e a destilação acontece em quatro colunas de destilação que podem ser especificadas para produzir new-makes com diferentes oleosidades, mais ou menos congêneres. Além disso, a maturação ocorre em uma combinação de barricas – dentre elas, jerez, vinho tinto e bourbon.

Além do The Chita, a Beam-Suntory traz para nosso país mais dois produtos de seu prestigiado portfólio. o Roku Gin, já revisto por aqui, e a Haku Vodka.

Royal Salute Snow Polo Edition

O Royal Salute Snow Polo Edition faz parte de uma categoria de whiskies inédita em nosso mercado – e bem rara mesmo na Escócia. Ele é um blended grain scotch whisky, produzido somente com whiskies de grãos, em destiladores contínuos. Mas whiskies de grão bastante especiais. Seguindo a tradição da Royal Salute, o Polo Edition possui 21 anos de maturação mínima. Ele foi criado por Sandy Hyslop, diretor de blending da Chivas Regal – que, aliás, já foi entrevistado por este Cão Engarrafado.

Sensorialmente, o Royal Salute 21 Snow Polo Edition é um whisky delicado e floral, que traz notas de coco, baunilha, caramelo e frutas cítricas. É um whisky perigosamente fácil de ser bebido, com o visual e luxo tão próprios da Royal Salute.

Union Malt Turfado & Extra Turfado

Se você é um apaixonado por whiskies enfumaçados e medicinais, e se questiona por que o Brasil não tem um rótulo próprio, sua era de indagações chegou ao fim com essas novidades. O Union Malt Turfado e Extra-Turfado são duas expressões de single malts produzidos aqui no Brasil e que tem o tão delicioso aroma turfado, tão característico dos maltes escoceses.

A Union Malt é uma destilaria com mais de sessenta anos de experiência na produção de destilados, e que recentemente voltou seus olhos à produção de single malts enfumaçados. De acordo com Luciano Borsato, diretor executivo da Union os “malte turfado e extra-turfado (que são usados de base para os whiskies) são importações que fazemos do norte da Escócia, sob especificação”.

O resultado? Dois single malts brasileiros que não devem nada a muitos escoceses.

Buffalo Trace Bourbon

Novidade também na frente dos norte-americanos. O Buffalo Trace é um dos bourbons mais queridos dos Estados Unidos – e por muito tempo, dos mais pedidos no Brasil. Ele agrada a todos, tem um valor razoável, e qualidade sensorial excelente. É o tipo de whiskey que atrairá tanto o novato – graças a seu perfil adocicado e pouco apimentado – quanto o bebedor mais experiente, que busca algo com bom custo-benefício.

O Buffalo Trace Bourbon compartilha com alguns rótulos irmãos uma mashbill (receita do mosto) baixa em centeio. Ainda que a destilaria não divulgue os números exatos, um palpite educado seria menos de 10% de centeio, 10% cevada maltada e o restante milho. É a mesma receita de diversos rótulos mais sofisticados da Buffalo Trace, como o querido Eagle Rare, Stagg Jr e o sofisticado George T. Stagg. 

O Buffalo Trace é importado pela Aurora, que também traz o Southern Comofort.

Mamie Taylor – Antepassados

Ao assistir Jurassic Park, você deve ter grudado de tensão na cadeira durante a cena em que o tiranossauro persegue o jipe. Imagine, um animal desse tamanho e tamanha voracidade hoje em dia. O que você não sabe, provavelmente, é que o T-Rex, aquele enorme e ameaçador predador, é o ancestral mais próximo de um bicho bem pouco intimidador. A galinha.

É isso aí. Ocorre que em 2003, dois cientistas – Jack Horner e Mary Scweitzer – analisaram a composição molecular do colágeno contido em um fêmur não fossilizado de T-Rex. E descobriram semelhanças incríveis com aquele contido nos ossos de galinhas e outras aves domésticas. Isso apontaria que há uma ligação de parentesco entre o dinossauro e o galináceo, perdida ao longo dos anos. O que me faz pensar que eu também iria detestar comer tiranossauro assado.

Obrigado, internet.

Enfim, certos antepassados não são nada óbvios. Outros, porém, parecem ter diretamente inspirado seus predecessores. É o caso, por exemplo, de um coquetel incrivelmente popular hoje em dia, o Moscow Mule, e seu antecessor um tanto obscuro, produzido com whisky turfado, o Mamie Taylor.

O Mamie Taylor leva scotch whisky, limão siciliano e ginger ale ou ginger beer. Exceto pela canequinha de cobre e mais uma dúzida de sofisticações ao longo de um século, há uma impressionante semelhança entre ele e o Moscow Mule. E talvez eu seja suspeito, mas, entre o coquetel de vodka e este de whisky, fico com o segundo, certamente.

De acordo com um artigo do Wall Street Journal, o coquetel teria sido criado em 1899 em um hotel de Rochester, Nova Iorque. A atriz e cantora Mayme Taylor chegara de uma viagem de barco, para realizar uma apresentação na cidade. Porém, estava exausta por conta do deslocamento, e pediu ao bartender que preparasse um “claret lemonade” – basicamente, vinho tinto com limonada. Mas, por falta de ingredientes (que tipo de bar não tem vinho?) o bartender resolveu inovar.

Mayme, satisfeita.

Mayme Taylor – a atriz – então provou a improvisação e adorou. Ao indagar sobre o nome da mistura, seu criadou respondeu, sem hesitação “é um Mayme Taylor“. Em 1902 o Syracuse Post-Standard recontou a história. Nesa altura, três anos depois, o drink já era um enorme sucesso nos Estados Unidos. Inexplicavelmente, entretanto, ganhou uma variação de nome e passou também a ser chamado Mamie Taylor.

Para o coquetel desta matéria, este Cão utilizou Johnnie Walker Double Black. Porém, qualquer scotch whisky com uma certa nota enfumaçada poderá funcionar. A chave, aqui, é a turfa – é o aroma medicinal e defumado que tira o drink do lugar comum, combinando-o com gengibre e limão. Um princípio, aliás, que outro coquetel incrível utiliza: o Penicillin.

Assim, caros leitores, preparem-se para um coquetel refrescante e defumado. O avô do Moscow Mule, mas, como ocorre com o frango e o T-Rex, muito mais intenso. Vamos à receita.

MAMIE TAYLOR

INGREDIENTES

  • 45 ml scotch whisky (pode ser qualquer um, mas sugiro contundentemente que use algo com nota enfumaçada)
  • 10 ml suco de limão tahiti (atenção, tahiti mesmo, não siciliano!)
  • 90 ml ginger beer ou ginger ale (pelo amor de deus, use algo decente. Aqui fizemos com London Essence)
  • parafernália para mexer
  • copo alto

PREPARO

  1. Coloque o whisky e o suco no copo alto, e adicione bastante gelo
  2. complete com o ginger beer